Eclesiastes — Introdução e Esboço
Eclesiastes — Introdução e Esboço
Introdução
A. Nome
No versículo inicial de
Eclesiastes, o autor se identifica como “pregador” (qoheleth). A palavra
vem de uma raiz que significa “reunir”, e, assim, provavelmente indica alguém
que reúne uma assembléia para ouvi-lo falar, portanto, um orador ou pregador. A
Septuaginta usou o termo grego Ecclesiastes, que as traduções em inglês
e português transpuseram como o nome do
livro. O termo designa “um membro da eeclesia, a assembléia dos cidadãos
na Grécia”. Já no início da era cristã, ecclesia era o termo usado para
se referir à Igreja.
B. Autoria
Quem era Qoheleth? A
linguagem de 1.1 e a descrição do capítulo 2
parecem indicar o rei Salomão. A autoria salomônica foi aceita tanto pela
tradição judaica como pela tradição cristã até épocas relativamente recentes.
Martinho Lutero parece ter sido o primeiro a negar isso, e provavelmente a
maioria dos estudiosos da Bíblia concordaria com ele. Purkiser escreveu:
No primeiro versículo, o livro
é atribuído ao “filho de Davi, rei em Jerusalém” [...] Entretanto, em 1.12 diz:
“Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém”. Claramente, nunca houve
época alguma na vida de Salomão em que ele pudesse se referir ao seu reino no
pretérito. Em 2.4-11 também são descritos os feitos do reinado de Salomão como
algo que já era passado no tempo em que foi escrito.
Novamente, em 1.16 o autor diz:
“e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim, em Jerusalém”. O
mesmo pensamento se repete em 2.7. No caso de Salomão, apenas Davi precedeu
Salomão como rei em Jerusalém. Mais uma vez devemos lembrar que os judeus
usavam o termo “filho” para qualquer descendente; assim, Jesus também é
descrito como o “filho de Davi”.'
Entre os estudiosos mais recentes e conservadores,
Young escreve: “O autor do livro foi alguém que viveu no período pós-exílico e
colocou suas palavras na boca de Salomão, assim empregando um artifício
literário para transmitir sua mensagem”? Hendry considera a autoria
não-salomônica uma questão tão fechada que ele não a discute em sua
introdução.' Aqueles que rejeitam a Salomão como o autor normalmente datam o
livro entre 400 e 200 a.C., alguns ainda mais tarde.
O argumento aparentemente mais forte contra a autoria
salomônica é a presença de palavras aramaicas no texto que não parecem ter sido
usadas no tempo de Salomão. Archer, entretanto, argumenta contra a validade
dessa evidência, declarando que “o livro de Eclesiastes não se encaixa em
nenhum período na história da língua hebraica [...] não existe no momento
nenhum fundamento concreto para datar esse livro com base em aspectos
lingüísticos (embora não seja mais estranho ao hebraico do século X do que é
para o hebraico do século V ou do século II).” Se Salomão não é o autor, precisamos no mínimo dizer
que muito do livro reflete sua vida e suas experiências.
C. INTERPRETAÇÃO
Como devemos interpretar a mensagem deste livro? O
leitor logo fica impressionado por pontos de vista evidentemente
contraditórios. Uma teoria persistente defende que o livro é um diálogo com
perspectivas contraditórias apresentadas por personagens diferentes. Se este
ponto de vista for aceito, a expressão freqüentemente repetida “vaidade de
vaidades” seria o veredicto do autor num panorama que se restringe apenas ao
mundo presente. Outra abordagem favorita tem sido associar a perspectiva
consistentemente pessimista ao autor inicial e explicar pontos de vista
contraditórios como inserções de autores posteriores que tentaram corrigir
afirmações exageradas com o propósito de tornar o livro mais coerente com os
ensinamentos religiosos em vigor na época.
O livro de fato apresenta oscilações entre confiança
e pessimismo. Mas elas não precisam nos instigar a abandonar a convicção na
unidade e integridade de Eclesiastes. Tais oscilações não seriam uma
conseqüência natural da luta entre a fé, por um lado, e os interesses pelos
assuntos mundanos, por outro, tanto no coração do próprio Salomão como na vida
centrada na terra que o livro retrata? Barton escreve: “Quando um homem
contemporâneo percebe quantos conceitos diferentes e estados de humor ele pode
ter, descobre menos autores em um livro como Qoheleth”.5
Se este livro representa a luta de uma alma com
dúvidas sombrias, também revela o comportamento de um homem que notou o lado
positivo das coisas. Apesar de sua atitude pessimista, a vida é tão preciosa
quanto um “copo de ouro” (12.6), e a resposta final ao sentido da vida é: “Teme
a Deus e guarda os seus mandamentos” (12.13).
D. ORGANIZAÇÃO
Eclesiastes não é um livro racional ou organizado de
maneira lógica. É como um diário no qual um homem registrou suas impressões de
tempos em tempos. Muitas vezes ele prefere expressar sentimentos do momento e
reações emocionais a apresentar uma filosofia equilibrada sobre a vida.
Geralmente o estado de espírito é de ceticismo, mas ainda assim Peterson
escreve: “Teria sido uma desgraça e uma grande pena se um livro que foi escrito
para ser a Bíblia de todos os homens não se referisse ou deixasse de lidar com
o espírito de ceticismo que é comum a todos os homens”.
A estrutura do livro faz dele um livro tão difícil de
esboçar que muitos comentaristas nem tentam identificar um padrão lógico. No
esboço aqui apresentado, o autor foi influenciado por Archer mais
do que por qualquer outro autor. Às vezes o leitor cuidadoso irá perceber que
um destaque aponta para um pensamento significativo daquela seção mais do que
para um resumo de tudo que está ali.
Embora ocasionalmente os parágrafos estejam
relacionados apenas vagamente entre si, todos eles estão relacionados ao tema
do livro — talvez isso só seja verdade porque esse tema é tão amplo quanto a
própria vida!
Esboço
I.
A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA, 1.1-2.26
A. Introdução, 1.1-11
B. A Futilidade das Experiências Humanas, 1.12-2.26
II.
APRENDENDO A LIDAR COM A VIDA, 3.1-5.20
A. Poema de um Mundo Bem Ordenado, 3.1-8
B. Frustração e Fé, 3.9-15
C. O Problema do Mal Moral, 3.16-22
D. As Desilusões da Vida, 4.1-16
E.
Adorando a
Deus da Maneira Correta, 5.1-7
F.
Ajustando
Problemas Financeiros, 5.8-20
III.
NÃO HÁ SATISFAÇÃO EM BENS TERRENOS, 6.1-8.17
A. Frustrações da Riqueza e da Família, 6.1-12
B. Sabedoria Prática em um Mundo Pecaminoso, 7.1-29
C. Aprendendo a Lidar com um Mundo Imperfeito, 8.1-17
IV.
As INJUSTIÇAS DA VIDA NAS MÃOS DE DEUS, 9.1-10.20
A. Pensamentos a Respeito da Morte, 9.1-18
B. Sabedoria e Tolice, 10.1-20
V.
COMO MELHOR INVESTIR NA VIDA, 11.1-8
A. Seja Generoso, 11.1-3
B. Seja Diligente no Trabalho, 11.4-6
C. Seja Alegre, 11.7-8
VI.
VENDO A VIDA POR COMPLETO, 11.9-12.14
A. A Vida Terrena em Perspectiva, 11.9-12.8
B. A Vida à Luz da Eternidade, 12.9-14