Apolo — Estudo Bíblico
APOLO
Apolo (Atos 18:24) era um judeu da cidade de Alexandria. Seu nome é um a
forma abreviada de A polônio. Apolo chegou em Éfeso em cerca de 52
D.C., durante a viagem confirmatória de Paulo entre as igrejas da Galácia e da
Frigia. Apolo já tinha ouvido falar em Jesus Cristo, e era discípulo do Senhor;
no entanto, ainda não estava bem informado sobre a mensagem cristã em sua
inteireza. Seu dote natural era a eloquência, além de um conhecimento profundo
das Escrituras do A.T. Combinava, pois, esses dois elementos, e assim era um
poderoso pregador da verdade espiritual de Deus. Quando Apolo chegou em Éfeso,
não tinha conhecimento algum da experiência do Pentecoste, e nem havia ainda
participado dela; e também ainda não conhecia o batismo cristão. Seu
discipulado era apenas o de um seguidor de João Batista, tendo crido na
mensagem pregada por este de que Jesus era o Messias judaico. Essa falta de
melhor instrução, da parte de Apolo, foi eliminada pelo esforço paciente de
Priscila e Áquila (ver Atos 18:26). De Éfeso, Apolo se dirigiu para Corinto.
Evidentemente era homem poderoso na apologética cristã, e deve ter obtido
retumbante sucesso, tomando-se famoso como um dos principais líderes da igreja
cristã.
Foi devido a essa reputação que os crentes de Corinto, que tendiam para
as facções, fizeram de Apolo um dos supostos cabeças dessas divisões, ou, pelo
menos, um de seus heróis, que uma dessas facções se dizia seguidora. Paulo,
porém, salientou o fato de que na realidade só existe um único Herói do
evangelho, isto é, o próprio Cristo Jesus. Todos os demais são apenas servos
seus. (Ver I Cor. 3:4,21-23). O fato de que Apolo não mais retornou a Corinto,
mesmo depois que Paulo lhe solicitou a sua volta (ver I Cor. 16:12), talvez
indique que ele se recusou a tal a fim de abafar a controvérsia que surgira por
causa de líderes cristãos, dessa maneira humilhando a si mesmo. Isso é um ponto
favorável para com o seu caráter cristão, servindo, por outro lado, de
lamentável comentário acerca de tantos modernos líderes cristãos, que não
seguem o exemplo de Apolo, mas antes, geralmente, tudo fazem para erigir sua
posição e seu conceito, preferindo a fama e o orgulho à obscuridade e à
humildade.
Desde os tempos de Lutero, diversos estudiosos têm sugerido que Apolo
foi o autor da epístola canônica aos Hebreus. Todavia, apesar disso
ser perfeitamente possível, considerando-se a elevada qualidade do, grego, de
mistura com profundo conhecimento das Escrituras hebraicas, o que era um sinal
de erudição em Alexandria, não há maneira que nos permita demonstrar o acerto
ou equívoco dessa opinião. De fato, existem certos paralelismos na linguagem,
no estilo e no pensamento, similares aos que se encontram nos escritos de Filo,
o filósofo neoplatônico e teólogo judeu de Alexandria que fortalecem a ideia de
que algum judeu alexandrino foi quem escreveu a epíst. aos Hebreus.
A grande verdade, porém, é que a autoria dessa epístola deve continuar
um mistério para nós. (Ver o artigo sobre Hebreus, sob o titulo
Autor). O máximo que se pode dizer a respeito dessa questão é que o
grego koiné em que a epístola aos Hebreus foi escrita é de superior qualidade e
mais clássico que as epístolas de Paulo, e é quase impossível, do ponto de
vista linguístico, que o apóstolo Paulo tenha sido também o autor dessa
epístola aos Hebreus. Um indivíduo do p reparo e formação de Apolo, por outro
lado, bem poderia ter sido o autor desse livro neotestamentário. A última
alusão bíblica a Apolo é a que se lê no trecho de Tito 3:13, que declara:
“Encaminha com diligência a Zenas, o intérprete da lei, e a Apolo, a fim de que
não lhes falte cousa alguma”. Jerônimo (século IV D.C.) diz-nos que Apolo teria
ficado em Creta até que ouviu notícias sobre a cura total das brechas facciosas
que tinham surgido na igreja de Corinto. Em face disso, voltou para Corinto e
posteriormente tornou-se pastor daquela localidade.
