Significado de Judas 1

Significado de Judas 1
Significado de Judas 1


Judas 1

1.1 — Em vez de ostentar seu honrado privilégio de ser meio-irmão de Jesus, judas se autodenomina um servo do Filho de Deus. Basicamente, existiam dois tipos de servos no mundo romano: o que era forçado a ser escravo e o que se fazia servo por escolha própria. O último se ligava ao seu senhor por toda a vida. Isso ilustra o tipo de escravo que era Judas (ver Êx 21; Dt 15).

Chamados. Essa é a principal descrição dos leitores de Judas: eles foram escolhidos e chamados por Deus para representá-lo neste mundo.

1.2 — A misericórdia, e a paz, e a caridade [... ] sejam multiplicadas. Essas palavras no grego expressam um forte desejo. Embora a misericórdia seja mencionada em uma saudação somente quatro vezes no Novo Testamento, essas ocorrências são importantes porque também precedem uma advertência contra os falsos ensinos (1 Tm 1.2; 2 Tm 1.2; Tt 1.4; 2 Jo 3). A misericórdia é um favor imerecido que Deus nos concede. Paz é o estado de espírito da pessoa que descansa completamente em Deus para obter salvação e proteção. Misericórdia e paz resultam espiritualmente em amor. O amor é uma resposta à obra de Deus dada pelo cristão a Ele e às pessoas que o cercam. A misericórdia poderia ser vista como algo voltado de cima para baixo; a paz, como algo voltado para dentro; o amor, como algo voltado para fora.

1.3-16 — Esta passagem serve como a base da argumentação e do objetivo de Judas de escrever sua epístola. O versículo 3 revela a profunda preocupação, bem como a forte personalidade do escritor. Embora ele queira dedicar-se a um assunto de importância teológica para seus leitores — nossa comum salvação — a urgência de dar-lhes um aviso é prioritária. Ele diferencia seus leitores dos falsos mestres contra os quais ele os adverte. Em várias passagens na carta, Judas volta sua atenção para seus leitores com os pronomes vos, vossos, vós (v. 3,5,12,18,20-22,24), a fim de contrastar como os ímpios que os distraem (v. 4,8,10-12,14-16,19). A atenção constante no sentido de exortar, informar e confortar seus leitores revela que Judas tinha a mente de um teólogo, mas o coração de um pastor.

1.3 —Judas tinha a intenção de escrever uma carta doutrinária mais geral, mas a crise exigia esse ataque curto e certeiro contra o erro doutrinário. Quando fala da comum salvação, Judas se refere à unidade que todos os cristãos têm em Cristo. Mas, por causa da crise que envolvia os hereges que estavam infiltrando-se no meio deles, Judas não se estende no tema da salvação comum. Batalhar é a tradução de uma palavra grega que é a base da palavra agonizar. Os cristãos não são chamados ao serviço passivo, mas à vigilância na causa de Cristo (Fp 1.27).

A fé aqui não tem seu sentido comum de crença pessoal em Cristo para obter a salvação; significa o conjunto de ensinos transmitidos à Igreja pelos apóstolos (v. 17). Assemelha-se às tradições sobre o Senhor Jesus, mencionadas pelo apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 11.1; 15.3-8. A revelação não foi contínua, mas, uma vez [que] foi dada, foi definitiva e completa (Hb 1.2). O mundo está sempre em processo de mudança. Novas modas e ideias vêm e vão com tanta rapidez que é difícil acompanhá-las. A verdade de Deus, no entanto, nunca muda. Podemos confiar sempre no que Deus disse. Isso dá um grande conforto ao povo de Deus.

1.4 — Os hereges agiam sutilmente. Quando pervertiam a graça de Deus e negavam a autoridade do Senhor (Pv 1.29), eles estavam usando suas principais táticas. Foram astutos o suficiente para se infiltrar na comunidade cristã, mesmo sendo ímpios. Jesus falou sobre esse tipo de pessoas quando falou de lobos com vestes de ovelhas (Mt 7.15).

