Evangelho de Mateus — Quem Escreveu?

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Evangelho de Mateus — Quem Escreveu?

O mesmo Papias que disse que Marcos registrou as reminiscências de Pedro também disse que Mateus escreveu as logias (termo grego que significa “declarações, oráculos”), em hebraico ou aramaico, que outros iam traduzindo conforme eram capazes. (Citado por Eusébio, História Eclesiástica III. 39.16) No contexto, mui naturalmente logia se refere a um evangelho. Não obstante, não possuímos um evangelho derivado da pena de Mateus em qualquer destas línguas semíticas, o hebraico e o aramico, mas tão somente o atual evangelho em grego, o qual não parece ser uma tradução feita de um original semítico. Por exemplo, por que teria Mateus fornecido tanto o original semítico como sua tradução grega de alguns poucos vocábulos como “Emanuel” (vide 1:23), se o evangelho inteiro tivesse sido tradução do hebraico ou aramaico? Alguns estudiosos têm pensado que Papias se reportara apenas a uma série de textos de prova messiânicos em hebraico ou aramaico, coligidos por Mateus e posteriormente incorporados em seu evangelho, tendo sido traduzidos para o grego; ou ainda que Papias aludira a uma anterior edição semítica de Mateus, mas não diretamente ligada à nossa atual edição grega. Sem embargo, há ainda uma outra maneira de entender a questão, a saber, que Papias mencionara nosso atual evangelho de Mateus, em grego, embora escrito no estilo hebraico (e não no idioma propriamente dito), e como a interpretação de Mateus sobre a vida de Jesus (paralelamente à interpretação de Marcos). Nesse caso, inexiste qualquer tradução de Mateus feita com base em um original semítico. Finalmente, alguns têm imaginado que as logias aludidas por Papias se referem ao documento Q. Como se vê, a certeza com respeito ao significado da declaração de Papias é algo que nos escapa.

Cf. Moisés e Arão Anunciam o Propósito de Deus
Cf. O Pedido para Adorar a Jeová é Respondido com Opressão
Cf. Moisés Apela para Deus
Cf. Fé e Obras na Carta de Tiago

A erudição moderna usualmente nega que o apóstolo Mateus tenha escrito o evangelho que traz seu nome. Aceitando a equação das logia de Papias com o documento Q, alguns têm sugerido que Mateus realmente escreveu o documento Q, e que o seu nome equivocadamente foi vinculado ao primeiro evangelho (na ordem em que aparecem os livros do cânon), porquanto o autor desconhecido do primeiro evangelho muito se utilizou do documento Q. Porém, se houve um documento Q, não existem razões adequadas para negar que Mateus pode haver escrito ambas as obras, mormente se o documento Q era um grupo de anotações frouxas acerca da doutrina de Jesus, feitas por Mateus, posteriormente incorporado em seu evangelho formal. Tem se argumentado também, contrariamente a isso, que um apóstolo como Mateus não haveria de tomar material de empréstimo de alguém como Marcos, que não era apóstolo. Mateus, entretanto, simplesmente podia estar corroborando a tradição petrina, e, portanto, apostólica, registrada por Marcos, ao mesmo tempo que adicionava o seu próprio material. E, independentemente da estatura, os autores antigos regularmente tomavam material emprestado de escritores anteriores; e ninguém pensava que, ao assim fazer, estivesse plagiando, e nem que estivesse se aviltando. Os sentimentos modernos não se aplicavam ao caso. As tradições da Igreja primitiva unanimemente atribuem a Mateus o primeiro evangelho, e uma falsa atribuição a um apóstolo relativamente obscuro como foi Mateus, parece improvável até haver chegado uma época posterior, quando todos os apóstolos foram canonizados na imaginação cristã.

A habilidade de organização exibida pelo autor concorda com a mentalidade provável de um cobrador de impostos, como fora o apóstolo Mateus. Concorda também com isso o fato que esse é o único evangelho que encerra o episódio do pagamento da taxa do templo por parte de Jesus (17:24 27). A narrativa do chamamento de Mateus ao discipulado usa o nome apostólico, “Mateus”,(Ver as listas dos apóstolos em Mateus 10:24: Marcos 3:16 19; Lucas 6:13 16 e Atos 1:13.) ao invés do nome “Levi”, utilizado por Marcos e Lucas, e omite o pronome possessivo “dele”, usado em conjunto com o termo “casa (lar)”, de que se valeram Marcos e Lucas, ao descreverem o lugar onde Mateus entreteve Jesus em uma refeição (vide Mateus 9:9 13, em confronto com Marcos 2:13 17 e Lucas 5:27 32). Esses detalhes incidentais bem poderiam constituir indicações notáveis de que Mateus é o autor desse primeiro evangelho, em apoio às tradições da Igreja primitiva.