Comentário Bíblico Online: Atos 1:3

Mostrou-se também vivo – (Gr.: parestēsen heauton zōnta). "Ele estava vivo" (GNB cf. NTLH) Aos seus discípulos (Lc. 24:36-43; Jo. 20:19-25), A segunda vez se registra a bem conhecida passagem de Tomé. (Jo. 20:26-29), no mar de Tiberíades (Jo. 21:1-23), no monte da Galileia (Mt. 28:16-20; 1Co. 15:6), Aos discípulos em Jerusalém e no Monte das oliveiras (Lc. 24:44-53; At. 1:1-11). Lucas usa este verbo “mostrar-se” (Gr.: paristēmi) 13 vezes em Atos e tanto transitiva ou intrasitivamente. É traduzida em muitas versões da Bíblia como “apresentar”, “fornecer”, “prover”, “ajudar”, “ordenar”, “mandar”. Os primeiros discípulos, incluindo Paulo, nunca duvidaram da ressurreição de Cristo, visto que estavam pessoalmente convictos do que eles haviam visto seu Senhor ressuscitado. Á princípio alguns duvidaram como Tomé. (Lc. 24:41; Jo. 20:24.; Mt. 28:17). Depois de terem esta demonstração da ressurreição de Cristo, Pedro podia falar de si mesmo e dos outros discípulos como "testemunhas" de um fato que ocorrera. (At. 3:15).

Por meio de muitas provas positivas – (Gr.: en pollois tekmēriois). Lit.: "em muitas provas". A palavra grega pollois significa algo que é "frequentemente repetido." (Henry George Liddell, Robert Scott, An Intermediate Greek-English Lexicon) Tekmērion aparece apenas aqui nas Escrituras Gregas, embora seja uma palavra bem comum em outros escritos seculares feitos no grego antigo, como no caso de Koiné [28928]š (papiro, etc.). O Verbo tekmairō, "provar por sinais seguros", vem de tekmar, "um sinal". Na tradução da Vulgata Latina, de Jerônimo, usa-se a lavra "argumentum" que significa "Os meios pelos quais uma afirmação ou suposição pode ser tornada clara, provada; um argumento, evidência, prova. Algo abalizado em fatos", "sinal pelo qual algo é feito manifesto". (Charlton T. Lewis, Charles Short, A Latin Dictionary) Lucas não hesitou de usar a palavra aqui definida por "provas" para a evidencia da ressurreição de Cristo Jesus, depois de sua pesquisa cuidadosa como parte de um historiador científico.

Outras traduções vertem da seguinte maneira este trecho das Escrituras:

(ALT) “por meio de muitas provas convincentes”. (ASV) “por meio de muitas provas”. (BBE) “ele deu sinais claros e certos” (CEV) “ele provou de muitas maneiras”. (GNB) “provou além de dúvidas”. (ISV) “por meio de provas convincentes” (LITV) “por meio de provas infalíveis”. (MKJV) “por meio de muitos sinais”. (PJFA) “com muitas provas infalíveis”. (The J.B. Rotherham Emphasized Bible) “por meio de muitas mostras seguras”. (RYG) “em muitas provas seguras”. (NIRV) “por meio de [uma serie de] muitas demonstrações convincentes [evidencias inquestionáveis e provas infalíveis]” (AMP)

No evangelho de Lucas capítulo 1:1-4, nós podemos perceber claramente que Lucas não era uma pessoa que 'punha sua fé em cada palavra, mas sim como alguém argucioso que considerava seus passos' (Prov. 14:15) Neste relato de Lucas, nós observamos que antes dele começar o relato das coisas que Cristo fez e ensinou, ele pesquisou seriamente o assunto para não passar adiante alguma coisa que não fosse verídica. Expressões tais como: “uma declaração dos fatos”, “plena crédito", “testemunhas oculares”, "pesquisado todas as coisas com exatidão" e "certeza", nos mostra a confiança que podemos ter nestes relatos, bem mais ainda por sabermos que é uma escritura inspirada por Deus. (1 Timóteo 3:16) Assim também, no seu relato a Teófilo, Lucas mostra com toda convicção o Cristo ressuscitado como sendo fato, visto que o próprio Cristo deu "muitas provas" de que ele estava vivo e ativo na obra que passara aos cuidados dos seus discípulos. Essa evidencia que Lucas fala tão vigorosamente por usar uma palavra grega tão forte que acentua a certeza do fato então em consideração, consiste no ato do Cristo ressuscitado comer com seus discípulos, conversar com eles, se reunir com eles, realizar obras poderosas João 21:6-7. A evidencia é infalível:

(1) Porque fora algo que nem eles esperavam. Eles manifestaram descrença de que Ele se levantaria de novo (Jo. 20:25; Lc. 24:19-24) Então, não era uma ilusão resultante de uma expectativa prévia de um discípulo fanático de vê-lo. Quando os seus discípulos viram Cristo, eles não estavam em expectativa e em muitas ocasiões ele apareceu de forma inesperada, o que explica o fato de algumas vezes eles não reconhecerem de primeira não quem era a pessoa que estava na sua frente.

(2) Era impossível que eles pudessem ser enganados em relação a alguém com quem eles tinham tanta familiaridade por mais de três anos. Ninguém em pleno uso das suas faculdades mentais poderia acreditar que falou, tocou, comeu com um amigo íntimo a menos que este tivesse sido real.

(3) Havia muitos dos discípulos dele que evitaria assim a possibilidade de decepção. Embora alguns possam dizer que era um impostor, isso não poderia ser o caso aqui em consideração, visto que nenhum impostor poderia enganar tantas pessoas assim de uma só vez, e ao mesmo tempo por uma duração de 40 dias, levando em consideração não só o tempo em si, mas também que o Jesus a quem eles conheciam de perto falava de um modo diferente de qualquer outro homem (João 7:46) Nós vimos que uma das provas convincentes que Jesus deu de que estava vivo foi também as coisas sobre as quais deu instrução, visto ser uma continuação do que ele tinha dito antes de ser executado por seus inimigos.

(4) Ele ficou com eles tempo suficiente para dar evidencia de que era ele mesmo. Se eles tivessem visto uma só vez, poderia se dizer que eles se enganaram, mas o que podemos constatar nos Escritos evangelísticos é que foram inúmeras vezes que ele aparecera aos seus discípulos e ainda durante uma duração de mais de um mês.

(5) Ele apareceu a eles assim como ele era enquanto vivia como ser humano na terra, como amigo, companheiro, benfeitor; comeu com eles, operou obras poderosas diante deles, se empenhou na mesma obra que o Pai, ensinou as mesmas coisas a respeito do Reino de Deus, renovou o espírito deles e deu a mesma ordem para que pregassem de maneira mais ampla as boas novas a cerca do Reino Messiânico. Ele continuou a levar à cabo os mesmos planos e propósitos que tinha antes de ser morto. Tudo isso se deu porque, de fato, era a mesmíssima pessoa. Em todos os casos possíveis e imagináveis era impossível que os discípulos tivessem sido de alguma forma enganados.

Depois de ter sofrido – Cristo mostrou-se vivo diante dos discípulos e apóstolos depois de ter sofrido a morte dolorosa nas mãos dos opositores da verdade divina.

Sendo visto por eles – Significativamente, Jesus nunca apareceu a nenhum dos seus inimigos. "O testemunho daqueles que conheciam melhor Ele [seus discípulos] seria mais forte do que aos meros conhecidos" ou mesmo qualquer dos seus inimigos (R. E. Walker, Studies in Acts, College Press, Reprint Library, n.d. p. 10.) Além do mais, a recusa dos fariseus de acreditar, até mesmo na ressurreição de Lázaro, provou que não teria sido de proveito algum para Cristo aparecer apara aqueles iníquos e hipócritas líderes religiosos. Jesus mesmo disse: “‘Se não escutam Moisés e os Profetas, tampouco serão persuadidos se alguém se levantar dentre os mortos.’” – Lucas 16:31.

