Mateus 5 — Comentário Evangélico

Mateus 5

O que é a verdadeira justiça (5:1–16) Sendo um mestre mestre, nosso Senhor não começou este importante sermão com uma crítica negativa aos escribas e fariseus. Ele começou com uma ênfase positiva no caráter justo e nas bênçãos que ele traz para a vida do crente. Os fariseus ensinavam que a justiça era uma coisa externa, uma questão de obedecer a regras e regulamentos. A justiça podia ser medida pela oração, doação, jejum, etc. Nas bem-aventuranças e nas imagens do crente, Jesus descreveu o caráter cristão que fluía de dentro. Imagine como a atenção da multidão estava voltada para Jesus quando Ele pronunciou Sua primeira palavra: “Bem-aventurado”. (A palavra latina para bem-aventurado é beatus, e daí vem a palavra bem-aventurança.) Essa foi uma palavra poderosa para aqueles que ouviram Jesus naquele dia. Para eles, significava “alegria divina e felicidade perfeita”. A palavra não foi usada para humanos; descrevia o tipo de alegria experimentada apenas pelos deuses ou pelos mortos. “Bem-aventurado” implicava uma satisfação interior e suficiência que não dependia de circunstâncias externas para a felicidade. Isto é o que o Senhor oferece àqueles que confiam nEle! As bem-aventuranças descrevem as atitudes que deveriam ser em nossas vidas hoje. Quatro atitudes são descritas aqui. Nossa atitude em relação a nós mesmos (v. 3). Ser pobre de espírito significa ser humilde, ter uma avaliação correta de si mesmo (Rm 12:3). Não significa ser “pobre de espírito” e não ter nenhuma espinha dorsal! “Pobre de espírito” é o oposto das atitudes do mundo de auto-elogio e auto-afirmação. Não é uma falsa humildade que diz: “Eu não valho nada; Eu não posso fazer nada!” É honestidade com nós mesmos: nos conhecemos, nos aceitamos e tentamos ser nós mesmos para a glória de Deus.

Nossa atitude em relação aos nossos pecados (vv. 4-6). Lamentamos o pecado e o desprezamos. Vemos o pecado da maneira como Deus o vê e procuramos tratá-lo da maneira que Deus o trata. Aqueles que cobrem o pecado ou defendem o pecado certamente têm a atitude errada. Não devemos apenas lamentar nossos pecados, mas também devemos nos submeter mansamente a Deus (ver Lucas 18:9–14; Fil. 3:1–14). Mansidão não é fraqueza, pois tanto Moisés quanto Jesus eram homens mansos (Nm 12:3; Mt 11:29). Esta palavra traduzida como “manso” foi usada pelos gregos para descrever um cavalo que havia sido dominado. Refere-se ao poder sob controle.

Nossa atitude para com o Senhor (vv. 7-9). Experimentamos a misericórdia de Deus quando confiamos em Cristo (Efésios 2:4-7), e Ele nos dá um coração puro (Atos 15:9) e paz interior (Romanos 5:1). Mas tendo recebido Sua misericórdia, então compartilhamos Sua misericórdia com os outros. Procuramos manter nossos corações puros para que possamos ver Deus em nossas vidas hoje. Tornamo-nos pacificadores em um mundo conturbado e canais para a misericórdia, pureza e paz de Deus.

Nossa atitude para com o mundo (vv. 10-16). Não é fácil ser um cristão dedicado. Nossa sociedade não é amiga de Deus nem do povo de Deus. Gostemos ou não, há conflito entre nós e o mundo. Por quê? Porque somos diferentes do mundo e temos atitudes diferentes. Ao lermos as bem-aventuranças, descobrimos que elas representam uma visão radicalmente diferente daquela do mundo. O mundo elogia o orgulho, não a humildade. O mundo endossa o pecado, especialmente se você “se safar”. O mundo está em guerra com Deus, enquanto Deus procura reconciliar Seus inimigos e torná-los Seus filhos. Devemos esperar ser perseguidos se estivermos vivendo como Deus quer que vivamos. Mas devemos ter certeza de que nosso sofrimento não é devido à nossa própria tolice ou desobediência. Como a verdadeira justiça vem (5:17-20) Certamente depois que a multidão ouviu a descrição de nosso Senhor sobre o tipo de pessoa que Deus abençoa, eles disseram a si mesmos: “Mas nunca poderíamos alcançar esse tipo de caráter. Como podemos ter essa justiça? De onde isso vem?” Eles se perguntavam como Seus ensinamentos se relacionavam com o que haviam aprendido durante toda a vida. E quanto a Moisés e a lei? Na lei de Moisés, Deus certamente revelou Seus padrões para uma vida santa. Os fariseus defendiam a lei e procuravam obedecê-la. Mas Jesus disse que a verdadeira justiça que agrada a Deus deve exceder a dos escribas e fariseus - e para as pessoas comuns, os escribas e fariseus eram os homens mais santos da comunidade! Se eles não tivessem alcançado, que esperança havia para mais alguém? Jesus explicou Sua própria atitude em relação à lei descrevendo três possíveis relacionamentos.

