Mateus 26 — Comentário de Matthew Henry
Mateus 26
Versículos 1-5: Os governantes conspiram contra Cristo; 6-13: Cristo é ungido em Betânia; 14-16. Judas negocia para trair a Cristo; 17-25: A páscoa; 26-30: Cristo institui a Santa Ceia; 31-35: Cristo adverte a seus discípulos; 36-46. Agonia no jardim; 47-56. É traído; 57 68: Cristo perante Caifás; 69-75: A negação de Pedro.
Vv. 1-5. Nosso Senhor falou frequentemente de seus sofrimentos como distantes; agora, fala deles como imediatos. Ao mesmo tempo, o concílio judeu consultava como poderiam matá-lo de forma secreta, mas foi do agrado de Deus derrotar-lhes a intenção. Jesus, o verdadeiro Cordeiro Pascal, seria sacrificado por nós nesse mesmo momento, e sua morte e ressurreição seriam públicas.
Vv. 6-13. O unguento derramado sobre a cabeça de Cristo era um sinal de maior respeito. Onde há amor verdadeiro por Jesus Cristo no coração, nada será considerado como bom demais para ser dado a Ele. Quanto mais os servos de Cristo e os seus serviços forem criticados, mais Ele manifestará a sua aceitação. Este ato de amor e fé foi tão notável que seria registrado como monumento à fé e ao amor de Maria para todas as eras futuras, e em todos os lugares onde se pregasse o Evangelho. Esta profecia tem se cumprido.
Vv. 14-16. Não há senão doze apóstolos chamados, e um deles era como um Diabo. Com toda segurança, nunca podemos esperar que nenhuma sociedade seja absolutamente pura debaixo do céu. Quanto maior for a profissão da religião que façam os homens, maior será a oportunidade que terão de fazer o mal, se seus corações não estiverem bem com Deus. observe que o próprio discípulo de Cristo, que conhecia tão bem sua doutrina e estilo de vida, foi falso com Ele, e não o pôde acusar de nenhum delito, ainda que isto servisse para justificar a sua traição. o que Judas queria? Não era ele bem recebido onde quer que fosse com o seu Mestre? Não ia tão bem a ele quanto a Cristo? A falta que cometeu não foi o amor ao dinheiro, que é a raiz de todos os males? Depois de ter feito esta malvada transação, Judas teve tempo para arrepender-se e revogá-la; porém, quando a consciência se tem endurecido com atos de desonestidade aparentemente menores, os homens fazem sem duvidar o que é mais vergonhoso.
Vv. 17-25. Observe que o lugar para comer a páscoa foi designado por Cristo aos seus discípulos. Ele conhece a pessoa que secretamente favorece a sua causa, e por sua graça visita todos os que estão dispostos a recebê-lo. os discípulos fizeram como Jesus lhes indicou. Aqueles que desejam ter a presença de Cristo na páscoa do Evangelho, devem fazer o que Ele diz.
Isto quer dizer que os discípulos de Cristo devem ser sempre zelosos de si mesmos, especialmente em tempos de prova. Não sabemos com quanta força podemos ser tentados, nem quanto Deus pode nos deixar livres, à nossa própria vontade; portanto, temos razões para não sermos altivos, mas para temer. o exame que esquadrinha o coração e a oração fervorosa são especialmente apropriados antes da ceia do Senhor, para que, uma vez que Cristo a nossa páscoa, é agora sacrificado por nós, podemos guardar esta festa e renovar nosso arrependimento, nossa fé em seu sangue e nos rendermos a seu serviço.
Vv. 26-30. A ordenança da ceia do Senhor é para nós a ceia da páscoa, através da qual comemoramos uma libertação muito maior que a de Israel no Egito. "Tomai, comei"; aceite a Cristo como te é oferecido, receba a expiação, aprove-a, submeta-se à sua graça e autoridade. A carne para a qual somente se olha, por mais bem apresentada que esteja no prato, não alimenta; deve ser comida: assim deve acontecer com a doutrina de Cristo.
