Parábola do Fermento e da Farinha (Mt 13:33-35)

PARÁBOLA, FARINHA, FERMENTO, ESTUDO
Nessa pequena parábola, também narrada por Lucas (13:20,21), colocada como um sanduíche entre as outras, Jesus Cristo continua a desenvolver o seu ensinamento resultante da parábola anterior, a do Semeador e dos solos, que se une com a Parábola da mostarda, em que nosso Senhor prevê a aparição do cristianismo meramente professo, em sua forma exterior e mundana. Aqui, na Parábola do fermento, ele mostra antecipadamente a corrupção doutrinária da igreja. Muitos comentaristas, entretanto, em seus esforços de explicar a parábola, têm conseguido confundir o seu verdadeiro significado, pois afirmam que ensina de que forma o evangelho, vagarosa mas firmemente, permeará toda a sociedade, até que todo o mundo se torne convertido por [e para] Cristo.

Nas quatro parábolas colocadas em forma de dois pares, a verdade que todos ensinam é coerente e progressiva:

Na parábola do Semeador, temos a rejeição da Palavra de Deus; a do Joio e do trigo, temos a oposição ao Serviço Divino; na da Mostarda, temos o aborto dos Desígnios de Deus; na do Fermento e da farinha, temos a corrupção da Agência Divina.


Para compreender o que o nosso Senhor pretendia dizer, quando proferiu essa última parábola, é essencial examinarmos as três partes que a compõem: a mulher, o fermento e a farinha. Aqui encontramos novamente a "regra três". Uma utilização dessas figuras de linguagem feita independentemente das Escrituras tem resultado em erros de interpretação. Descobriremos que a interpretação popular dessa parábola pode ser considerada totalmente errada, como mostraremos a seguir.

Fermento. Começaremos com esse polêmico produto, visto que fermento, quando utilizado de forma figurada, como acontece nessa parábola, obviamente significa algo ruim. Afirmar que um símile pode significar tanto algo bom como ruim, é violar a sua utilização simbólica, dada pelo Espírito Santo na Bíblia. Além do mais, pelo fato de que o fermento é invariavelmente usado para representar algo que é ruim, corrupto e insatisfatório, como pode significar esse outra coisa? Seu formato é "tão rígido quanto a matemática", e deve, então, o seu significado estar sempre em completa harmonia com a sua utilização, em qualquer outro lugar das Escrituras.

Certos intérpretes, na tentativa de adequar essa parábola, que eles enxergam como símbolo da cristianização do mundo, têm feito essa ser muito discutida. Resumidamente, as escolas de interpretações divergentes são:

O fermento nessa parábola é um tipo do poder conquistador do evangelho. Muitos param na primeira frase dita pelo nosso Senhor: "O reino dos céus é semelhante ao fermento", e afirmam que essa figura tipifica algo bom; portanto, representa a vitória completa da influência de Cristo nesse mundo pervertido. Apesar de essa ser a mais popular e mais aceita interpretação, não é necessariamente a correta. Na verdade, como veremos, esse pensamento contradiz o uso simbólico completo do fermento nas Escrituras. Além disso, essa visão desfaz o ensino das outras parábolas do nosso. Senhor, e também a sua descrição do processo dessa dispensação, nas quais ele fala da mistura do que é bom com o que é mau e da santidade com a corrupção.

Os que lidam com essa parábola dessa forma violam ainda um princípio muito importante. Jesus não diz que "o reino dos céus se assemelha ao fermento", mas que "se assemelha ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo seja levedado". Não é apenas o fermento que ilustra o reino dos céus, mas a parábola como um todo. Outras parábolas falam de misturas, mas se essa sobre o fermento for tomada como boa, e o todo torna-se então levedado, ou seja, torna-se bom, então não há misturas de forma alguma, o que seria contrário ao ensino das outras parábolas. O fermento foi escondido na farinha, como um tipo de mal, que representa a forma por meio da qual as sutis forças de Satanás militam contra a verdade. O fermento sempre é utilizado como um símbolo do que desagrega, do que rompe, do que se corrompe, como a utilização bíblica seguinte é usada para provar isso.

