Livro de Malaquias — Citações no Novo Testamento

Introdução

O profeta Malaquias, embora seja uma das figuras menos conhecidas do Antigo Testamento, encontra um lugar único no Novo Testamento. Este artigo investiga as citações do Livro de Malaquias no Novo Testamento, explorando seus significados contextuais e implicações teológicas. 

Citações de Malaquias no Novo Testamento

Somente três passagens deste livro são referidas ou citadas no Novo Testamento, a saber: Ml 1.2 e segs.; Ml 3.1; e Ml 4.5 e segs. A primeira delas: “Amei a Jacó. E aborreci a Esaú”, contém uma ideia que se tem mostrado um tanto ofensiva para o gosto moderno. Não obstante, é difícil evitar manter alguma doutrina de eleição, em vista das muitas declarações na Bíblia e em vista dos fatos da experiência humana. Verdadeiramente uma delas é frequentemente aceita, enquanto a outra é abandonada. Foi em apoio à doutrina da eleição do verdadeiro Israel que Paulo citou esse versículo, em Rm 9.13.

1. Soberania Divina: Romanos 9:13 e o Livro de Malaquias compartilham uma conexão literária e teológica significativa, particularmente em termos dos temas da eleição, da soberania de Deus e do relacionamento entre Deus e Seu povo. Vamos explorar essa relação com mais detalhes:
Romanos 9:13 (ESV):
“Como está escrito: ‘Amei a Jacó, mas aborreci a Esaú.’”
Malaquias 1:2-3 (ESV):
“Eu te amei, diz o Senhor. Mas você diz: ‘Como você nos amou?’ Não é Esaú irmão de Jacó? declara o Senhor. No entanto, eu amei Jacó, mas Esaú eu odiei. Devastei sua região montanhosa e deixei sua herança para os chacais do deserto”.

Relação Literária

A passagem em Romanos 9:13 é uma citação direta de Malaquias 1:2-3. A conexão literária é evidente quando o apóstolo Paulo se baseia nas palavras do profeta Malaquias para ilustrar seu argumento sobre a eleição e soberania de Deus. O uso dessa citação por Paulo demonstra sua familiaridade com as Escrituras do Antigo Testamento e sua capacidade de se envolver com elas para apoiar seu discurso teológico.

Relação Teológica

1. Eleição e Soberania de Deus: Tanto Romanos 9:13 quanto Malaquias 1:2-3 enfatizam a escolha soberana de Deus no contexto da eleição. Em Malaquias, a escolha de Deus de amar Jacó e odiar Esaú significa Sua prerrogativa divina de escolher um em detrimento do outro. Paulo faz referência a esta passagem em Romanos para discutir a escolha soberana de Deus na eleição, particularmente em relação à salvação de indivíduos e aos propósitos mais amplos do plano de Deus.

2. Continuidade do Plano de Deus: A conexão teológica se estende à continuidade do plano de Deus no Antigo e no Novo Testamento. Malaquias fala do amor de Deus por Jacó e Seu julgamento sobre os descendentes de Esaú, enfatizando os propósitos divinos para ambos. O uso que Paulo faz dessa passagem ressalta o plano contínuo de redenção de Deus e Seus propósitos finais ao escolher certos indivíduos para funções ou destinos específicos.

3. Contexto da Descrença: Em ambas as passagens, o contexto envolve uma resposta ao amor de Deus. Em Malaquias, o povo questiona o amor de Deus por eles, levando Deus a enfatizar Seu amor por Jacó e julgamento sobre a linhagem de Esaú. Em Romanos, Paulo aborda o conceito de incredulidade judaica e sua relação com a soberania de Deus na escolha de indivíduos para a salvação. A citação serve para destacar o tema mais amplo da fidelidade de Deus, apesar do questionamento ou incredulidade humana.

4. Iniciativa Divina: A relação teológica entre essas passagens ressalta a iniciativa de Deus em escolher, amar e interagir com Seu povo. Em ambos os casos, as ações e escolhas de Deus têm precedência sobre as preferências ou entendimento humano.

Em resumo, a conexão literária e teológica entre Romanos 9:13 e Malaquias 1:2-3 destaca temas de eleição, soberania de Deus, continuidade do plano de Deus, respostas ao amor de Deus e a iniciativa divina no relacionamento entre Deus e Seu povo. O uso que Paulo faz dessa citação de Malaquias enriquece seu discurso teológico em Romanos, fornecendo um fundamento bíblico para sua discussão sobre a escolha e o propósito de Deus na salvação.

2. João Batista e o Mensageiro: Malaquias 3:1 profetiza a vinda de um mensageiro para preparar o caminho para o Senhor. Esta profecia encontra cumprimento em João Batista, conforme confirmado em Mateus 11:10, Marcos 1:2 e Lucas 7:27. A imagem do mensageiro anunciando a chegada do Senhor destaca a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento.

3. O Retorno de Elias: Malaquias 4:5 antecipa o retorno do profeta Elias antes do “grande e terrível dia do Senhor”. Este versículo é mencionado em Mateus 17:10-13, onde Jesus identifica João Batista como cumprindo o papel de Elias. A conexão ressalta o significado escatológico das profecias de Malaquias.

Significado e Influência Teológica

1. Cumprimento da Profecia: As citações de Malaquias no Novo Testamento mostram o cumprimento das profecias messiânicas. As palavras de Malaquias não são meras relíquias históricas, mas têm relevância contínua no desenrolar do plano de Deus.

2. Preparação para o Messias: As profecias de Malaquias preparam o caminho para a chegada de Jesus. O papel de João Batista em preparar os corações das pessoas se alinha com o chamado de Malaquias ao arrependimento e adoração genuína.

3. Continuidade e Transição: Os temas de Malaquias sobre fidelidade à aliança, adoração genuína e conduta ética fornecem uma ponte entre o Antigo e o Novo Testamento. Esses temas encontram ressonância nos ensinamentos do Novo Testamento sobre discipulado e vida justa.

4. Restauração e Reconciliação: A ênfase de Malaquias na restauração e reconciliação entre Deus e Seu povo antecipa a restauração final alcançada por meio da obra redentora de Jesus. Suas críticas à adoração corrupta encontram eco nos ensinamentos de Jesus contra a hipocrisia religiosa.

5. Elias como um prenúncio: A associação de João Batista com a figura profética de Elias destaca as conexões tipológicas entre as duas épocas. Essa antecipação ressalta a unidade do plano de Deus ao longo da história.

As citações do Novo Testamento das profecias de Malaquias atestam sua influência duradoura na tapeçaria teológica de ambos os testamentos. O chamado de Malaquias para adoração genuína, fidelidade à aliança e justiça social ressoa nos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos. Como uma figura de transição entre o Antigo e o Novo Testamento, as profecias de Malaquias oferecem uma ponte teológica que enriquece nossa compreensão da narrativa redentora de Deus.

Bibliografia

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