"Isto é meu corpo", isto é, significa e representa espiritualmente o seu corpo. Participamos do sol, não tendo o sol posto era nossas mãos, mas seus raios são lançados sobre nós; assim participamos de Cristo ao participarmos de sua graça e dos frutos benditos no partir de seu corpo. o sangue de Cristo está significado e representado pelo vinho. Ele deu graças, para nos ensinar a olhar a Deus em cada aspecto da ordenança. Este cálice Ele deu aos discípulos com o seguinte mandamento: "Bebei dele todos". o perdão dos pecados é a grande bênção que se confere na ceia do Senhor, a todos os crentes verdadeiros; é o fundamento de todas as demais bênçãos.
Ele aproveita a comunhão para assegurar-lhes a feliz reunião que acontecerá novamente ao final: "Até aquele dia em que o beba de novo convosco", o que pode ser entendido como as delicias e as glórias futuras, da qual os santos participarão com o Senhor Jesus. Esse será o reino de seu Pai; o vinho do consolo será sempre novo ali. Enquanto olhamos para os sinais externos do corpo de Cristo partido, e seu sangue derramado para a remissão de nossos pecados, recordemos que a festa lhe custou tanto que teve que dar literalmente sua carne como comida e seu sangue como nossa bebida.
Vv. 31-35. A confiança imprópria em si mesmo, como a de Pedro, é o primeiro passo em direção a uma queda. Todos somos propensos a ser demasiadamente confiados, mas aqueles que estão mais confiados em si mesmos caem mais rapidamente e sofrem uma queda maior. Os que se sentem mais seguros são os que estão menos a salvo. Satanás está ativo para desviar aos tais; eles são os que estão menos em guarda. Deus os deixará entregues à sua própria sorte para humilhá-los.
Vv. 36-46. Aquele que fez a expiação pelos pecados da humanidade submeteu-se no jardim do sofrimento à vontade de Deus, contra a qua,1 se havia rebelado o homem em um jardim de prazeres. Cristo levou consigo a esta parte do jardim onde sofreu a sua agonia, somente aos que haviam presenciado a sua glória em sua transfiguração. Estão melhor preparados para sofrer com. Crista os que, por fé, têm contemplado a sua glória. As palavras usadas denotam a rejeição, o assombro, a angústia e o horror mental mais completos e profundos; o estado de alguém rodeado de sofrimentos, esmagado por misérias, e quase consumido pelo terror e pelo desânimo.
Agora começou a entristecer-se, e não deixou de estar assim até que disse: Está consumado. Ele orou para que se fosse possível o cálice passasse dEle. Mas também mostrou sua perfeita vontade de levar a carga de seus sofrimentos; estava disposto a submeter-se a tudo por nossa redenção e salvação. Conforme este exemplo de Cristo, devemos beber o cálice mais amargo que Deus coloque em nossas mãos; ainda que nossa natureza se oponha a isto, deverá submeter-se. Devemos nos preocupar mais em fazer com que nossas tribulações sejam santificadas, e nossos corações se satisfaçam submetidos a elas, do que conseguir que os problemas sejam eliminados.
Bom é para nós que nossa salvação esteja na mão daquEle que não tosqueneja nem dorme. Todos somos tentados, mas devemos ter grande temor de cairmos em tentação. Para estarmos a salvo disto, devemos vigiar e orar e olhar continuamente para o Senhor, para que Ele nos sustenha e estejamos a salvo.
Sem dúvida nosso Senhor tinha uma visão clara e completa dos sofrimentos que ainda teria de suportar, e mesmo assim falou com a maior calma até este momento. Cristo é a garantia responsável por dar contas por nossos pecados. Como consequência, foi feito pecado por nós, e sofreu por nossos pecados; o justo pelo injusto. E a Escritura atribui os seus sofrimentos mais intensos à mão de Deus. Ele tinha pleno conhecimento do infinito mal do pecado e da imensa magnitude da culpa pela qual faria expiação; com horrendas visões da justiça e santidade divina, e do castigo merecido pelos pecados dos homens, tais que nenhuma língua pode expressar e nenhuma mente conceber.
Ao mesmo tempo Cristo sofreu sendo tentado; provavelmente Satanás sugeriu horríveis pensamentos, todos tendenciosos a tirar uma conclusão sombria e espantosa: estes devem ter sido os mais difíceis de suportar por sua santidade perfeita. E se a carga do pecado imputado pesou tanto na alma daquEle de quem foi dito: "Sustenta todas as coisas com a palavra de seu poder", em que miséria devem desfalecer aqueles cujos pecados pesam sobre suas próprias cabeças! Como escaparão aqueles que se descuidam de uma tão grande salvação?
