Comentário de Apocalipse 21:1-27 (J. W. Scott)

Comentário de Apocalipse 21

APOCALIPSE 21, COMENTÁRIO, ESTUDO, LIVROA criação de um novo céu e de uma nova terra (1) ensina-se em Is 65.17; Is 66.22, e implica-se em Sl 102.25-26; cfr. Mt 5.18; Mc 13.31; Lc 16.17; 2Pe 3.12. Encontra menção frequente nos apocaliptistas que, contudo levam ao extremo um pensamento indubitavelmente latente nesta doutrina, que a atual criação (ou pelo menos a sua atual forma) é suficiente ser a cena do reino de Deus aperfeiçoado e eterno. (Para uma afirmação excelente deste ponto de vista, ver 2 Baruque 44.8-12; 73.1-74.3). A afirmação que o mar já não existe tem em vista a corrente personificação do mar como a quinta essência do mal; seja o que for mais que se significa aqui, portanto, o sentimento principal é a exclusão do mal da nova ordem de vida. A santa cidade (2) descreve-se mais em 21.9, se bem que lá esteja em vista a sua manifestação na época milenária, enquanto aqui se mostra como o alvo final de uma humanidade redimida no estado eterno. A cidade é na realidade a Igreja, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido; este aspecto da relação da Igreja com Cristo já tem sido revelado em Ap 19.7-9 (ver notas). Uma voz do trono proclama a unidade de Deus com o homem daí por diante. O tabernáculo de Deus (3) pode aqui referir-se não ao "tabernáculo no deserto", mas à glória chequiná; o equivalente grego skene tem um som semelhante ao chequiná em hebraico, e este último veio a ser usado regularmente como um dos termos alternativos para o nome de Deus; cfr. Pirke Aboth 3.3, "Quando dois se assentam e há entre eles palavras da Torá, a "Chequiná" repousa entre eles". Observem-se as variantes textuais na última cláusula deste versículo como verificado na atualizada. Cfr. vers. 4 e Ap 7.17; 1Co 15.54; Is 35.10. O pensamento dos vers. 4 e 5 aplica-se em 2Co 5.17 à atual experiência dos cristãos, que já têm sido trasladados ao reino de Deus (Cl 1.13) e prova os poderes da época por vir (Hb 6.5). Está cumprido (6), ver nota sobre Ap 16.17. Observe-se que Deus tanto é Ômega como Alfa, o fim tão bem como o começo; o seu caráter garante a verdade desta revelação e a certeza da consumação que ela apregoa. A promessa graciosa que se acrescenta (6) ecoa Is 55.1. Uma final promessa encorajadora dá-se no vers. 7 ao cristão que permanece; todas as coisas, as bênçãos da santa cidade no milênio e na nova criação, serão a sua herança.

Em contraste do vencedor que herda o reino estão aqueles que dele se excluem. Em primeiro lugar, são os tímidos (8) ou antes os pusilânimes, que, por medo dos homens negam a Cristo e cultuam ao anticristo (contrastar 2Tm 1.7, "Deus não nos deu o espírito de timidez"). Com estes se unem os incrédulos ou, talvez, "infiéis", incluindo tanto os cristãos renegados como os pagãos; cfr. Tt 1.15-16. Os abomináveis assim se tornaram através do seu culto à besta; ver Ap 17.4-5. O sentimento deste verso ecoa o ensino do Novo Testamento como um todo; cfr. por ex., Mt 25.41-43; Lc 13.28; Jo 3.36; 1Co 6.9-10; Tg 5.1; 1Pe 4.17-18; etc.

Para razões que sugerem que esta seção se refere à cidade de Deus na era milenária, em vez do estado eterno, ver introdução aos capítulos 20-22. A revelação da noiva tem sido antecipada em Ap 19.7-9, onde se diz que ela se tem preparado para o seu marido. Aqui se cumpre a promessa, não, contudo, em termos de uma metáfora nupcial, mas sob a figura de uma cidade. (Para um paralelo estranhamente próximo a este procedimento, cfr. 2 Esdras 10.25-27). O vers. 10 é tão semelhante a Ez 40.2, que devemos supor que João o tinha em mente. Pareceria, por conseguinte, que o profeta viu a cidade descer do céu sobre o monte onde ele estava. O céu vem à terra no reino de Deus. A luz da cidade compara-se a de uma pedra de jaspe, como o cristal resplandecente (11); isto é, tem uma glória como a do Criador, cuja aparência se diz ser como a de pedra de jaspe (Ap 4.3).

