Eclesiastes 5: Significado, Teologia e Exegese

Eclesiastes 5

Eclesiastes 5 marca uma transição temática significativa dentro do livro: do exame existencial e social dos capítulos anteriores, o Qohelet se volta agora para a dimensão do sagrado, introduzindo uma crítica espiritual e cultual. O capítulo inicia com uma advertência contra o descuido na presença de Deus e prossegue com uma exposição sobre os perigos do culto verbal e do juramento precipitado. Em seguida, ele retorna ao tema da injustiça social e à futilidade das riquezas, concluindo com uma das declarações mais claras sobre a bondade dos dons simples da vida — trabalho, comida e alegria — quando desfrutados como dádivas divinas.

A estrutura do capítulo pode ser dividida em três grandes unidades:

Advertência contra a irreverência no culto (5:1–7): trata-se de uma perícope única no livro onde o templo é diretamente mencionado. O texto critica a prolixidade nos votos (nedārîm) e na fala diante de Deus, introduzindo uma espiritualidade centrada na reverência e no temor.

A crítica à injustiça e à burocracia opressiva (5:8–9): o Pregador volta ao tema da opressão, mas agora com uma observação irônica: “o lucro da terra é para todos”, sugerindo que até o rei depende do campo, ou seja, do trabalhador.

A futilidade das riquezas e o dom divino do contentamento (5:10–20): esta seção oferece uma análise antropológica profunda da relação humana com os bens: desejo insaciável, inquietação, perda súbita e, por fim, a frustração de não poder desfrutar o fruto do trabalho. Em contraste, o gozo simples dado por Deus ao trabalhador obediente é exaltado como verdadeiro bem.

Estilo Literário e Hebraico

O estilo é deliberadamente variado. Os primeiros versículos (vv. 1–7) adotam uma linguagem quase profética, com imperativos curtos e sentenças negativas categóricas: al-tibāhel ’al-pîḵā (“não te precipites com a tua boca”, v. 2), ken hălāḵ (“anda prudentemente”, v. 1). A imagem de Deus “no céu” e o homem “na terra” (v. 2) é uma forma semítica de estabelecer uma hierarquia ontológica: quem ora deve saber seu lugar.

O termo central dessa seção é yirʾat ʾĕlōhîm (v. 7), “o temor de Deus”, que funciona como chave interpretativa: a espiritualidade verdadeira é sóbria, silenciosa, marcada pela reverência. Já a palavra heḇel (“vaidade”) volta no v. 7, agora aplicada às “muitas palavras” religiosas — sugerindo que até o excesso de piedade pode ser vão se não for acompanhado de temor.

Do v. 10 em diante, o texto é mais descritivo e observacional, retomando o vocabulário típico de sabedoria: ʾōhēb keseph (“amante do dinheiro”), ʿāmāl (“trabalho”), ʿōnēg (“prazer”). A repetição da ideia de que a riqueza “não satisfaz” (v. 10), “aumenta os consumidores” (v. 11), “não dá sono” (v. 12), forma um crescendo argumentativo. O verbo rāʾâ (“ver”) no v. 18 é usado para significar “gozar” ou “experimentar com os sentidos”, mostrando que o sentido da vida está no usufruto moderado dos bens, não em sua acumulação.

Palavra-chave e Versículo-tema


O versículo que melhor encapsula o capítulo é Eclesiastes 5:7:

“Porque, na multidão de sonhos e vaidades, há também muitas palavras; mas teme a Deus.”

Este versículo une as três seções do capítulo: o culto insensato (sonhos e palavras), a corrupção do sistema social (vaidades), e o remédio teológico (temor a Deus). Ele funciona como uma chave hermenêutica para o livro: em um mundo de ilusões e verborragias, o temor de Deus é o único eixo confiável.

Intertextualidade com o Antigo e o Novo Testamento

No Antigo Testamento, a advertência contra votos precipitados remete diretamente a Deuteronômio 23:21–23, onde Moisés orienta: “Quando fizeres voto ao Senhor, não tardes em cumpri-lo”. A crítica às palavras vãs encontra eco em Provérbios 10:19 — “Na multidão de palavras não falta transgressão”. A imagem do culto insensato também é comparável à denúncia dos profetas: Isaías 29:13 critica o povo que honra a Deus “com os lábios, mas cujo coração está longe”. E o reconhecimento de que “o que come do seu trabalho... isso é dom de Deus” (v. 18) é antecipado em Salmo 128:2 — “Do trabalho de tuas mãos comerás; feliz serás”.

No Novo Testamento, Jesus retoma exatamente essa advertência em Mateus 6:7 — “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios...”. A ênfase no temor como centro da vida espiritual está em Lucas 12:5: “temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno”. Paulo também ressoa a visão de Eclesiastes ao dizer, em 1 Timóteo 6:6–10, que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” e que “a piedade com contentamento é grande lucro”.

Cristologicamente, o capítulo aponta para uma teologia da reverência e da suficiência. Aquele que foi “rico e se fez pobre” (2 Coríntios 8:9) é a resposta encarnada à futilidade do acúmulo. Jesus não apenas ensina o temor e a verdade no culto, mas também realiza o verdadeiro culto como Filho obediente (cf. Hebreus 5:7–9). A exortação ao contentamento encontra sua plenitude em Filipenses 4:11–13: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”.

Lição Teológica Geral

Eclesiastes 5 nos ensina que a espiritualidade autêntica não se expressa em excesso de palavras, em votos precipitados ou em ilusões piedosas, mas na reverência silenciosa. O temor de Deus aparece aqui como chave do discernimento: é ele que purifica o culto, regula os desejos, orienta o trabalho e devolve sentido aos bens materiais. O acúmulo é vão; o dom de Deus é suficiente. A vida se torna plena não quando se conquista muito, mas quando se desfruta com temor aquilo que Deus concede.

📝 Resumo de Eclesiastes 5

Eclesiastes 5 começa com instruções sobre a reverência na adoração e o cumprimento de votos (Ec 5:1-7). O Pregador aconselha a ter cuidado ao entrar na casa de Deus, sendo mais propenso a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, que não sabem que fazem o mal. Ele adverte contra a precipitação ao falar e a proferir votos impensados diante de Deus. É melhor não fazer voto do que fazer e não cumprir, pois Deus não se agrada de tolos. Por isso, a multiplicidade de sonhos e a abundância de palavras são vaidade. O conselho final é temer a Deus, reconhecendo que, embora a opressão dos pobres e a perversão da justiça possam ser vistas na província, há um poder maior que zela por tudo.

