Livro de Apocalipse — Estudo Bíblico


Livro de Apocalipse — Estudo BíblicoLIVRO DE APOCALIPSE


I. O que é um Apocalipse?

1. Literatura Apocalíptica. 

Toda a literatura apocalíptica é escatológica. Em outras palavras, aborda a questão dos “tempos do fim”, o término do mundo segundo o conhecemos, o começo de um novo ciclo, ou, em alguns casos, o estado eterno. Nem toda a literatura escatológica, porém, é apocalíptica. Pode-se falar, por exemplo, sobre a “alma” e seu destino, e isso nos levaria a tratar de certo aspecto do ensinamento escatológico normal, m as, ao mesmo tempo, nada de distintamente apocalíptico estará sendo envolvido nesse ensino.
Os escritos que têm chegado até nós, que são chamados “apocalípticos”, possuem características distintivas, o que é salientado na discussão que se segue. De modo bem geral, pode-se afirmar que essa forma literária trata da escatologia, pois visa dizer-nos as condições que haverá nos últimos tempos, nos tempos futuros remotos, mas sua apresentação fala daqueles acontecimentos futuros que terão lugar durante dias angustiosos, em que uma antiga era passará em meio a tempestades e agonias, iniciando-se um a era inteiramente nova, através das mais severas dores de parto. Mas isso não é uma característica normal e necessária dos escritos escatológicos. No que concerne à atividade literária judaico-cristã, pode-se identificar o período dos escritos apocalípticos entre 165 A.C. e 120 D.C.
Essa literatura antecipa o fim de um ciclo histórico, a saber, o ciclo judaico, o que se d aria em meio a dores severas, antes do nascimento da era cristã. Os “apocalipses” cristãos refletem o desapontamento dos discípulos de Cristo por não se ter materializado' o Reino de Deus em sua própria época. E esse desapontamento foi apenas natural, e se pensou que os acontecimentos que sempre foram tomados como necessários na inauguração do reino deveriam ser transferidos para outra época, o tempo da “volta” de Jesus Cristo, não mais sendo atribuídos ao seu “primeiro advento”. Isso preencheu um vácuo psicológico, pois manteve os homens na “esperança” no estabelecimento do reino. No entanto, não há razão para crermos, meramente porque esse tipo de literatura cumpre uma necessidade psicológica, que as profecias contidas em nossos apocalipses bíblicos (os livros de Daniel e de Apocalipse) não sejam válidas. Os apocalipses judaicos foram escritos na época de Antíoco Epifânio e posteriormente, acompanhando as perseguições que houve naquele período histórico.
Essa literatura apocalíptica teve a finalidade de dar aos homens a “esperança quanto ao futuro”, estando eles a passar por um presente dificílimo. Essa esperança contemplava particularmente o livramento através do vindouro Messias, bem como através do estabelecimento de seu reino. Pode-se ver facilmente que, tal como no caso dos apocalipses cristãos, a literatura apocalíptica judaica conservava a necessidade psicológica de “saltar por cima” de um presente difícil, a fim de levar os homens a terem esperança e fé firme de que se cumpriria uma nova era de vitória e realizações espirituais, embora isso não dispensasse grande agonia.
Também é verdade que apesar da atividade da literatura apocalíptica nunca se ter tom ado uma questão central no judaísmo, e apesar de que a maioria dos rabinos judeus a ignoravam essencialmente, contudo, esses escritos serviram ao seu propósito; e em bora nunca tivessem ganho posição canônica, não há razão para supormos que não há ali certo discernimento quanto ao futuro, misticamente intuitivo, apesar de não ser diretamente inspirado pelo Espírito do Senhor. Em contraste com isso, o espírito apocalíptico dominava a igreja primitiva. O fato de que o reino de Deus não se materializou então deu, aos primeiros discípulos de Cristo, a ardente esperança que a “breve” e mesmo “iminente” segunda volta de Cristo (a “parousia” dos escritos neotestamentários) haveria de desfazer o erro de sua “rejeição”, cumprindo todas as expectações da humanidade acerca de um a era melhor. Mas essa era melhor não haverá de iniciar-se senão através da morte agonizante e terrível da antiga era, e a literatura apocalíptica é, essencialmente, a descrição dessa morte febricitante, com descrições adicionais do glorioso nascimento da nova era, que se seguirá.
A literatura apocalíptica, pois, tem um “propósito presente”.  Os fiéis necessitam de força espiritual para passar pelas aflições, desapontamentos e pressões desta era ímpia em que vivemos. Serão mais capazes disso se puderem antever a vitória, a qual, finalmente, reverterá os terrores do momento presente. Os escritos apocalípticos prometem que os adversários de Deus não escaparão ao juízo por causa daquilo que fizeram, por seus feitos ímpios que praticaram. Além disso, promete que aquilo contra o que os perversos se têm oposto, o governo de Deus sobre a terra, eventualmente cumprirá, a despeito deles. Outrossim, promete que até mesmo muitos daqueles que se têm oposto a isso, através dos juízos haverão de reconhecer a mão de Deus na história, acolhendo a seu Cristo como Senhor deles. Há algum— características distintivas da literatura apocalíptica.
O termo grego “apokalupto” significa “desvendar”, “revelar”. O “apokalupsis”, pois, é uma “revelação” ou “desvendamento”; é um a “visão profética”. Consideremos os pontos seguintes a esse respeito: 1. Os livros apocalípticos são sempre reveladores. Há ali atividade mística, revelações, sonhos, visões, viagens celestiais em espírito, tudo o que transcende à era presente pelos poderes da alma humana, com ou sem a ajuda divina. Cremos que até mesmo os apocalipses não-canônicos envolvem algumas experiências místicas válidas, ou seja, algum discernimento válido quanto as questões espirituais, incluindo revelações sobre as condições futuras. Os dois livros apocalípticos da Bíblia, Daniel e Apocalipse, certamente contêm o esboço dos acontecimentos futuros, a maioria dos quais tem sido confirmada pela atividade profética dos místicos atuais. Em outras palavras, as profecias de nossos dias concordam com as previsões bíblicas, de modo a narrar acontecimentos paralelos. Ver o artigo intitulado Tradição Profética e a Nossa Época,  que apresenta um a discussão geral sobre essa questão.

 2. São imitativos e pseudopreditivos. 

Apesar de haver discernimento espiritual quase certam ente “válido”, porquanto os poderes de pré-conhecimento dos homens funcionam quase sempre, com resultados que podem ser medidos, esses livros apocalípticos tendem por ser imitativos. O livro de Daniel servia de arquétipo original. Nesses escritos há “invenções” que não refletem qualquer atividade mística genuína, pois as “profecias de condenação”, com subidas aos céus e descidas ao inferno, se tornaram artifícios literários, que visavam ensinar verdades espirituais, apresentando advertências e encorajamentos necessários. Portanto, — apesar de que algumas previsões válidas estarem contidas nos apocalipses não-canônicos, mais freqüentemente do que não, as profecias são pseudopreditivas; e essas previsões tornam-se “meios” de ensino,— em vez de serem tentativas sérias de predizer o futuro.
3. Empregam verdades místicas e simbólicas,  em vez de verdades físicas e literais. A fé religiosa pode ser ensinada com habilidade sem base nos acontecimentos históricos reais, ou passados ou em antecipação ao futuro. O meio de transmitir a verdade, dentro do misticismo, é o símbolo. Um símbolo pode ser válido, sem importar que por detrás dele tenha ou não algum acontecimento físico e literal. As parábolas de Jesus (pelo menos algumas delas) não tinham o intuito de relacionarem-se com qualquer acontecimento real; antes, eram “boas narrativas” sobre as verdades eternas, que eram assim vividamente ilustradas.
Assim sendo, um profeta podia falar sobre a descida ao inferno por parte de Enoque, e assim ensinar uma verdade acerca do estado das almas perdidas, sem isso significar que Enoque tenha, realmente, feito tal viagem. Até mesmo nos apocalipses canônicos, as “visões” com freqüência não apresentam objetos “reais” ou “físicos”. Tomemos, por exemplo, o caso da imagem com os dez dedos formados de ferro e barro. Isso simboliza os reinos e federações do mundo, embora não seja uma verdade literal. Algumas obras apocalípticas chegam a extremos bizarros ao pintarem condições e expectações espirituais. Alguns dos intérpretes mais inclinados pela interpretação literal do Apocalipse de João procuram tornar literais esses simbolismos.
Assim, os “gafanhotos” e “escorpiões”, que são animais simbólicos do nono capítulo do livro de Apocalipse, seriam insetos literais que atacam os homens como praga. Porém , não são esses m ais literais do que os “cavaleiros” do sexto capítulo do mesmo livro. Todas essas coisas simbolizam os terríveis julgamentos e as condições imediatamente antes da “parousia” ou segundo advento de Cristo. A tentativa de em prestar um cará te r literal a esses símbolos redunda em fracasso, além de impedir o entendimento da própria natureza mística dessas visões. Até mesmo os sonhos ordinários nos falam por meio de “símbolos”. Por exemplo, um a “criança” simboliza o trabalho realizado por algum obreiro do evangelho, pois esse trabalho, em certo sentido, é sua “criança”.
A água é símbolo da “fonte da vida”; sonhar sobre a “morte” indica o “fim” de algum aspecto da vida de uma pessoa, ou alguma mudança drástica, muito mais do que o falecimento — literal da mesma. Naturalmente, visões e sonhos algumas vezes falam de acontecimentos literais, mas é um erro interpretar os mesmos literalmente, “todas as vezes que se puder”. Essa atitude m ais provavelmente nos desviará da verdade, —em vez de aproximar-nos da mesma, pois é algo basicamente contraditório à própria natureza do misticismo.
4. Os livros apocalípticos com freqüência são pseudônimos.  Isso significa que “em honra” a alguma antiga personalidade famosa, um livro foi escrito por outrem , aproveitando-se do prestígio do nome daquela personalidade, a fim de perpetuar sua tradição. Assim é que o livro de Enoque, escrito no segundo século A.C., não foi escrito por Enoque mas em memória sua. Nesse caso, não poderia haver qualquer tentativa séria, da parte do seu autor, de fazer passar seu livro como se realmente tivesse sido escrito por Enoque. Ê que os antigos não viam nada de errado nesta prática, sem importar o propósito com que isso fosse feito. Entre os livros apócrifos do Antigo e do Novo Testamentos, bem como entre seus livros pseudepígrafes, há m ais de cem livros que certamente não foram escritos pelos indivíduos aos quais são atribuídos. Sem importar o que nós, como modernos, possamos pensar da prática, isso em nada altera a atitude dos antigos acerca da mesma.
Em nosso N.T., por exemplo, é possível que o livro de Judas seja uma pseudepígrafe. Quanto a notas sobre isso, ver o artigo sobre “Apocalipse “ sob o título Autoria.  No entanto , os dois livros apocalípticos bíblicos — Daniel e Apocalipse — não pertencem a essa natureza. Não obstante, o “João” do livro de Apocalipse não é o mesmo apóstolo João, e sim, o “ancião”, ou talvez um bem conhecido “vidente” crente que habitava na Âsia Menor. (Ver um a discussão a esse respeito, na seção III do presente artigo intitulado Autoria).
5. Os livros apocalípticos são altamente dualistas. Em primeiro lugar, retratam a criação como algo envolvido em “uma luta de morte” entre duas forças — uma boa e outra má. Outrossim, essas forças são “cósmicas”, e não meramente humanas. A humanidade ver-se-á envolvida no conflito entre Deus e Satanás, Vale de Megido — Cortesia, John F. Walvoord  entre os anjos e os demônios, entre a razão absoluta e o erro absoluto. Os homens poderão ser vitoriosos ou derrotados, dependendo do lado que tomarem. O pecado, por conseguinte, nunca será questão apenas humana. Trata-se da lealdade ao erro absoluto, da aprovação conferida a Satanás e às suas obras más. A oposição das duas grandes forças cósmicas naturalmente envolve a oposição entre duas eras distintas. Assim é que a “era presente” é dominada por Satanás, ao passo que a “era vindoura” será governada por Deus, mediante o seu Messias. A era presente envolve pecado e degradação, com a conseqüente perdição das almas; e a era vindoura envolve o domínio da justiça e do bem-estar espiritual.
Essas forças opostas naturalmente geraram o conceito dos “dois mundos”. Há um presente mundo, que é terreno e pervertido. Trata-se de algo físico e temporal, sem quaisquer valores absolutos. M as também há o “mundo de amanhã”, que até mesmo agora existe nas esferas invisíveis da realidade última. Este é um mundo de domínio espiritual, de santidade, de paz e de bem-estar espiritual. O “outro mundo”, finalmente, virá a exercer controle sobre este mundo terreno, e esse é um dos aspectos do conflito entre o bem e o mal que atualmente começa a concretizar-se. Existem , pois, duas “forças cósmicas” que se combatem, duas “eras” contrastantes que se digladiam, dois “mundos” contrastantes que se Os homens, necessariamente, “tomam partido”, tornando-se associados e prestando lealdade a um lado ou outro desses contrastes. As obras apocalípticas, portanto, apresentam aos homens o desafio de escolherem a Deus e ao seu caminho, ao seu mundo, à sua era, rejeitando, ao mesmo tempo, o que Satanás tem a oferecer-lhes.
6. Os livros apocalípticos são deterministas.  Isso significa que a vitória eventual do mundo vindouro sobre o mundo presente — o triunfo do bem sobre o mal — é algo que foi determinado pela mão de Deus. O triunfo de Deus é inevitável, em bora pareça demorar-se por tempo excessivamente longo. Os livros apocalípticos, por conseguinte, expõem uma espécie de filosofia da história. Dizem-nos eles a natureza geral do que sucede e do que deverá acontecer. Apesar de que há caos, devido ao pecado, somos assegurados de que o processo histórico está do lado do bem e de Deus, e que nada pode alterar isso, pois a vontade de Deus é todo-poderosa.
O seu propósito talvez precise de longo tempo para materializar-se, mas tudo está determinado. Há um horário divino predeterminado; e o fim do domínio de Satanás ocorrerá súbita e dramaticamente. A própria história é a crônica da luta entre Deus e Satanás, e como os seres inteligentes serão envolvidos até o fim da mesma. Mas a história, apesar de envolver muitos elementos de sofrimento e caos, finalmente está determinada para que sirva às finalidades divinas.
7. Os livros apocalípticos, ao mesmo tempo, são altamente pessimistas e otimistas.  Expõem um quadro horrendamente negativo do que haverá de suceder a este mundo, o que envolverá a intensa depravação dos homens. Ao mesmo tempo, porém, um a vez que este mundo seja apropriadamente julgado, deverá vir à existência um novo mundo de resplendente beleza e de incrível progresso. Do lado “pessimista”, os livros apocalípticos são “cataclísmicos”. Os eventos que porão fim ao presente mundo mau serão radicais, como se fora o decepar de um tumor canceroso. Os acontecimentos que darão início à nova era também serão cataclísmicos. As mudanças se produzem mediante acontecimentos bons ou maus, m as sempre repentinos, e não mediante algum processo gradual. As grandes alterações na história resultam de intervenções divinas.
8. Os livros apocalípticos são intensamente éticos, Isso significa que esses livrps convocam os homens a abandonar o pecado, o qual necessariamente produzirá acontecimentos cataclísmicos. Apesar de tudo estar determinado, nada podendo derrotar facilmente ao pecado, Satanás e seu sistema, contudo, serão preservados, entre esses terríveis acontecimentos, os homens que mantiverem confiança em Deus e em seu Messias. Em caso contrário, haverão de participar imediatamente da glória de Deus mediante o martírio; ou então haverão de ser gentilmente conduzidos à sua presença, um a vez que tiverem sofrido como os homens terão de sofrer durante aquelas horas fatais. As advertências ali dadas, pois, visam “converter” os homens da maldade e da perversidade; não são m eras predições de um a condenação inevitável.
9. Os livros apocalípticos da Bíblia — Daniel e o Apocalipse, bem como seus paralelos apócrifos, que foram produzidos pelas comunidades judaica e cristã, são messiânicos em sua natureza. Descrevem as mais prodigiosas tragédias, embora também narrem para nós o fato de que haverá um Messias, um Salvador, o qual corrigirá todos os erros. A Literatura Apocalíptica. No próprio A.T. temos o livro de Daniel. A esse, ainda no A.T., podemos adicionar porções de livros proféticos, como os capítulos vigésimo quarto a vigésimo sétimo de Isaías.
No tempo dos Macabeus, talvez tão cedo como 200 A.C., teve início a literatura apocalíptica. Primeiramente apareceu o primeiro livro de-Enoque (em etíope), uma obra composta, que foi escrita durante os últimos dois séculos A. C. Várias porções do mesmo são usadas em nossos livros neotestamentários, como no de Judas. O livro de Jubileus data do século II A.C. A Assunção de Moisés (livro também usado na epístola de Judas) data dos fins do século I A.C. Os livros de IV Esdras e II Esdras e o Apocalipse de Baruque, datam dos fins do século I D.C. O segundo livro de Enoque (em eslavônico) é de data incerta, embora provavelmente pertença ao princípio da era cristã.
Os Testamentos dos Doze Patriarcas (século II A.C.) contêm predições acerca de cada tribo de Israel. Vários fragmentos de apocalipses têm sido encontrados na literatura de Qumran, embora ainda não tenham sido publicados. Do lado do N.T., quanto aos livros não-canônicos, temos o Apocalipse de Pedro, do começo do século II D .C ., que descreve a dor dos ímpios e a recompensa dos justos. A Ascensão de Isaías,  uma obra composta (do século II ao século IV D.C.), é um livro parcialmente judaico e parcialmente cristão. O Pastor de Hermas é um a obra semi-apócrifa que data dos meados do século II D.C. No próprio N.T., temos os “pequenos apocalipses” dos capítulos vinte e quatro e treze dos evangelhos de M ateus e Marcos, respectivamente, ambos derivados da mesma fonte, com base em declarações proféticas do próprio Senhor Jesus. — O quinto capítulo da primeira epístola aos Tessalonicenses e o segundo capítulo da segunda epístola aos Tessalonicenses são escritos apocalípticos de Paulo. Mas o Apocalipse de João é o livro apocalíptico por excelência, tanto, do ponto de vista literário como do ponto de vista das previsões proféticas.