Convertem em dissolução a graça de Deus. O ensino da graça pode ser perigoso quando pervertido por falsos mestres ou pessoas carnais que acreditam que, por terem sido salvas pela graça, podem viver como bem entendem (Rm 6.1,2). Único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. Esses falsos mestres não somente viviam de modo imoral, mas rejeitavam a autoridade de Cristo. A primeira palavra grega traduzida como Senhor aqui significa Mestre. Identifica alguém que tem poder absoluto e, consequentemente, exige obediência. No texto original, está claro que toda a afirmação se refere a Cristo: Jesus é nosso Soberano absoluto e nosso Deus. Em Tito 2.13, Paulo usa uma construção grega semelhante em outra passagem importante que ensina sobre a divindade de Jesus.

1.5-11 — Estes versículos ampliam a afirmação dupla no versículo 4, que relata que os homens ímpios eram carnais. Nos versículos 5-7, Judas ilustra essa atividade pecaminosa com três exemplos do Antigo Testamento: os israelitas, os anjos expulsos do céu e os moradores de Sodoma e de Gomorra. Nos versículos 8-11, há menção da rejeição ao Senhorio de Cristo (v. 4). Essas pessoas injuriavam a liderança da Igreja de Cristo (v. 11), apesar de o anjo Miguel não ter espraguejado nem mesmo contra Satanás. Três exemplos de tal rebelião são vistos nas histórias de Caim, Balaão e Corá.

1.5 — Como a quem já uma vez soube isto. Esses cristãos foram devidamente avisados sobre os falsos mestres por Cristo e pelos apóstolos (v. 17,18), mas se tornaram negligentes e não mais vigiaram.

Destruiu [...] os que não creram. Os israelitas tiveram um começo maravilhoso no êxodo do Egito, mas um fim desastroso no deserto. O fato de começarmos com o Senhor não significa que teremos um fim glorioso que imaginamos no começo de nossa jornada rumo à salvação. Os falsos cristãos que se infiltraram no meio do povo de Deus seriam julgados, assim como os falsos crentes que rejeitaram a Deus no deserto (Nm 25.1-9).

1.6 — O significado deste versículo é contestado, assim como uma referência similar em 2 Pedro 2.4. É claro que os anjos aos quais Judas se refere não são anjos santos de Deus. Pelo contrário, esses anjos podem ser os que haviam caído juntamente com Satanás. Alguns acreditam que esses anjos sejam os filhos de Deus mencionados em Gênesis 6.2, que assumiram a forma humana e casaram-se com mulheres, antes do dilúvio. De acordo com essa interpretação, esses anjos caídos foram condenados por Deus à escuridão e às prisões e, no momento, estão esperando o juízo final de Satanás e seus anjos (2 Pe 2.4).

1.7 — Como aqueles. Os cidadãos de Sodoma e de Gomorra cometeram todos os tipos de perversão sexual (aqui outra carne refere-se a atos homossexuais; Gn 19.5). Eles também foram julgados por Deus com fogo do céu (Gn 19.24).

1.8 — Estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne. Os falsos mestres eram arrogantes e tinham suas próprias prioridades. Não haviam sido comissionados pela Igreja nem chamados pelo Espírito Santo. Judas chama esses ímpios de adormecidos, talvez porque se apropriassem da revelação divina, mas muito provavelmente porque negavam o Senhor e, portanto, estavam vivendo em um mundo de ilusão. Eles estavam criando seu próprio mundo de engano. Para eles, entregar-se à imoralidade era compatível com a nova vida, após a salvação.

Rejeitam a dominação, e vituperam as autoridades. Os falsos mestres rejeitavam até mesmo aqueles que eram colocados em posições de autoridade em congregações locais. Não somente preferiam o erro à verdade, mas também humilhavam e rejeitavam aqueles que ensinavam a verdade.

1.9 — É provável que a descrição de Judas aqui seja extraída de um livro apócrifo chamado A assunção de Moisés, escrito no primeiro século d.C. Não há registro na Bíblia sobre o encontro do arcanjo com Satanás, ou um relato detalhado sobre a morte de Moisés (há uma pequena alusão a isto em Deuteronômio 34-6). Embora Judas possa ter usado uma fonte extrabíblica para ilustrar a arrogância dos falsos mestres, isso não invalida a inspiração desta carta e não significa que a fonte da qual Judas fez a citação nãos fosse inspirada (veja a citação de textos de autores seculares por Paulo em Atos 17.28; Tito 1.12).

