Interpretação de 1 Coríntios 6
1 Coríntios 6
Em 1 Coríntios 6, o apóstolo Paulo aborda disputas e ações judiciais entre os crentes da igreja de Corinto. Ele os admoesta por levarem seus conflitos aos tribunais seculares, em vez de resolverem os assuntos dentro da igreja. Paulo afirma que os cristãos deveriam ser capazes de julgar e resolver suas disputas entre si, até mesmo nomeando membros sábios como árbitros, se necessário.
Paulo também discute a questão da imoralidade sexual, enfatizando que os crentes devem fugir do pecado sexual e ver os seus corpos como templos do Espírito Santo. Ele lembra-lhes que a imoralidade sexual é incompatível com a sua identidade como membros do corpo de Cristo.
O capítulo destaca a importância de resolver conflitos internamente e manter a pureza moral dentro da comunidade cristã. Paulo sublinha que os crentes são chamados a viver em justiça e honra, reconhecendo o significado dos seus corpos como morada do Espírito de Deus.
Interpretação
6:1-11 A discussão das desordens continua. Embora não haja partícula conectiva em 6:1, a ideia do juízo liga claramente os dois capítulos. A competência judicial da igreja para resolver casos entre os seus membros está visível em ambos. Godet o expôs muito bem: “Além de vocês não julgarem aqueles que vocês tem obrigação de julgar,(os que estão dentro); mas, pior ainda, vocês procuram ser julgados por aqueles que estão em situação inferior (os que estão de fora)!” (op. cit., 1, 284). A questão dos processos foi introduzida (v. 1) e então solucionada (vs. 2-11). A solução apresenta a tripla ocorrência do não sabeis? (Gr., ouk oidate, vs. 2, 3, 9).6:1. Aventura-se algum de vós (muito enfático no texto grego). Que audácia dos santos (justificados; embora os gregos fossem dados aos litígios) comparecerem diante dos injustos para buscar justiça! (cons. v. 11).
6:2 O primeiro ponto da refutação é o fato conhecido que os santos hão de julgar o mundo, por causa de sua união com o Messias, a quem todo o julgamento está entregue (cons. Jo. 5:22; Mt. 19:28).
6:3 O segundo ponto é o fato conhecido que havemos de julgar os próprios anjos. Quanto mais as coisas desta vida. (cons. Jo. 5:22; Judas 6; lI Pe. 2:4, 9).
6:4 Entretanto introduz uma inferência, um tanto anuviada por um problema de tradução. Constituís um tribunal (estabelecer por juiz) pode ser entendido como imperativo ou como indicativo. Se for indicativo, também pode ser declarativo ou interrogativo. Provavelmente o indicativo, com força interrogativa, deve ser o preferido, ficando o sentido assim, constituís um tribunal (estabeleceis por juízes) daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja! Uma sugestão muito irônica de que não havia nenhum homem sábio entre os “sábios” coríntios!
6:7, 8 Sugere-se uma atitude melhor. Derrota, indica que recorrer à lei contra um irmão, já constitui uma perda da causa em si mesmo.
6:9 O terceiro ponto defendido por Paulo é um apelo aos “princípios mais amplos” (ICC, pág. 117). Os não justificados, ou injustos, não estão qualificados para julgar; só os crentes, os justos, podem julgar. A negativa foi apresentada primeiro (vs. 9, 10), seguida pela afirmação positiva (v. 11). A ênfase colocada sobre reino de Deus repousa sobre a palavra Deus; os injustos não têm lugar no seu reino. A lista de pecados que se segue prova que Paulo e Tiago concordam basicamente. Ambos afirmam que a fé genuína produz boas obras (cons. Ef. 2:8-10), e que a ausência das boas obras indica falta de fé (cons. Tg. 2:14-26). A prevalecente frouxidão moral dos gregos e romanos pode ter incentivado o apóstolo a enfatizar aqui o vício contra a natureza. Por exemplo, Sócrates, além de quatorze dos quinze primeiros imperadores romanos, era homossexual (cons. Barclay, op. cit., pág. 60).
6:11 O apelo positivo está aqui. Tais fostes alguns de vós aponta para as profundezas das quais a graça de Deus em Cristo os resgatou. Mas vós vos lavastes. Literalmente, vocês se deixaram lavar (uma voz média permissiva), ou vocês se lavaram (voz média direta, acentuando o lado ativo da fé; cons. Atos 22:16; Gl. 5:24). Os termos lavastes, santificados e justificados refletem a nova posição dos coríntios. A menção da santificação antes da justificação não constitui problema, uma vez que Paulo tem em mente a verdade posicional (veja I Co. 1:2, 30). Os verbos referem-se à mesma coisa com ênfases diferentes, uma destacando a purificação do crente; a outra, a nova vocação; e a terceira a nova posição do crente. Justificados vem em último lugar, como o devido clímax para a argumentação sobre a busca da justiça diante dos injustos (vs. 1-8).