Podemos procurar destruir a lei (v. 17a). Os fariseus pensavam que Jesus estava fazendo isso. Para começar, Sua autoridade não veio de nenhum dos líderes ou escolas reconhecidas. Em vez de ensinar “das autoridades”, como faziam os escribas e fariseus, Jesus ensinava com autoridade. Não apenas em Sua autoridade, mas também em Sua atividade, Jesus parecia desafiar a lei. Ele deliberadamente curou as pessoas no dia de sábado e não prestou atenção às tradições dos fariseus. As associações de nosso Senhor também pareciam contrárias à lei, pois Ele era amigo de publicanos e pecadores. No entanto, eram os fariseus que estavam destruindo a lei! Por suas tradições, eles roubaram o povo da Palavra de Deus; e por suas vidas hipócritas, eles desobedeceram a própria lei que alegavam proteger. Os fariseus pensavam que estavam conservando a Palavra de Deus, quando na realidade estavam preservando a Palavra de Deus: embalsamando-a para que não tivesse mais vida! Sua rejeição de Cristo quando Ele veio à terra provou que a verdade interior da lei não havia penetrado em seus corações. Jesus deixou claro que veio para honrar a lei e ajudar o povo de Deus a amá-la, aprendê-la e vivê-la. Ele não aceitaria a justiça artificial dos líderes religiosos. A justiça deles era apenas uma máscara externa. A religião deles era um ritual morto, não um relacionamento vivo. Era artificial; não se reproduziu nos outros de forma viva. Isso os tornou orgulhosos, não humildes; levou à escravidão, não à liberdade.

Podemos procurar cumprir a lei (v. 17b). Jesus Cristo cumpriu a lei de Deus em todas as áreas de Sua vida. Ele a cumpriu em Seu nascimento porque Ele foi “feito sob a lei” (Gl 4:4). Todo ritual prescrito para um menino judeu foi realizado nele por seus pais. Ele certamente cumpriu a lei em Sua vida, pois ninguém jamais foi capaz de acusá-lo de pecado. Embora Ele não tenha se submetido às tradições dos escribas e fariseus, Ele sempre fez o que Deus ordenou na lei. O Pai estava “bem satisfeito” com Seu Filho (Mt 3:17; 17:5). Jesus também cumpriu a lei em Seu ensino. Foi isso que O colocou em conflito com os líderes religiosos. Quando Ele começou Seu ministério, Jesus encontrou a Palavra Viva de Deus incrustada com tradições e interpretações feitas pelo homem. Ele quebrou essa crosta grossa de “religião” e trouxe as pessoas de volta à Palavra de Deus. Então, Ele abriu a Palavra para eles de uma maneira nova e viva – eles estavam acostumados com a “letra” da lei e não com o “núcleo” interior da vida. Mas foi em Sua morte e ressurreição que Jesus cumpriu especialmente a lei. Ele carregou a maldição da lei (Gl 3:13). Ele cumpriu os tipos e cerimônias do Antigo Testamento para que não sejam mais exigidos do povo de Deus (veja Hb. 9-10). Ele deixou de lado a antiga aliança e trouxe a nova aliança. Jesus não destruiu a lei lutando contra ela; Ele a destruiu cumprindo-a! Talvez uma ilustração torne isso claro. Se eu tiver uma bolota, posso destruí-la de duas maneiras. Eu posso colocá-lo em uma pedra e esmagá-lo em pedaços com um martelo. Ou posso plantá-lo no chão e deixá-lo se realizar tornando-se um carvalho. Quando Jesus morreu, Ele rasgou o véu do templo e abriu o caminho para o santuário (Hb 10:19). Ele derrubou o muro que separava judeus e gentios (Efésios 2:11-13). Porque a lei foi cumprida em Cristo, não precisamos mais de templos feitos por mãos (Atos 7:48ss.) ou rituais religiosos (Cl 2:10-13). Como podemos cumprir a lei? Ao ceder ao Espírito Santo e permitir que Ele trabalhe em nossas vidas (Rm 8:1-3). O Espírito Santo nos capacita a experimentar a “justiça da lei” na vida diária. Isso não significa que vivemos vidas perfeitas e sem pecado, mas significa que Cristo vive Sua vida através de nós pelo poder do Seu Espírito (Gl 2:20). Quando lemos as bem-aventuranças, vemos o caráter perfeito de Jesus Cristo. Embora Jesus nunca tenha chorado por Seus pecados, já que Ele não tinha pecado, Ele ainda era um “homem de dores e experimentado no sofrimento” (Is 53:3). Ele nunca teve fome e sede de justiça porque Ele era o santo Filho de Deus, mas Ele se deleitou na vontade do Pai e encontrou Sua satisfação em fazê-la (João 4:34). A única maneira pela qual podemos experimentar a justiça das bem-aventuranças é através do poder de Cristo.