O fermento que veio para se tornar muito importante na feitura dos pães em Israel — suas leis e rituais e em seu ensino religioso, possivelmente consistia de "um pedaço de massa fermentada, retirada de uma massa feita anteriormente". Essa porção de massa, que havia sido preservada, era dissolvida em água em um local próprio para amassar pães, antes de lhe ser adicionada a farinha, ou de ser escondida nela e serem amassadas juntamente. O pão feito dessa forma era conhecido como "levedado", para distinguir do "não levedado" ou "asmos".

A primeira vez que o fermento aparece de forma negativa na Bíblia é em Gênesis 19:3, onde diz que Ló "assou um pão não levedado" para os anjos e que "eles o comeram", o que nos mostra de forma muito clara que o fermento, uma mercadoria comum, era um alimento apropriado para a pervertida e condenada Sodoma. Por que o justo Ló não colocou pão levedado perante os anjos? Porque ele sabia que "nada comum ou impuro" devia chegar aos lábios de seus hóspedes. Alimento para os anjos não pode ter aparência maligna. Temos sido tão cuidadosos quanto deveríamos ser, quanto ao nosso alimento espiritual provido pelos púlpitos?

A próxima referência a fermento é feita em conexão com o Egito, onde os israelitas, na véspera de sua partida da terra da servidão, receberam a ordem divina: "Sete dias comereis pães asmos. No primeiro dia tirareis o fermento de suas casas, pois qualquer que comer o pão levedado, desde o primeiro dia até o sétimo, será eliminado de Israel" (Êx 12:15). Por que, se o fermento é uma tipificação do que é bom, foi dito aos israelitas, de forma tão enfática, que deveriam eliminá-lo de suas casas durante a Páscoa? E tão importante observar que a origem desse símbolo de maldade nas Escrituras, ligado à Sodoma e ao Egito, volte à cena novamente nos últimos dias, durante o ápice da maldade do Anticristo (Ap 11:8).

O fermento é usado como um símbolo para o pecado, em sua essência dentro da lei mosaica dada logo depois: "Não oferecerás o sangue do meu sacrifício com pão levedado" (Êx 34:25).

A razão pela qual o fermento foi excluído de quaisquer sacrifícios feitos no fogo ao Senhor, era porque esses tipificavam a oferta sacrificial sem pecado do próprio Cristo.

"Pois de nenhum fermento, nem de mel algum, fareis oferta queimada ao Senhor" (Lv 2:11; 6:14-18; Êx 12:8,15,19,20).

Uma razão natural para essa proibição é encontrada no fato de que a fermentação implica um processo de corrupção. O mel era excluído do sacrifício porque esse era um símbolo do homem em busca da glória pessoal (Pv 25:27). Cristo podia afirmar: "Eu não busco a minha própria glória" (Jo 6:38; 7:18; 8:50). Dessa forma, o que era azedo ou doce foi proibido na oferta de alimentos.

Pães feitos de farinha, sem fermento, eram os únicos aceitos no altar do Senhor. (Lv 10:12). Já foi dito que a ordem acerca do "pão levedado" (Lv 7:13) é uma exceção à regra do fermento, como simbolismo do mal. Mas não é bem assim. Cada ato de louvor humano necessariamente possui, até certo ponto, um pecado misturado a ele. Se a iniqüidade está no coração, o Senhor não nos ouvirá. Os dois pães apresentados ao Senhor na Festa das Semanas eram assados "com fermento". Esse acontecimento anunciava previamente o Pentecostes (At 2), onde os primeiros frutos dessa dispensação da Graça são vistos. Os dois pães são uma figura profética dos judeus e dos gentios salvos, nos quais uma boa quantidade da velha natureza permanecia, como pode ser visto no caso de Ananias e Safira. O pão típico, que representava Cristo, tinha de ser sem fermento; mas quando o pão tipificava o seu povo, precisava ser levedado. A referência feita por Amos sobre a oferta da consideração, "um sacrifício de louvor com fermento" (Am 4:5) é na verdade uma mensagem irônica, e significa exatamente o oposto do que foi dito, como nos é revelado pelo versículo anterior. O contexto nos faz supor uma gritante infração da lei. O uso ou não do fermento pelos israelitas é resumido nessa profunda e penetrante passagem: " [...]a iniqüidade das coisas santas, que os filhos de Israel santificarem em todas as ofertas de suas coisas santas" (Êx 28:38).