II. Confirmação Antiga

O livro de Apocalipse de João foi escrito a fim de ser lido nas igrejas (ver Apo. 1:3). E podemos supor que, desde os tempos cristãos mais remotos, em algumas 213  porções da igreja, especialmente na Ásia Menor, para quem esse livro foi dirigido, era ele tido como dotado de autoridade idêntica ao dos livros proféticos do A.T. No entanto, foi somente perto dos fins do século II D.C., que esse livro obteve alguma proeminência em qualquer segmento maior da igreja cristã. A mais antiga menção específica ao livro de Apocalipse (que também o atribui ao apóstolo João) foi feita por Justino Mártir, que viveu em Éfeso, em cerca de 135 D.C. (antes de ter-se mudado para Roma). Escrevendo pelos meados do século II D.C., disse ele: “Além disso, um homem entre nós, de nome João, um dos apóstolos de Cristo, profetizou, em uma revelação que lhe foi feita, que aqueles que tiverem confiado em nosso Cristo passarão mil anos em Jerusalém, e que após a ressurreição universal e eterna, terá lugar o julgamento”. (Diálogo com Trifo, 81).
Não temos meios para precisar de que modo Justino determinou a “canonicidade” do livro de Apocalipse; mas o certo é que, havendo ele atribuído essa obra ao apóstolo João, ele não tinha qualquer dúvida quanto à sua “autoridade”. A aceitação da “autoridade” de um livro é apenas um passo distante de sua canonização formal. Antes da época de Justino Mártir, porém, não há qualquer citação clara e indisputável do livro de Apocalipse. Isso não se encontra nem nos escritos de Clemente de Roma (fins do século I D.C.), nem de Inácio (começo do século II D.C.), nem de Hermas (meados do século II D .C.), e nem no livro e na epístola de Barnabé (cerca de 130 D.C.). Andreas, no prólogo de seu comentário, informa-nos que Papias de Hierópolis, na Frigia (cerca de 150 D.C.), conhecia e usava o livro de Apocalipse, considerando-o divinamente inspirado. Entretanto, ele não disse qualquer coisa acerca de seu autor ter sido um “apóstolo”, o que certamente teria feito, se o tivesse sabido.
O próprio Eusébio, entretanto, nunca declara definidamente que Papias sabia da existência do Apocalipse. (Ver História Eclesiástica iii.39). Uma declaração em sua História Eclesiástica (iii.39,12), que ele atribuiu a Papias, entretanto, parece ser um reflexo do livro de Apocalipse. (Essa declaração parece refletir o vigésimo capítulo do, livro de Apocalipse, o milênio e a ressurreição dentre os mortos). Melito,  bispo de Sardes (160 - 190 D.C.), escreveu um livro sobre “o diabo e a revelação de João” (o que é mencionado por Eusébio, em sua História Eclesiástica iv.26.2). Jerônimo compreendia que isso se referia a dois livros separados, escritos por Melito; mas, seja como for, é certo que ele conhecia e usava o Apocalipse de João.
Também é significativo que Melito viveu em Sardes, uma das cidades às quais o livro de Apocalipse foi originalmente enviado (ver Apo. 3:1 e ss.); e era apenas natural, pois, que ele tivesse aceito esse livro antes do mesmo ter sido aceito em outras partes da cristandade antiga. Irineu.  Eusébio, em História Eclesiástica iv.18.8, mostra que Irineu (nos fins do século II D.C., em Lyons, na Gália) sustentava a autoria apostólica de todos os presentes escritos joaninos do N.T. Em seu livro, Contra as Heresias, Irineu refere-se ao livro de Apocalipse, em iv. 14.2; 17.6,18; 21.3; v.28.3; 34.2; iv. 20.11; v.26.1. Teófilo,  bispo de Antioquia (Síria ocidental), na última metade do século II D.C. cita o Apocalipse em suas disputas contra Hermógenes (ver Eusébio, História Eclesiástica iv.24), pelo que evidentemente ele aceitava a sua autoridade como Escritura Sagrada. Alexandria.  Clemente (200 D.C.) cita o livro de Apocalipse como Escritura Sagrada (ver Paed. ii.119), atribuindo-o ao apóstolo João (Quis dives, 42; Strom.  vi. 106,107). Orígenes fez a mesma coisa (ém Joann. tom.  v 3; Lommátzsch,  i.165; Eusébio, História Eclesiástica vi.25.9). Roma.  O Cânon Muratoriano, que reflete o uso romano de cerca de 200 D.C. alistou o livro de Apocalipse como autoritário, tendo-o atribuído ao apóstolo João.
O Apocalipse de Pedro também é favoravelmente mencionado; mas outras fontes informativas romanas mostram que essa não era a opinião de todos os segmentos da igreja cristã. Cartago. Essa comunidade cristã, filha da igreja romana, também aceitava o livro de Apocalipse, pelos fins do segundo século de nossa era. Tertuliano, em seus vários escritos, cita trechos de dezoito entre vinte e dois capítulos. Ele o atribuía ao apóstolo João (“De Ressur.”, 38, Pud. 12). Os quiliastas e milenaristas — do segundo século de nossa era, como os montanistas, uma seita cristã que se originou na Frigia (cerca de 156 D.C.), aceitavam anelantemente o livro, porquanto oferecia vários textos de prova para suas idéias. Finalmente, essa seita contou com Tertuliano como um de seus aderentes. Houve disputas sobre o Apocalipse, como também alguns o rejeitaram . Apesar de que pelos fins do século II D.C. o livro de Apocalipse gozava de larga aceitação, tanto quanto a de qualquer outro livro do N.T,, houve aqueles que o rejeitaram.
Márcion, um herege gnóstico (ver o artigo sobre o gnosticismo), mais ou menos pelos meados do segundo século da era cristã, aceitava como seu “cânon” neotestamentário dez epístolas paulinas e uma forma mutilada do evangelho de Lucas. Rejeitava ele o livro de Apocalipse por causa de seu caráter judaico, porquanto viera a considerar o judaísmo como oponente do cristianismo. Negava ele que qualquer apóstolo de Cristo tivesse escrito tal livro. (Ver Tertuliano, Adv. Marc.,  iv.5; iii. 14). O grupo herege chamado de alogoi (dos fins do século II e de começos do século III D.C.), porquanto não aceitava a doutrina joanina do “Logos”, como é óbvio, rejeitava também todos os chamados escritos joaninos, incluindo o livro de Apocalipse. Asseveravam que seu verdadeiro autor teria sido Cerinto, um herege gnóstico que viveu nos fins do primeiro século, e que atribuíra seu livro a “João” para obter prestígio para o mesmo (ver Epifânio, Haer.  li.3; li.33). Afirmava esse grupo que o Apocalipse tem por demais simbolismos, errando quanto a questões literais, como a de haver sido escrita uma das sete cartas para Tiatira, onde não havia qualquer comunidade cristã. Entretanto, a rejeição do livro de Apocalipse não se limitava a grupos hereges.
Havia certos grupos que se opunham ao mesmo e aos quiliastas (especialmente os montanistas), os quais vieram a duvidar da autenticidade do Apocalipse, chegando mesmo a rejeitá-lo, evidentemente como resultado do fato de que algumas das suas doutrinas favoreciam aos hereges. Assim é que Caio de Roma (cerca de 210 D.C.), ao escrever contra os montanistas, terminou por rejeitar também ao livro. Hipólito (215 D.C.) replicou contra o ataque de Caio ao livro de Apocalipse; e essa obra se revestiu de tal vigor que poucos, no Ocidente, daí por diante, continuaram a duvidar da autoridade desse livro. Portanto, as traduções em Latim Antigo e da Vulgata Latina, sempre contiveram o Apocalipse, sem qualquer indicação de dúvida acerca de sua autenticidade, Vitorino (martirizado em 304 A.C.) escreveu um comentário em latim sobre o livro de Apocalipse, que posteriormente foi refeito por Jerônimo.
Contudo, em certos lugares fora do Ocidente, continuou havendo dúvidas sobre o livro do Apocalipse. Dionísio, bispo de Alexandria (247-265 D.C.), renovou dúvidas sobre sua autenticidade, oferecendo fortes motivos para sua crença que não foi o mesmo escrito pelo apóstolo João, e certam ente não pelo mesmo autor que escreveu o evangelho de João. (Ver Eusébio, História Eclesiástica vii.24). Muitas das linhas de raciocínio, nos escritos de Dionísio, têm sido bem acolhidas por eruditos modernos, especialmente devido à qualidade vastamente diferente do grego, entre o quarto evangelho e o livro de Apocalipse. Dionísio informa-nos, igualmente, que em seus dias, muitos duvidavam do citado livro ou mesmo o rejeitavam.
Ele mesmo, acreditando que o mesmo fora escrito por um certo João de Éfeso (um dos anciãos da igreja) e não pelo apóstolo João, duvidava de sua autenticidade e autoridade, porquanto o mesmo não seria “apostólico”. Eusébio (326 D.C.), o grande historiador eclesiástico, parece ter concordado com a avaliação geral de Dionísio (iii.29:6), mas deixou que cada congregação local manuseasse a questão a seu talante. Cirilo de Jerusalém  (315-386 D .C .) excluía o Apocalipse de seu “cânon”, tendo inclusive proibido seu uso no culto público ou particular. (Ver Catch. iv.36). O sínodo de Laodiceia  (cerca de 360 D .C .) não incluiu o Apocalipse em seu “cânon” das Escrituras. As Constituições Apostólicas (fins do século quarto da era cristã), no cânon  85, não contêm o livro de Apocalipse. Gregório de Nazianzeno (falecido em 389 D.C.) também não o incluiu. Anfilócio de Icônio (falecido em 394 D.C.) declarou que “a maioria” das autoridades rejeitava o livro de Apocalipse como canônico.
A escola de Antioquia (407 D.C.) também o omitiu. Crisóstomo (407 D.C.), que representava essa escola em Constantinopla, também o rejeitava, tal. como o fez Teodoreto (386 - 456 D.C.). A s igrejas Armênia e Síria Oriental não aceitavam o Apocalipse como canônico, e não podia o mesmo ser encontrado em qualquer manuscrito do N.T. naqueles idiomas, por muitos séculos. Alguns manuscritos passaram a incluí-lo no ano de 508 D.C. Mas foram necessários séculos para que a igreja siríaca ficasse convencida acerca da autoridade do livro de Apocalipse. Não veio a participar da Bíblia armênia senão já no século XII D.C. No século XIII, a canonicidade do apocalipse era universalmente aceita, exceto na igreja nestoriana. Até mesmo nos tempos da Reforma Protestante alguns duvidavam de sua autenticidade. Calvino, muito prolífico como escritor e comentador das Escrituras, nada disse acerca do Apocalipse.
Ver o artigo sobre o Cânon do N. T. m. Autoria Duas posições extremas são tomadas quanto à questão da autoria dos livros Joaninos (que consistem do evangelho de João, de três epístolas de João e do Apocalipse), a saber: 1. Teria havido um único autor desses cinco livros, o qual foi o apóstolo João. 2. Cada um desses cinco livros teria tido um autor diferente, pelo que nenhuma conexão real com o apóstolo João pode ser demonstrada entre eles. A resposta mais simplista a ambas essas posições extremas consiste da afirmativa de que o evangelho e as epístolas de João foram escritas por um autor (João ou um discípulo imediato seu), ao passo que o Apocalipse teria sido de autoria de um outro João, o ancião ou vidente da Ásia Menor, embora também pertencente à escola jo an in a. Essa declaração simplista está sujeita a todas as formas de objeção e disputa; mas é tão boa como qualquer outra ideia que já tenha sido apresentada. Pelo menos é certo que o evangelho de João e o livro de Apocalipse não podem ter sido escritos pelo mesmo autor. O grego do evangelho de João é simples, quase infantil, embora gramaticalmente correto. Mas o grego do livro de Apocalipse é bárbaro, com muitos desacordos quanto ao gênero, além de erros verbais.