Podemos procurar cumprir e ensinar a lei (v. 19). Isso não significa que nos especializamos no Antigo Testamento e ignoramos o Novo! Segunda Coríntios 3 deixa claro que o nosso é um ministério da nova aliança. Mas há um ministério próprio da lei (1 Tm 1:9 e segs.) que não é contrário à gloriosa mensagem da graça de Deus. Jesus quer que conheçamos mais da justiça de Deus, a obedeçamos e a compartilhemos com os outros. A lei moral de Deus não mudou. Nove dos Dez Mandamentos são repetidos nas Epístolas do Novo Testamento e ordenados aos crentes. (A exceção é o mandamento do sábado, que foi dado como um sinal a Israel; veja Ne. 9:14.) Não obedecemos a uma lei externa por causa do medo. Não, os crentes hoje obedecem a uma lei interna e vivem por amor. O Espírito Santo nos ensina a Palavra e nos capacita a obedecer. Pecado ainda é pecado, e Deus ainda pune o pecado. Na verdade, nós nesta era atual somos mais responsáveis porque fomos ensinados e dados mais! Como a Justiça Funciona na Vida Diária (5:21–48) Jesus pegou seis importantes leis do Antigo Testamento e as interpretou para Seu povo à luz da nova vida que Ele veio dar. Ele fez uma mudança fundamental sem alterar os padrões de Deus: Ele lidou com as atitudes e intenções do coração e não simplesmente com a ação externa. Os fariseus diziam que a justiça consistia em realizar certas ações, mas Jesus disse que ela se concentrava nas atitudes do coração. Da mesma forma, com o pecado: Os fariseus tinham uma lista de ações externas que eram pecaminosas, mas Jesus explicou que o pecado vinha das atitudes do coração. A raiva é assassinato no coração; luxúria é adultério no coração. A pessoa que diz que “vive pelo Sermão da Montanha” pode não perceber que o Sermão da Montanha é mais difícil de guardar do que os Dez Mandamentos originais!

Assassinato (vv. 21-26; Ex. 20:13). Li que uma em cada trinta e cinco mortes em Chicago é um assassinato, e que a maioria desses assassinatos são “crimes passionais” causados pela raiva entre amigos ou parentes. Jesus não disse que a raiva leva ao assassinato; Ele disse que raiva é assassinato. Há uma ira santa contra o pecado (Efésios 4:26), mas Jesus falou sobre uma ira profana contra as pessoas. A palavra que Ele usou em Mateus 5:22 significa “uma ira reprimida, malícia que é alimentada interiormente”. Jesus descreveu uma experiência pecaminosa que envolveu vários estágios. Primeiro, houve raiva sem causa. Essa raiva então explodiu em palavras: “Raca – pessoa de cabeça vazia!” Essas palavras adicionaram combustível ao fogo para que a pessoa dissesse: “Seu tolo - rebelde!” A raiva é uma coisa tão tola. Isso nos torna destruidores em vez de construtores. Rouba-nos a liberdade e torna-nos prisioneiros. Odiar alguém é cometer assassinato em nossos corações (1 João 3:15). Isso não significa que devemos ir em frente e matar alguém que odiamos, pois já pecamos interiormente. Obviamente, sentimentos pecaminosos não são desculpas para atos pecaminosos. A ira pecaminosa nos rouba a comunhão com Deus, bem como com nossos irmãos, mas não nos coloca na prisão como assassinos. No entanto, mais de uma pessoa se tornou um assassino porque falhou em controlar a ira pecaminosa. A ira pecaminosa deve ser encarada honestamente e deve ser confessada a Deus como pecado. Devemos ir ao nosso irmão e resolver o assunto, e devemos fazê-lo rapidamente. Quanto mais esperamos, pior se torna a escravidão! Colocamo-nos numa terrível prisão quando nos recusamos a nos reconciliar. (Veja Mat. 18:15–20 para mais conselhos.) Já foi dito que a pessoa que se recusa a perdoar seu irmão destrói a própria ponte sobre a qual ele mesmo deve passar.