6:12-20 Paulo volta sua atenção para a frouxidão moral que poluía a igreja, ao que parece causada pela aplicação da verdade da liberdade cristã ao reino sexual. A pergunta é: Se não há restrições quanto à alimentação, um dos apetites do corpo, por que deveria haver nas questões sexuais, outro desejo físico? A resposta de Paulo, a qual ele começa com o princípio da liberdade e o aplica especialmente à fornicação, novamente apresenta a tripla ocorrência do não sabeis quê? (vs. 15, 16, 19).
6:12 O princípio da liberdade está declarado, com duas limitações: 1) prudência (cons. 10:23); 2) autocontrole. Lícitas e dominar que têm a mesma raiz, formam um jogo proposital de palavras: “Todas as coisas estão em meu poder, mas eu não serei colocado sob o poder de nenhuma delas”. A indulgência em um hábito que se apossa de alguém, não é liberdade, mas escravidão.
6:13 Enquanto os alimentos são para o estômago, e o estômago para os alimentos (um necessário ao outro), este relacionamento não é verdadeiro quanto ao corpo e a fornicação. O corpo foi criado com a intenção de glorificar o Senhor, e o Senhor é necessário ao corpo para que isto aconteça. Paulo usa a palavra corpo aqui num sentido mais amplo do que simplesmente o tabernáculo físico. É quase equivalente à personalidade do homem, quase como a expressão, alguém, ou todos (cons. MNT, pág. 68, 69, 71-73; Morris, op. cit., pág. 100; Moule, op. cit., pág. 196,197). No versículo 19 parece que ele iguala corpo com vós. Isto, é claro, não é costume de Paulo (lI Co. 12:3).
6:14 Mais outra diferença entre o corpo e o ventre, e o corpo e a fornicação, está no fato de que o corpo se destina à ressurreição, enquanto o ventre para ser reduzido a nada (v. 13). A permanência do corpo tem mais do que significado teórico. Por exemplo, o que dizer da prática da cremação?
6:15 Por causa da união do crente com Cristo (cons, 12:12.27), a fornicação rouba do Senhor aquilo que é dEle. Tomaria. Seria melhor, levaria.
6:16 A segunda razão está expressa aqui. Ou não sabeis é a melhor tradução. Além do Senhor ser roubado, uma nova união se faz (cons. v. 15; Gn. 2:24). A prova prática disso é que uma nova personalidade pode resultar da união.
6:17 Um espírito com ele. Uma das expressões mais fortes sobre a união e segurança da Palavra de Deus. Como um autor já o expôs, “As ovelhas podem se afastar do pastor, o ramo pode ser cortado da videira; o membro pode ser separado do corpo..., mas quando dois espíritos se unem em um só, quem os separará?” (Arthur T. Pierson, Knowing the Scriptures, pág, 146).
6:18. Fugi (tempo presente para ação habitual). Ordem positiva. Moras sugere: “Habitue-se a fugir” (op. cit., pág. 102). Alguém já disse: “Ainda que muitas vezes se declare que a segurança está em Números, às vezes há mais segurança no Êxodo!” A experiência de José é um exemplo (cons. Gn. 39:1-12). As frases finais, fora do corpo e contra o próprio corpo, são difíceis de serem interpretadas. Talvez o significado seja que os outros pecados, tais como o vício de beber, têm seus efeitos sobre o corpo, mas a fornicação é um pecado que se realiza dentro do corpo e envolve uma monstruosa negação da união com Cristo através da união com uma prostituta.
6:19 A razão final está no fato de que o corpo é o santuário do Espírito Santo. Vosso corpo. Uma expressão “distributiva”, isto é, o corpo de cada um de vocês (com. Charles J. Ellicott, Paul's First Epistle to the Corinthians, pág. 107). O corpo do crente, individualmente, é o templo do Espírito (cons. 3:16). Que coisa incongruente é ouvir os crentes orarem, pela vinda do Espírito!
6:20 Porque introduz a razão pela qual os crentes não pertencem a si mesmos. O Espírito ocupa aquilo que Deus obteve através da compra. Demonstra-se o direito de posse, comprando-se e ocupando-se. Deus fez as duas coisas; por isso os cristãos já não são de si mesmos, mas pertencem a Deus (cons. Jo. 13:1). Comprados (tempo aoristo) refere-se ao Gólgota, onde o preço foi pago. A figura representa a sagrada manumissão, pela qual um escravo, pagando o preço de sua liberdade no tesouro do templo, passava a ser considerado, daquele momento em diante, como escravo do deus e não mais escravo de seu senhor terreno. Glorificai a Deus, a conclusão lógica, é tanto negativa quanto positiva.
Negativamente, um crente deveria eliminar as coisas que corrompem, tais como a fornicação e positivamente ele deveria exibir Aquele que veio habitar nele. O preço terrível do sangue sem preço (cons. I Pe. 1:18, 19) exigia nada menos do que isso. E no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (E.R.C.) tem pouco apoio documentário.
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