Foi escrito por algum judeu que tinha o grego como sua segunda língua, o qual não se interessava especialmente pelos casos gregos, pela concordância em gênero, etc. Pensava ele em hebraico, e algum as de suas declarações só podem ser Compreendidas quando é reconstituído um “hebraico tentativo” (ou aramaico). (Ver a seção VII deste artigo intitulado O Grego do Apocalipse,  quanto a detalhes sobre essa questão). Contudo, a despeito de todos os abusos feitos contra o idioma grego, ele se sentia à vontade em seu manuseio. Sem dúvida falava o grego e, o usava em seus contactos diários. Em alguns lugares consegue momentos de eloquência, e, a despeito da sua má gramática, ocasionalmente produz algum as das melhores porções literárias que o grego conhece. De fato. produziu ele o maior dos “apocalipses”, e isso não foi realização pequena para quem usou um “segundo idioma”. Podemos supor que, se ele tivesse escrito sua obra em aramaico, o resultado literário teria sido ainda maior.
Justino Mártir atribuía o livro de Apocalipse ao apóstolo João (ver “Confirmação Antiga”,  imediatamente acima). Esse ponto de vista veio a ser largam ente aceito na igreja, — conforme a seção anterior o demonstra; em alguns lugares, entretanto, essa posição era ardorosamente com batida, e até mesmo rejeitada. O próprio livro não afirma ser de autoria de João, o “apóstolo”; e poderíamos supor corretamente que se ele o tivesse realmente escrito, ter-se-ia identificado como tal. Outrossim, se João, o apóstolo, o escreveu, não há razão para supormos que não tivesse recebido reconhecimento antigo e universal, conforme sucedeu no caso das epístolas de Paulo. O fato de que somente nos meados do século II D.C. é que seu autor foi identificado como o apóstolo João, e que mesmo assim muitos continuavam a rejeitar sua autoridade, sob qualquer consideração, especialmente como livro de autoria joanina, mostra-nos que é quase impossível que o próprio apóstolo João tivesse sido o seu autor.
Se voltam os para a questão da evidência in terna, — podem os observar que o autor não faz nenhuma tentativa para identificar-se com os doze apóstolos originais. Apesar de que ele se chama “João” em quatro versículos (ver Apo. l:l,4,9, e 22:8),nunca deixa entendido que ele era o “João” do círculo original dos apóstolos. Em parte alguma ele afirma ter sido testemunha ocular da vida terrena de Jesus. Seu conhecimento de Jesus veio por revelação, e não através da história. Em Apo. 21:14, ao mencionar que a muralha da cidade tinha doze alicerces, inscritos com os nomes dos doze apóstolos originais, não parece identificar-se com qualquer deles. Em Apo. 18:20 ele fala sobre os “doze” de modo bastante objetivo, mas novamente sem dar a entender que fosse um deles. Historicamente,  bem se poderia pôr em dúvida que o apóstolo João tenha vivido até o fim do século I D.C. ou começo do segundo século, para que pudesse 215  ter sido o autor do livro de Apocalipse.
Há um a tradição, preservada por meio de Papias, que situa a morte de João próxima ao tempo da morte de seu irmão, Tiago, isto é, antes do ano 70 D .C . A passagem de Marcos 10:39 presumivelmente prediz isso; e notemos que Jesus se referiu a esses dois irmãos. Contudo, há outras tradições que associam o apóstolo João com a Ásia Menor, referindo-se a ele como homem idoso. E é possível que se aceitarmos estas últimas tradições que João tenha vivido até um tempo em que poderia ter escrito o livro de Apocalipse. Irineu foi quem nos expôs essa tradição. Mas, visto que as tradições não concordam entre si, nesse ponto, nada de certo pode ser extraído delas acerca da autoria do livro de Apocalipse. George Hamartolus, bem como um manuscrito seu (do século IX D.C.) repete essa tradição preservada por Papias, no sentido que João morreu às mãos dos judeus (decapitado), mais ou menos à época de seu irmão.
Portanto, sem importar para que lado nos voltemos, historicamente falando, não podem os ter certeza de que o apóstolo João realmente teve tantas décadas de serviço em Éfeso ou não, o que significa que não sabemos se ele viveu o tempo suficiente para escrever o livro de Apocalipse, o qual, mui provavelmente, reflete as perseguições instauradas contra a igreja cristã nos tempos de Domiciano (falecido em 96 D.C.), ou posteriormente. A maioria dos eruditos acredita, com base em citações antigas, que um certo “João” foi quem o escreveu. Um indivíduo que Papias chamou de “João, o ancião”, que viveu em Éfeso, no começo do século II D.C., é identificado por alguns como seu autor. (Ver Eusébio, História Eclesiástica iii.39.4, quanto à identificação dos “dois Joãos”, por parte de Papias).
Esse autor João supostamente também teria sido discípulo do Senhor, e o seu túmulo estaria ao lado do de João, o apóstolo, na Ásia Menor. Dionísio fez a mesma sugestão, isto é, que “João, o ancião”, escreveu o livro de Apocalipse (ver Eusébio, História Eclesiástica vii.25.16). Jerônimo também falou sobre o sepulcro desse outro João, em “Éfeso” (ver “De viris”, illus.9). Vários escritores antigos pensam que esse “ancião” também foi o autor das epístolas joaninas; mas apesar de que João, o ancião, pode tê-las escrito, ele não poderia ter escrito também o livro de Apocalipse, porquanto aquelas estão linguisticamente vinculadas ao evangelho de João, e não ao livro de Apocalipse- Vendo nisso a verdade, alguns intérpretes também atribuem o evangelho e as epístolas joaninas a “João, o ancião”, ao passo que atribuem o Apocalipse ao “outro João”, o qual também não teria sido um apóstolo de Cristo. Eusébio, ao citar Papias e Dionísio, aparentemente pensa que estes últimos estão certos: João, o ancião, é quem escreveu o livro de Apocalipse.
 Há ainda uma terceira possibilidade, que talvez seja mais viável que aquelas acima mencionadas, a saber, que um terceiro João está em foco, o qual foi um “profeta” (vidente), que não foi nem o “ancião” e nem o “apóstolo”. No próprio livro de Apocalipse, esse João não se chama de “ancião”, conforme se vê na segunda e na terceira epístolas de João; m as não se denomina “apóstolo”, o que é declarado no evangelho de João, em seu epílogo (ver o seu vigésimo primeiro capítulo). Mas mui definidamente toma a posição e o direito de um profeta, conforme se vê claramente no primeiro capítulo do livro de Apocalipse. (Ver também Apo. 22:9, onde se vê que os profetas do N.T., em sentido especial, são “servos do Senhor”, o que é repetido em Apo. 1:1; 10:7; 11:18 e 22:6). O autor recebeu ordem de “profetizar” (ver Apo. 1:3). E o Apocalipse é um livro de profecia (ver Apo. 1:3; 10:11 e 22:7,10,18). Mui provavelmente o autor foi um judeu da Palestina, homem dotado de grande estatura espiritual e gênio, dotado de pensamentos e de discernimento profundos.
O aramaico era seu idioma natural, e o grego era apenas um idioma adquirido. (Compare-se isso com reivindicações similares e declarações de um outro profeta, Hermas, e o Didache,  escrito em cerca de 100 D .C ., que mostram que os profetas cristãos eram altamente estimados). O fato de que João, o vidente, conhecia e se utilizou de — obras apócrifas — e pseudepígrafes do A.T. (ver a seção IV deste artigo, intitulado Dependência Literária) indica, na opinião de alguns eruditos, que ele deve ter sido um João que vivia fora da Palestina, pois tais livros eram favorecidos principalmente entre os judeus da dispersão.
Nesse caso, ele deve ter vivido relativamente isolado, na comunidade judaica, pois, de outra maneira, o seu grego teria sido melhor. Porque nenhum judeu alexandrino teria abusado tanto do idioma grego como o fez o autor sagrado, se porventura tivesse qualquer educação. A escola joanina. Apesar da gramática do livro de apocalipse mostrar que o autor sagrado não pode ser identificado com o autor do evangelho de João, há certas similaridades, em pensamento e conceito, que podem ser corretam ente tidas como sinais de identificação do autor com a escola joanina de Éfeso. Consideremos os pontos seguintes:
1. Há a comparação de frases similares: João 16:2 com Apo. 2:2; 13:8 com 20:6; 3:8,21 com 22:15 e 7:37 com 22:17. 2. Há a mesma significação teológica conferida a termos teológicos como “vida”, “morte”, “glória”, “fome” e “sede”. 3. Algumas palavras e frases são m ais freqüentemente usadas pelos dois autores do que em qualquer outro livro do N.T. Por exemplo “poiéin semeion”,  quatro vezes no Apocalipse e catorze vezes no evangelho de João, mas apenas quatro vezes em todo o resto do N .T .; “tereint entoias”,  duas vezes no Apocalipse, sete vezes no evangelho de João, e cinco vezes na primeira epístola de João; “deiknumai”, oito vezes no Apocalipse e sete vezes no evangelho de João; “ebraisti”, duas vezes no Apocalipse e cinco vezes no evangelho de João; “marturia”, nove vezes no Apocalipse, catorze vezes no evangelho de João e seis vezes na primeira epístola de João, além de uma vez na segunda epístola de João; “piazein”, uma vez no Apocalipse e oito vezes na primeira epístola de João; “semainein”, uma vez no Apocalipse e três vezes no evangelho de João; “philein”, duas vezes no Apocalipse e treze vezes no evangelho de João;  “mphazein”, oito vezes no Apocalipse e duas vezes na primeira epístola de João. 4. Há idéias similares.
Exemplos disso são que não haverá templo na Jerusalém celestial (ver Apo. 21:22); e ò templo deixará de existir como centro de adoração (ver João 4:21). Figura a doutrina do Cordeiro de Deus em João 1:29,36; Apo. 5:6,8,12,13; 6:1,16; 7:9,10,14,17; 12:11; 13:8; 14:1,4, 10; 15:3; 17:14; 19:7,9; 21:9,14,22,23,27; 22:1,3. 5. O número “sete” permeia o livro de Apocalipse. Apesar de não ser isso especificamente declarado no evangelho de João, há sete “sinais” neste último, começando e terminando o mesmo com um a “semana” sagrada. Outrossim , o seu testem unho acerca de Cristo se desdobra em sete aspectos. A conclusão que disso tudo se pode extrair é que esses cinco livros—o evangelho, as três epístolas e o Apocalipse—foram produzidos pela mesma escola, a escola joanina, de Éfeso. Consideremos ainda os três pontos abaixo:
1. O evangelho de João deve ter sido escrito por um discípulo imediato de João, que 216  perpetuou sua tradição, incluindo suas narrativas e seu testemunho. O evangelho de João é corretamente chamado “de João”, no mesmo sentido em que o evangelho de M arcos poderia  ser chamado de “evangelho de Pedro”, porquanto tal evangelho preservou para nós a tradição apostólica que chegou até nós, com base nas memórias de Pedro. (Ver o artigo sobre João,  quanto a essa questão).
2. As epístolas joaninas poderiam ter sido escritas por esse mesmo autor. A primeira epístola de João certamente o foi. Seja como for, outro elemento da escola joanina esteve envolvido, se não foi o mesmo indivíduo. (Ver o artigo sobre João, onde se fala sobre a “autoria” dessas epístolas joaninas).
3. O Apocalipse foi escrito por João, o “vidente”, e não pelo “ancião”, ou pelo “apóstolo”, embora tivesse sido ele, por igual modo, um membro da escola joanina.

