Introdução Bíblica: Livro de Salmos

SALMOS, LIVRO, ESBOÇO, INTRODUÇÃO, ESTUDO, TEOLOGIAEscritor: Davi e outros
Lugar da Escrita: Indeterminado
Escrita Completada: c. 460 AEC

O livro de Salmos é o de número 19 no cânon das Escrituras. O livro de Salmos era o cancioneiro inspirado dos verdadeiros adoradores de Yehowah dos tempos antigos, uma coleção de 150 cânticos sagrados, ou salmos, musicados e arranjados para a adoração pública de Deus no seu templo em Jerusalém. Esses salmos são cânticos de louvor a Yehowah, e, não só isso, contêm também orações de pedido de misericórdia e de ajuda, bem como expressões de fé e confiança. São repletos de agradecimentos, exultações e exclamações de grande, sim, superlativa, alegria. Alguns são recapitulações de fatos históricos, e meditações sobre a benevolência de Deus e suas grandes obras. Contêm numerosas profecias, muitas das quais tiveram notável cumprimento. Encerram muita instrução proveitosa e edificante, escrita em linguagem elevada e figurada, fazendo vibrar o coração do leitor. Os salmos constituem uma suntuosa refeição espiritual, belamente preparada e servida a nós convidativamente.

Qual é o significado do título do livro, e quem escreveu os Salmos? Na Bíblia hebraica, o livro é chamado de Sé·fer Tehil·lím, que significa “Livro de Louvores” ou simplesmente Tehil·lím, isto é, “Louvores”. Trata-se do plural de Tehil·láh, que significa “Louvor” ou “Cântico de Louvor”, encontrado no cabeçalho do Salmo 145. O nome “Louvores” é muito apropriado, visto que o livro contém principalmente louvores a Yehowah. O nome “Salmos” vem da palavra Psal·moí, na Septuaginta grega, que designa cânticos entoados com acompanhamento musical. Esse termo é também encontrado em diversos lugares nas Escrituras Gregas Cristãs, como por exemplo em Lucas 20:42 e em Atos 1:20. O salmo é um cântico ou poema sagrado que serve para louvar e adorar a Deus.

Muitos dos salmos têm títulos, ou cabeçalhos, e estes indicam com freqüência o escritor. Setenta e três cabeçalhos levam o nome de Davi, “o agradável das melodias de Israel”. (2 Sam. 23:1) Sem dúvida, os Salmos 2, 72 e 95 foram também escritos por Davi. (Veja Atos 4:25, Salmo 72:20 e Hebreus 4:7.) Além disso, os Salmos 10 e 71 parecem ser uma continuação dos Salmos 9 e 70 respectivamente, e, por conseguinte, podem ser atribuídos a Davi. Doze salmos são atribuídos a Asafe, evidentemente denotando a casa de Asafe, visto que alguns desses falam de eventos posteriores aos dias de Asafe. (Sal. 79; 80; 1 Crô. 16:4, 5, 7; Esd 2:41) Onze salmos são atribuídos diretamente aos filhos de Corá. (1 Crô. 6:31-38) O Salmo 43 parece ser uma continuação do Salmo 42, e, por conseguinte, pode também ser atribuído aos filhos de Corá. Além de mencionar “os filhos de Corá”, o Salmo 88 menciona também no cabeçalho a Hemã, e o Salmo 89 menciona Etã como sendo o escritor. O Salmo 90 é atribuído a Moisés, e é bem provável que Moisés tenha escrito também o Salmo 91. O Salmo 127 é de Salomão. Mais de dois terços dos salmos são assim atribuídos a escritores diversos.

O livro dos Salmos é o maior livro da Bíblia. Como evidenciado pelos Salmos 90, 126 e 137, sua escrita levou muito tempo, pelo menos desde o tempo em que Moisés escreveu (1513-1473 AEC) até depois do retorno de Babilônia e provavelmente nos dias de Esdras (537-c. 460 AEC). Assim se vê que a escrita levou aproximadamente mil anos. Mas o tempo abrangido pelo conteúdo é muito maior; começa desde o tempo da criação e narra a história das relações de Yehowah com seus servos até o tempo da composição do último salmo.

O livro de Salmos reflete organização. O próprio Davi se refere aos “cortejos de meu Deus, meu Rei, entrando no lugar santo. Os cantores iam na frente e os que tocavam instrumentos de cordas iam atrás deles; no meio vinham as donzelas batendo pandeiros. Em multidões congregadas, bendizei a Deus, Yehowah”. (Sal. 68:24-26) Isto explica a expressão freqüentemente repetida: “Ao regente”, que encontramos nos cabeçalhos, bem como os muitos termos poéticos e musicais. Alguns cabeçalhos explicam o uso ou propósito do salmo, ou fornecem as instruções musicais. (Veja os cabeçalhos dos Salmos 6, 30, 38, 60, 88, 102 e 120.) Pelo menos para 13 dos salmos de Davi, tais como os Salmos 18 e 51, os eventos que levaram à composição deles são brevemente relatados. Trinta e quatro dos salmos não têm cabeçalho algum. Pensa-se em geral que a pequena palavra “Sé·lah”, que ocorre 71 vezes no texto propriamente dito, seja um termo técnico para música ou para recitação, embora não se conheça seu significado exato. Alguns sugerem que indica uma pausa para meditação em silêncio ao se cantar ou tanto ao se cantar como ao se tocar instrumento musical. Por conseguinte, não precisa ser pronunciada na leitura.