A seguir, o Pregador discute a natureza insatisfatória da riqueza e do acúmulo (Ec 5:8-17). Ele observa que quem ama o dinheiro nunca se farta de dinheiro, e quem ama a abundância nunca se farta da renda. Isso também é vaidade. Quando os bens se multiplicam, multiplicam-se também os que os consomem. Qual é, pois, a vantagem para o seu possuidor, senão ver os bens com os seus olhos? O sono do trabalhador é doce, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. Ele lamenta um mal penoso que tem visto debaixo do sol: riquezas guardadas para o seu dono, mas para o seu próprio dano. Essas riquezas se perdem por um mau negócio, e o homem que as gerou não tem nada na mão ao final. Assim como saiu do ventre de sua mãe, nu, assim retorna, sem levar nada do seu trabalho. Além disso, é um mal penoso que, como veio, assim se vá; e qual o proveito de ter trabalhado em vão, com tristezas e enfermidades, e grande aborrecimento e ira em todos os seus dias?

Por fim, o Pregador apresenta uma conclusão sobre o contentamento e o desfrute da vida como um dom divino (Ec 5:18-20). Ele reconhece que é bom e agradável comer, beber e desfrutar do bem de todo o seu trabalho, pois isso é a sua porção. Quando Deus dá a um homem riquezas e bens, e lhe concede que deles coma, e deles tome a sua porção, e se alegre do seu trabalho, isso é um dom de Deus. Porque não se lembrará muito dos dias da sua vida, visto que Deus lhe concede alegria no coração. Ele reitera que a verdadeira satisfação não reside na acumulação de bens, mas na capacidade de desfrutar aquilo que se tem, uma bênção que vem diretamente de Deus, permitindo que a pessoa viva sem a constante preocupação com o futuro ou com o que poderia ter sido.

📖 Comentário de Eclesiastes 5

Eclesiastes 5.1 Guarda o teu pé. Traduzida literalmente, esta frase exige prudência ao adorar Deus. Significa comportar-se bem. A ideia de agir com honradez e reformulada no fim da seção com as palavras mas tu, teme a Deus (Ec 5.7). Como é comum entre os profetas, há um alerta para ser circunspecto em relação aos sacrifícios e pronto para ouvir. Deus não se alegra daqueles que fazem tudo certo por maus motivos (Is 1.10-15), que oferecem sacrifícios de tolos. De acordo com o conselho do profeta Samuel a Saul, eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros (1 Sm 15.22).

Até e incluindo o versículo do último capítulo trata-se de tipos de comunhão entre as pessoas, ou a ausência de tal comunhão. A partir de Eclesiastes 5:1 deste capítulo, nosso foco está na necessidade de um tipo maior e melhor de comunhão: a comunhão com Deus. O Pregador não diz que buscar isso é “vaidade” e “esforço para alcançar o vento”. Ele diz que isso deve acontecer da maneira certa, no conhecimento de quem é Deus e quem é o homem em comparação a ele. Trata-se de aproximar-se de Deus de forma adequada (cf. Êxodo 3:5; Josué 5:13-15; João 4:23-24).

Aquele que se aproxima de Deus em Sua casa deve guardar seus passos (Eclesiastes 5:1). Claro que tal homem deve guardar o seu coração, mas a condição do coração torna-se visível no caminho que esses passos percorrem (cf. Prv 1:15; 4:26-27). Quem vai à casa de Deus deve saber que não está se aproximando de uma casa comum. A casa de Deus está em todo lugar onde Deus se revela (Gn 28:17; Gn 28:22), mas certamente é também o templo que será entendido aqui.

O Pregador está focado no homem que é um adorador. Até agora ele se dirigiu ao seu público na primeira pessoa “eu”, a partir de sua posição de observador. Na seção seguinte, ele dá exortações. Assim como os profetas, ele está chamando para o serviço genuíno de Deus. Ele se dirige a pessoas que têm boas intenções, mas que são culpadas de ignorância sobre Deus. Essas são as pessoas que adoram cantar e adoram ir à igreja, mas que escutam com meia orelha e quase nunca fazem o que pretendem fazer para Deus.

É melhor você vir “ouvir” do que “oferecer um sacrifício” – apenas pela aparência, sem se envolver com o coração – como um tolo ou de maneira tola. ‘Ouvir’ tem o duplo significado de ‘prestar muita atenção a’ e ‘obedecer’. Esses aspectos são mais importantes para Deus do que qualquer sacrifício (1Sm 15:22; Pv 21:3).

O sacrifício é um animal sacrificial que foi morto para sacrificar a Deus e, posteriormente, servir como uma refeição de comunhão. Isso é uma oferta de paz. Um sacrifício pode desvalorizar para um banquete de comida, onde as pessoas não consideram Deus de forma alguma. O Pregador poderia ter isso em mente quando fez essa observação. Ele não quer dizer que as pessoas não devam mais trazer sacrifícios, mas que isso deve acontecer de forma apropriada.

A graça de Deus, por maior que seja, nunca deve ser uma desculpa para zombar Dele. As pessoas não levam Deus a sério se pensam que podem se aproximar Dele com palavras piedosas, embora vazias, e ainda lidando com as coisas sagradas de maneira descuidada (cf. Mt 7:21-23; Mt 23:16-18; 1 Reis 11:27-29). Eles não têm ideia de que estão fazendo o mal e param de se fazer de inocentes quando lhes é apontada a hipocrisia de sua atitude. No entanto, não há ignorância inocente, mas eles são culpados de desonrar a Deus. Eles deveriam saber melhor.

Eclesiastes 5.2, 3 Deus está nos céus, e tu estas sobre a terra. O contraste essencial entre o justo poder de Deus e a nossa natureza pecaminosa deve compelir-nos a submeter-nos ao Todo-poderoso (v. 7). Tiago diz em sua carta em um sentido geral: “Mas todos sejam prontos para ouvir, tardios para falar” (Tiago 1:19). O que geralmente se aplica a nós, homens, em nossas relações uns com os outros, aplica-se em particular ao nosso relacionamento com Deus sobre o que dizemos a Ele (Eclesiastes 5:2). A pressa de espírito é sempre errada, mas especialmente na oração. Nesse contexto, é muito provável que se trate de uma promessa precipitada e mal pensada. As palavras ditas impensadamente refletem a vida interior, porque a boca fala do coração. Assim como não é uma questão de oferecer serviços externos, também não é uma questão de muitas palavras em nossas orações.

Não há nada contra orações longas. O Senhor Jesus também orou a noite toda uma vez (Lucas 6:12). É dito para nós que devemos orar continuamente (Lucas 18:1; 1Ts 5:17). Mas Deus é contra longas orações que são feitas para a aparência de religiosidade como fazem os fariseus (Marcos 12:40) e contra o uso de muitas palavras como fazem os gentios (Mateus 6:7-8).

Precisamos perceber quem e onde Deus está e quem e onde estamos. Deus está no céu, o lugar de Sua glória e Seu governo. Os contrastes são: Deus e o homem, e o céu e a terra. Deus tem visão geral e controle sobre tudo; comparado a isso, o homem não sabe absolutamente nada. Sob essa luz, é puramente arrogante manipular Deus fazendo grandes votos e promessas a serem cumpridas se Ele nos der o que desejamos. Nossa impaciência está em contraste com Sua grandeza. A insignificância do homem em contraste com a grandeza de Deus deveria fazer do homem um mendigo e alertá-lo para não querer ser como Deus. Querer ser igual a Deus é a origem do pecado.