O nome Miguel significa quem é como Deus?. O desejo de ser como Deus foi o primeiro pecado de Satanás (Is 14.14). Foi também com isso que Satanás tentou Eva: Sereis como Deus (Gn 3.5). Embora o arcanjo Miguel tenha se oposto a Satanás, negou-se a pronunciar juízo de maldição contra ele. Miguel nem acusou Satanás, o principal dos blasfemos. Em vez disso, disse: O Senhor te repreenda, deixando que Deus ditasse o juízo. Esse respeito pelas prerrogativas de Deus contrasta com o comportamento dos hereges, que estavam difamando toda e qualquer pessoa e não respeitavam as autoridades (v. 8,10).

1.10 — Os falsos mestres não sabem a verdade do evangelho. Eles falam sobre questões que não entendem, como pessoas carnais, e não-espirituais (1 Co 2.14). Não entendem o Espírito de Deus. São como animais irracionais, corrompidos pelas próprias concupiscências e o autoengano.

1.11 — Os hereges são comparados a três rebeldes do Antigo Testamento:

(1) Caim, um lavrador, que não depositou sua fé no Senhor. O caminho de Caim é o caminho do orgulho e do falso moralismo (Gn 4.3-8; Hb 11.4; 1 Jo 3.12);

(2) Balaão, que personificou o pecado da ganância. Era um profeta pagão, um inimigo de Deus, que acreditava que podia beneficiar-se às custas do povo de Deus (Nm31.16; 2 Pe 2.15; Ap 2.14). Tal como Balaão, os mestres ímpios na igreja pareciam ser piedosos. Eles procuraram misturar-se ao povo de Deus e até foram aceitos pelos cristãos. No entanto, seu verdadeiro motivo era a ganância.

(3) Corá, que era um levita (Nm 16.1-3,31-35) e ressentiu-se pela proeminência de Moisés e de Arão como representantes de Deus. O Senhor trouxe juízo sobre Corá e seus seguidores por eles se rebelarem contra os que o Senhor elegera como autoridades. Os cristãos precisam ter cuidado para não falar contra líderes espirituais de um modo negligente (Tt 3.1,2).

1. 12,13 — Manchas em vossas festas de caridade. O povo de Deus era enganado por pessoas que aparentavam ser mensageiros de Deus, mas, em vez disso, eram ministros de Satanás (2 Co 11.4, 13-15). A palavra grega traduzida como manchas também significa recifes escondidos, e serve como uma forte advertência para que estejamos atentos aos impostores, a fim de não naufragarmos na fé.

Nuvens sem água... árvores infrutíferas. Por vezes, parece que as nuvens darão chuva, até que vem o vento e as leva embora (Pv 25.14). As árvores parecem dar frutos, mas chega o outono, e os frutos não aparecem. Os ministros de Satanás prometem crescimento espiritual, mas não satisfazem a fome do povo de Deus com a verdade. Eles não somente são infrutíferos, mas não têm raízes, não estão enxertados na Videira verdadeira, Cristo; logo não podem dar frutos, uma vez que não podem recorrer à verdadeira Fonte (SI 1.3). Falam sobre Deus, mas, na verdade, não têm Deus.

Ondas impetuosas que escumam... estrelas errantes. Essas pessoas sem Deus dão um grande espetáculo, mas lhes falta verdade. Elas se vangloriam da liberdade, mas são cativas do mal e colocam o povo de Deus sob a escravidão do pecado (2 Pe 2.19). Depois de cometerem suas maldades e obterem seus lucros indevidos, elas, como estrelas errantes, mudam-se para outros lugares, a fim de explorar novamente outros.

Eternamente... trevas. Esses impostores talvez não sejam punidos agora por suas maldades neste mundo, e seu verdadeiro caráter e ações talvez não sejam descobertos pelos cristãos, mas seu castigo eterno será certo.

1.14 — Enoque, o sétimo depois de Adão. Nesta passagem, Judas usa uma informação do apócrifo Livro de Enoque; uma pseudobiografia de Enoque, que foi levado ao céu pelo Senhor antes de morrer (Gn 5.21-24). Milhares é uma expressão hebraica com o sentido de um número ilimitado.

1.15 — ímpios. Essa palavra e suas variações repetem-se quatro vezes, transformando o versículo em um dos mais impressionantes da carta. Diante da natureza pecaminosa de homens maus, como a Igreja pôde permitir que eles ficassem em seu meio? Eles são ímpios, mas estão entre o povo de Deus, alegando serem representantes de Deus. Assim como Judas Iscariotes pareceu ser um seguidor de Cristo, o mesmo se deu no caso desses líderes religiosos (observe o contraste com os cristãos em Judas 1.1; João 13.18-30).