Adultério (vv. 27-30; Ex. 20:14). Jesus afirmou a lei de pureza de Deus, e então explicou que a intenção desta lei era revelar a santidade do sexo e a pecaminosidade do coração humano. Deus criou o sexo, e Deus protege o sexo. Ele tem autoridade para punir novamente aqueles que se rebelam contra Suas leis. Ele não regula o sexo porque quer nos roubar, mas sim porque quer nos abençoar. Sempre que Deus diz não, é para que Ele diga sim. A impureza sexual começa nos desejos do coração. Novamente, Jesus não está dizendo que os desejos lascivos são idênticos aos atos lascivos e, portanto, uma pessoa pode ir em frente e cometer adultério. O desejo e a ação não são idênticos, mas, espiritualmente falando, são equivalentes. O “olhar” que Jesus mencionou não era um olhar casual, mas um olhar constante com o propósito de cobiçar. É possível que um homem olhe para uma mulher bonita e saiba que ela é bonita, mas não a cobice. O homem que Jesus descreveu olhou para a mulher com o propósito de alimentar seus apetites sensuais internos como um substituto para o ato. Não foi acidental; foi planejado. Como obtemos a vitória? Purificando os desejos do coração (o apetite leva à ação) e disciplinando as ações do corpo. Obviamente, nosso Senhor não está falando de cirurgia literal, pois isso não resolveria o problema no coração. O olho e a mão geralmente são os dois “culpados” quando se trata de pecados sexuais, então eles devem ser disciplinados. Jesus disse: “Lide imediatamente e decisivamente com o pecado! Não diminua – corte!” A cirurgia espiritual é mais importante do que a cirurgia física, pois os pecados do corpo podem levar ao julgamento eterno. Pensamos em passagens como Colossenses 3:5 e Romanos 6:13; 12:1–2; 13:14.

Divórcio (vv. 31–32). Nosso Senhor tratou disso com mais detalhes em Mateus 19:1-12, e nós o consideraremos lá.

Jurando (vv. 33-37; Lev. 19:12; Deut. 23:23). Este não é o pecado de “maldição”, mas o pecado de usar juramentos para afirmar que o que é dito é verdade. Os fariseus usavam todos os tipos de truques para evitar a verdade, e juramentos estavam entre eles. Eles evitariam usar o santo nome de Deus, mas chegariam perto usando a cidade de Jerusalém, o céu, a terra ou alguma parte do corpo. Jesus ensinou que nossa conversa deve ser tão honesta, e nosso caráter tão verdadeiro, que não precisaríamos de “muletas” para fazer as pessoas acreditarem em nós. As palavras dependem do caráter, e os juramentos não podem compensar um caráter pobre. “Na multidão de palavras não falta pecado; mas o que refreia os lábios é sábio” (Pv 10:19). Quanto mais palavras um homem usa para nos convencer, mais desconfiados devemos ser.

Retaliação (vv. 38–42; Lev. 24:19–22). A lei original era justa; evitou que as pessoas obrigassem o ofensor a pagar um preço maior do que a ofensa merecia. Também impediu as pessoas de se vingarem pessoalmente. Jesus substituiu uma lei por uma atitude: esteja disposto a sofrer perdas em vez de causar sofrimento a outros. Claro, Ele aplicou isso a insultos pessoais, não a grupos ou nações. A pessoa que retalia só faz com que ela e o ofensor se sintam piores; e o resultado é uma guerra estabelecida e não paz. Para “dar a outra face”, devemos ficar onde estamos e não fugir. Isso exige fé e amor. Também significa que seremos feridos, mas é melhor ser ferido por fora do que ser ferido por dentro. Mas também significa que devemos tentar ajudar o pecador. Somos vulneráveis, porque ele pode nos atacar novamente; mas também somos vitoriosos, porque Jesus está do nosso lado, nos ajudando e construindo nosso caráter. Os psicólogos nos dizem que a violência nasce da fraqueza, não da força. É o homem forte que pode amar e sofrer; é o homem fraco que pensa apenas em si mesmo e fere os outros para se proteger. Ele fere os outros e depois foge para se proteger.

