A voz da consciência no íntimo (Part. 2)

Ele não respondeu assim por causa duma lei escrita de Deus, proibindo o adultério, tal como apareceu só mais tarde, nos Dez Mandamentos. (Êxo. 20:14) E lá estava José no Egito, longe de quaisquer pressões familiares ou regras patriarcais. É evidente que estava envolvida a consciência de José. O adultério violava seu senso de moral. Ele provavelmente “sentia” que era errado tomar o que não lhe pertencia, a esposa de outro homem. E este sentimento talvez fosse reforçado por ele ter refletido no fato de que o homem e sua mulher eram “uma só carne”, algo que Adão sabia muito bem. (Gên. 2:24; Mat. 19:4, 5) Também pode ter sabido do que aconteceu com Abraão e Isaque, que mostrava não haver aprovação do adultério. (Gên. 20:1-18; 26:7-11) Portanto, mesmo sem haver uma lei contra o adultério, a consciência de José podia induzi-lo a rejeitá-lo.
Mas, se Adão transmitiu aos seus descendentes certa medida de consciência, não devia também a esposa de Potifar ter sentido que o adultério era errado? Sim, embora obviamente se deixasse controlar pela paixão. Os egípcios, junto com outros, em toda a terra, davam-se conta de que o adultério era uma grave ofensa moral. Seus textos religiosos mais antigos associavam o último juízo com a pesagem do “coração”. E em que era alguém julgado? O antigo “Livro dos Mortos” dos egípcios representava o falecido como proclamando sua inocência, dizendo: ‘Não roubei. Não matei homens. Não menti. Não profanei a esposa de nenhum homem.’ De modo que deve ter sido a consciência que os induziu a sentir o erro do adultério. Introduzindo a consciência no assunto, o historiador Josefo escreveu mais tarde sobre José exortar a esposa de Potifar a abster-se da paixão, que traria remorso e sofrimento, mas a ser fiel ao seu marido e a ter “boa consciência”.
Além disso, encontramos descrições tanto bíblicas como não-bíblicas que ilustram a consciência operante. O Rei Davi, de Israel, em certa ocasião, mandou fazer um censo da nação. A Bíblia descreve a reação de Davi quando se deu conta de que havia pecado. Mostrando o funcionamento da consciência, a Bíblia diz que “o coração de Davi começou a bater nele”. (2 Sam. 24:1-10) Um efeito similar, duma consciência ferida é mencionado numa antiga tabuinha cuneiforme, que apresenta a oração dum babilônio que havia pecado. Ele implorou seu deus a escutar, “por causa de seu peito, que se queixa qual flauta ressoante”.
Tudo isso mostra que temos uma consciência por termos herdado inteligência e senso moral de Adão. Assim, até mesmo nações que não sabiam nada da lei mosaica, dada por Deus, proibiam coisas tais como furtar, mentir, incesto, assassinato e adultério. Sim, embora ‘não tenham lei’, “fazem por natureza as coisas da lei”. O apóstolo Paulo salientou a base para suas normas de moral, dizendo que “sua consciência [em grego: syneídesis] lhes dá testemunho e nos seus próprios pensamentos são acusadas ou até mesmo desculpadas”. (Rom. 2:14, 15) A faculdade da consciência dada por Deus é tão universal, que certa enciclopédia declara: “Não se encontrou ainda nenhuma cultura que não reconhecesse a consciência como fato.” E o Dr. Geoffrey Stephenson escreveu a respeito daqueles que parecem “não ter consciência”: “Era e ainda é considerado por alguns como forma genuína de insanidade ou psicose.” — Veja Tito 1:15.