Eclesiastes 5:3 corresponde ao mencionado anteriormente, que derivamos da palavra “para”. Esclarece que há causa e efeito em nossa aproximação a Deus. A impaciência na oração é causada por uma infinidade de atividades. As pesadas responsabilidades na vida diária podem perturbar nossa concentração na oração e levar à impaciência na oração. O tolo, portanto, expressará uma torrente de palavras, sem que isso surta efeito.

A oração exige descanso e confiança, embora o motivo da oração ainda seja tão urgente. A primeira reunião da igreja para orar dá um belo exemplo (Atos 4:24-31). Lemos que a igreja se aproxima de Deus para adorá-lo. Então a Escritura é citada e então vem a súplica, seguida pela resposta.

A multidão de palavras que o tolo usa na presença de Deus, é a fala que pode ser comparada a um sonho que vem de muita atividade. A conversa de um tolo é tão irreal quanto um sonho. Um excesso de palavras deve levar à tolice, assim como um excesso de atividade leva a sonhos desvairados.

É algo em que qualquer ser humano pode cair. Assim como alguém pode sonhar à noite por causa de muitas atividades durante o dia, alguém porque fala demais pode começar a falar um monte de bobagens. Quem está muito ocupado terá pesadelos, quem usa palavras demais é tagarela e tagarela.

Eclesiastes 5:4-7 Nos versículos anteriores trata-se do serviço geral a Deus. Nesta parte trata-se de um exercício especial: fazer um voto. Não é uma advertência contra fazer um voto, mas contra fazer um voto e não cumpri-lo (Eclesiastes 5:4; Num_30:2). Só um tolo faz uma coisa dessas. Ana fez um voto e o pagou (1Sm 1:11; 1Sm 1:26-28; Sl 76:11). Também é importante pagar o voto diretamente e não adiar o pagamento do mesmo. Pagar o voto diretamente é a melhor evidência da sinceridade do voto que você fez.

Muitas vezes as pessoas fazem votos a Deus quando Ele as resgata de problemas (Gn 28:20-22). Eles dizem que servirão a Deus se Ele os ajudar. Mas se não há um relacionamento vivo com Ele, eles esquecem seu voto assim que recebem a resposta à sua oração. Fazer um voto não era obrigatório, mas voluntariamente (Ec 5:5; Deu_23:21-23). É melhor você relutar em fazer um voto do que em pagá-lo. Aqueles que temem a Deus irão:

1. não fazer um voto a Deus rapidamente;
2. levar a sério o pagamento do voto quando o fizerem;
3. confesse os votos quebrados como pecados e se arrependa deles.

É continuamente sobre votos que estão de acordo com a Palavra de Deus. Herodes deveria ter voltado atrás em sua promessa e deveria tê-la quebrado (Mateus 14:6-9). Ele deveria ter confessado que se superestimou grosseiramente ao fazer tal promessa e teve que voltar atrás diante de Deus. No entanto, como ele vivia diante das pessoas, ele não queria perder a face diante delas e cumpriu sua promessa ímpia.

Ninguém deve se apegar a um voto que esteja ligado ao pecado. Ninguém pode ser obrigado a guardá-lo por terceiros, pessoas ou pelo próprio diabo. Tal voto deve ser quebrado sob confissão e em nome do Senhor Jesus. O Pregador nos ordena a não permitir que nossa boca diga qualquer coisa que nos leve a pecar (Eclesiastes 5:6). Nossas palavras tocam todo o nosso ser, puxam todo o nosso ser na direção da nossa fala. O que quer que saia de nossas bocas nos aproxima de Deus ou nos afasta Dele.

“O mensageiro” é o representante de Deus. Este pode ser o sacerdote em cuja presença o voto foi feito (Lv 5:4-5; Ml 2:7). Pode ser o mensageiro enviado pelo padre a alguém para lembrá-lo de seu voto. Deus leva muito a sério a falha em cumprir um voto. Ele fica “irritado” quando prometemos algo com a boca, quando dizemos que faremos algo e não o fazemos. Desprezar um voto significa desprezar Aquele, diante de Cuja face o voto é feito. Nesse contexto, um dos provérbios que o Pregador declarou anteriormente é adequado: “É uma armadilha para o homem dizer precipitadamente: “É santo!” e depois dos votos para fazer perguntas” (Pv 20:25). Se não pagarmos um voto, Deus não pode ignorá-lo impunemente. Experimentaremos Seu julgamento porque Ele destruirá a obra de nossas mãos. Deveríamos ter pago nossos votos primeiro, mas começamos a trabalhar para nós mesmos. Esse trabalho é feito em desobediência. É por isso que Ele a está arruinando.

Muitas vezes, os votos eram feitos com vistas ao sucesso no trabalho. Um exemplo disso é o campo em que, ao fazer um voto, espera-se obter muito lucro. Se o voto não for cumprido, os ofensores serão punidos naquele mesmo lugar, e a bênção que eles queriam será transformada em maldição, de modo que não haverá lucro algum. Os votos levemente pronunciados de Eclesiastes 5:6 não passam de um jogo de palavras, um devaneio (Eclesiastes 5:7). O homem tende a carregar sua ilusão quando promete ou adora, sem saber que está na presença do Santíssimo. É como se ele vivesse na terra dos sonhos, sem noção da realidade. O homem só pode escapar de tal situação temendo a Deus. Isso significa que ele tem consciência de viver na presença de Deus, e mostra isso ao reconhecê-lo e honrá-lo. Então ele prestará atenção às suas palavras e não fará votos levianos que não pretende pagar de qualquer maneira. Aquele que teme a Deus não tem nada nem ninguém a temer. Ele pode dizer a Satanás: “Porque eu temo a Deus, não preciso temer você”.

Eclesiastes 5.4, 5 Não se deve tentar subornar Deus com um voto impensado. A primeira parte do versículo 4 é quase idêntica a Deuteronômio 23.21. Veja o exemplo posterior da mentira de Ananias e Safira (At 5.1-11).

Eclesiastes 5.6 Um sacerdote, profeta ou um dos anjos de Deus seria o anjo que ouviria as tais desculpas por votos não cumpridos (Ag 1.13; Ml 2.7).

Eclesiastes 5.7 Temer a Deus, tema central do livro de Eclesiastes, não significa ter medo de Deus (Ex 20.2). Significa ter reverência, admiração e fervor em resposta a Sua glória. Para os escritores da literatura de sabedoria (Jo 1.1; SI 111.10; Pv 1.7), temer a Deus significa obedecer a Ele corretamente, com genuína consagração.