IV. Dependência literária

1. O Antigo Testamento.  O autor do livro de Apocalipse nunca cita diretamente o A.T., mas, em um total de quatrocentos e quatro versículos, duzentos e setenta e oito encerram alguma forma de referência ao A.T. Muito mais que todos os demais livros do N.T., pois, o Apocalipse depende do A.T. Foi observando isso que Márcion o rejeitou como autoritário, já que cria ele que o judaísmo é opositor do cristianismo e não seu genitor. — O autor não parece ter usado a Septuaginta, mas parece ter feito suas próprias traduções e paráfrases. Parte disso, porém, provavelmente foi influenciado pela leitura comum e popular da Septuaginta. Alguns eruditos supõem que ele tenha usado um manuscrito grego ou manuscritos hebraicos do A.T. diferentes do texto padrão da Septuaginta, conforme o mesmo chegou até nós; mas isso é menos provável do que o que diz a outra posição.
Uma lista quase completa de alusões e citações parciais, extraídas do A.T., existentes no livro de Apocalipse, aparece no International Criticai C om mentary,  na sua introdução ao livro de Apocalipse, seções Ixviii a lxxxvi. (Ver também as notas marginais do texto grego). O fato que o autor sagrado estava tão estribado no A.T. é uma das razões por que o livro de Apocalipse é tão fortemente “judaico” em seu caráter; mas isso não nos deve impedir de perceber a igreja nos capítulos quinto a décimo nono, conforme afirmam, erroneamente, alguns intérpretes. Pelo contrário, o “servo” do Senhor é ali um crente, e não um judeu de raça apenas, conforme normalmente se pensa, o qual haverá de passar pela grande tribulação.
2. As pseudepígrafes. Uma vez mais, o autor sagrado não cita diretamente as obras pseudepígrafes. Mas é evidente que ele incorpora certas idéias e frases das mesmas, especialmente aquelas extraídas dos livros de Testamento de Levi, I Enoque e Assunção de Moisés. Em qualquer estudo completo do Novo Testamento, fica demonstrado que algumas vezes é impossível compreender o que o autor quer dizer, a menos que haja alguma alusão a idéias encontradas nas obras pseudepígrafes. Como exemplo disso temos os “querubins” (ver Apo. 4:6), uma “grande espada” (ver Apo. 6:3), os “mártires como um sacrifício a Deus” (ver Apo. 6:9), o “altar no céu” (ver Apo. 6:9), o “mundo vindouro”, o qual surgirá quando completar-se o número dos mártires (ver Apo. 6:11), as “vestes brancas”, que simbolizam os corpos espirituais (ver Apo. 6:11, etc.), tudo o que são idéias tomadas por em préstimo daqueles livros antigos. (V er alguns empréstimos tirados diretamente dos livros pseudepígrafes judaicos, em Apo. 2:7 (Testamento de Levi 18:11), 2:17 (Testamento de Levi 18:14), 4:1 (I Enoque 14:15), 4:6 (II Enoque 3:3 e Testamento de Levi 2:7), 6:11 (I Enoque 47:3,4),' 6:12 (Assunção de Moisés 10:5), 7:1 (um conceito geral do primeiro livro de Enoque), 8:8(1 Enoque 18:13), 9:1 (I Enoque 86:1), 9:20 (I Enoque 99:7), 14:10 (I Enoque 48:9), 14:14 (I Enoque 46:1), 17:14 (I Enoque 9:4), 19:15 (Salmos de Salomão 17:26,27), 20:8 (I Enoque56:5-8; IV Esdras 13:5,8,9,18-35; Ber. 7b, Targum de Jer. sobre Núm. 11:26), 20:13, (I Enoque 51:1), 22:2 (I Enoque 62:3,5).
3. Outros livros do N.T.  O livro de Apocalipse foi escrito em uma época histórica em que vários livros neotestamentários já deveriam ter sido escritos. Abaixo apresentamos uma lista de sugestões: Apo. 1:1 (Mat. 24:6 e Luc. 21:9); 1:3 (Luc. 11:28); 1:4(Col. 1:2); 1:5 (Col. 1:18); 1:5 (Gál. 2:20); 1:6(1 Ped. 2:9); 1:7 (Mat. 24:30); 1:16 (Mat. 17:2); 1:18(11 Cor. 6:9); 2:7 (Mat. 11:15; 13:9,43; Luc. 8:8; 14:35); 2:10 (Tia. 1:12); 2:20 (Atos 15:28); 2:24 (Atos 15:28); 2:24 (I Cor. 2:10); 3:3 (Mat. 24:42); 16:15 (Mat. 24:43); 3:8 (I Cor. 16:9); 3:14 (Col. 1:18); 3:17 (Col. 1:27); 3:21 (Col. 3:1); 5:5 (Luc. 7:13 e 8:52); 6:4 (Mat. 10:34); 6:2-17; 7:1 (Mat. 24:6,7); 6:10 (Mat. 24:29); 6:15,16 (Luc. 23:30); 6:17 (Luc. 21:36); 7:3 (Efé. 4:30); 7:17 (I Ped. 2:25); 9:20 (Luc. 18:11); 11:3 (Luc. 4:25); 11:15 (M at. 4:8); 12:9 (Luc. 10:18); 13:8 (I Ped. 1:19,20); 13:11 (Mat. 7:15); 14:4 (Luc. 9:57); 14:7 (Atos 4:24 e 14:15); 14:13 (I Tes. 4:16); 17:14(1 Tim. 6:15); 16:14 (Mat. 20:16 e 22:14); 18:4(11 Cor. 6:17 e Efé. 5:11); 18:24 (Luc. 11:50); 19:7 (Mat. 5:12); 19:9 (Luc. 14:16); 21:4,5 (II Cor. 5:17); 21:10 (Mat. 4:8); 22:21 (encerramento das epístolas paulinas e do livro aos Hebreus, ver também Efé. 6:24 e Col. 4:18).
4. Outras fontes: astrológicas, numerológicas e cabalísticas. O judaísmo helenista continha muitos elementos da astrologia, da numerologia e de várias formas de misticismo, em parte tomados por empréstimo de vizinhos pagãos, mas adicionados e modificados pelos místicos judeus. O intricado simbolismo dos números, no livro de Apocalipse, não pode deixar de refletir algo dessa atividade; e como explicações do que significam esses números, podemos apelar para as tradições místicas judaicas que contêm escritos dos rabinos cabalistas. A angelologia do livro de Apocalipse também envolve certas adaptações de idéias astrológicas da época.
Os anjos que aparecem como governantes de nações, em esferas celestiais e terrenas, ou que governam os ventos, as estrelas e as manifestações celestes, eram conceitos comuns, que foram tirados da astrologia e adaptados. Não se tem certeza sobre o que o autor do livro de Apocalipse quer dizer com o uso que faz de anjos, etc., como se o uso fosse o mesmo que havia nos sistemas astrológicos; mas ao menos p arte desse uso tem paralelos verbais com aqueles sistemas. Seja como for, o autor sagrado se valeu de certas expressões e usos que eram usuais na linguagem da astrologia da época. (Quanto à “influência astrológica que havia no judaísmo posterior”, ver as notas expositivas no NTI em Col. 2:8, onde há provas disso. Como exemplos desse uso ver Apo. 1:20; 2:1, 4:4,6, 5:11; 7:1; 8:2; 12:1; 14:18; 15:1; 16:1; 16:5; 18:1 e 20:1).
Como um pregador moderno pode ilustrar um sermão com uma referência “astronômica”, assim João o vidente usava, às vezes, a astronomia do tempo dele, que pelas definições modernas é a astrologia. Não é importante saber, se João aceitava certas dessas idéias como verdadeiras ou não. Elas serviam como um bom veículo de comunicação.