Para os judeus, então, o fermento era um símbolo do mal. As palavras fermento ou levedado e sem fermento ou asmo ocorrem 71 vezes no AT e 17 no Novo Testamento, com esse termo sempre denotando o que é mau. A única exceção seria esse solitário texto, nessa parábola de nosso Senhor. Conhecedor de seu significado normal no AT, ele usou esses termos tanto nessa passagem como em todas as outras, com a mesma significação, como veremos.

Lightfoot comenta que os escritos judaicos regularmente utilizavam o fermento como símbolo para o mal. Um rabino disse: "Não confie em um prosélito até passarem-se 24 gerações, pois ele ainda guarda o seu fermento".

O Talmude o usa para significar "funestas afeições e a desobediência do coração". Plutarco, o historiador grego, expressou a antiga concepção do fermento quando disse que: "O fermento é ele mesmo gerado pela corrupção, e também corrompe a massa à qual foi adicionado". O uso figurado do fermento, no NT, reflete e confirma a antiga função dele de "corrupto e corruptor". Por exemplo, como disse Cristo, o fermento é um tipo da má, corrupta e desequilibrada doutrina: "Cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia" (Lc 12:1). Aqui ele advertiu os seus discípulos da falsa doutrina dos fariseus, como nos é mostrado também na passagem paralela de Marcos, que ainda adiciona "o fermento de Herodes", o qual simbolizava essa vida mundana (Mc 8:14,15). "O fermento dos fariseus e dos saduceus" era a infidelidade, e Jesus censurou os seus por não a detectarem (Mt 16:6,12; 22:23,29; Atos 23:8). Como Cristo poderia deliberadamente confundir os seus discípulos, quando usou o fermento como uma figura do que é bom, nessa parábola que estudamos, pois ele sempre a usava como uma figura do mal?

O fermento dos fariseus era a formalidade hipócrita, ou a religiosidade, uma cegueira religiosa; e ainda temos isso no legalismo de nossas igrejas.

O fermento dos saduceus era o ceticismo ou racionalismo, uma negação do sobrenatural, tão comum hoje entre os evolucionistas.

O fermento de Herodes era uma degradação sensual, resultado dos dois primeiros fermentos. Apartar-se de Deus e de sua Palavra resulta em secularismo e em tolerância às cobiças mundanas e calamidades desse século. O fermento de Herodes consistia em poder e grandeza, baseados na possessão de coisas materiais. Não é esse o pecado das nações e dos homens hoje?

Quando estudamos os ensinamentos de Paulo, descobrimos que ele faz uso do fermento como um símbolo para o pecado em desenvolvimento: "Um pouco de fermento leveda toda a massa. Lançai fora o fermento velho, para que sejais uma massa nova, assim como sois sem fermento [...] e fermento da maldade e da malícia ... os asmos da sinceridade e da verdade" (ICo 5:6-8). A referência de Paulo ao sacrifício sem pecado de Cristo e sua afirmação de que os crentes, dessa forma, eram sem fermento, fecha a questão acerca do significado usual para fermento e que a sua interpretação popular está errada. Em "um pouco de fermento leveda toda a massa", Paulo se referia à necessidade da exclusão de um homem que havia cometido incesto, porque seu pecado poderia se espalhar, se fosse mantido sem julgamento. Não há necessidade de lançar fora o que é bom.