Amor aos inimigos (vv. 43-48; Lev. 19:17-18). Em nenhum lugar a lei ensinou o ódio aos inimigos. Passagens como Êxodo 23:4–5 indicam exatamente o oposto! Jesus definiu nossos inimigos como aqueles que nos amaldiçoam, nos odeiam e nos exploram egoisticamente. Visto que o amor cristão é um ato da vontade, e não simplesmente uma emoção, Ele tem o direito de nos ordenar a amar nossos inimigos. Afinal, Ele nos amou quando éramos Seus inimigos (Rm 5:10). Podemos mostrar esse amor abençoando aqueles que nos amaldiçoam, fazendo o bem a eles e orando por eles. Quando oramos por nossos inimigos, achamos mais fácil amá-los. Tira o “veneno” das nossas atitudes. Jesus deu várias razões para esta admoestação. (1) Esse amor é uma marca de maturidade, provando que somos filhos do Pai, e não apenas criancinhas. (2) É divino. O Pai compartilha Suas coisas boas com aqueles que se opõem a Ele. Mateus 5:45 sugere que nosso amor “cria um clima” de bênçãos que torna mais fácil vencer nossos inimigos e torná-los nossos amigos. O amor é como o sol e a chuva que o Pai envia tão graciosamente. (3) É um testemunho para os outros. “O que você faz mais do que os outros?” é uma boa pergunta. Deus espera que vivamos em um plano muito mais alto do que as pessoas perdidas do mundo que retribuem o bem com o bem e o mal com o mal. Como cristãos, devemos retribuir o bem com o mal como investimento de amor. A palavra perfeito em Mateus 5:48 não implica perfeito sem pecado, pois isso é impossível nesta vida (embora seja um bom objetivo pelo qual lutar). Sugere plenitude, maturidade, como filhos de Deus. O Pai ama Seus inimigos e procura torná-los Seus filhos, e devemos ajudá-Lo!

Fonte: The Wiersbe Bible Copmmentary, por W. W. Wiersbe.

Notas Adicionais:

Poucas passagens da Bíblia são tão mal interpretadas e mal aplicadas como o Sermão do Monte. Com frequência, as pessoas pegam alguns versículos ou frases de Mateus 5—7 e desconside­ram o contexto. É importante termos uma visão geral desse importante ser­mão antes de tentar estudar as várias divisões dessa passagem.

A. Tema
Em 5:17-20, Cristo apresenta o tema do sermão — a justiça verdadeira versus a falsa, a dos escribas e fa­riseus. É importante lembrar que o povo via os escribas e fariseus como seus modelos e mestres nas coisas de Deus. Eles estabeleciam as regras e determinavam o que era santo ou profano. Um dos motivos por que os escribas e os fariseus odiavam Jesus era porque, nesse sermão, ele expôs a superficialidade e a falsidade de­les. Veja também Mateus 23.

B. Propósito
Houve três propósitos fundamentais para Cristo fazer esse sermão: (1)
dizer a seus seguidores o que era a justiça verdadeira em oposição à falsa justiça dos escribas e fariseus; (2) descrever as leis de seu reino, os princípios espirituais que usa para governar a vida dos homens; e (3) relacionar sua mensagem à lei do Antigo Testamento e às tradições dos escribas e fariseus.

C. Três erros
Muitas pessoas cometem um desses três erros (ou todos eles) quando es­tudam o Sermão do Monte: (1) elas aplicam o sermão à nação, mas ele refere-se ao indivíduo; (2) elas o aplicam aos não-salvos, no entanto ele é dirigido aos crentes; (3) elas o transformam em uma lei cristã a ser obedecida, e, na verdade, ele des­creve como é a vida cristã quando o Espírito Santo opera em nossa vida (Rm 8:1-4).

D. Ele serve para nós hoje?
Uma vez que Mateus é o “evange­lho do reino” e que, nessa época, o Rei ainda não fora rejeitado, al­guns estudiosos consideram que o Sermão do Monte aplica-se apenas ao povo de Deus durante a era do reino. Se Israel tivesse recebido a Cristo, então essas leis seriam pos­tas em prática; porém, uma vez que Israel o recusou, Mateus 5—7 deve ser cumprido no milênio. Podemos nos ater ao caráter dispensacional do relato de Mateus sem perder a li­ção do Sermão do Monte para hoje. Na verdade, se o Sermão do Monte aplica-se apenas à era do reino, en­tão haverá ladrões no milênio (6:19)? Haverá fariseus (5:17-20)? Haverá falsos profetas (7:15)? Se Satanás fi­car preso durante o milênio, por que a oração: “Livra-nos do mal” (6:13)? Haverá jejum no milênio (6:16-1 8)? E por que orar: “Venha o teu reino” (6:10), se já estamos no reino?

Os judeus (induzidos pelos es­cribas e fariseus) esperavam um rei­no político, pois haviam se esqueci­do do elemento espiritual. Nesse ser­mão, Jesus desnorteou o pensamento deles ao anunciar o fundamento es­piritual do seu reino. Esses princípios aplicam-se a todas as eras. Na verda­de, as epístolas do Novo Testamento para a igreja repetem, de uma forma ou de outra, a maior parte do material do Sermão do Monte. Assim, embo­ra Mateus 5—7 possa ter um caráter de dispensação, não ousemos dizer que esses capítulos não se aplicam à igreja de hoje.