Eclesiastes 5.8 O termo “província” (Ec 2.8; hb. medina, Et 1.1) é geralmente interpretado como uma palavra persa e, portanto, é empregado por certas pessoas como argumento para datar o livro de Eclesiastes no pós-exílio. Mas Salomão conhecia vários idiomas e tinha contato com diversas nações. O emprego de seu vocabulário “exótico” simplesmente demonstrava a sofisticação que era patente em sua fala.

Eclesiastes 5:8-9 O Pregador não segue um certo padrão neste livro, um claro andamento de um assunto. Ele dá suas observações sem prestar atenção a uma possível conexão entre os assuntos. Pode ser que ele apenas vá de um assunto para outro. Podemos ver isso aqui também. Ele sai do assunto de se aproximar de Deus e, de Eclesiastes 5:8 a 6:12, aponta situações em torno do tema da pobreza e da riqueza, tendo como ideia principal: quanto mais riqueza, mais corrupção. A ideia subjacente parece ser que a riqueza é muitas vezes obtida através da corrupção ou opressão. A negação da justiça e da retidão aponta para um sistema judicial desonesto.

Em Eclesiastes 5:8, ele aponta para o antigo sistema de jogar passe-a-parcela, flutuando no ciúme, no qual sempre o próximo oficial superior é responsabilizado. Isso vai até o líder mais alto e intocável, que também rejeita toda a responsabilidade. Qualquer pessoa que tenha poder sobre outra pessoa está se esquivando de sua própria responsabilidade. A burocracia e o funcionalismo mandam os cidadãos de poste em poste, com atrasos e desculpas sem fim e sem receber o que têm direito. A cultura do enriquecimento pessoal ganha cada vez mais adeptos. Todo mundo está apenas enchendo seus próprios bolsos.

O Pregador não fala de uma aldeia ou de uma cidade, mas de “uma província”, com a qual se entende a maior parte do país (cf. Esdras 5,8). A opressão ocorre sob quase todos os governos e em todos os níveis de gestão. Acontece especialmente pelos governos locais nas províncias que estão longe do centro do governo. O Pregador não convoca uma revolução para acabar com essa cultura. Com sobriedade, ele diz que não devemos ficar chocados com isso. Está embutido no sistema e é inerradicável.

Em muitos países há opressão e injustiça. Isso ocorre porque um funcionário superior egoísta é explorado e guiado por um funcionário superior igualmente egoísta, que por sua vez é colocado sob o comando de um funcionário superior, etc. Como todo funcionário superior explora o subordinado colocado diretamente abaixo dele, este último fará o mesmo com aqueles que estão subordinados a ele. As pessoas sofrem com esse padrão de desgoverno.

Eclesiastes 5:9 parece ser uma contraparte de Eclesiastes 5:8. Com toda a burocracia, é uma vantagem quando há um ponto de autoridade estável: um rei que tem olho para a agricultura (2Cr 26:10). Entre os habitantes de uma terra há uma distinção de status social, mas todos dependem do “cultivo da terra”. Mesmo “um rei”, a autoridade máxima, que se coloca no topo do povo, tem vantagem no cultivo do campo. Se a terra for bem cultivada e houver uma distribuição justa, a terra produzirá o suficiente para todos.

O rei também depende do que o campo produz para o sustento de sua família. O rei que governa bem, protege o agricultor por meio de um bom cumprimento da lei. Ele percebe que depende do agricultor para seu sustento. O rei é um servo do campo. Tal rei, em vez de ser o oficial superior, oprimindo aqueles sob seu comando e enriquecendo às custas deles, governará com justiça e permitirá que todos compartilhem os rendimentos do campo.

Que bênção é quando um rei, a mais alta autoridade, busca o bem-estar da terra. Não é um explorador, não procura pela guerra alargar o seu território, mas é alguém que põe o seu território à disposição da lavoura, para que todos usufruam dos rendimentos. Podemos pensar no Senhor Jesus à luz do Novo Testamento. Ele é o Rei que busca o bem-estar de Sua terra, Seu reino e de todos os Seus subordinados.

Eclesiastes 5:10-17 Se um homem se apega ao seu dinheiro com o coração, sua sede por dinheiro não pode ser saciada (Eclesiastes 5:10). Para tal pessoa, o dinheiro é seu ídolo, o mamom (Mateus 6:24). O dinheiro é um bom escravo, mas um péssimo senhor. Quem tem o dinheiro como seu mestre, é perseguido por seu desejo de sempre mais. Seu amor pelo dinheiro o controla e destrói (1 Timóteo 6:9). O mesmo vale para amar a abundância. Quem se apega à abundância com o coração, sempre quer ter mais renda. Ele quer um saldo bancário crescente, uma colheita crescente por ter mais terras.

Salomão aponta para a vaidade do dinheiro e da renda. Ele vai explicar a vaidade, o vazio do dinheiro e da renda nos versículos seguintes. O Senhor Jesus eleva esse assunto a um nível mais alto quando diz a um homem que corre o risco de perder sua herança: “Acautelai-vos e guardai-vos de toda forma de ganância; pois nem mesmo quando alguém tem abundância, sua vida consiste em suas posses” (Lucas 12:15).

Quem tem muitos bens, tem muitos amigos (Eclesiastes 5:11) ou como já dizia Salomão em Provérbios: “Muitos amam os ricos” (Provérbios 14:20). Quanto mais riqueza, mais aproveitadores. Além disso, todos os tipos de organizações de caridade sabem como encontrá-lo e sempre apelam para seus bens. Você tem que lidar com muita gente irritante.

Você também tem que deixar o controle de seus bens para os outros. Você não pode controlar isso sozinho. Mas você está bem ciente de que aqueles a quem você confiou seus bens podem limpá-lo? Eles controlam suas posses de tal forma que você mesmo não consegue se apossar delas e eles lucram com isso. Você olha para ele, mas na verdade você perdeu o prazer dele. O único lucro que você tem é o pensamento de que é sua propriedade.

O dinheiro deixa claro que o dinheiro não satisfaz. Atrai pessoas que querem lucrar com sua riqueza e tirar proveito dela, o que faz com que a tranquilidade de sua vida seja seriamente perturbada. A pobreza pode causar problemas, mas não pense que o amor ao dinheiro é uma boa solução para esses problemas.

Basta olhar para o “trabalhador”, o trabalhador, com uma profissão simples, uma renda baixa e sem posses (Eclesiastes 5:11). Este homem não tem nenhum desses problemas. Aquele que está sem posses, está sem preocupações, em todo caso, não se preocupa com suas propriedades e, portanto, também não há pessoas que estão reclamando para obter um pouco de sua abundância. Ele não está preocupado se tem pouco ou muito para comer, pois sempre tem o suficiente. No final do dia ele adormece. E o seu “sono… é agradável”. Ele não tem pesadelos; também não há nada com que ele esteja se preocupando e se agitando.