A última passagem na qual o fermento é mencionado encontra-se em Gaiatas 5:7-9, onde o apóstolo está preocupado com a propagação de uma falsa doutrina. Na passagem anterior, o fermento é associado com o mau proceder, com o poder corrupto de um mau exemplo. Aqui o símile é usado em referência aos efeitos prejudiciais de uma falsa doutrina, os quais são resumidos pelo apóstolo em duas áreas, em sua advertência das "impurezas da carne e do espírito" (2Co 7:1). O fermento que os legalistas tentavam espalhar entre os crentes da Galácia vinha dos fariseus, os quais diziam que antigas leis, como a circuncisão, ainda eram necessárias à salvação.

É interessante observar os três significados do fermento para Paulo:

1. E chamado "persuasivo", algo que exerce uma poderosa e emotiva influência;

2. Ele atrapalha o homem na "obediência à verdade";

3. É expressamente chamado "não pertencente" àquele que nos chamou.

Pink observa que "é digno de nota que a palavra fermento apareça exatamente treze vezes no NT, um número sempre associado com o mal e a obra de Satanás. Dessa forma, como podemos observar, esse tipo de fermentação (na verdade, um início de putrefação) é, através de todas as Escrituras, de forma uniforme, unia figura da corrupção — do mal". Apesar desses fatos evidentes, muitos estudiosos antigos e modernos persistem em usar o fermento nessa parábola como um símbolo para as benéficas influências do evangelho no mundo.

Martinho Lutero, em sua Exposition [Exposição], trata dessa forma o fermento da parábola: "Nosso Senhor deseja nos confortar com essa similitude, e deu-a a nós para que entendamos que o evangelho, como uma porção de um novo fermento, uma vez misturado à raça humana, que é a nossa, jamais cessará a sua atividade até o fim dos tempos; mas antes fará o seu trabalho dentro da massa, a favor daqueles que estão para ser salvos, apesar das portas do inferno. Da mesma forma que esse fermento, uma vez misturado à massa, nunca se separa dela, visto ter mudado a sua natureza, também é impossível para os cristãos serem arrancados de Cristo. Pois Jesus, como uma porção de fermento, está de tal forma incorporado neles, para que formem um só corpo, uma massa [...] o fermento também é a Palavra que renova o homem". Estudiosos, através dos tempos, têm seguido esse falso raciocínio dos reformistas.

Já Stration acha que temos uma excelente ilustração acerca da originalidade de Jesus, em seu uso do fermento: "No pensamento dos ouvintes, o fermento sempre foi visto como o poder contaminador do mal; mas aqui Jesus o aplica para o poder transformador de Deus, e concede um uso inteiramente novo para o fermento, com toda a certeza". Mas o Senhor, como um profundo estudante do AT, que com certeza o era, porventura se oporia contra o antigo e inspirado significado do fermento?

A. B. Bruce, que nos proporcionou um rico estudo em seu Parabolic teaching of Christ [Ensino parabólico de Cristo], traz juntos os três símbolos: "vocês são o sal"; "vocês são a luz"; "vocês são o fermento do mundo". Mas Jesus disse que o fermento tinha de ser escondido na farinha. Então, na aplicação de Bruce, os cristãos devem se esconder no mundo e não confessar abertamente o Mestre. Butterick diz que o fermento, usado normalmente, mesmo por Jesus "como um símbolo da influência do mal, não deve nos distanciar da interpretação que é explícita nessa parábola — o Reino de Deus é uma influência que tem poder para se espalhar e influenciar; esse conquista a vida dos seres humanos, da mesma forma que o fermento subjuga a massa". Todos podemos ver que após 2 mil anos de cristianismo, há uma tremenda massa a ser dominada. Lang fala do fermento como "o poder transformador em toda a massa humana, e no todo, feito de indivíduos".