V. Data 

É certo, com base no próprio livro, que o 2 1 7  Apocalipse foi escrito durante um período de tremenda perseguição contra a igreja, por parte do império rom ano. No entanto, tem sido motivo de disputas qual era o imperador romano que governava quando o livro foi escrito. Abaixo apresentamos as principais idéias a respeito: A data anterior. Alguns estudiosos têm situado a escrita deste livro já nos dias de Nero (54-68) D.C.). Porém, certas referências, Apo. 13:3,12,14 e 17:8,10, que os primeiros cristãos consideraram como predições de um “Nero redivivus” ou “Nero ressurrecto”, o qual voltaria ao poder, na qualidade de anticristo, mostram que tal imperador já estava morto, quando o Apocalipse foi escrito.
 Tal doutrina dificilmente teria sido criada antes do falecimento de Nero, e isso exige uma data posterior ao ano 70 D.C., para a escrita deste livro. Presumivelmente, o trecho de Apo. 17:10 nos fornece um meio de datarmos a escrita deste livro com exatidão. Quando o escritor sagrado escrevia sua obra, cinco imperadores romanos já haviam morrido, o sexto estava reinando, e se esperava um sétimo; e então surgiria um “oitavo”, que seria o último imperador. O problema nisso envolvido, entretanto, é que não sabem os como se devem contar os cinco imperadores; também houve consideravelmente mais de sete ou oito imperadores, antes do império romano terminar, quanto a dúvidas sobre quando se deve começar a contá-los, deveríamos começar a contagem com Júlio César?
Nesse caso poderíamos nomear Júlio César, Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Galba, Oto, Vitélio, Vespasiano, Tito e Domiciano. Nesse caso, Cláudio seria o quinto, e Nero seria o imperador dos dias em que o livro foi escrito. A maioria dos intérpretes crê que os três antecessores imediatos de Vespasiano deveriam ser omitidos, porque seu governo foi breve e sem grandes acontecimentos. Nesse caso, o quinto continuaria sendo Cláudio, o sexto seria Nero, e, assim sendo, o livro deve ter sido escrito antes de 70 D.C. Outros estudiosos, porém, começam contando com Augusto, como se fora o verdadeiro primeiro imperador romano, ficando omitidos os três mencionados acima, em cujo caso chegaríamos a Vespasiano, como o sexto imperador, que então estaria governando. Nesse caso, Vespasiano aparece como o poder maligno que então reinava. Foi ele quem iniciou o cerco contra Jerusalém. E Tito, seu filho, foi aquele que terminou o cerco, sendo ele o sétimo governante do império. E Nero ressurrecto seria o “oitavo” monarca, o anticristo, presumivelmente o último dos governantes de Roma; pois a destruição do império romano, tal como a “parousia” ou segundo advento de Cristo era esperada para breve, até mesmo enquanto os crentes primitivos ainda viviam.
Pode-se ver, pois, que dependendo do modo como manuseamos a lista, Nero, G alba ou V espasiano pode ser o sexto governante, durante o qual tempo o Apocalipse parece ter sido escrito. Os trechos de Apo. 6:9 e 11:1,2 podem indicar que o templo de Jerusalém continuava de pé quando o livro foi escrito, o que significa que este livro deve ter sido composto antes do ano 70 D.C. Epifânio (ver Haer.  li. 12) atribula a esse livro uma data ainda anterior, isto é, ao tempo de Cláudio. A data posterior. A maioria dos eruditos, a despeito das razões acima expostas, baseando-se no que diz o próprio Apocalipse, apontam p ara Domiciano como o governador durante o tem po em que este livro foi escrito. Nesse caso, o trecho de Apo. 17:11 seria um oráculo judaico originalmente, incorporado no Apocalipse, embora ignorando qualquer contagem exata, por assim dizer, arbitrária, o que faria de Domiciano o sexto imperador, o qual então governava. Nesse caso, “Nero ressurrecto” presumivelmente Seguiria o sétimo governante (cujo nome foi dado), o qual seria o anticristo. Ou ainda o Nero ressurrecto seria o sétimo, e o próprio Domiciano, que veio mais tarde, seria reputado uma reencarnação do Nero ressurrecto, o qual, apesar de “ser dos sete”, seria o “oitavo”.
Porém, visto que Nero e Domiciano formavam uma única personalidade, um a contagem estrita resultaria em apenas sete imperadores. Pelo menos é certo que alguns dos súditos de Domiciano o chamavam de “outro Nero”. (Ver Juvenal, Sátiras iv. 37,38; Marcial, Epigrames 1:33). Por m ais confuso que seja esse quadro, se Domiciano foi o imperador reinante quando este livro foi escrito, então sua data deve ser situada algum tempo antes de 96 D.C. A inda há um a outra proposta que apresenta Domiciano como o sexto governante, ou seja, aquele em foco quando o livro foi composto. É possível que o autor sagrado tivesse em m ente som ente aqueles governantes mortos, quando o senado rom ano os declarara deuses, objetos próprios à adoração. Nesse caso, os governantes em foco seriam César, Augusto, Cláudio, Vespasiano e Tito.
Domiciano, pois, seria o sexto imperador, ao passo que o anticristo nerônico seria o sétimo. Uma data ainda mais posterior. Também se tem sugerido o reinado de Trajano (98-117 D.C.) como o tem po em que foi escrito este livro. Sabem os que Trajano ordenou severa perseguição contra os crentes, pois isso fica claro nos escritos de Plínio, o Moço, governador da Bitínia em cerca de 111-113 D .C. Nesse caso, seria impossível apelarmos p ara a passagem de Apo. 17:10, porque sob hipótese alguma Trajano seria o sexto governante. Além disso, neste tempo o cristianismo se tornara uma religião “ilegal”, não havendo qualquer evidência de que essa condição existia quando o Apocalipse foi com posto. Os “imperadores” eram “deuses” que deviam ser adorados; mas não parece que então já havia qualquer decreto formal contra a fé cristã. Irineu e Eusébio afirmam categoricamente que o Apocalipse foi escrito no tempo de Domiciano. (Ver Eusébio, História Eclesiástica iii.18.3 e Irineu, Adv. H aer.  v .30.3).
Esse testemunho foi aceito sem hesitação por Clemente de Alexandria, Origenes e Jerônimo. Os trechos de Apo. 6:9 e 11:1,2 poderiam subentender que o templo e a cidade de Jerusalém continuavam de pé quando este livro foi escrito; apesar de que poderia ter havido alusões naturais ao templo e à cidade conforme eles existiam antes, sem apontar para o estado em que então existiam. A data do Apocalipse, na história da interpretação. Os intérpretes têm favorecido três períodos, a saber:
1. O reinado de Nero. Assim pensavam Baur, Reuss, Hilgenfeld, Lightfoot, Selwyn, B.W. Henderson. A data neroniana, entretanto, dificilmente pode ser sustentada de pé, à luz do trecho de Apo. 17:10,11, segundo se aclara acima a questão.
2. Dependendo de como manusearmos a lista dos imperadores rom anos, é possível a d a ta correspondente ao imperador Vespasiano. Nada absolutamente fatal pode ser dito contra isso, exceto que não há provas históricas de que Vespasiano perseguiu os cristãos. Não tomava a sério suas próprias reivindicações de “divindade”, e nem jamais compeliu alguém a adorá-lo, e nem perseguiu os que se negassem a fazê-lo. Tertuliano declara especificamente que os cristãos não foram perseguidos durante o reinado de Vespasiano, como também não houve grande perseguição sob Tito, seu filho. Contudo, eles começaram e terminaram o cerco de Jerusalém, sendo possível que as crueldades então perpetradas tivessem inspirado um livro como o de apocalipse, embora isso não seja muito provável. Os “cristãos” perseguidos é que precisavam do encorajamento dado por um a “revelação”.
3. Domiciano foi chamado de Nero calvo e de “segundo Nero”, por Marcial. A história mostra a ferocidade de sua perseguição contra os cristãos. Considerando-se todos os fatores, quase todos os intérpretes, antigos e modernos, têm chegado à conclusão de que o Apocalipse foi escrito durante esse tempo, ou seja, pouco antes do término do primeiro século de nossa era. As cartas às sete igrejas do Apocalipse também confirmam uma data posterior. A cidade Esmima não contava com nenhuma comunidade cristã ao tempo de Nero. Isso é confirmado na epístola de Policarpo aos Filipenses xi. O Culto ao imperador (obrigatório p ara todos os cidadãos romanos) não parece ter sido posto em vigor até os dias de Domiciano; e o livro de Apocalipse quase certamente reflete tal circunstância. Mas nos seus dias tal culto passou a ser considerado prova de lealdade ao imperador; e por causa disso, seguiram-se perseguições intensas contra os cristãos, totalmente desconhecidas nos dias de Vespasiano.
VI. Proveniêncime Destino Provenlência. 
O trecho de Apo. 1:9 identifica o lugar “de onde” a epístola foi enviada, o lugar de sua posição—a ilha de Patmos. Tal informe deve ser aceito como real, a menos que se suponha que tais toques sejam meros artifícios literários. N ada há contra a idéia de que João, o vidente, um dos principais líderes da igreja cristã de Éfeso, homem bem conhecido entre todas as igrejas da Asia Menor, tenha sido banido para Patmos devido à sua fé cristã, e que ali ele escreveu esta obra. Sua reclusão e sofrimentos, entretanto, talvez tivessem provocado suas visões. Patmos é um a ilha que fica a cinqüenta e seis quilômetros ao largo da costa sudoeste da Ãsia Menor (moderna Turquia), 30° 20’ leste. Essa ilha tem cerca de treze quilômetros, e em alguns lugares chega a ter seis quilômetros e meio de largura. Compõe-se de colinas vulcânicas escarpadas. Atualmente pertence à Grécia. Destino. O destino também é claramente afirmado em Apo. 1:4, bem como em seus capítulos segundo e terceiro, a saber, as “sete igrejas” da Ãsia Menor.
Provavelmente uma cópia do livro foi enviada para cada uma delas, e não apenas as cópias individuais das pequenas cartas. Ãs igrejas foi ordenado que lessem a composição inteira (ver Apo. 1:3). Na Asia Menor havia maior número de igrejas do que apenas aquelas sete, e podemos supor que não demoraram a receber cópias da mesma. Alguns estudiosos têm pensado que essas sete igrejas representam sete períodos distintos da história da igreja; mas isso é repelido por outros. Seja como for, representam as principais condições que podem ser encontradas na igreja universal, em qualquer período dá história. É interessante a observação que o Apocalipse foi aceito como autoritário, isto é, “canônico”, inicialmente na Ãsia Menor. (Ver a seção II do presente artigo).

VII. Motivo e Propósitos Motivo. 

Deve ser óbvio, por aquilo que foi dito nas seções I e V, que o “motivo” que provocou a escrita deste livro foi uma grande perseguição tão severa que os cristãos primitivos só poderiam pensar que viviam nos dias imediatamente anteriores à “parousia” ou segundo advento de Cristo. A maioria dos estudiosos crê que essa foi a perseguição movida por Domiciano, o “segundo Nero”, que houve pouco antes do fim do primeiro século de nossa era. A literatura apocalíptica tem a característica de tentar “saltar por cima” das crises presentes a fim de dirigir a mente dos fiéis para um futuro triunfo sobre os inimigos, com o estabelecimento da retidão. A última declaração do Apocalipse promete o retorno de Cristo para “breve”. Em meio à morte e à destruição, os discípulos de Cristo esperavam o breve cumprimento das promessas referentes à “parousia”.
D entre o reinado de Domiciano esperavam o aparecimento do anticristo para breve. O anticristo será a concretização do mal absoluto, pois ele será o servo perfeito de Satanás (ver o décimo terceiro capitulo do Apocalipse). E os cristãos primitivos criam que um a vez que se estabelecesse seu império mundial, logo Cristo voltaria, a fim de destruir o seu ímpio império. Este livro, portanto, foi escrito a fim de encorajar aos cristãos, pois o fim parecia bem próximo, ou seja, o “começo” do fim, o que eles podiam observar pessoalmente com facilidade. Este livro, pois, infunde “esperança” aos crentes que sofriam, relembrando-os sobre o “mundo eterno” que eventualmente seria estabelecido, ao passo que os reinos hum anos, caracterizados pela cobiça e pelo poder, seriam reduzidos a nada. Domiciano decretou o “culto ao imperador” de um modo que seus predecessores nunca tinham feito.
Ele fez disso um a prova de lealdade ao império. Os cristãos, naturalmente, se recusavam a adorar ao imperador como se fosse um “deus”, e as consequências disso foram desastrosas p ara os crentes. Desenvolveu-se até mesmo o culto à família dos Flávios, na qual se encarnaria a natureza divina da família de Domiciano. Mediante sua suposta divindade, além de sua “ascendência divina”, procurou estabelecer um governo absoluto sobre os corpos e as almas dos homens. Promoveu ele a sua “divindade” através de holocaustos públicos. Os espectadores que vaiassem seus gladiadores eram executados, sob a alegação de que tinham mostrado falta de respeito, para com sua natureza divina.
Os próprios cortesãos de Domiciano tinham de chamá-lo “Senhor e Deus”. Ao seu próprio leito ele’, ridiculamente, chamava de “leito de um deus”; as festividades por ele instituídas eram denominadas “banquetes sagrados”, e até o peixe servido nesses banquetes era considerado “sagrado”. (Ver o artigo de Donald MacFayden, “The Occasion of the Domitianic Persecution”, American Journal of Theology,  xxiv, 1920, pp. 46-66, quanto a detalhes a esse respeito). A história confirma a violência de Domiciano ao pôr em vigor todos os aspectos do “culto ao imperador”. Não somente perseguiu aos cristãos, mas também mandou matar e banir a políticos, filósofos e até mesmo membros de sua família que parecessem oferecer-lhe resistência. Mandou executar seu primo, o cônsul Clemente, porque este parecia haver adotado o modo de vida judaico, o que, segundo pensara Domiciano, fizera dele um “ateu”. Os livros de I Clemente, escritos de Rom a, e Hebreus, escrito a cristãos romanos, evidenciam claramente as tremendas perseguições dessa época da história.
Propósitos. O propósito imediato da composição deste livro foi o de contrabalançar o tem or e o desespero que, naturalmente, tomou conta da igreja cristã, o que talvez conduziu alguns à apostasia. Pois este livro m ostra que o Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro governante, o qual, finalmente, haverá de 219  esmagar os poderes malignos, ao estabelecer o seu reino. Naquele tempo pensava-se que esse reino seria estabelecido dentro em breve (ver Apo. 22:20); assim sendo, havia boas razões p ara os crentes se encorajarem a sofrer pelo bem, como espírito triunfal até. O autor sagrado assegura a seus leitores que sem importar quão negra fosse a noite, o D ia estava próximo, o qual também os vingaria das perseguições que experimentavam, porquanto o “direito” seria universalmente estabelecido, ao qual pregavam e no qual criam. Os demais propósitos deste livro,  paralelos ao principal propósito, descrito no parágrafo acima, são os seguintes:
1. Autoridade absoluta de Cristo, como o Alfa e o ômega de toda a existência humana (ver Apo. 1:8 e 22:13). Portanto, há somente um verdadeiro objeto de nossa adoração, que não é nenhum imperador romano.
2. O autor sagrado tencionava ensinar muitas lições morais à igreja, corrigindo vários lapsos e erros, além de encorajar às igrejas da Ásia Menor, e, através disso, a igreja cristã inteira (ver os capítulos dois e três de Apocalipse). Nem mesmo os tempos de crise e perseguição podem desviar nossos olhos da absoluta necessidade de um andar santo, da lealdade pessoal a Cristo, o qual é nosso Senhor.
3. Tencionava ele, por semelhante modo, descrever os horrendos acontecimentos que terão lugar nesta terra que refletirão, especialmente, as condições dos “últimos dias”, ainda que, sem dúvida alguma, isso tivesse alguma aplicação à igreja primitiva, bem como à igreja crista de todos os séculos. Não podem os deixar de sentir que as predições deste livro aludem, essencialmente, aos verdadeiros “últimos dias”, isto é, ao tempo que precederá imediatamente à segunda vinda de Cristo, que falam sobre a “grande tribulação”.
Portanto, o Apocalipse é um paralelo claro do vigésimo quarto capítulo do evangelho de Mateus e do décimo terceiro capítulo do evangelho de Marcos. O autor sagrado cria que vivia “imediatamente antes” do retomo de Cristo (ver Apo. 22:20), e sua mente foi focalizada sobre aqueles dias, a fim de que pudesse descrevê-los com exatidão. Mas ele cria que tudo sucederia durante seus dias ainda na carne. Nisso, porém, estava equivocado, embora isso em nada afete a validade de suas predições. Ele pensava que estava encorajando especificamente aos cristãos de seus dias; e isso certamente ele fez. No entanto, também encorajava àqueles que viverão nos verdadeiros “últimos dias”, prefigurados pelo reinado de Domiciano. Os capítulos sexto a décimo nono do Apocalipse nos fornecem as predições acerca do “tempo do fim”.
4. Ao expor a doutrina do segundo advento de Cristo (ver o décimo nono capítulo do Apocalipse), o autor sagrado m ostrou, à vitória inteira, como é inevitável a vitória final de Deus e do seu Cristo. Pensava ele que veria pessoalmente a essa vitória, ainda em seu corpo mortal. Não sucedeu assim; mas isso não significa que sua doutrina não fosse veraz. Nós mesmos cremos, com base em predições contemporâneas, da parte dos místicos, que todos os eventos descritos no livro do Apocalipse ocorrerão até o ano de 2037, e que nossa época é, realmente, o “fim dos tempos”. (V er o artigo intitulado, Tradição Profética e a Nossa Época).
5. O autor sagrado fornece-nos um a breve antevisão sobre o estado eterno (ver os capítulos vigésimo a vigésimo segundo do Apocalipse). Essa visão é breve, e certam ente não é definitiva. Possuímos informações surpreendentemente escassas sobre a “eternidade”. Deus tem tempo suficiente para ensinar essas questões a seu povo. A quilo que sabemos, entretanto, reveste-se de grande significação. Deus e o bem , finalmente, triunfarão. O julgamento é real; a vida eterna é magnificente em suas bênçãos.