Desde os tempos antigos, o livro dos Salmos era dividido em cinco livros, ou volumes, a saber: (1) Salmos 1-41; (2) Salmos 42-72; (3) Salmos 73-89; (4) Salmos 90-106; (5) Salmos 107-150. Parece que a primeira coleção desses cantos foi feita por Davi. Evidentemente, Esdras, o sacerdote e “copista destro da lei de Moisés”, foi aquele que Deus usou para colocar o livro dos Salmos na sua forma final. — Esd 7:6.

Visto que foi formada progressivamente a coleção, isto explica, talvez, por que também alguns dos salmos são repetidos em diferentes partes, como os Salmos 14 e 53; 40:13-17 e 70; 57:7-11 e 108:1-5. Cada uma das cinco partes termina com uma expressão que bendiz a Yehowah, ou seja, uma doxologia, incluindo as quatro primeiras dessas partes responsos do povo e a última sendo composta do inteiro Salmo 150. — Sal. 41:13, nota.

Em nove salmos, emprega-se um estilo muito especial de composição, chamado acróstico por causa de sua estrutura alfabética. (Salmos 9, 10, 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145) Nessa estrutura, o primeiro ou os primeiros versos da primeira estrofe começam com a primeira letra do alfabeto hebraico, ’á·lef (א), o(s) verso(s) seguinte(s), com a segunda letra, behth (ב), e assim por diante por todas ou quase todas as letras do alfabeto hebraico. Isto era talvez uma ajuda para a memória — imagine só os cantores do templo terem de lembrar cânticos tão compridos como o Salmo 119! É interessante notar que encontramos um acróstico do nome de Yehowah no Salmo 96:11. A primeira metade desse versículo em hebraico é composta de quatro palavras, cujas letras iniciais, lendo-se da direita para a esquerda, são as quatro consoantes hebraicas do tetragrama: YHVH (יהוה).

Estes poemas líricos, sagrados, são escritos em poesia hebraica sem rima, num estilo de beleza indescritível, estando os pensamentos descritos ritmicamente. Falam de modo direto à mente e ao coração. Contêm imagens vívidas. A assombrosa extensão e profundeza do pensamento e dos fortes sentimentos expressos se deve em parte às extraordinárias experiências de Davi na vida, o que serve de tela de fundo para muitos dos salmos. Poucos homens tiveram uma vida tão variada: ele foi um jovem pastor, combateu sozinho contra Golias, foi músico da corte, era banido entre amigos leais e traidores, foi rei e vencedor, pai amoroso aturdido por causa das divisões dentro de sua própria família, sofreu amargamente por ter cometido dois pecados graves, mas foi sempre adorador zeloso de Yehowah e amava a Sua lei. Com esses antecedentes de Davi, não é de admirar que os Salmos apresentem a inteira gama dos sentimentos humanos! O que contribui para os tornar tão poderosos e tão belos são os poéticos paralelismos e contrastes, tão característicos da poesia hebraica. — Sal. 1:6; 22:20; 42:1; 121:3, 4.

A autenticidade destes antiqüíssimos cânticos de louvor a Yehowah é amplamente atestada, estando em completa harmonia com o resto das Escrituras. O livro de Salmos é citado muitas vezes pelos escritores das Escrituras Gregas Cristãs. (Sal. 5:9 [Rom. 3:13]; Sal. 10:7 [Rom. 3:14]; Sal. 24:1 [1 Cor. 10:26]; Sal. 50:14 [Mat. 5:33]; Sal. 78:24 [João 6:31]; Sal. 102:25-27 [Heb. 1:10-12]; Sal. 112:9 [2 Cor. 9:9]) O próprio Davi disse no seu último cântico: “Foi o Espírito de Deus que falou por meu intermédio, e a sua palavra estava na minha língua.” Foi esse espírito que operou nele desde o dia da sua unção por Samuel. (2 Sam. 23:2; 1 Sam. 16:13) Além disso, os apóstolos citaram dos Salmos. Pedro fez referência à “escritura, que o espírito santo predissera pela boca de Davi”, e, em diversas citações dos Salmos, o escritor de Hebreus se referiu a eles como declarações proferidas por Deus ou mediante as palavras: “como diz o espírito santo”. — Atos 1:16; 4:25; Heb. 1:5-14; 3:7; 5:5, 6.

Chegamos à prova mais forte da autenticidade, citando as palavras de Jesus, como o ressuscitado Senhor, a seus discípulos: “Estas são as minhas palavras que vos falei . . . que todas as coisas escritas na lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos, a respeito de mim, têm de se cumprir.” Jesus englobou aqui as Escrituras Hebraicas todas do modo como os judeus as adotavam e as conheciam muito bem. Ao falar dos Salmos, ele incluía o terceiro grupo inteiro das Escrituras, chamado de Hagiógrafos (ou Escritos Sagrados), do qual os Salmos eram o primeiro livro. Isto é confirmado por aquilo que dissera algumas horas antes aos dois discípulos a caminho de Emaús, ao ‘interpretar-lhes em todas as Escrituras as coisas referentes a si mesmo’. — Luc. 24:27, 44.