O estimado Alexander Maclaren concorda com a interpretação popular do fermento: "O fermento, obviamente, é tomado como um símbolo do mal ou de corrupção [...] mas a fermentação age, tanto enobrecendo quanto corrompendo, e nosso Senhor valida o outro uso possível dessa metáfora. A parábola mostra os efeitos do evangelho, o qual, quando ministrado para a sociedade humana, em que a vontade de Deus é suprema, transforma um pedaço de massa pesada em um pão leve e nutritivo". Mas esse comentarista deixou de perceber que a farinha levedada não poderia representar a Propagação do mal e a do bem ao mesmo tempo. Esse fato nos faz pensar que, se o fermento é bom, o mundo hoje é menos levedado do que jamais foi. Não disse o próprio Senhor: "Quando, porém, vier o Filho do homem, achará na terra?" (Lc 18:8).

A terrível verdade é que o mundo está vivendo em densas trevas. Falando de forma geral, o evangelho hoje não é nem acreditado e nem desejado. O paganismo tem crescido imensamente durante a última década. Podemos ver em nossos dias que o mundo está se corrompendo, e a Igreja junto com ele. Se a farinha é o mundo e o fermento é o evangelho, o desígnio geral divino tem falhado em seu objetivo. As declarações solenes de Jesus, para nos relembrar acerca do curso dessa dispensação, como o fizeram os apóstolos, não podem ser verdadeiras se o mundo está melhorando pela difusão das qualidades do evangelho (Lc 17:26-30; Mt 24:1-14; lTs 5:3; 2Ts 2:1-12; 2Tm 2:1-5; 2Pe 3:3,4; Jd 18; Ap 3:16; 17:1-6). Mulher. Quem, ou o que, devemos relacionar com a figura da mulher dessa parábola? E uma figura secundária ou é essencial à mensagem? a maioria dos comentaristas parece negligenciar a sua presença e participação. Talvez eles imaginem que a sua inclusão seria natural, visto que a colheita no campo era um trabalho masculino; logo a preparação do pão em casa seria uma tarefa feminina. Mas há muito mais significados além do seu simples ato de preparação do pão, quando Jesus, em sua declaração, trocou a área agrícola pela doméstica. Muitas vezes ele tinha observado Maria, sua mãe, amassar e assar o pão, e agora ele usa essa ilustração doméstica com um efeito magnífico. Não há necessidade de alguma explanação acerca da participação de Cristo nela. Aqueles que O. ouviram compreenderam a partir "da perspectiva hebraica, e com o conhecimento dos escritos judaicos e dos simbolismos das figuras de linguagem utilizados"; e também como conhecedores do processo de fazer os pães, sem dúvida, entenderam o significado da parábola.

A Bíblia usa a figura da mulher, simbolicamente, de três formas diferentes:

1. Como reino.

"Assenta-te silenciosa, e entra nas trevas, ó filha dos caldeus; nunca mais serás chamada senhora de reinos" (Is 47:5);

2. Como cidade.

"a formosa e delicada, a filha de Sião, eu deixarei desolada" (Jr 6:2; Is 3:26; 51:17,18; Ez 24:6,7);

3. Como igreja.

VERDADEIRA — "Mas a Jerusalém que é de cima é livre, a qual é mãe de todos nós" (Gl 4:26; SI 45:10,13; Is 54:1,6; Ap 12:1, 6, 17);

FALSA — "Vem: mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas (Ap 17:1; Zc 5:7).