Isso é bem diferente do efeito que a “abundância” ou multidão de bens tem sobre o homem rico. Um homem rico tem muito para comer e também o faz. Ele se empanturra tanto que fica enjoado e não consegue dormir. Excesso de danos. Outro pensamento é que ele está preocupado em como manter e aumentar sua abundância. Ele é controlado por ela (Eclesiastes 5:10) e se preocupa com ela, resultando em “não deixá-lo dormir”. Quanto mais riquezas, menos noites de descanso. Muitas preocupações, pouco sono. A cama grande com o melhor colchão não lhe dá o ‘sono agradável’ do trabalhador que está deitado no saco de palha.

Ninguém precisa de dinheiro para ser feliz. Basta olhar para o trabalhador. Ele come o pão com o suor do rosto. Trabalhar duro também garante uma boa digestão. Quem só organiza jantares para receber grandes encomendas, engorda cada vez mais e fica cada vez mais inquieto. As academias adoram receber essas pessoas. Uma das razões da existência desses clubes é que as pessoas engordam demais por comer demais e errado. É um exemplo de tratamento de sintomas. O estilo de vida não é mudado, mas os resultados do estilo de vida errado estão sendo tratados. Está tentando esvaziar o oceano com um dedal.

A história a seguir pode servir como ilustração:

Um rico industrial conheceu um simples pescador. O rico se incomodava com o fato de que, numa tarde ensolarada, o pescador se inclinava para trás em seu barco, enquanto seus pés balançavam ao mar. 'Por que você não está pescando?', ele perguntou. Porque já pesquei peixes suficientes para hoje’, respondeu o pescador. "Por que você não vai pescar mais peixes?", perguntou o homem rico. “O que devo fazer com isso?” “Você poderia ganhar mais dinheiro”, disse o homem rico, que estava ficando mais impaciente, “e comprar um barco melhor, para poder pescar mais fundo e pescar mais peixes. Você pode comprar redes de náilon, pescar ainda mais peixes e ganhar ainda mais dinheiro. Então você pode comprar mais barcos e contratar outros para ajudá-lo a pescar. Em breve você teria uma frota de barcos e ficaria tão rico quanto eu!” “E então o que eu faria?” “Você poderia sentar e aproveitar a vida”, disse o industrial. “O que você acha que estou fazendo agora?”, respondeu o pescador e olhou para o mar.

Existem mais desvantagens ligadas às riquezas do que apenas insônia por exuberância ou preocupações. Uma delas é que o açambarcamento de riquezas é para os donos “para prejuízo deles” (Eclesiastes 5:13). O Pregador chama isso de “um mal grave”. É um mal que adoece e também é um mal que recai sobre o dono. Isso o deixa doente com a doença que as riquezas causam.

O dono de riquezas fica doente quando come demais de suas riquezas e fica com dor de estômago, o que o impede de dormir (Eclesiastes 5:12). Mas também pode ser o contrário, que é que a riqueza o devora. Ele fica doente com a ideia de que pode perder suas riquezas assim, por exemplo, por roubo, uma especulação errada ou um investimento impensado. Ele protege suas riquezas com ansiedade, enquanto percebe que não tem garantia absoluta de que suas travas de segurança, sistemas de alarme, câmeras e seguranças contratados excluam o roubo.

Paulo declara a mesma advertência e a aprofunda porque conecta a riqueza com a fé: “Mas os que querem ficar ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que lançam os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, pela cobiça, se desviaram da fé e se atormentaram com muitas dores” (1Tm 6:9-10).

Em Eclesiastes 5:14-17 trata-se dos casos de um homem rico, que perdeu suas riquezas. Isso aconteceu “através de um mau investimento” (Eclesiastes 5:14), seja por outros contra ele ou por ele mesmo. Outros podem tê-lo roubado. Ele também pode tentar enganar os outros para enriquecer e, portanto, foi arruinado financeiramente, por exemplo, por roubo ou fraude ou uma mudança repentina de circunstâncias. Desta forma, as riquezas podem ganhar asas e simplesmente desaparecer. Você é um mero espectador e não pode fazer nada sobre isso ou obter nada de volta. Este versículo contém muita frustração. É sobre um homem que trabalhou muito e por muito tempo e perdeu tudo de uma vez. Ele e sua família estão desamparados.

Uma frustração extra é que ele não pode deixar nada para o filho. Durante sua vida, suas riquezas não lhe fizeram nenhum bem. Ele não conseguiu aproveitá-lo, perdeu tudo e não pode dar nada ao filho que gerou. Dá-lhe uma tripla frustração. Este mal não pode nos acontecer em relação aos tesouros que reunimos no céu. As práticas malignas não podem nos roubar delas. Não há ladrão que possa chegar lá (Mateus 6:19-20). Portanto, é bom investir nas coisas celestiais.

Além da perda de riquezas e saúde e contrair uma doença e frustração, também não se pode levar nada consigo no final da jornada. Que tolice é trabalhar para enriquecer, lutar por isso e tentar embolsar o máximo possível. Todo homem deixa o mundo como entrou: nu (Eclesiastes 5:15). Mesmo se ele tivesse seu caixão feito de ouro e suas mãos cheias de dinheiro quando ele estivesse no caixão, isso não lhe faria nenhum bem. Ele jaz morto e rígido em seu caixão e não há mais nada “que ele possa carregar na mão”.

Essa consciência deve acabar com a busca do homem pela riqueza. O que um homem tinha nas mãos ao nascer era o capital que trazia ao mundo: nada. Da mesma forma, ele deixa o mundo novamente (Jó 1:21; Sl 49:16-17; 1 Tm 6:7). É como diz o ditado: Não há bolsos em uma mortalha. Não podemos levar nada para o céu. No entanto, podemos enviar nossos tesouros dando o máximo possível para o que promove a obra de Deus na terra.

Se permeia o pensamento de que uma pessoa “voltará como veio”, ou seja, sem nada na mão, é “também um mal grave” (Eclesiastes 5:16). Ele tem que aceitar relutantemente que esta é a realidade, mas ele não chega a concordar que todas as riquezas que uma pessoa possui sob o sol acabarão sendo nada. Ele deve estar ciente de que fazer um esforço para ficar rico é igual a labutar por um vento que também não pode ser contido. É preciso mais do que isso para concordar que assim é e esse é o entendimento de que qualquer aumento de dinheiro e bens durante a vida não trará nada para ninguém na eternidade.

Eclesiastes 5:17 fortalece a conclusão de Eclesiastes 5:16 ao relembrar todos os esforços e dificuldades que o homem fez para adquirir suas posses, que agora ele perdeu novamente. Concentrar-se em sua riqueza – tanto em seu crescimento quanto em sua perda – o levou a uma vida triste e sombria, “na escuridão”, sem qualquer perspectiva de alegria. Ele pode se sentar em plena luz do dia e ainda na escuridão porque seu coração é escuridão. Ele não foi capaz de desfrutar de toda a luz. Fisicamente, ele também não se saiu bem. Sua mente e coração foram dilacerados por sua riqueza. Ele também estava chateado com a falta de resultados ou perdas no mercado de ações, com o retorno às vezes baixo de seu dinheiro. Que aborrecimento ele sentiu quando viu sua riqueza evaporar.