Vv. 47-56. Não existem inimigos que sejam tão aborrecíveis quanto os discípulos professos que traem a Cristo com um beijo. Deus não necessita de nossos serviços, muito menos de nossos pecados, para realizar os seus propósitos. Ainda que Cristo tenha sido crucificado em fraqueza, esta fraqueza foi voluntária; Ele se submeteu à morte. Se não tivesse estado disposto a sofrer, eles não o teriam vencido.
Foi um grande pecado por parte daqueles que deixaram tudo para seguir a Cristo, abandoná-lo agora por algo que não sabiam. Que atitude néscia foi, por medo da morte, fugirem daquEle a quem conheciam e reconheciam como o manancial da vida!
Vv. 57-68. Jesus foi levado a Jerusalém apressadamente. Reflete mal e pressagia o pior, que os dispostos a serem discípulos de Cristo não estejam dispostos a serem reconhecidos como tais. Aqui começa a negação de Pedro: seguir a Cristo de longe é começar a retirar-se da presença dEle. Nós devemos nos preparar para o fim, seja este qual for, ao invés de perguntarmos, curiosos, qual será este fim. o agir é de Deus, mas o dever é nosso.
Agora foram cumpridas as Escrituras que dizem: Contra mim se têm levantado testemunhas falsas. Cristo foi acusado para que nós não fôssemos condenados; e se em qualquer momento sofrermos assim, recordemos que não podemos ter a expectativa de que nos sucederá algo melhor do que a nosso Mestre. Quando Cristo foi feito pecado por nós, ficou calado e deixou que seu sangue falasse. Até então, raras vezes Jesus havia confessado expressamente ser o Cristo, o Filho de Deus; o tom de sua doutrina o declarou, e seus milagres o provaram, mas agora omitiria fazer uma confissão direta. Teria parecido que estava renunciando aos seus sofrimentos.
Assim confessou Ele, a fim de que servisse de exemplo e estímulo para que os seus seguidores o confessassem diante dos homens, não importando qual seja o perigo que corram. o desdém, a zombaria cruel e o aborrecimento são a porção certa do discípulo, como foram a do Mestre, por parte daqueles que desejavam golpear e rir com zombaria do Senhor da Glória. No capítulo 50 de Isaías, estes fatos são preditos com precisão. Confessemos o nome de Cristo e suportemos a reprovação do mundo, e Ele nos confessará diante do trono de seu Pai.
Vv. 69-75. O pecado de Pedro nos é relatado com veracidade, porque as Escrituras tratam os assuntos com fidelidade. As más companhias levam a pecar. Aqueles que se relacionam sem necessidade com estas, podem criar a expectativa de serem tentados e envolvidos em uma situação difícil, como foi Pedro. Devem abandonar essas companhias sem culpa ou dor, ou ambas. É uma grande falta ter vergonha de Cristo e negar que o conhecemos quando somos chamados a reconhecê-lo, e, com efeito, isto é negá-lo. o pecado de Pedro teve agravantes, mas ele caiu em pecado por surpresa, não intencionalmente, como Judas. A consciência deve ser para nós como o canto do galo, para nos fazer lembrar dos pecados dos quais nos esquecemos. Foi permitido que Pedro caísse para que a sua confiança em si mesmo fosse abatida, e para que com isso ele se tornasse mais modesto, humilde, compassivo e útil para os demais. Este fato tem desde então ensinado muitas coisas para os crentes; e se os infiéis, os fariseus e os hipócritas tropeçam ou abusam disto, é por seu próprio risco. Apenas saberíamos como agir em situações muito difíceis, se fôssemos deixados a nós mesmos. Portanto, aquele que acredita estar firme, tenha cuidado para que não caia. Não coloquemos a nossa confiança em nossos próprios corações, mas confiemos totalmente no Senhor.
Pedro chorou amargamente. o sofrimento pelo pecado não deve ser leve mas grande e profundo. Pedro, que chorou amargamente por negar a Cristo, nunca voltou a negá-lo, mas confessou-o muitas vezes estando diante do perigo. o arrependimento verdadeiro de qualquer pecado será demonstrado pela graça, bem como pelo dever de proceder de modo contrário; este é o sinal de nosso pesar não somente amargo, mas sincero.
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