O quadro a seguir mostra o contraste entre a justiça que Jesus ensina e a dos escribas e fariseus.
Sermão do Monte

1. Primeiro a justiça é interior, de­pois exterior (5:1-16)
2. O pecado é uma questão de coração, não apenas de atos (5:17-48)
3. A justiça é para Deus ver, não para os homens louvarem (6:1-18)
4. Deus está em primeiro lugar; o dinheiro, em segundo (6:19-31)
5. Não se deve julgar (7:1 -12)

Fariseus
1. A justiça refere-se aos atos exte­riores (Mt 23:23-28; Lc 11:37-41)
2. O pecado refere-se princi­palmente a atos exteriores apenas (Lc 18:9-14; Mc 2:13-28)
3. A justiça é para ser vista pe­los homens (Mt 23:2-12)
4. Avareza (Lc 16:14ss)
5. Cruéis no julgamento (Lc 8:9ss; Mt 12:22ss)

I. O sermão e a salvação
Milhões de pessoas pensam que po­dem ser salvar se obedecerem ao Sermão do Monte. Elas acham que é mais fácil obedecer a ele que aos dez mandamentos. Que insensatez! Ninguém jamais foi salvo por obe­decer a qualquer lei (Gl 2:1 6; 3:10- 11), e o Sermão do Monte é muito mais severo que a Lei de Moisés! De acordo com a Lei mosaica, se um homem matasse outro, era culpado; todavia, Jesus diz que o ódio no co­ração equivale, sob o aspecto mo­ral, ao homicídio! A luxúria é adul­tério no coração. Por favor, tenha em mente que as bem-aventuranças vêm antes. Elas descrevem o tipo de pessoa que, sob o poder do Espírito, vivem da forma que Mateus 5—7 descreve. Observe a progressão nas bem-aventuranças:

• Elumildade de espírito — isso significa ser humilde diante de Deus.
• Choro — refere-se a la­mentar o pecado, arre­pender-se.
• Mansidão — espera dian­te do Senhor por sua mi­sericórdia.
• Fome e sede — pede a justiça de Deus.
• Misericórdia — condena a si mesmo, não aos ou­tros.
• Limpeza de coração — esse é o resultado!
• Pacificador — tentar ga­nhar outros para Cristo.
• Perseguição — isso acon­tece com todos os que le­vam uma vida devota.

O Sermão do Monte não men­ciona o Espírito Santo ou o san­gue de Cristo. No entanto, o fun­damento dele é o Calvário, e é o Espírito Santo quem nos dá poder para vivê-lo. Mais uma vez, lem­bre-se que não há mandamentos a obedecer — há uma lei cristã. O Sermão do Monte descreve o ca­ráter da pessoa verdadeiramente justa, caráter esse que se adquire no caminhar com o Senhor. O im­portante é o espírito desse sermão. Guardá-lo literalmente é o mesmo que voltar à justiça dos fariseus que Jesus condena!

Os primeiros 16 versículos de Ma­teus 5 descrevem o cristão verda­deiro e tratam do caráter. O resto do Sermão do Monte fala da conduta que brota do caráter. O caráter sem­pre antecede a conduta, porque o que somos determina como agimos. Em Mateus 5:1 -16, Jesus mostra que a justiça verdadeira é interior e, em 5:17-48, menciona que o pecado também é interior. Por isso, ele ex­põe a falsa justiça dos fariseus que ensina que a santidade consiste em atos de devoção, e que o pecado é o ato exterior. Muitas pessoas co­metem esse erro hoje! Para decidir o destino da vida, Deus considera o coração dos homens.

I. As beatitudes em conjunto (5:1-12)
Não consta da Bíblia a palavra beatitude. Ela significa apenas “bênção” e vem da palavra latina usada para bênção.

Há uma progressão definida nes­ses versículos. Eles mostram como a pessoa inicia seu caminhar com o sentido de pecado para, por fim, tornar-se filha de Deus, e o resultado que vem disso. Note que esses ver­sículos tratam de atitudes — o que pensamos em nosso coração, nossa perspectiva de vida. “Bem-aventu- ranças” — as atitudes que devemos ter em nossa vida se formos cristãos verdadeiros.

A. “Os humildes de espírito” (v. 3)
Nossa atitude em relação a nós mes­mos quando sentimos nossa carên­cia e a admitimos.