Eclesiastes 5:18-20 Após o esboço das amarguras da vida é o momento certo para o Pregador recordar o remédio (Ec 5:18). Nos versículos anteriores, Deus não é mencionado. Ele agora aponta um aspecto da vida que não deve ser esquecido, um aspecto que ele introduz com um chamado “aqui está o que eu vi”. Na verdade, existe uma vida diferente, igualmente exterior, real e perceptível. O Pregador “viu” que é possível “desfrutar” de todo o trabalho, não na ausência dele. Essa é uma provisão de Deus nesta curta vida. “Comer” e “beber” são expressões de companheirismo, alegria, satisfação (1 Reis 4:20). Esta é a porção dos sábios.

O abuso geral das riquezas não exclui o uso correto delas. Quando Deus o dá, podemos desfrutá-lo (Eclesiastes 5:19). Tanto os meios de comer e beber quanto a possibilidade de desfrutá-los vêm como um dom de Deus. Desfrutar de comida e bebida como resultado do trabalho árduo é possível na consciência de que Ele dá isso em Seu poder sobre isso, a um homem que tem permissão para fazê-lo em Seu poder. O fato de ser um dom de Deus significa que não está nas mãos do homem desfrutá-lo. Isso é mostrado claramente na seção anterior.

Quando Deus o dá, você pode aproveitar ao máximo sob o sol e desfrutar intensamente das coisas da terra. Ao mesmo tempo, essas coisas não têm sentido em si mesmas porque são tão fúteis quanto o vento. Também não há nenhuma vantagem neles em relação à eternidade. Não há mais nada que você possa economizar para pegar depois de morrer. A riqueza traz preocupações, inquietação e medo de perdê-la. Visto sob essa luz, o conselho do Pregador: Não acumule riquezas, mas aproveite-as. Você não sabe quanto tempo estará disponível para você porque é inútil. Você também não sabe por quanto tempo poderá aproveitá-lo porque sua vida pode acabar repentinamente.

Quem recebe o dom de Deus para desfrutar de comida e bebida, não se preocupa com seus anos de vida (Eclesiastes 5:20). A ideia não é que a vida seja tão tranquila que nada memorável aconteça, mas que a vida seja tão cheia de alegria que a vaidade da vida está quase esquecida. Aqueles que têm o suficiente não se preocupam com a questão de saber se há um benefício na riqueza. Não é completamente esquecido, mas não predomina. O pensamento de brevidade permanece, mas não causará noites sem dormir.

Eclesiastes 5.20 Deus lhe responde. O significado literal deste verbo é debatido, mas parece ser uma forma do verbo que significa “responder”. Deus mantem primeiro a pessoa ocupada e deliciada principalmente com Ele e, depois, com as dádivas que lhe concede. Para descrever como o Senhor responde ao homem a quem Ele deu riquezas e fazenda, o autor emprega as palavras alegria do seu coração. Neste caso, alegria tem dois sentidos: (1) contentamento, uma sensação interna de satisfação (Ec 2.10,26; 4.16; 9.7; 10.19), e (2) prazer, como coisas agradáveis (Ec 2.1,2,10; 7.4; 11.9).

🙏 Devocional de Eclesiastes 5

Eclesiastes 5 oferece conselhos práticos e devocionais sobre a conduta em diversas esferas da vida, desde a adoração a Deus até o uso das riquezas. O Pregador, com sua perspectiva realista, nos convida a uma reflexão sobre a seriedade das promessas, a inutilidade da acumulação material e a importância de desfrutar os dons divinos com contentamento. É um capítulo que nos chama à reverência, à integridade e à busca de um contentamento que transcende as posses.

Eclesiastes 5:1-7 (Reverência na Adoração e Integridade nos Votos)

Este bloco começa com uma exortação sobre a postura ao se aproximar da casa de Deus: “Guarda o teu pé, quando fores à casa de Deus; e chega-te mais para ouvir do que para oferecer sacrifícios de tolos”. O Pregador adverte contra a precipitação ao fazer votos a Deus, enfatizando a seriedade da palavra empenhada. É melhor não prometer do que prometer e não cumprir. Ele alerta sobre a vaidade de muitos sonhos e palavras, contrastando-os com o temor a Deus, que é o que realmente importa.

Aplicação Prática: Esta passagem nos convoca à reverência e à integridade, especialmente em nossa relação com o Criador. Para um discípulo de Jesus, isso significa abordar a adoração com um coração sincero, priorizando a escuta da Palavra e a obediência, em vez de meras formalidades ou rituais vazios. É um lembrete para não sermos “tolos” em nosso culto.

No seio familiar, a atitude de “guardar o pé” pode se traduzir em respeito e atenção ao ouvir os pais e em ser cuidadoso com as promessas feitas aos familiares. Para quem exerce a paternidade, é um chamado a ensinar os filhos a serem pessoas de palavra, que valorizam a verdade e cumprem seus compromissos, modelando a integridade.

No ambiente de trabalho, um profissional deve ser diligente e ponderado em suas promessas e compromissos, tanto com colegas quanto com clientes, pois sua palavra é sua honra. Prometer demais e entregar de menos pode ser um “sacrifício de tolos” que prejudica a reputação. Na comunidade de fé, somos exortados a levar a sério nossos votos e compromissos com Deus e com a igreja, seja no dízimo, no serviço ou na participação. O temor do Senhor deve nos guiar a ser íntegros em tudo que prometemos, como nos ensina Mateus 5:37: “Seja o seu 'sim', 'sim', e o seu 'não', 'não'; o que passar disso vem do Maligno.” Como cidadãos responsáveis, a integridade nos votos se reflete em cumprir leis, contratos e acordos, contribuindo para uma sociedade mais confiável.

Eclesiastes 5:8-12 (A Injustiça da Opressão e a Ilusão das Riquezas)

O Pregador volta a observar a injustiça e a opressão: “Se vires em alguma província que o pobre é oprimido, e que se lhe roubam o direito e a justiça, não te maravilhes disso”. Ele reconhece que, acima dos oficiais, há outros em posição superior, indicando uma cadeia de poder que perpetua a opressão. Em seguida, ele discute a natureza das riquezas: quem ama o dinheiro nunca se satisfaz com ele, e o aumento de bens muitas vezes leva ao aumento de parasitas e preocupações. O sono do trabalhador é doce, mas a fartura do rico não o deixa dormir.

Aplicação Prática: Este trecho nos confronta com a persistência da opressão e a natureza insaciável das riquezas, que raramente trazem paz. Para um cristão, a compreensão da injustiça social deve nos impulsionar à compaixão e à ação, sem nos espantarmos, mas agindo como sal e luz. O apego ao dinheiro é uma armadilha espiritual.