O grande e alto muro (12) serve o duplo propósito de guardar fora os que não têm parte nas bênçãos da cidade (Ap 21.27; Ap 22.14-15) e de garantir a segurança eterna dos seus habitantes. As doze portas são inscritas com os nomes das doze tribos dos filhos de Israel (12), isto é, o "Israel de Deus", a Igreja; ver notas sobre Ap 7.1-8, 11.1-2. Por esta característica João alega que "através das igrejas, em toda a parte do mundo (aqui doze, porém, uma só, como nos cap. 1-3 elas eram sete, porém, uma só), jaz a entrada à cidade de Deus" (Kiddle).

Os doze fundamentos (14) parecem não estar sobrepostos um no outro, mas formar uma cadeia contínua de várias espécies de pedra em torno do muro da cidade, dividida por suas doze portas. Os doze apóstolos correspondem às doze tribos do vers. 12 e, como estes, denotam o corpo na sua coletividade em vez dos membros individuais; não há, portanto, nenhuma necessidade para especular sobre se o nome de Paulo está incluído, ou não, nos "doze", e, se assim for, o nome de quem foi omitido; não se ergue a questão.

A cidade estava situada, em quadrado (16); mal se torna necessário citar que os gregos consideravam o quadrado como símbolo de perfeição; é mais provável que se menciona este formato para recordar o santo dos santos no antigo templo, que também era um cubo (1Rs 6.20); a cidade toda é um santuário para Deus e participa da santidade do antigo sacrário interior. Doze mil estádios (16) (gr. stadioi) representam 2.500 km, se bem que, para traduzi-lo em termos modernos, é roubar à medida o seu óbvio simbolismo-um múltiplo infinito de doze (note-se a proeminência do número doze nesta visão da glória da Igreja). O sentido deste grande algarismo ilumina-se pelo dito rabínico que Jerusalém seria aumentada até alcançar as portas de Damasco e exaltada "até alcançar o trono de Deus". A Nova Jerusalém se estende da terra ao céu e os une em um só. Cento e quarenta e quatro côvados (17) (cerca de setenta metros-72 jardas) novamente deriva a sua significação de ser o múltiplo perfeito de doze. Se foi aceitável a explanação anterior da grande altura da cidade, não há necessidade para realçar a disparidade evidentemente absurda entre a altura da cidade e a do muro; o muro é forte bastante para servir ao seu propósito, mas a cidade tem a função extraordinária de unir a terra e o céu. Há pouca dúvida de que, como no caso de suas dimensões, assim com a enumeração dos materiais da cidade, João usa, propositadamente a linguagem de símbolo; ele não está simplesmente descrevendo riqueza fantástica. Ele já disse que o lustre da cidade é como jaspe, a aparência de Deus (ver o vers. 11); ele agora declara que todo o muro é feito dele. O ouro puro pode aludir a tal pensamento como em #Ap 3.18. As doze pedras de fundamento do muro, a despeito de certas dessemelhanças em nossas traduções, parecem ser idênticas com as do peitoral do Sumo Sacerdote (Êx 28.17-20). Com respeito a estas, tem sido estabelecido através de evidência tirada de Filo, Josefo, e monumentos egípcios e árabes, que cada uma destas jóias representa um dos doze sinais do Zodíaco. Um exame da ordem das pedras preciosas do nosso texto dá o resultado assombroso que elas retratam o progresso do sol através dos doze sinais, mas em ordem contrária. Tal fenômeno não podia ser acidental. Dele Charles deduz que João aqui mostra que a cidade santa de suas visões não tem nada que ver com as correntes especulações pagãs acerca da cidade dos deuses. Esse pensamento acentua-se pela inscrição dos nomes das doze tribos nas portas da cidade e os dos apóstolos nos fundamentos da cidade. Numa cidade modelada no santíssimo lugar, não há necessidade de um templo (22); tudo é santo e Deus em toda a parte se adora. Cfr. Jo 4.21. Com o vers. 23, cfr. o vers. 11; ver também Is 60.19-20. Como nesta última passagem, condições terrestres estão claramente em vista. Enriquece-se o pensamento quando se recorda que os leitores originais conheceriam o conceito pagão de que são deuses o próprio sol e a lua; longe de serem deuses, desvanece a sua glória nativa ante o resplendor do Senhor Deus e do Cordeiro.

Vers. 24-26 reproduzem a substância de Is 60.3-11. Eles descrevem a relação entre a cidade de Deus e as nações da terra durante o milênio. Para todos que a desejarem, a comunhão entre o céu e a terra será ininterrupta nessa era. Ainda existe na terra, mesmo quando Satanás não mais exerce a sua influência, a "contaminada" e "o que pratica abominação e mentira" (27). Para os tais há, como se fosse, "uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn 3.24). Com isto e os versos que se seguem cfr. Ap 22.14-15.




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