VIII. O Grego do Apocalipse

Aqueles que já leram o livro .de Apocalipse em seu original grego conhecem , em primeira mão, seu caráter ímpar, suas peculiaridades, e sua natureza freqüentemente barbárica. Sem dúvida, acima de todos os livros do N.T., demonstra desrespeito às regras da gramática grega. A despeito disso, trata-se de uma composição extremamente eloquente, o maior de todos os “apocalipses”. Consideremos os pontos seguintes: 1. Gramática do Apocalipse.  Dionísio de Alexandria (265 D.C.), para quem o grego era língua nativa, chamado de “grande bispo de Alexandria” (por Eusébio), e de “mestre da igreja universal” (por Atanásio), o eminente pupilo de Orígenes, observou a má natureza do grego do Apocalipse, além de seus muitos barbarismos e hebraísmos. “Nenhum outro autor do Novo Testamento desrespeita tão freqüentemente os cânones de estilo, gram ática e sintaxe.
Contudo, em sua maior parte, esse desrespeito tem causado pouca ou nenhum a perda de clareza e inteligibilidade. Tudo isso sugere que o escritor era um cristão judeu, o qual não recebera educação segundo os moldes gregos; entretanto, disso não se deve concluir necessariamente que ele fosse nativo da Palestina, conforme alguns têm sugerido, porquanto os judeus estavam largam ente disseminados pelo império (rom ano), havendo muitos deles na Asia Menor” (Martin Rist, Introduction to Revelation, pág. 358). Isso sugere, entretanto, que o autor sagrado tinha o grego como um a segunda língua, como um idioma adquirido, e não como sua língua nativa. Isso não prova, mas sugere, a Palestina,  como seu lugar de origem , pois se o autor tivesse sido um judeu da dispersão, certamente teria crescido sabendo o grego (tendo-o aprendido nas escolas e na: rua). Nesse caso, ele saberia dominar mais perfeitamente o grego, tal como sucedeu no caso de Paulo, que sabia realmente falar dois ou três idiomas.
O leitor curioso, que souber algum grego, pode perceber alguns dos erros gram aticais do autor sagrado nas seguintes referências (embora essa lista não seja exaustiva): Apo. 1:4,5,10,15; 2:20; 3:12; 4:1,7,8; 5:6,11-13; 7:4; 9:5; 11:4,5; 12:5; 13:14; 14:3; 15:12; 17:16; 19:14,20; 20:2; 21:9. Todos esses exemplos envolvem casos de discordância em caso, gênero e número, no tocante a seus antecedentes, além de discordâncias entre os sujeitos e verbos. A maioria desses casos pode ser explicada pelo fato que o autor sagrado pensava em aramaico mas escrevia em grego; suas concordâncias não eram aquelas comuns ao idioma grego. A coisa mais completa que se tem escrito sobre o problema do grego usado no livro de Apocalipse, pode ser encontrada na introdução ao Apocalipse, no International Criticai Commentary,  de autoria de R.H. Charles. Na sua seção XIII ele apresenta uma “gramática” do grego deste livro, além de uma lista de inúmeros erros e usos duvidosos, a maioria dos quais se devem ao fato que ele pensava em aramaico e escrevia em um idioma que não lhe era nativo. Na seção X dessa citada gramática, ele mosta que, algumas vezes, o grego só pode ser compreendido se for reconstituído o aramaico por detrás do mesmo. 220 i IM )

12. Hebraísmos do Apocalipse. 

A introdução citada acima, de autoria de R .H . Charles, fornece dez páginas repletas de hebraísmos. Essas páginas demonstram conclusivamente o quão firmada estava a mente do autor sagrado no idioma e no pensamento aramaicos. O “tipo de grego” assim produzido não é um grego “bíblico”, conforme se vê no caso da tradução da Septuaginta (versão grega do original hebraico do A .T .), e, sim, um grego sui generis. Dentre os quatrocentos e quatro versículos que há no livro de Apocalipse, o autor sagrado faz alusão ao A.T. em duzentos e setenta e oito deles; seu grego não foi tomado por empréstimo da Septuaginta. 3. Caráter ímpar do Apocalipse.  O Apocalipse, conforme já dissemos, não é um exemplar do “grego bíblico”. O autor sagrado parece te r feito suas próprias traduções, quando aludia a trechos do A.T. As similaridades com a versão da Septuaginta se deve, provavelmente, a “empréstimos” ocasionalmente feitos pelo autor. Pensando em aramaico, mas escrevendo em grego, juntamente com seus muitos “solecismos” (Charles apresenta m ais de vinte referências que contém “solecismos”), ele produziu um grego “sem-par”, que não pode ser comparado ao grego daquele período, mesmo quando sujeito a influências hebraizantes.
Ele produziu expressões tipicamente aramaicas com palavras gregas, conforme alguém naturalmente seria levado a fazer, ao lançar mão de um idioma estrangeiro. E é evidente que ele não mandou que a sua obra fosse “revisada” por alguém cujo idioma nativo fosse o grego, embora muitíssimas correções gramaticais possam ser encontradas em manuscritos posteriores do N.T., que a aprimoram. Ao apresentar seu estudo sobre as expressões aramaicas, existentes no livro de Apocalipse, Charles alista nove casos em que ele crê que deu ao texto sagrado um melhor sentido, reconstituindo os “pensamentos aramaicos” do autor sagrado, que escreveu em grego artificial (parte “h” da seção “x” de sua introdução ao Apocalipse). “Ele (o autor sagrado) nunca dominou idiomaticamente o grego—nem mesmo o grego de seu próprio período. Para ele, um grande número de partículas gregas era desconhecido, e as multiformes sombras de sentido que elas expressam , nas suas diversas combinações, nunca foi entendido, ou então essas partículas foram compreendidas de forma mui parcial.
Por outro lado, ele é mais exato no uso de expressões idiomáticas do grego do que o autor do quarto evangelho. Não obstante, suas muitas expressões incomuns e jamais ouvidas, o livro (de Apocalipse) não tem rival em sua própria forma literária, ao mesmo tempo que, na literatura de todos os tempos, conquistou um lugar ao sol”. (R .H . Charles, pág. cxliv, Introduction to RevelationThe International Critical Commentary). “Juntam ente com M arcos, no nível do ‘koiné’ não-literário, devemos colocar o último livro do N.T. Já desde os meados do século III, Dionísio de Alexandria (conforme diz Eusébio em sua História Eclesiástica V II.25,26) dizia que o grego do livro de Apocalipse é bárbaro e não-gramatical. Desde os tempos desse pai da igreja, que estava familiarizado com os padrões de um ‘bom’ grego, todo erudito que tem trabalhado com o texto grego do Apocalipse tem-se admirado com suas freqüentes violações das regras de concordância da gramática e da sintaxe do grego...Outra peculiaridade lingüística é ocasional desconsideração pelos gêneros (ver o texto grego de Apo. 1:10; 4:1,8; 11:4; 19:20, etc.). Visto que noutras passagens o autor se mostra correto na observação dos gêneros, alguns desses exemplos podem ser justificados como questões de indiferença ou descuido, ao passo que outros são devidos ao fato que ele pensava em um idioma semita, ao mesmo tempo que escrevia em grego. A despeito da presença de tão ousada desconsideração pelas regras ordinárias da sintaxe grega, ao livro de Apocalipse não falta poder literário.
Certas passagens solenes e sonoras, que são dotadas de um ritmo quase poético (ver Apo. 4:11; 5:10; 7:15-17; 11:17,18; 15:3,4; 18:2-8,19-24, etc.), têm um perceptível tom miltônico, que se assemelha à voz de um órgão , o que transparece até mesmo na sua tradução inglesa”. (Bruce M. Metzger, The Language of the New Testament,  artigo introdutório ao Novo Testamento, no Interpreter’s Bible). IX. O Texto Grego A confirmação, por parte de manuscritos antigos, ao texto do livro de Apocalipse, é mais fraca que aquela relativa a qualquer outro livro do N.T. No entanto, essa confirmação ao Apocalipse original é mais forte do que aquela relativa a qualquer obra extrabíblica da antiguidade. Sabe-se bem que o N.T. é o m ais bem confirmado documento dos tempos antigos.
Há mais de cinco mil manuscritos gregos, mais de dez mil traduções latinas, e numerosas outras traduções e extensas citações feitas pelos primeiros pais da igreja, através das quais quase o N.T. inteiro pode ser reconstituído, e que não pertencem a data posterior ao século III D.C. Outrossim, os manuscritos pertencem a um a d ata bem mais próxima dos originais do que se dá no caso de qualquer outro documento antigo. Portanto, apesar de que há muitas variantes e alguns problemas textuais difíceis, a restauração do texto original do livro de Apocalipse tem sido realizada com alto grau de exatidão. Entre os cinco principais manuscritos unciais há m ais de mil seiscentos e cinqüenta variantes; e as variantes dos manuscritos cursivos posteriores, naturalmente, são muito m ais numerosas do que isso.
Contudo, na maioria dos casos, os textos originais podem ser restaurados com alto grau de confiança. Quando Erasmo compilou o Textus Receptus, de onde surgiu o primeiro texto impresso do N.T. grego, e de onde se tem derivado a maioria das primeiras traduções do N.T. para diversos idiomas, ele tinha a sua disposição apenas um manuscrito grego, chamado Codex 1, um minúsculo (ou cursivo) do século XII ou XIII. Esse manuscrito é ao mesmo tempo inexato e defeituoso. Não havia testemunho em favor do trecho de Apo. 22:16-21, e Erasmo foi forçado a suprir esse trecho do latim , que transcreveu p ara o grego. Edições posteriores do texto grego, como os de Tischendorf, Weiss, Westcott e Hort e o Texto de Nestle, além do N.T. grego das Sociedades Bíblicas Unidas, mostram-se muito mais exatas, baseadas como estão em testemunhos mais antigos.
Os principais testemunhos sobre o texto grego do livro de Apocalipse, de que dispomos em nossos dias, e que servem de fontes p ara os modernos textos gregos, como os de Nestle e o das Sociedades Bíblicas Unidas, são os seguintes: P(18), um manuscrito escrito em papiro, datado dos séculos III ou IV D.C., e que contém o trecho de Apo. 1:4-7. P(47), um manuscrito escrito em papiro, datado do século III D.C., que encerra a passagem de 9:10-17:2. A leph,  um manuscrito escrito em pergaminho, pertencente ao século IV D.C., intitulado “Sinaítico”, que é um dos testemunhos centrais de todo o N.T. 221  Esse manuscrito pode ter sido um dentre cinqüenta cópias do N.T. que Eusébio produzira, por ordem de Constantino e contém o livro completo do Apocalipse. Infelizmente, o codex Vaticanus (B) não contém o texto sagrado depois da passagem de Heb. 9:14, pelo que não pode dar testemunho sobre o texto do livro de Apocalipse. Quanto a informações gerais sobre esses manuscritos,  bem como ao estudo geral e à teoria da crítica textual, ver o artigo sobre esse tema. Codex A . 
Esse manuscrito é uncial, escrito em pergaminho, e d ata do século V D .C . É chamado “Alexandrino”. Ali o Apocalipse aparece completo. A maioria dos críticos textuais acredita que é o texto mais puro dentre todos os manuscritos do Apocalipse. Porém Aleph, os papiros e C estão em consonância essencial, formando um bloco de manuscritos que confirmam o mesmo texto geral, o mesmo tipo de texto. Codex C. É chamado “Ephraemi”, um manuscrito em pergaminho, pertencente ao século V, defeituoso em muitos lugares; m as foi restaurado em certos trechos, nos quais concorda essencialmente com os papiros, Aleph e A. 0207 é um manuscrito uncial escrito em pergaminho, pertencente ao século IV D .C ., que também concorda com os testemunhos acima, pertencente ao mesmo tipo, embora não contenha o livro inteiro do Apocalipse. Os manuscritos unciais 046 (datado dos séculos VIII ou IX D.C.) e P (datado do século X D.C.), além de grande número de m anuscritos minúsculos, derivados de após o séc. IX D.C., representam o texto bizantino ou eclesiástico do livro de Apocalipse, que veio à existência mediante a mescla de vários textos, adições escribais e correções (algumas vezes feitas no m au grego do original).
Esse texto mesclado, entretanto, como é óbvio, é inferior ao dos demais papiros e manuscritos unciais. Mas foi esse texto, em sua forma posterior, representada pelo codex 1, que foi usado para a compilação do Textus Receptus de Erasmo. Variantes Textuais comentadas neste artigo. Abaixo damos os lugares onde figuram as variantes textuais mais importantes do livro de Apocalipse: Apo. 1:5,6,8,11,15, 2:2,10,13,16,20,22,23; 3:2,5,7; 5:1,4,6,9,10,13,14; 6:1-5,7,8,11,12,17; 7:12,17; 8:1, 6-8,13; 9:7,10,12,13,19-21; 10:4,5-7,10; 11:2,3,12, 15,17,19; 12:10,18; 13:1,6,7,15,17,18; 14:3,5,6,8, 13,18-20; 15:2-4,6; 16:1,4,16,18; 18:2,3,7,8,11,13, 14,17,20,22; 19:5-7,11,12,13,17; 20:2,6,9,12; 21:3-6,10; 22:5,11,14,19,21.