No convívio familiar, um filho pode ser ensinado sobre a injustiça no mundo, desenvolvendo um senso crítico e um desejo de contribuir para o bem. Para aqueles na posição de pais, é vital alertar os filhos sobre os perigos da cobiça e a ilusão de que a felicidade está na acumulação de bens. É mais importante ensinar a valorizar o trabalho honesto e o descanso que ele proporciona.

No ambiente de trabalho, o profissional que professa a fé deve ser vigilante contra a opressão e a corrupção, buscando atuar com justiça, mesmo que isso signifique ir contra a corrente. Ele reconhece que a verdadeira satisfação vem do trabalho honesto, e não de uma busca incessante por mais dinheiro que rouba o sono. Na comunidade de fé, somos chamados a ser sensíveis às injustiças que afligem os mais fracos e a buscar a simplicidade e o contentamento, não caindo na armadilha da avareza, que é idolatria (Colossenses 3:5). Como membros da sociedade, é fundamental lutar por sistemas mais justos e equitativos, sem nos maravilharmos com a impunidade, mas agindo com perseverança, confiando que Deus vê e julga todas as coisas.

Eclesiastes 5:13-17 (A Tragédia das Riquezas Perdidas e o Vazio da Acumulação)

O Pregador continua sua crítica às riquezas, mostrando a “grave calamidade”: riquezas guardadas para o mal do seu possuidor, que se perdem em má aventura, sem nada deixar para o filho. Ele enfatiza que, assim como nasceu nu, o homem voltará nu para o pó, sem poder levar consigo nada do que acumulou. A vida de quem trabalha por vaidade e preocupações é cheia de tristeza, enfermidade e aborrecimento.

Aplicação Prática: Este bloco serve como um lembrete sombrio da futilidade da acumulação egoísta e da certeza de que nada material levamos desta vida. Para um servo de Deus, isso deve nos levar a reavaliar nossas prioridades e a investir no que tem valor eterno, não nas riquezas que podem ser perdidas ou que não podem ser levadas.

No círculo familiar, um filho pode ser ensinado a não depositar sua segurança em bens materiais, que podem ser perdidos a qualquer momento, mas em valores e relacionamentos duradouros. Para aqueles que exercem a paternidade, é essencial não focar apenas na herança material, mas na herança de fé, caráter e valores que permanecerão. É um chamado a ensinar sobre a mordomia cristã e a generosidade.

No contexto profissional, o indivíduo de fé deve buscar a prosperidade, mas com uma perspectiva de mordomia, sabendo que as riquezas são temporárias.

Ele não deve se apegar a elas de tal forma que sua perda cause desespero, e deve evitar o estresse e a ansiedade excessivos pela busca incansável. Na esfera eclesiástica, esse texto nos convida a sermos generosos e a não acumular riquezas para nós mesmos, mas a usar nossos recursos para o avanço do Reino de Deus e para ajudar os necessitados, lembrando das palavras de Jesus em Mateus 6:19-21: “Não ajuntem para vocês tesouros na terra... ajuntem para vocês tesouros no céu”. Como indivíduos na sociedade, devemos ser responsáveis com nossos recursos, mas sem cair na armadilha do materialismo, buscando contribuir para o bem comum e para um legado que não se restringe a bens materiais.

Eclesiastes 5:18-20 (A Verdadeira Felicidade: Gozar o Fruto do Trabalho e Aceitar a Vida como Dom)

Apesar das observações sombrias, o Pregador oferece uma conclusão esperançosa e prática: “Eis aqui o que eu vi ser bom e agradável: que coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, durante os poucos dias da sua vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção.” Ele ressalta que é um dom de Deus desfrutar das riquezas e da capacidade de trabalhar, aceitando a porção que Deus nos dá. O homem que vive assim não se lembrará muito dos dias da sua vida, pois Deus o ocupa com a alegria do seu coração.

Aplicação Prática: Este é o ponto alto do capítulo, oferecendo uma receita para o contentamento genuíno e a alegria na vida, que vêm de aceitar os dons de Deus. Para um crente, a verdadeira felicidade está em desfrutar o que Deus nos proporciona com gratidão, vivendo o presente com alegria e sem ansiedade pelo futuro ou pelo que não possuímos.

No ambiente familiar, um filho que aprende a valorizar e desfrutar das refeições simples, do convívio e do resultado do esforço conjunto da família, encontra alegria e contentamento. Para aqueles que assumem a parentalidade, é um convite a ensinar os filhos a celebrar as pequenas vitórias, a agradecer a Deus pelo sustento e a desfrutar do tempo juntos, sem a busca constante por mais ou por luxos que não são essenciais.

No contexto profissional, a pessoa de fé deve encontrar satisfação em seu labor diário e nos frutos de seu esforço honesto. Ela desfruta do seu “salário” e das suas conquistas como um presente divino, sem se consumir por ambições que roubam a paz. Na esfera eclesiástica, somos encorajados a viver com um coração alegre, desfrutando da comunhão e dos dons que Deus nos deu, sem nos compararmos ou nos preocuparmos excessivamente com o amanhã. É a paz de quem confia na provisão divina. Como cidadãos atuantes, o contentamento nos leva a ser pessoas menos consumistas e mais agradecidas, que encontram alegria nas coisas simples da vida e contribuem para a sociedade com um espírito de gratidão, vivendo plenamente o dom da vida que Deus nos concedeu (João 10:10).

✡️✝️ Comentários de Rabinos e Pais Apostólicos

✡️ Talmude

O Talmude Bavli, Berachot 6b faz referência indireta a Eclesiastes 5:1 (“Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus...”). Rabi Yochanan interpreta este versículo como exortação à preparação espiritual antes da oração. “Guardar o pé” é entendido como alinhar a conduta antes de adentrar o espaço sagrado — não apenas fisicamente, mas em postura interior. A presença divina exige temor, como o de Moisés ao descalçar-se diante da sarça (Êxodo 3:5). Assim, o versículo é lido como um paralelo à kavanah (intenção pura) na tefilá.

O Talmude Nedarim 9a–b cita diretamente Eclesiastes 5:4 (“Melhor é que não votes do que votares e não cumprires”) para reforçar a severidade dos votos. Rabi Meir afirma: “É melhor calar-se e nada prometer a Deus do que prometer e não cumprir.” O voto é uma corda espiritual que, se quebrada, traz julgamento. Por isso, o Talmud desaconselha votos precipitados, a menos que haja real necessidade e sincero propósito de cumprimento.

Em Talmude Pesachim 119a, quando se debate sobre os ricos que não usufruem de suas posses, é citado Eclesiastes 5:13–14 (“Há um mal doloroso que vi debaixo do sol: riquezas guardadas para seu dono para seu mal... e aquelas riquezas perecem por algum mau negócio”). Os rabinos zombam gentilmente de pessoas que ajuntam com obsessão e morrem sem gozar o fruto. Um provérbio talmúdico diz: “Nem mesmo metade de seus desejos o homem realiza antes de ser chamado de volta.”

