Atenas — Viagens Missionárias de Paulo

Atenas — Viagens Missionárias de Paulo
Atenas — Viagens Missionárias de Paulo

A cidade de Atenas era uma das maravilhas do mundo antigo. Na sua época áurea, no quarto século antes de Cristo, abrigava provavelmente dentro das suas muralhas mais gênio literário, mais brilho filosófico e mais beleza arquitetônica do que qualquer outra cidade da antiguidade. Nos tempos de Paulo, a sua importância política e comercial havia decaído grandemente, mas pairava nela ainda uma certa aura de inteletualidade e cultura. O povo de Atenas tinha uma consciência profunda do seu patrimônio e orgulhava-se do seu passado. Estavam ainda intactas muitas das mais belas edificações de Atenas no seu apogeu, como o Erechteion e o Parthenon. A atmosfera intelectual da cidade havia preservado a tradição filosófica, e, se aos mestres que frequentavam os pórticos e discursavam às esquinas das ruas faltava o gênio criador de Platão e Aristóteles, pelo menos reverenciavam os pensadores do passado, que não podiam ser facilmente igualados alhures.

Enquanto aguardavam em Atenas a chegada de Silas e Timóteo da Macedônia, Paulo dedicou-se, como de costume, ao ministério. Tinha perante si duas esferas de atividade: a sinagoga, onde encontraria a congregação usual constituída por judeus e prosélitos, e o mercado, frequentado pelos pensadores pagãos. Aí deparou-se-lhe novo tipo de oponente: o pagão instruído e cínico, pronto a escutar tudo e relutante em acreditar. Lucas dedicou considerável espaço ao embate singular entre o judeu cristão que era Paulo, com o seu ódio apaixonado à idolatria, e a tolerância cética dos pagãos, que levavam a mensagem do apóstolo tão pouco a sério como os seus próprios deuses.

A pregação de Paulo despertou a sua curiosidade, e levaram-no ao Areópago para o escutarem. Literalmente, o Areópago era o Outeiro de Marte, pequena elevação rochosa em Atenas onde havia uma área suficientemente vasta para ali se poder proferir uma conferência pública. Ramsay afirma, com alguns visos de razão, que “Areópago”, aqui, significa, não tanto o lugar, como o grupo que foi buscar o seu nome ao lugar, o conselho governativo da cidade que controlava a política pedagógica e se pronunciava sobre a concessão de autorização de ensino a mestres estrangeiros (1). Nada indica que Paulo fosse ser julgado por qualquer acusação feita contra ele; ia muito simplesmente fazer uma declaração oficial acerca dos pontos principais do seu ensino.

O discurso em si (17:22-31) constitui uma obra-prima de condensação. Começando com o ponto de contacto oferecido pela abundância de obras de arquitetura e estatuária que adornavam a cidade e a maior parte das quais era dedicada à adoração dos deuses, Paulo defendeu a causa do Deus único que fez os céus e a terra e governa os destinos dos homens. Contrastando com a vaga deidade ausente do epicurismo, o apóstolo referiu-se a Deus como sendo imanente, contrastando com o Logos panteístico do estoicismo, e frisou a personalidade de Deus e a necessidade do arrependimento, que constituía o oposto do fatalismo estóico (2). A interrupção sarcástica da multidão impediu-o de continuar e discutir os aspectos mais pormenorizados da revelação cristã, de forma que o discurso ficou incompleto. No entanto, houve algumas conversões.

Ao que parece, o ministério em Atenas foi para Paulo um desapontamento. Não causou grande sensação na sinagoga, e a população pagã ridicularizou-o. Estava habituado a ser expulso de qualquer cidade, mas não sabia o que era estar sujeito à indiferença e ao desprezo. É evidente que isso o feriu bastante, pois, escrevendo aos coríntios acerca da sua chegada entre eles depois de sair de Atenas, disse: “Estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor” (1 Co 2:3). Possivelmente esta atitude medrosa tinha uma origem física, mas parece mais provável que a forma, invulgar para ele, como Atenas o pos de parte, lhe tirou a coragem e o levou a rever todos os seus processos de apologética.



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NOTAS
(1) William Ramsay, St. Paul, the Traveler and the Roman Citizen (Nova Iorque, G. P. Putnam's Sons, 1909), págs. 243-248.