Os gregos, entretanto, pensam que ele ter-se-ia tornado pastor de Duras,
mas existem outros que opinam que ele foi o segundo bispo de Cólofon, na Ásia.
Ferrarius assevera que ele foi bispo de Icônio, na Frigia, ao passo que outros
garantem que ele foi bispo de Cesaréia. Todas essas afirmativas, entretanto,
não passam de meras conjecturas, baseadas em tradições nas quais não podemos
confiar. Portanto, nada de realmente seguro se sabe com respeito às atividades
de Apolo, depois dos informes que encontramos nas páginas do N.T.
Apolo era homem eloquente. Esse vocábulo se refere à sua
erudição quanto às Escrituras do A .T ., ou à sua facilidade de expressar esse
conhecimento, ou, talvez ainda, a ambos esses elementos. Diz Ramsay, a respeito
de Apolo: “Um bom orador, bem versado nas Escrituras”. É provável que Apolo
devesse parte de sua erudição ao conhecimento e às conexões que talvez tivesse
mantido com a escola de Filo, ainda que não tenham os meios para demonstrar tal
vinculação. Apolo chegou a Éfeso com algum propósito para nós desconhecido.
Porém, talvez ele visasse tanto ensinar como também investigar a igreja cristã
que florescia naquela localidade.
Por conseguinte, talvez ele tenha chegado ali tanto como um mestre
quanto como um inquiridor, o que também todos nós devemos ser, de uma maneira
ou de outra, em grau maior ou menor. “Sendo possuidor de dotes extraordinários
de retórica, sem dúvida era educado nas escolas alexandrinas”. (Adam Clarke, em
Atos 18:24). Ao aplicar o presente texto bíblico aos pregadores, os quais são
dessa maneira exortados a se entregarem ao estudo profundo das Escrituras
Sagradas, fazendo-se “poderosos” nas Escrituras, diz Robertson, em Atos 18:24:
“Não há como desculpar a ignorância sobre as Escrituras, da parte dos
pregadores do evangelho, os professos intérpretes da Palavra de Deus. A última
preleção feita na classe do Novo T estamento em inglês, no Seminário Teológico
Batista do Sul, por John A. Broadus, teve por fulcro essa passagem , quando ele
lançou um apelo aos seus alunos para que se tornassem poderosos nas Escrituras.
Em Alexandria, Clemente de Alexandria e Orígenes ensinavam na escola teológica
cristã”.
A eloquência de Apolo sem dúvida alguma foi uma das grandes razões pelas
quais, em Corinto, um a determinada facção da igreja cristã o elegeu como seu
herói, ao passo que outros grupos davam preferência a Paulo, a Pedro, ou a
qualquer outro. Além de ser eloquente (ver Atos 18:24), Apolo também era
fervoroso de espírito, expressão esta que tem de significar uma
dentre duas possibilidades, a saber:
1. Estaria em foco o fervor de seu próprio espírito (conforme pensam
aquelas traduções que dizem espírito com letra inicial minúscula). Isso
significaria que Apolo era dotado de um zelo espiritual todo especial, em que a
intensidade de seus sentimentos pode ser destacada mediante uma tradução
literal, “ebuliente no espírito”.
2. Mas alguns intérpretes preferem pensar que a expressão fervoroso de
Espírito seja escrita com letra inicial maiúscula, como alusão ao Espírito
Santo de Deus. Nesse caso, Apolo seria aqui encarado como indivíduo que fervia
com a energia do Espírito de Deus.