X. Visão Geral do Conteúdo.

1. O livro de Apocalipse começa com um a declaração de sua autoridade divina (o único livro do N .T. que contém tal assertiva), copulada a um a promessa de bênção para aqueles que ouvirem a leitura pública do livro (nas igrejas locais) e p ara aqueles que o lerem. Essa declaração é, ao mesmo tempo, uma explicação do tema do livro, isto é, Jesus Cristo, o Alfa e o Omega da existência de todos os seres inteligentes. (Ver Apo. 1:1-3).
2. Isso é seguido pela saudação geral às sete igrejas da Ásia Menor, que seriam as primeiras a receber o livro. O próprio Cristo é visto a saudar à igreja, juntamente com João, além de ser retratado como o Alfa e o Omega, o verdadeiro objeto de adoração, em contraste com os imperadores rom anos, como Domiciano, que requeriam tal adoração dos súditos rom anos. Essa saudação promete a parousia  ou segunda vinda de Cristo, dando a entender a conversão do povo de Israel (V er Apo. 1:4-8; comparar com Rom. 11:26 e ss ).
3. A seção seguinte localiza o lugar onde foi recebida a visão—Patmos, a cinqüenta e seis quilômetros ao largo da costa da Ásia Menor (moderna Turquia), além de descrever o aparecimento e a glória de Cristo, conforme ele se mostrou a João e conforme o Apocalipse teve inicio. (V er Apo. 1:18-29). 4. Sete cartas são dirigidas às sete igrejas, que originalmente receberam o livro, cada uma das quais descreve as ;— condições da igreja — particularmente endereçada, com instruções, advertências e promessas. Essas cartas talvez profetizem sete períodos da história eclesiástica, mas certam ente refletem as condições reais da igreja cristã, quando o livro foi escrito. (Ver Apo. 2:1-3:22).
5. A substância geral do livro de Apocalipse, que é a cena nos céus (ver seu quarto capítulo), onde se vê a glória celestial de Cristo, e em cuja mão aparece o rolo selado com sete selos, dá a substância geral das revelações a serem desdobradas nas narrativas subsequentes. Somente o exaltado Senhor e Cordeiro, que é Cristo, é digno de quebrar os selos e publicar a sua mensagem (ver o quinto capítulo do livro). Cinco selos, que revelam horrendos juízos, são abertos (ver o sexto capítulo do livro).
6. O capítulo sete é um parêntese que explica que todo o grupo dos mártires será selado (talvez o novo Israel ou o “antigo Israel fiel ao Senhor”), que literalmente envolve cento e quarenta e quatro mil pessoas, ou um número representado por essa quantidade. Esses mártires são vistos em adoração e serviço celestiais. Serviram bem em sua missão terrena, e agora estão exaltados. O selo de Deus garante tanto seu martírio bem-sucedido como sua salvação e sua subseqüente glória divina. Eles “pertencem” a Deus por causa dessas coisas, e foram “selados” por causa das mesmas. O nono versículo mostra que o período de tribulação também será um período de grande número de salvações, porquanto muitíssimas pessoas encontrarão a Cristo em meio as tribulações.
7. O oitavo capítulo volta a falar sobre o partir dos selos do rolo. Do sétimo selo emerge o julgamento das sete trombetas. No oitavo capítulo são soadas quatro dessas trombetas, e terríveis julgamentos caem sobre a terra. Acerca do “tempo” em que tais julgamentos terão lugar (juntamente com tudo o que é descrito nessa análise), ver as várias formas de interpretação, na seção XII do presente artigo. O oitavo capítulo encerra o julgamento das quatro primeiras trombetas.
8. O nono capítulo encerra os julgamentos da quinta e da sexta trombetas, por causa dos quais é destruído um terço da população da terra.
9. O autor interrompe sua descrição dos horrores o bastante para descrever o julgamento iminente, pior do que tudo quanto até então vinha sendo descrito, mediante o símbolo do “livrinho” ou “rolo”, que é um escrito profético de total condenação para os ímpios. Era “doce” em sua boca, quando o “comia”, porque os poderes malignos haveriam de ser transformados, o que será benéfico para toda a criação. M as era amargo em seu estômago, porque falava de terrores que serão sofridos pelos homens (ver o décimo capítulo).
10. O décimo primeiro capítulo também é parentético. Descreve as duas testemunhas que atuarão durante a tribulação, talvez simbolizando “alguma coisa, ou podem ser pessoas literais, como “Enoque e Elias”, Elias e Moisés,  etc. As duas testem unhas darão seu testem unho durante mil; duzentos e sessenta dias, serão mortas e ressuscitarão. Esse incidente visa demonstrar que aqueles a quem Satanás mata, por terem sido fiéis a Cristo, deverão viver em triunfo. E isso é verdade se nos referimos às. perseguições do tempo de Nero e Domiciano ou aos horrores da vindoura tribulação, ao fim da era presente, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo.
11. O trecho de Apo. 11:15-19 encerra o soar da sétima trombeta, do que resultarão os juízos finais das taças de ira, com suas sete condenações ou “ais”.
12. Os capítulos doze e treze descrevem, sete personagens de grande importância para os futuros acontecimentos, descritos no Apocalipse. Esses personagens são: Israel (a mulher); Satanás (o destruidor); Cristo (o filho de Israel); o arcanjo Miguel e sua luta nos céus, em favor do bem, o que provocará a queda de Satanás e seus poderes angelicais; a descendência de Israel, o remanescente judaico, que, figuradamente, talvez também inclua o novo Israel-, e a “besta que saiu do mar” e a “besta que saiu da terra”, ou seja, o anticristo e seu falso profeta, já no décimo terceiro capítulo. Ê interessante que profecias místicas confirmam que esses dois personagens já estão vivos. De acordo com essas mesmas previsões, veremos o início de sua manifestação por volta do ano de 1993. (Ver o artigo sobre o Anticristo).
13. O capítulo catorze encerra um outro parêntese. Contrasta os adoradores da besta; o anticristo, com os discípulos fiéis de Cristo, o Cordeiro.— Em vez de adorarem ao imperador (Domiciano) e, profeticamente, ao anticristo, eles adoram ao Filho de Deus. Esses, embora tenham morte terrível, serão abençoados com a vida eterna, em contraste com os adoradores do anticristo, que aguardam a segunda morte. Antes disso, terão de sofrer os terrores do Armagedom.
14. O décimo quinto capítulo introduz os juízos das sete taças, com um a cena celeste que p rep arará o caminho para tais julgamentos. Nos céus são vistos aqueles que triunfaram sobre a besta, sobre sua m arca, seu número e seu aterrorizante reinado, porquanto entraram no descanso, na presença de seu Senhor.
15. O décimo sexto capitulo descreve os juízos das sete taças, bem como uma nova série indizivelmente severa de julgamentos, que sobrevirão ao mundo, em prodigiosa demonstração da ira de Deus.
16. Das sete taças emergiram as sete “condenações”. A primeira, que é a da Babilônia (Roma), mas que profetiza a esfera de governo do anticristo, ocupa os capítulos dezessete e dezoito.
17. Antes do reinicio das “condenações”, o décimo nono capítulo descreve as quatro “aleluias” dos santos glorificados. E isso é seguido por uma visão do hino do casamento do C ordeiro e sua noiva (a igreja). Poderíamos arranjar o trecho de Apo. 17:1-19:10 em “sete visões”, todas as quais envolvem “Roma” saber: 1. a prostituta; 2. interpretação da prostituta e da fera (ou besta); 3. proclamação angelical sobre a queda de Roma; 4. exultação dos santos e lamento dos povos em face da queda de Roma; 5. lamentação final sobre a cidade; 6. as “aleluias” dos santos; 7. hino matrimonial.
18. Seguem-se sete visões sobre o fim do governo e da era de Satanás, a saber: 1. A “parousia” ou segundo advento de Cristo, a fim de julgar: o Cristo conquistador (ver Apo. 19:11-16). 2. Visão da vitória de Cristo sobre o anticristo (ver Apo. 19:17-21). 3. Visão da prisão de Satanás por mil anos (ver Apo. 20:1-3). 4. Visão do reino milenar de Cristo (ver Apo. 20:4-6). 5. Visão de Gogue e Magogue derrotados e lançados no lago de fogo, juntamente com Satanás, o que assinalará o fim de sua era e governo (ver Apo. 20:7-10). 6. Desaparecimento dos céus e da terra; o grande julgamento (ver Apo. 20:11-15). 7. Visão da nova criação e da era eterna de Deus (ver Apo. 21:1-8). Nessas visões tem os a continuação das “condenações”. A primira é a destruição da Babilônia (capítulos dezessete e dezoito); a segunda é a condenação da besta; a terceira é a de seu falso profeta; a q u arta é a dos reis ou apoiadores do anticristo; a quinta é a de Gogue e Magogue; a sexta é a do próprio Satanás; a sétima é a dos incrédulos aliados de Satanás e do anticristo. 
19. Finalmente, chegamos à criação de novos céus e nova terra, a Jerusalém celestial, a capital da glória eterna (capítulos vinte e um e vinte e dois).
20. Epílogo.  (V er Apo. 22:6-21). Tem os aqui a última mensagem do N.T. Cristo voltará em breve. Ele é o Alfa e o Omega. Chamada ao arrependimento; advertência contra os abusos contra esta profecia. Conceitos de arranjo.
1. Há o conceito telescópico,  com certa sucessão de acontecimentos: Essa idéia encara o Apocalipse como uma crônica ordenada dos acontecimentos, com alguns poucos parênteses. Assim, ao passarmos de um capítulo para outro, supostamente avançamos para novos acontecimentos e passamos por um a série deles. A era da igreja é: “as cousas... que são” (Que retrata a época do autor sagrado). Contudo, trata-se de profecias simbólicas de coisas que “serão”. Essas “coisas que são” foram precedidas pelas “coisas que eram”, isto é, aquilo que João “vira”, a visão inicial (ver Apo. 1:1-20). Após as cartas para a era da igreja aparecem as “cousas... que hão de acontecer depois destas”, ou seja, aquilo que deverá transpirar imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Portanto, temos em Apo. 1:20 um esboço bem simples do livro: coisas que foram, coisas que são e coisas que hão de acontecer. No primeiro capítulo temos o passado; nos capítulos segundo e terceiro tem os o presente; nos capítulos quarto a vigésimo segundo temos o futuro, os últimos dias.
2. Conceito das profecias: os “duplos” Ao interpretar o livro de Apocalipse, alguns não creem que esteja em foco uma contínua “sucessão” de eventos (de mistura com alguns poucos parênteses). Utilizando-se do texto de Gên. 41:14ss como chave, pensam que há apresentações paralelas dos mesmos julgamentos, e não julgamentos sucessivos. Ê verdade que naquele capítulo do livro de Gênesis as sete “vacas gordas” são idênticas às sete “espigas cheias” e que as sete “vacas magras” são idênticas às sete “espigas mirradas”. As vacas gordas e as espigas cheias profetizavam sobre sete anos de abundância; e as sete vacas m agras e as espigas mirradas profetizavam sobre sete anos de escassez. Aplicando-se essa chave ao livro de Apocalipse, teríamos o seguinte arranjo: Os sete selos e as sete trombetas seriam espiritualmente paralelos; e os sete anjos e as sete taças seriam espiritualmente paralelos.
Os selos e trombetas seriam uma “visão celeste” dos mesmos acontecimentos focalizados na terra pelos anjos e taças. Nesse caso, somente sete elementos distintos seriam encontrados no livro de Apocalipse, no tocante aos juízos, e não um a série de quatro conjuntos distintos de julgamentos. Alguns encaram esses sete elementos distintos como sete épocas da história do mundo (interpretação histórica), ao passo que outros vêem sete acontecimentos ou estágios distintos acerca dos “últimos dias”, o período da tribulação. Seja como for, encontramos apenas uma série de sete elementos, e não quatro séries. Mas essa série é descrita de vários modos, sob diferentes pontos de vista, seguindo a orientação do quadragésimo primeiro capítulo do livro de Gênesis, que faz a mesma coisa, com diversos simbolismos. Já que as sete trombetas constituem o sétimo selo, então treze acontecimentos gerais são descritos no livro de Apocalipse, a saber: seis selos e sete trombetas (que enfeixariam, estas últimas, o último selo).
O “sétimo acontecimento” consistiria de “sete acontecimentos”. Isso poderia ser um a verdade se aplicássemos os mesmos a períodos históricos antes da segunda vinda de Cristo, ou a elementos da tribulação. Assim também o povo de Israel rodeou a cidade de Jericó por treze vezes. Nos primeiros seis dias eles a rodearam apenas um a vez cada dia; m as, no sétimo dia, rodearam-na por sete vezes. Seis mais sete é igual a treze. Isso derrubou as muralhas de Jericó, com a conseqüente derrota de seus habitantes. Os treze acontecimentos retratados no livro de Apocalipse, pois, porão fim ao governo de Satanás, estabelecendo o reino de Deus, como também o reinado universal de Cristo.
Os paralelos: I. Os selos e anjos (os selos indicam o ponto de vista celeste; os anjos indicam o ponto de vista terreno dos mesmos acontecimentos). 1. Apo. 6:2 14:6,7" 2. 6:3-5 14:8 3. 6:5-6 14:9-11 4. 6:7-8 14:12-13 5. 6:9-11 14:17-20 6. 6:12-7:17 14:17-20 7: 8:1-6 15:1-16:1 II. As trombetas e as taças (as trombetas indicam o ponto de vista celeste; as taças indicam o ponto de vista terreno dos mesmos acontecimentos). 1. Apo. 8:7 16:2 2. 8:8-9 16:3 3. 8:10-11 16:4-7 4. 8:12-13 16:8-9 5. 9:1-12 16:10-11 6. 9:13-21 16:12-14 7. 10:7; — 15:17-21 (11-15-19) Assim sendo, teríamos o seguinte: Os selos e os anjos descrevem os mesmos acontecimentos, embora de pontos de vista diferentes; o sétimo selo se constitui das sete trombetas; as sete trombetas e os sete selos descrevem os mesmos acontecimentos de acordo com diferentes pontos de vista.
3. A teoria sincronológica. Essa teoria também apresenta apenas sete elementos ou acontecimentos gerais, que seriam eras ou épocas. As várias séries de “setes”, como os selos, as trombetas, as taças, os anjos, seriam totalmente paralelas. Cada série de “sete” descreveria os mesmos acontecimentos, eras ou sucessões de eventos, mas de acordo com diferentes pontos de vista. Cada série de “sete” cobriria o mesmo período de tempo, estendendo-se até o fim de todas as coisas.
4. Falta de qualquer arranjo de acontecimentos ou de distinção de eras. Se o livro de Apocalipse tiver de ser interpretado apenas simbólica ou misticamente, então não faz sentido falar de “eras” de “acontecimentos sucessivos” ou de qualquer arranjo de tempo. 