Muitos estudiosos da Bíblia identificam a mulher dessa parábola como a apóstata igreja de Roma, que representa uma cidade, um reino e uma igreja. Campbell Morgan comenta: "a mulher sempre representa a autoridade e a administração da hospitalidade em um lar. Falamos da Igreja como uma mãe. O grande sistema romano sempre fala da mãe igreja". Newberry diz que as parábolas da Mulher, do Fermento e da Farinha correspondem, em ordem cronológica, com a carta endereçada à quarta igreja, em Tiatira (Ap 2:18), e seu tipo histórico é encontrado nos relatos do reino de Acabe e de sua mulher Jezabel: "Não houve ninguém como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o instigava" (lRs 21:25). Quando Jesus se dirigiu à igreja em Tiatira, ele condenou severamente esse relacionamento: "Mas tenho contra ti que toleras a Jezabel, mulher que se diz profetiza; com o seu ensino, ela engana os meus servos, seduzindo-os a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos" (Ap 2:20). Newberry diz que "o sistema papal é representado pela mulher Jezabel, por meio do seu dogma: 'Ouça a igreja', que tem corrompido a doutrina cristã e, dessa forma, levedado a igreja onde quer que sua doutrina prevaleça. Assim, o sistema papal corresponde à mulher que coloca fermento na farinha". Roma não quer que Deus fale diretamente aos homens, por meio de sua Palavra, pois a posse particular e a leitura da Bíblia são desestimuladas. Os católicos romanos são instruídos que as Escrituras devem ser recebidas somente sob a autoridade de Roma e explicadas por ela.

O nosso Senhor declarou que a mulher Jezabel, como profetisa, ensinava e seduzia os seus servos. Paulo escreveu: "Não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio" (lTm 2:12). "Assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos" (Ef 5:24).

Na parábola, a "mulher" escondeu o fermento na farinha. O Senhor, entretanto, não entregou o seu evangelho nas mãos de mulheres, as quais não estavam entre os 12, nem entre os 70 que ele comissionou e enviou. Certamente mulheres regeneradas têm seu espaço de atuação na propagação de sua causa. Scofield tem uma observação que diz: "Uma mulher em seu mau senso ético sempre simboliza algo fora de seu lugar, religiosamente falando" (Ap 2:20; 17:1-6). E digno de nota observar que as mulheres têm muita ligação com a fundação de falsos cultos religiosos, como a ciência cristã, a teosofia, o espiritismo, a Igreja da Unificação, os adventistas do sétimo dia etc.

Além do mais, não tem sido a igreja moderna feminilizada? Se pelas mulheres, ou por uma mulher que simboliza a igreja apóstata, almas têm sido corrompidas da simplicidade que há em Cristo, o sistema da verdade revelado como um todo tem sido enfraquecido pela apostasia ensinada por elas.

A ação particular da mulher é facilmente notada: escondeu o fermento na farinha. Essa é uma característica que não pode ser deixada para trás. Se o fermento na parábola representa algo bom, por que escondê-lo? a mulher pegou o fermento — não o recebeu. E dessa forma que os servos de Cristo devem pregar o seu evangelho? Devem sussurrar em segredo e agir furtivamente? O Mestre não estimula os seus a pregar nos telhados (Mt 11:27)? Esconder nunca é relacionado à pregação da Palavra, na Bíblia, mas muito pelo contrário (SI 40:9,10). O próprio Jesus falava abertamente ao mundo (Jo 18:18,19-21), e os seus seguidores devem fazer o mesmo (Mc 16:15). Os mensageiros divinos são exortados a levantar suas vozes como uma trombeta e falar ousadamente (Is 58:1; At 19:8; 2Co 5:20).

Segredos ocultos e disseminação de falsas doutrinas caminham juntos. Falsas doutrinas foram introduzidas despercebidamente na igreja Primitiva por falsos irmãos (Gl 2:4). Falsos mestres trouxeram suas malditas heresias secretamente (lPe 2:11,12). Judas fala daqueles que se introduzem dissimuladamente para corromper os santos (Jd 4,5). Mulheres tolas são levadas à perdição (lTm 5). Dessa forma, a mulher dessa parábola age de forma desonesta e enganadora. Seu objetivo de furtivamente introduzir um elemento corrupto e estranho à farinha, é o que gera a sua deterioração; e isso é o que a apóstata Roma faz de forma tão sutil e secreta para alcançar os seus propósitos.