B. “Os que choram” (v. 4)
Nossa atitude em relação ao pe­cado, o sofrimento verdadeiro por causa do pecado.

C. “Os mansos” (v. 5)
Nossa atitude para com os outros; somos flexíveis e receptivos; não nos defendemos quando estamos errados.

D. “Os que têm fome e sede” (v. 6)
Isso se refere a nossa atitude em relação a Deus; nós recebemos sua justiça pela fé, porque pedi­mos por ela. O resta das bem-aventuranças mostra o resultado da nova vida no crente:

E. “Os misericordiosos” (v. 7)
Temos um espírito perdoador e ama­mos os outros.

F. “Os limpos de coração” (v. 8)
Mantemos nossa vida limpa. A san­tidade é felicidade para nós, e não queremos substitutos para ela.

G. “Os pacificadores” (v. 9)
Os cristãos devem promover a paz entre as pessoas e Deus, e entre os que estão em desacordo uns com os outros. Compartilhamos o evange­lho da paz.

H. “Os perseguidos” (v. 10)
Todos os que levam uma vida pie­dosa serão perseguidos.

II. As bem-aventuranças individuais (5:1-12)

A. “Humildes de espírito” (v. 3)

Devemos ser esvaziados antes de ser enchidos. O oposto disso é a auto-suficiência. Nossa suficiên­cia não vem de nós mesmos (2 Co 3:5). O mundo promove a auto- suficiência, contudo Deus habita naquele que tem o coração con­trito (Is 57:15). Isso não significa falsa humildade ou covardia; mas sim uma atitude apropriada em re­lação ao “eu” e perceber quanto somos fracos e pecadores quan­do estamos separados de Cristo. Compare os dois homens de Lu­cas 1 8:9-14.

B. “Choram” (v. 4)
Essa é a dor sincera pelo pecado, o nosso e os dos outros. Como somos descuidados em relação ao peca­do! Nós o desculpamos, contudo Deus o odeia, e o pecado parte o coração do Senhor. Devemos tomar cuidado com a tristeza deste mundo (2 Co 7:8-10). Pedro, em contrição piedosa, chorou e foi perdoado; Ju­das teve remorso — a tristeza deste mundo — e tirou a própria vida.

C. “Mansos” (v. 5)
Mansidão não é fraqueza! Jesus era manso (Mt 11:29), todavia ele expulsou os cambistas do templo. Moisés era manso (Nm 12:3), no entanto ele julgou os pecadores e até confrontou Arão por causa do pecado deste. Mansidão significa não defender meus próprios interes­ses, mas viver para a glória de Deus. Os cristãos devem ter mansidão (Ef 4:1-2; Tt 3:2). Temos a propensão à autodeterminação.

D. “Fome e sede” (v. 6)
O verdadeiro cristão tem apetite por coisas espirituais. Pergunte às pes­soas o que desejam e saberá quem elas são.

E. “Misericordiosos” (v. 7)
Isso não é legal ismo, apenas o tra­balho do princípio bíblico de seme­ar e de colher. Se demonstrarmos misericórdia porque Jesus foi mise­ricordioso conosco, então recebere­mos misericórdia (veja Lc 16:1-13; Tg 2:13; Pv 11:1 7). Não merecemos misericórdia, mas temos de estar preparados para recebê-la.

F. “Limpos de coração” (v. 8)
Isso não significa alguém sem pe­cados (1 Jo 1:8), mas alguém que se alegra na verdade no íntimo (SI 51:6). Significa um coração inteiro, não di­vidido entre Deus e o mundo.

G. “Pacificadores” (v. 9)
Tito 3:3 descreve este mundo como se fosse uma guerra. Os cristãos têm o evangelho da paz a seus pés (Ef 6:15); por isso, onde quer que vão trazem a paz. Essa não é a “paz a qualquer preço”, pois a santidade é mais importante que a paz funda­mentada no pecado (veja Tg 3:17; Hb 12:14). Concessão não é paz, mas os cristãos não devem ser con­tenciosos quando lutam pela fé.

H. “Os perseguidos” (v. 10)
Veja 2 Timóteo 3:12 e 1 Pedro 4:15. Observe que devemos ser “falsamen­te” acusados. Não devemos nunca ser culpados de deliberadamente in­centivar a perseguição. Se levarmos uma vida devota, o sofrimento virá! Observe as recompensas: na perse­guição, temos a companhia de Cristo e dos profetas e seremos recompen­sados no céu.