1.16 — Murmuradores, queixosos. Neste versículo, são descritas várias formas pelas quais pessoas más usam indevidamente a língua. Em vez de louvarem a Deus, elas se vangloriam; em vez de encorajarem umas às outras, elas se lamentam e reclamam. Sua vida se caracteriza por um profundo egoísmo e pela escravidão aos desejos carnais. Ao usarem palavras de bajulação, elas tentam angariar apoio para si mesmas de outros que se oponham às autoridades.

1.17 — As palavras dos apóstolos são importantes, pois expressam a vontade de Deus. Para discernimos o espírito que atua em alguém que alega falar e agir em nome de Deus [mas não o faz], devemos usar como parâmetro seguro a verdade bíblica e o discernimento que o Espírito Santo concede aos fiéis. Devemos evitar aqueles que atacam as verdades centrais das Escrituras, as que dizem respeito a Deus, a Cristo e à salvação pela graça de Deus por meio da fé.

1.18 —Judas mostra que nada que tenha sido observado com relação aos falsos mestres devia surpreender os cristãos. Os apóstolos já haviam advertido (v. 17) que, no final dos tempos, surgiriam
enganadores entre eles. A descrição dos hereges como escarnecedores mostra que uma de suas principais táticas para se adquirir credibilidade era destruindo líderes tementes a Deus.

1.19 — Ao declarar que os falsos mestres não tinham o Espírito, Judas não deixou dúvida alguma quanto ao destino eterno deles. Eles eram simplesmente pessoas mundanas que não pertenciam a Deus.

1.20,21 —Judas diz-nos como conservar-nos na caridade de Deus. É claro que o autor da carta incentiva-nos a cultivar nosso amor por Cristo, pois nada pode separar-nos de Seu amor (Rm 8.35-39).

1.22,23 — E apiedai-vos de alguns que estão duvidosos; e salvai alguns [...]; tende deles misericórdia com temor. Temos certas obrigações para com outros cristãos. Primeiro, precisamos demonstrar misericórdia para com nosso próximo. Segundo, precisamos usar de paciência com os que estão duvidosos, ajudando nossos irmãos e irmãs na fé. Alguns precisarão de um tratamento cuidadoso e de nossa paciência para crescerem em Cristo. Com outros, talvez precisemos tomar medidas mais firmes para que se desvencilhem do pecado, arrebatando-os do fogo. Quando resgatamos nossos irmãos cristãos, há sempre a necessidade de usarmos sabedoria e termos cuidado para não nos envolvermos no pecado que os levou a cair.

Aborrecendo até a roupa manchada da carne é uma forma metafórica de enfatizar que o cristão deve ficar atento e fugir do pecado, atentando para o disse Paulo: olhando por [si] mesmo, para que não [seja] também tentado (Gl 6.1).

1.24,25 — Judas conclui sua carta com um exuberante louvor ao Senhor, que incentiva os leitores. 

Aquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar. Tropeçar provavelmente refere-se à possibilidade de cair no erro dos falsos mestres. Observe que Judas não usa a palavra cair, mas tropeçar. Somente uma pessoa que já está andando ou correndo (imagens bíblicas frequentes acerca da vida cristã) pode tropeçar (G1 5.7; 1 Ts 4.1; Hb 12.1; 1 Jo 2.6). Deus é poderoso para nos impedir
de tropeçar e de cair (SI 37.23,24; 121.3; Pv 4-11,12). Ele nos guarda nesta vida, a despeito de todos os perigos e armadilhas que os enganadores colocam em nosso caminho.

E apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória. Irrepreensíveis é uma palavra grega usada como referência a animais separados para o sacrifício que não tinham defeito algum e, portanto, serviam para ser oferecidos a Deus. Somente Deus pode salvar-nos, purificar-nos de nossos pecados e apresentar-nos a si mesmo como irrepreensíveis, pois Deus é o Autor e Consumador de nossa fé (Hb 12.2).

Mais estudos bíblicos sobre a Carta de Judas...

Cf. Teologia da Carta de Judas
Cf. Panorama da Carta de Judas
Cf. Carta de Judas
Cf. Visão Geral da Carta de Judas