XI. Esboço do Conteúdo 

I. Introdução (1:1-3) 
II. Saudação (1:4-8) 
III. Origem do Apoc. (1:9-20: coisas que foram) 
IV. Cartas às Sete Igrejas (caps 2-3: coisas que são) 
1. Éfeso (2:1-7) 2. Esmima (2:8-11) 3. Pérgamo (2:12-17) 4. Tiatira (2:18-29) 5. Sardes (3:1-6) 6. Filadélfia (3:7-13) 7. Laodicéia (3:14-22) 
V. Visão introdutória dos selos (4:1-22:21: coisas que hão de acontecer) 1. Visão do trono de Deus (4:1-11) 2. Visão do livro do Cordeiro (5:1-14) 
VI. Visão dos Sete Selos (6:1-S:6) 1. Primeiro: o cavalo branco (6:1,2) 2. Segundo: o cavalo vermelho (6:3,4) 3. Terceiro: o cavalo preto (6:5,6) 4. Quarto: o cavalo amarelo (6:7,8) 5. Quinto: lamento dos mártires (6:9-11) 6. Sexto: tremendos juízos (6:12-17) 7. Parênteses (7:1-17) a. selagem dos mártires (7:1-8) b. os mártires glorificados (7:9-17) 8. Sétimo: surgimento das sete trombetas (8:1-6)
VII. Julgamentos das Sete Trombetas (8:7-11:19) 1. Primeira: saraiva e fogo (8:7) 2. Segunda: montanha em fogo (8:8,9) 3. Terceira: a estrela de fogo (8:10,11)  4. Quarta: enegrecem sol, lua e estrelas (8:12) 5. Parênteses: advertência da águia (8:13) 6. Quinta: terríveis gafanhotos (9:1-12) 7. Sexta: os cavaleiros (9:13-21) 8. Parênteses (10:1-11:14) a. o rolo doce-ámargo (10:1-11); b. as duas testemunhas (11:1-14) . 9. Sétima: Cristo em breve reinará (11:15-19)
VIII. Visões dos Sete Personagens (12:1-13:18) 1. A mulher (12:1,2) 2. Satanás (12:3,4) 3. A criança (12:5,6) 4. Miguel, o arcanjo (12:7-16) 5. A descendência da mulher (12:17) 6. A besta saída do mar (13:1-10) 7. A besta saída da terra (13:11-18)
IX. Sete visões dos adoradores do Cordeiro e da Besta (14:1-20) 1. Os mártires do cordeiro (14:1-5) 2. Ordem angelical de adoração (14:6,7) 3. Condenação de Babilônia, centro da antiadoração (14:8) 4. Condenação dos adoradores da besta (14:9-12) 5. Bem-aventurança dos mártires (14:13) 6. Armagedom, a colheita (14:14-16) 7. A vinha no lagar de Deus (14:17-20)
X. Julgamentos das Sete Taças (15:1-16:21) 1. Preparativos celestiais (cap. 15) 2. Primeira taça: praga das feridas (16:1,2) 3. Segunda taça: mar transformado em sangue (16:3) 4. Terceira taça: rios e fontes transformados em sangue (16:4-7) 5. Quarta taça: calor escaldante (16:8,9) 6. Quinta taça: trevas (16:10,11) 7. Sexta taça: preparação para o Armagedom (16:12-16) 8. Sétima taça: juízo proferido contra Babilônia (16:17-21)
XI. Sete Visões da Queda de Babilônia (17:1-19:10) 1. Babilônia, a prostituta (17: l-6a) 2. Natureza da prostituta e da besta (17:6b-18) 3. Condenação proferida (18:1-3) 4. Grande lamento pela queda de Babilônia (18:4-20) 5. Lamento final sobre a cidade (18:21-24) 6. Hino de louvor a Deus, por ter sido destruída Babilônia (19:1-5) 7. Anúncio do casamento do Cordeiro (19:6-10)
XII. Sete Visões da Queda de Satanás e o Fim de seu Reinado (19:11-21:8) 1. Cristo vencerá: a parousia marca o juízo de Satanás (19:11-16) 2. Cristo virá e esmagará o anticristo (19:17-21) 3. Satanás é amarrado por mil anos (20:1-3) 4. O milênio (20:4-6) 5. Revolta de Gogue e Magogue (20:7-10) 6. Desaparecimento dos céus e da terra — juízo final (20:11-15) 7. A nova criação e a era eterna (21:1-8)
XIII. Jerusalém Celestial, Capital da Nova Criação (21:9-22:5) 1. Seu aparecimento (21:9-14) 2. Suas medidas (21:15-17) 3. Sua composição (21:18-21) 4. Sua glória (21:22-27) 5. O novo jardim do Éden (22:1-5) XIV. Epílogo: Cristo voltará em breve. Preparai-vos (22:6-21)

XII. Conceito e Método de Interpretação 

O livro de Apocalipse tem sido estudado segundo muitos conceitos e métodos de interpretação diferentes. Abaixo mostramos os principais dentre esses: 1. O ponto de vista preterista.  Esse ponto de vista dá a entender que todas as ocorrências aludidas no livro de Apocalipse tiveram lugar no império romano, no primeiro século de nossa era, embora talvez haja acontecimentos referentes ao segundo século. Os eruditos liberais normalmente tomam esse ponto de vista em geral, porquanto supõem que o livro não pode ser uma profecia genuína, mas tão-somente um escrito simbólico e um a avaliação mística dos acontecimentos daquela porção do mundo para onde o livro foi originalmente enviado. Alguns estudiosos católicos romanos também favorecem esse ponto de vista, talvez porque impossibilita a interpretação protestante, que faz do papa o anticristo, além de negar a idéia de que a Igreja Católica Romana seja representada por Babilônia. Esse ponto de vista, apesar de preservar sem dúvida alguma verdade, pois certam ente o livro reflete alguns acontecimentos “contemporâneos”, no entanto não leva em conta que se trata de uma “profecia”, e que esta contempla o tempo futuro da segunda vinda de Cristo, sem importar se isso ocorreria imediatamente ou não, e sem importar nossa ideia sobre o seu cumprimento dentro do tempo. 
2.O ponto de vista histórico.  Os intérpretes que assumem essa posição procuram encaixar todos os acontecimentos previstos no Apocalipse em várias épocas da história humana. A série de “sete” (selos, trombetas, taças e anjos) supostamente representaria sucessivos estágios da história da humanidade, até à volta de Cristo, o que dará fim ao presente ciclo geral. Naturalmente, os que assim pensam não têm podido concordar entre si sobre quais visões representam estes ou aqueles acontecimentos históricos, e muitas identificações fantásticas, de homens e eventos, no tocante às predições, têm aparecido na literatura que defende esse ponto de vista.
O ponto de vista puramente histórico do livro de Apocalipse deixa-o uma obra essencialmente fechada e misteriosa. 3. O ponto de vista futurista . Há os “futuristas extremos”, que pensam que o livro inteiro é preditivo, incluindo os capítulos dois e três (as cartas às sete igrejas), que representariam sucessivos estágios da história eclesiástica, até à vinda de Cristo. Mas há os “futuristas moderados”, que admitem que os capítulos dois e três referem-se ao passado (ou ao presente); mas que a começar no quarto capítulo temos o futuro, o que deverá ocorrer imediatamente antes do segundo advento de Cristo. Isso faz este livro ser, essencialmente, uma profecia, levando em conta, a sério, as declarações de Apo. 1:19 e 4:1. A principal objeção contra esse ponto de vista é que remove do livro qualquer contexto histórico. Mas isso é respondido pela observação que apesar de refletir o tempo e os acontecimentos contemporâneos, em um sentido secundário, a verdade é que, em sentido “primário”, o livro reflete os “últimos dias”.
Portanto, este livro tanto é orientado historicamente como é escatologicamente importante; mas a ênfase recai sobre este último fator. Os futuristas que falam desse modo tornam-se um tanto “ecléticos” em seus pontos de vista, mas sua ênfase recai sobre o futuro, e não sobre o passado. Os liberais, a quem falta a fé na possibilidade de um livro como o de Apocalipse ser uma profecia genuína, ou que duvidam que tal profecia possa abarcar tão grande expansão de tempo, fazem objeção ao ponto de vista futurista. O presente artigo assume, essencialmente, o ponto de vista futurista, ao asseverar que esse livro, tal como alguns livros do V.T. é essencialmente uma profecia, e, de fato, o único livro totalmente profético do N.T. Certamente o N.T. deve contar com um livro assim, que vise dirigir, orientar e consolar aos crentes (e ao povo de Israel), quando se encontrarem em meio aos horrendos acontecimentos descritos nesse livro.
Esse é o livro neotestamentârio que veio à existência com esse propósito, a fim de informar-nos, com detalhes, como Cristo tom ará as rédeas do governo deste mundo, como as forças do mal serão derrotadas, e como o estado eterno substituirá, por fim, os ciclos terrestres. O autor desta enciclopédia, outrossim, crê que profetas e místicos contemporâneos têm pronunciado e estão proferindo predições que são paralelas às do livro de Apocalipse. Ao com pararmos essas predições, vemos que a maior parte do livro de Apocalipse pode ser focalizada no futuro, nos “últimos dias”, o tempo imediatamente antes do longamente previsto segundo advento de Cristo. O livro de Apocalipse, pois, tornar-se-á progressivamente melhor compreendido quando mais próximo estiverem os eventos preditos.
Os acontecimentos de maior vulto (como também os secundários) lançam suas sombras antes mesmo de chegarem em cena. Ora, as sombras daqueles horrendos acontecimentos preditos no livro de Apocalipse, já estão entre nós; e este artigo defende a “especulação” que certamente, antes de 2035, terão lugar os acontecimentos preditos no Apocalipse. O leitor deveria consultar o artigo intitulado “Tradição Profética e a Nossa Época”.  Se porventura o leitor considerar extravagantes esses pontos de vista, então que o futuro imediato os confirme ou condene. Que o leitor leia para considerar e não para condenar.
4. A interpretação simbólica ou mística.  Alguns eruditos creem que o livro de Apocalipse não é essencialmente profético e nem histórico, mas é uma vivida coletânea de símbolos místicos, que visam ensinar lições espirituais e morais. Isso significa que não esperamos qualquer cronologia de acontecimentos passados ou futuros nesse livro. Tais acontecimentos seriam puramente espirituais, podendo “acontecer” em qualquer período histórico. Naturalmente, muito há no livro de Apocalipse que pode ser visto como “misticamente instrutivo”; mas isso não pode explicar sua mensagem geral. Ele assevera ser uma profecia, e certamente assim sucede.
5. O ponto de vista eclético. Alguns intérpretes “misturam” todas as idéias expostas acima, de que nenhuma domine — as demais. Não há dúvida que devemos preservar “alguns elementos” de cada um desses pontos de vista sobre o livro de Apocalipse, em um grau ou outro. Os eventos que já sucederam, e que eram contemporâneos aos dias do autor sagrado, estão em vista, embora talvez não estejam primariamente em foco (dentro do intuito do Espírito Santo, à parte do intuito do próprio autor sagrado). Porções do Apocalipse podem subentender ou descrever partes da sucessão de eventos da história humana (como é o caso das cartas às igrejas, nos capítulos segundo e terceiro), e muitos outros acontecimentos históricos refletem, pelo menos em parte, as descrições feitas. O livro ensina-nos lições morais e místicas, aplicáveis a qualquer época. Contudo, certamente erraremos se não contemplarmos o livro de Apocalipse como obra “essencialmente” profética, e de primeira ordem.
Dentre todas as gerações, a nossa e mais um a ou duas, são as que precisam mais desesperadamente da mensagem deste livro. A igreja cristã deve compreender que nos aproximamos do mais aterrorizante tempo de purificação. A igreja presente é incapaz de “voar” ou “subir”. Os eventos preditos neste livro prepararão a igreja para ir ao encontro de Cristo e de Deus.