Existe nada mesmo do que treze diferentes aparições de Cristo Jesus aos seus discípulos, conforme foram registradas:

A Primeiro, a Maria Madalena, e outra Maria. – Mt. 28:1-9.
A segunda, a dois de seus discípulos que estavam a caminho de Emaús. – Lc. 24:15.
A terceira, a Simão Pedro. -- Lc. 24:34.
A quarta, a dez dos apóstolos, Tomé estando ausente nesta ocasião. Lc. 24:36, e Jo. 20:19. (Todas estas aparições ocorreram no dia da sua ressurreição)
A quinta, aos onze apóstolos, Tomé estando agora entre eles. – Jo. 20:26.
A sexta, a sete dos apóstolos na Galileia, no mar da Tiberíades. -- Jo. 21:4.
A sétima, a Tiago, 1Co. 15:7, mais provavelmente em Jerusalém, e quando Jesus deu ordens para todos os apóstolos se reunirem, como em Atos 1:4.
A oitava, quando eles estavam reunidos, e quando eles foram enviados a Betânia, Lc. 24:50, de onde ele foi levado aos céus. – Jo. 21:14.

Durante quarenta dias – Os quarenta dias da tentação de Jesus precederam seu ministério terrestre (Lc. 4:2), Ele apresentou-se ao seu ministério depois de uma preparação de quarenta dias antes de enviar os discípulos. Yehowah instruiu Moisés no monte Sinais por quarenta dias em preparação para se formar uma nação dedicada exclusivamente a Deus. Agora Jesus instrui os apóstolos por quarenta dias em preparação para a missão da congregação com respeito ao seu ministério de divulgação do Evangelho. O livro de Atos é o único que nos fornece este detalhe importante sobre a duração de tempo entre a ressurreição e a ascensão. A respeito do número quarenta nós observamos que, 40 dias de preparação precederam o início do ministério terrestre de Jesus Cristo. (Lc. 4:2) Yehowah instrui Moisés por 40 dias a fim de prepará-lo para a missão de liderar a nação de Israel, como o povo que manifestaria a Soberania divina na terra. Da mesma forma, Jesus Cristo passou 40 dias ainda na terra, instruindo seus seguidores com respeito a Grande Comissão de pregar as boas novas sobre toda a terra habitada.[1]

Contando – Ele não foi apenas visto por seus discípulos, mas ele continuou a considerar o mesmo assunto tema que ele tratara enquanto estava no seu ministério terrestre, a saber, "as coisas a respeito do Reino de Deus"; mostrando assim, conforme já considerado, que era de fato o mesmo Jesus Cristo que havia morrido, mas que havia sido levantado dentre os mortos. A sua preocupação era ainda a mesma, ou seja, de que se levasse à cabo a obra que o Pai lhe dera para fazer. O Pai lhe dera a obra e ele fez o que nenhum outro humano poderia fazer, mas agora após a sua morte eles tinham que apenas divulgar a mensagem e isso eles poderiam fazer; Cristo poderia assim voltar para junto do Pai e confiar esta obra aos seus discípulos fieis. Ele fez a sua parte enquanto homem na terra e agora ele comissiona seus seguidores dando-lhes instruções quanto as coisas que eles devem dizer e fazer afim de dar avanço a obra de pregação e de se constituir e edificar o Israel de Deus, a congregação de seguidores de Jesus que foram fundada em Pentecostes de 33 EC.

As coisas a respeito do Reino de Deus. – (Gr.: ta peri tēs basileias tou theou) Essa frase aparece cerca de 33 vezes no Evangelho de Lucas, 15 vezes no de Marcos, 4 vezes no de Mateus, que em outros lugares aparece a expressão "reino dos céus", uma vez em João, e seis vezes em Atos. Não há distinção entre o "reino de Deus" e "reino dos céus", uma vez que “céus” significa governo e é também o lugar estabelecido de morada de Yehowah, referindo-se a Ele assim como sendo o Governante absoluto. Os discípulos ainda não tinham uma visão clara da natureza do reino de Deus, conforme veremos mais adiante.



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Notas:

[1] Há nas Escrituras outras menções de 40 dias sobre coisas relacionadas a eventos importantes. Dilúvio foram 40 dias. (Gn. 7:4) Os espias ficaram 40 dias especionando o país. (Nm. 13:25) Por quarenta anos, Jeová teve que suporta aquele povo desobediente. (Nm. 14:34; Sl. 95:10; At. 7:36; At. 13:18) Elias 40 dias numa única nutrição. (1Rs. 19:5-8) Levar os erros de Israel por 40 anos. (Ez. 4:6) 40 dias pra Níneve se arrepender. (Jn. 3:4)