Três medidas de farinha. Muitas interpretações imaginativas têm sido dadas acerca da quantidade da farinha. Os "pós-milenaristas" dizem que "as três medidas de farinha" representam a raça humana entre as quais o evangelho é pregado. Assim como "o mundo todo jaz no maligno" (Uo 5:19), isso faz da "farinha" uma figura do que é mau, pecaminoso e depravado. Outros dizem que a "farinha" fala dos eleitos de Deus em seu estado natural, mas a analogia das Escrituras é contrária a tal ponto de vista. Um comentarista acredita que a mulher teria colocado uma porção de fermento em cada medida de farinha, até que todas as três tivessem levedado, e que elas corresponderiam à fé, à esperança e ao amor (ICo 13:13); cada uma das quais foi corrompida por Roma. Trench; geralmente conservador em suas análises, segue Jerônimo em sua sugestão de que simbolicamente "as três medidas de farinha" significam as três partes do mundo antigo, ou corpo, alma e espírito — os três elementos da vida humana; ou a raça que descendeu dos três filhos de Noé.

Mas quando Jesus empregou a expressão: "três medidas de farinha", ele não utilizou apenas uma mera linguagem ocasional e figurada, mas um texto que tinha um significado definitivo e valioso para a mente hebraica. Na interpretação das Escrituras, "a lei da primeira menção" é de suma importância. A primeira alusão às "três medidas de farinha" é feita por Abraão, quando esse preparou uma refeição para o Senhor (Gn 18:6). Essa era uma refeição de companheirismo e hospitalidade, preparada para um visitante sobrenatural, e uma refeição da qual participavam tanto o anfitrião como o convidado. A menor quantidade que pode ser oferecida em uma oferta de cereais, de acordo com a lei, era um ômer, a décima parte de uma efa (Êx 16:36). Três décimos constituíam a oferta mais comum, e essa passagem é mencionada sete vezes (Nm 15:9; 28:12,20,28; 29:3,9,14).

A "medida", na parábola, era a terça parte de uma efa; portanto, três medidas eram iguais a uma efa — a mesma quantidade oferecida por Gideão e Ana (Jz 6:18,19; ISm 1:24); e a mesma quantidade ordenada para uma oferta de cereais no livro de Ezequiel (45:24; 46:5,7,11). Entretanto, há um relacionamento distinto entre as "três medidas de farinha" e a fonte de cereais (ou carne) que recebe uma ordem específica: "Nenhuma oferta de cereais, que fizerdes ao Senhor, se fará com fermento" (Lv 2:11). Dessa forma, quando a mulher escondeu o fermento na farinha, fez algo que Deus proibiu. Misturou um elemento estranho à farinha.

Uma oferta de cereais tipifica "a hospitalidade de uma alma para com Deus, e a hospitalidade de Deus para com uma alma". Cristo é o alimento de seu povo, que é partilhado na comunhão com Deus. Jesus é o pão da vida, e a sua doutrina é o bem mais valioso da Noiva de Cristo. A manutenção de tal doutrina pura é a sua maior responsabilidade. Infelizmente, a igreja a tem adulterado com fermento!

A farinha pode ainda ser enxergada como a própria Igreja. Cristo, como a grão de trigo, que cai no solo e morre, produz uma colheita por si mesmo. A farinha vem do trigo e Paulo fala da verdadeira igreja como "um só pão" (ICo 10:17). Ordinariamente, quando o fermento é misturado à farinha, ele a faz crescer. Não é o que o evangelho faz quando entra em um coração humano. Um efeito oposto é produzido, pois o pecador culpado se rebaixa, humilde. Colocada de forma simples, a Parábola do fermento representa a degeneração em sua força, uma ruptura do companheirismo divinamente ordenado, a influência corrupta da apostasia.

Com essa parábola, Jesus conclui o seu discurso à multidão. Como não o receberam como Rei, Cristo se dirigia aos mesmos em parábolas, nas quais "falou de coisas que traziam à mente a sua rejeição e um aspecto do reino desconhecido das revelações do AT, que tinha em vista, tanto o reino em poder, ou de um restante que recebe, entre sofrimentos, como a palavra do que tinha sido rejeitado".