III. Sal e luz (5:13-16)
Há duas imagens do cristão em vis­ta: o sal e a luz. O sal fala do caráter interior que influencia o mundo de­cadente, e a luz refere-se ao teste­munho interior das boas obras que apontam para Deus. Nossa tarefa é manter nossa vida pura a fim de sermos o “sal” desta terra e, assim, deter a corrupção para que o evan­gelho possa se propagar. Quando deixamos nossa luz brilhar, nossas boas obras devem acompanhar nos­sa vida dedicada.

IV. O Antigo e o Novo Testamento (5:17-48)
Após declarar o verdadeiro signifi­cado de justiça, o Senhor explicou o pecado. Ele citou que não veio para ignorar nem para anular a lei, mas para cumpri-la. A lei do Anti­go Testamento lidava apenas com as ações exteriores; no reino, po­rém, devemos ter cuidado com as atitudes pecaminosas interiores. Je­sus cumpriu a lei em sua vida, pois ninguém pode acusá-lo de peca­do, e ele cumpriu-a em sua morte e ressurreição. O povo do Senhor não lhe obedeceu por causa das limitações exteriores, mas graças à vida interior, resultante do poder do Espírito de Deus. Embora o Espírito Santo não seja mencionado no Ser­mão do Monte, fica claro que não conseguimos praticar o que Jesus ensina aqui sem a ajuda do Espíri­to (Rm 8:1-13). Jesus fala de vários pecados e explica como devemos superá-los.

A. Ira (vv. 21-26)
A lei diz: “Não matarás [homicí­dio]” (Êx 20:13), mas Jesus declarou: “Todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento”. A ira é como matar no coração e pode levar às palavras maldosas e ao homicídio real. O “julgamento” refere-se à corte local e ao conselho do Sinédrio judaico, a mais alta corte da terra. Não espe­re até que seu irmão, ou sua irmã, contaminado pela ira dê o primeiro passo; dê você mesmo o primeiro passo, e faça isso logo, antes que as coisas piorem.

B. Desejo impuro (vv. 27-32)
Embora o adultério real seja mui­to pior que as fantasias sensuais, o desejo interior leva rapidamente ao pecado proibido (Êx 20:14). Temos de ser implacáveis com nós mesmos e não encorajar nossa imaginação a se “alimentar” com esses pecados. Os olhos e as mãos (visão e tato) têm de estar sob controle. Para co­nhecer os ensinamentos de Cristo sobre casamento e divórcio, leia Mateus 19:1-11.

C. Falso testemunho (vv. 33-37)
Para a Lei de Moisés, veja Levítico 19:12 e Deuteronômio 23:23. Os especialistas judeus em leis ti­nham muitas formas de fraudá-la, bem como de quebrar juramentos, de forma que as promessas das pes­soas nada significavam. Jesus não nos proíbe de fazer um juramento legal, mas adverte-nos de falar a verdade e não enfeitar nossa con­versa com juramentos que, supos­tamente, dão mais valor a nossas palavras. Se você tiver essa inte­gridade, as pessoas acreditarão no que diz.

D. Vingança (vv. 38-48)
A Lei de Moisés (Lv 24:19-24) proi­bia que as pessoas ofendidas assu­missem a lei e buscassem vingança pessoal contra o inimigo. Ela tam­bém evitava que os magistrados de­terminassem sentenças excessivas, em desacordo com o ato cometi­do. No entanto, Jesus pede ao seu povo que sofra, em vez de causar sofrimento aos outros (1 Co 6:1-8). Lembre-se, isso se refere a ofensas pessoais; as cortes ainda devem li­dar com as pessoas que infringem a lei e devem ser punidas de acor­do com o que fizeram. Os cristãos podem se sacrificar e sofrer coma o Senhor os ensina a fazer, mas não têm o direito de pedir que outros se juntem a eles nisso. O versículo 42 não nos ordena a dar a qualquer pessoa aquilo que ela deseja, pois, dessa forma, poderíamos prejudicá-la. Devemos dar a ela o que mais precisa, não o que mais deseja.

Levítico 19:17-18 lida com o tratamento aos inimigos; veja Êxo­do 23:4-5. Em momento algum, a lei ordena que a pessoa odeie seu inimigo. Jesus aconselha-nos a orar por eles e a fazer o bem a eles, da mesma forma que o Pai faz em rela­ção a nós. Se tratarmos nosso inimi­go da mesma forma como ele nos trata, rebaixamo-nos ao patamar dele. Nem devemos nos satisfazer em fazer o que muitos cristãos fa­zem. “Por que fazer mais que os ou­tros?” Devemos ir mais alto e imitar o Pai celestial. No versículo 48, a palavra “perfeitos” indica o cami­nho para a maturidade de caráter, o tipo de qualidade descrita em 2 Pe­dro 1 e Gálatas 5:22-23. Todavia, não recebem a recompen­sa do Pai.