Mateus 11 — Comentário de Matthew Henry
Mateus 11
Versículos 1: A pregação de Cristo; 2-6. A resposta de Cristo aos discípulos de João; 7-15; O testemunho de Cristo acerca de João Batista; 16-24: A perversidade dos judeus; 25-30: O Evangelho revelado aos simples - Convite aos sobrecarregados.
V. 1. O nosso divino Redentor nunca se cansou de sua obra de amor; e nós não devemos nos cansar de fazer o bem, porque a seu devido tempo colheremos, se não desfalecermos.
Vv. 2-6. Alguns pensam que João enviou os seus discípulos a perguntá-lo, meramente para sua satisfação. Mesmo aonde há verdadeira fé, pode ainda haver uma mescla de dúvida. A incredulidade remanescente nos homens bons, pode às vezes, na hora da tentação, questionar as verdades mais importantes. Acreditamos que a fé de João não falhou neste assunto, e que ele só desejava ter a sua fé fortalecida e confirmada. outros pensam que João enviou seus discípulos a Cristo para a satisfação deles.
Cristo lhes observa o que têm ouvido e visto. A condescendência e a compaixão da graça de Cristo pelos pobres mostram que era Ele quem deveria trazer ao mundo as ternas misericórdias de nosso Deus.
As coisas que os homens veem e ouvem, comparadas com as Escrituras, dirigem o caminho em que se deve encontrar a salvação. É difícil vencer preconceitos e perigos, e existe o risco de não vencê-los; porém, os que creem em Cristo verão que sua fé será achada muito mais para louvor, honra e glória.
Vv. 7-15. O que Cristo disse acerca de João não foi só para elogiá-lo, mas também para proveito do povo. os que ouvem a palavra serão chamados a dar conta de seu proveito. Pensamos que o cuidado termina quando termina o sermão? Não! É aí que tem inicio o maior dos cuidados.
João era um homem abnegado, morto para as pompas do mundo e os prazeres dos sentidos. Convém que as pessoas em todas as suas aparências sejam coerentes com seu caráter e situação. João era um grande e bom homem, mas não perfeito; portanto não alcançou a estatura dos santos glorificados. o menor no céu sabe mais, ama mais e faz mais louvando a Deus, e recebe mais dEle do que o maior deste mundo. o reino dos céus aqui mencionado deve ser entendido como o reino da graça, a dispensação do Evangelho em seu poder e pureza. Quanta razão temos para estar agradecidos que nossa sorte esteja lançada nos dias do reino dos céus, sob tais vantagens de luz e amor!
Há multidões que foram trazidas pelo ministério de João e chegaram a ser seus discípulos. E houve quem lutasse por um lugar neste reino, que ninguém pensaria que pudesse ter direito nem título para isto, e pareceram ser intrusos. Isto nos mostra quanto fervor e zelo é requerido de todos. Deve-se negar o eu; deve-se mudar a disposição, a inclinação e o temperamento da mente. os que têm um interesse na grandiosa salvação, a terão a qualquer preço, e não pensarão que é difícil, nem a deixarão passar de si sem que recebam a bênção. As coisas de Deus são de preocupação grande e comum. Deus não requer mais de nós que o uso justo das faculdades que nos tem dado. As pessoas são ignorantes porque não querem aprender.
Vv. 16-24. Cristo faz uma reflexão sobre os escribas e fariseus, que tinham um conceito orgulhoso de si mesmos. compara a conduta deles com a brincadeira das crianças, que zangando-se sem razão, rebatem todos os intentos de seus companheiros para agradá-los ou para que se unam às brincadeiras para as quais costumavam reunir-se.
As objeções capciosas dos homens mundanos são frequentemente muito fraudulentas, e demonstram grande malícia. Estes sempre têm algo a criticar nos outros, por mais excelentes e santos que aqueles possam ser. Cristo, que era imaculado e apartado dos pecadores, aqui se apresenta com eles e "contaminado" por eles. A inocência mais imaculada nem sempre será defesa contra a reprovação.
Cristo sabia que os corações dos judeus eram mais irados e endurecidos contra seus milagres e doutrinas, do que os de Tiro e Sidom; portanto, sua condenação será maior. O Senhor exerce sua onipotência, mas não castiga mais do que se é merecido, e nunca retém o conhecimento da verdade daqueles que o anelam.
Vv. 25-30. É dever dos filhos serem agradecidos. Quando vamos a Deus como Pai, devemos nos lembrar que Ele é o Senhor do céu e da terra, que nos faz ir a Ele com reverência, por ser Ele o Senhor soberano sobre tudo. Com tal confiança o fazemos, como a quem é capaz de nos defender do mal e nos proporcionar todo bem.
Nosso bendito Senhor adicionou uma declaração notável: que o Pai havia posto em suas mãos todo o poder, autoridade e juízo. Estamos endividados com Cristo por toda a revelação que temos da vontade e amor de Deus Pai desde que Adão pecou.
Nosso Salvador tem convidado para que venham a Ele todos os que trabalham arduamente e que estão sobrecarregados. Em alguns aspectos, todos os homens estão assim. Os homens mundanos se sobrecarregam com preocupações infrutíferas, riquezas e honras; o que busca o divertimento e o prazer sensual ilícito se esforça pelos prazeres; o escravo de Satanás e suas próprias luxúrias é o servo mais escravizado da teria. os que trabalham arduamente para estabelecer sua própria justiça também trabalham em vão. O pecador convicto está muito carregado de culpa e terror; o crente tentado e afligido tem trabalhos duros e cargas.
Cristo convida que todos venham a Ele em prol do repouso para as suas almas. Só Ele faz este convite. os homens vão a Ele quando, sentindo sua culpa e miséria e crendo em seu amor e poder para os socorrer, buscam-no com oração fervorosa. Assim, é interesse e dever dos pecadores cansados e carregados, virem a Jesus Cristo. Este é o chamado do Evangelho: aquele que quiser, venha. Todos os que assim vão receberão repouso como presente de Cristo, e obterão paz e consolo em seu coração. Ao ir a Ele, devem tomar seu jugo e submeter-se à sua autoridade. Devem aprender dEle todas as coisas acerca de seu consolo e obediência. Ele aceita o servo disposto, por riais imperfeitos que sejam os seus serviços. Aqui podemos encontrar repouso para nossas almas, e só aqui.
Não temos que temer o seu jugo. Seus mandamentos são santos, justos e bons. Isto requer que nos neguemos a nós mesmos e traz dificuldades; porém, isto é abundantemente recompensado já neste mundo, pela paz e gozo inferior. É um jugo que tem como base o amor. Tão poderosos são os socorros que nos dá, tão adequadas as exortações, e tão fortes as consolações que se encontram no caminho do dever, que podemos dizer verdadeiramente que é um jugo grato. o caminho do dever é o caminho do repouso. As verdades que Cristo ensina são tais que podemos arriscar a nossa alma por elas. Sendo tal a misericórdia do Redentor, então por que deve o pecador laborioso e carregado buscar repouso em alguma outra parte? Devemos ir a Ele diariamente em busca da libertação da ira e da culpa do pecado e de Satanás, de todas as nossas preocupações, temores e dores. A obediência forçada, longe de ser fácil e leve, é uma carga pesada. Em vão nos aproximaremos de Jesus com nossos lábios, enquanto o coração estiver longe dEle. Então vinde a Jesus para encontrardes repouso para as vossas almas.