✡️ Mishná

A Mishná Avot 3:15 apresenta um paralelo temático com Eclesiastes 5:2 (“Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra diante de Deus”). A Mishná afirma:

“Todos os teus atos sejam por amor a Deus; e não digas algo que não pode ser ouvido — pois teus lábios testemunharão contra ti.”

O uso descuidado da fala — tanto no culto quanto na vida comum — é visto como violação da dignidade da alma. Em harmonia com isso, Avot 1:17 diz: “Não é o discurso o principal, mas a ação.” Isso responde diretamente à vaidade dos votos feitos para impressionar, sem intenção sincera de cumprir.

Já em Avot 4:1, há eco de Eclesiastes 5:10 (“Quem ama o dinheiro jamais se fartará de dinheiro...”) na frase de Ben Zoma: “Quem é rico? Aquele que se contenta com o que tem.” Esta é a antítese espiritual da obsessão por riqueza que Eclesiastes denuncia. O homem sábio não busca mais do que o necessário; ele busca paz.

✡️ Zohar

O Zohar, Vayikra 16a, interpreta Eclesiastes 5:1–2 como um código para os mundos superiores. “Guardar o pé” significa alinhar as sefirot inferiores com as superiores antes de qualquer ascensão espiritual. A entrada na “casa de Deus” representa o acesso ao templo celeste — o Heikhalot — que exige purificação. O falar precipitado diante do Eterno é, no nível cabalístico, um dano ao canal entre Yesod e Malkhut, pois a palavra não mediada é como uma centelha sem recipiente.

No Zohar, Terumah 161b, o trecho “o sonho vem da multidão dos negócios” (Ec 5:3) é lido misticamente como advertência contra o ruído interior gerado pelo acúmulo de desejos. Para o Zohar, o verdadeiro sonho espiritual é nevuá (profecia), enquanto o “sonho do muito trabalho” é confusão da alma — distorção da luz interior causada por acúmulo de matéria e dispersão da mente.

Mais adiante, em Zohar II, 235b, Eclesiastes 5:15 (“Como saiu do ventre de sua mãe, nu tornará...”) é interpretado como prova de que nada no plano material acompanha a alma. Os cabalistas associam esse retorno nu ao julgamento da alma no Beit Din Shel Ma’alah (Tribunal Celestial), onde apenas as mitvot e a pureza da intenção pesam na balança:

“O homem vem sem roupa, sem prata, sem nome. Se não tecer vestes de luz com suas ações, retornará nu como veio.”

Eclesiastes 5 denuncia a vaidade espiritual do culto formal, o risco do falar inconsequente diante de Deus, e a armadilha da busca ilimitada por dinheiro. O Talmud oferece advertências práticas: melhor silêncio que voto vazio; melhor temor do que ostentação. A Mishná transforma esses princípios em máximas de conduta ética: fale pouco, cumpra muito; seja sóbrio na fala e generoso na ação. O Zohar revela as dimensões ocultas desses temas, vendo o culto sincero como realinhamento das forças cósmicas e a obsessão pelo ouro como escuridão da alma.

O capítulo, lido à luz da tradição rabínica, é um convite à reverência: a espiritualidade verdadeira não está no volume das palavras nem no peso das riquezas, mas na pureza do coração, na sinceridade da devoção e na luz que emana de atos feitos com temor e amor ao Criador.

Comentários sobre Eclesiastes 5:1

✝️ Gregório, o Milagroso (270 d.C.):

“Além disso, é bom usar a língua com moderação e manter um coração calmo e equilibrado no exercício da fala. Pois não é correto expressar em palavras coisas tolas e absurdas, ou tudo o que ocorre à mente; mas devemos saber e refletir que, embora estejamos longe do céu, falamos aos ouvidos de Deus, e que é bom para nós falar sem ofensa. Pois, assim como sonhos e visões de vários tipos acompanham os múltiplos cuidados da mente, assim também a conversa tola está ligada à tolice. Além disso, cuide para que uma promessa feita com um voto seja cumprida de fato. Isso também é próprio dos tolos: eles não são confiáveis. Mas seja fiel à sua palavra, sabendo que é melhor para você não votar nem prometer fazer nada, do que votar e depois não cumprir.

E você deve, por todos os meios, evitar a enxurrada de palavras vis, visto que Deus as ouvirá. Pois o homem que faz dessas coisas o seu estudo não obtém delas mais benefício do que ver suas ações anuladas por Deus. Pois assim como a multidão de sonhos é vã, assim também a multidão de palavras. Mas o temor de Deus é a salvação do homem, embora raramente seja encontrado. Portanto, não deveis admirar-vos ao ver os pobres oprimidos e os juízes interpretando mal a lei. Mas deveis evitar a aparência de que superais aqueles que estão no poder.

Pois, mesmo que isso se prove ser o caso, dos terríveis males que vos sobrevirão, a maldade por si só não vos livrará. Mas, assim como a propriedade adquirida pela violência é uma posse muito nociva e ímpia, assim também o homem que cobiça o dinheiro nunca encontra satisfação para sua paixão, nem a boa vontade de seus vizinhos, mesmo que tenha acumulado a maior riqueza possível. Pois isso também é vaidade. Mas a bondade alegra grandemente aqueles que a possuem e os torna fortes, concedendo-lhes a capacidade de ver através de todas as coisas. E também é uma grande questão não se deixar absorver por tais ansiedades: pois o pobre, mesmo que seja escravo e incapaz de encher o estômago fartamente, desfruta ao menos do agradável refresco do sono; mas a cobiça pelas riquezas é acompanhada por noites sem dormir e ansiedades mentais.

E o que poderia ser mais absurdo do que, com muita ansiedade e trabalho, acumular riquezas e guardá-las com zelo, se ao mesmo tempo se está apenas mantendo para si a ocasião de incontáveis males? E essa riqueza, além disso, deve necessariamente perecer em algum momento e ser perdida, quer aquele que a adquiriu tenha filhos ou não; Jó 20:20 e o próprio homem, por mais relutante que seja, está condenado a morrer e retornar à terra na mesma condição em que lhe coube um dia vir a existir. Jó 1:21; 1 Timóteo 6:7.

E o fato de estar destinado a deixar a terra de mãos vazias tornará o mal ainda mais doloroso para ele, pois não considera que um fim está designado para sua vida semelhante ao seu início, e que ele trabalha sem proveito algum, e trabalha mais para o vento, por assim dizer, do que para o avanço de seu próprio interesse real, desperdiçando toda a sua vida em concupiscências profanas e paixões irracionais, e, além disso, em problemas e dores. E, para resumir, seus dias são trevas para tal homem, e sua vida é tristeza. No entanto, isso é bom em si mesmo e de forma alguma deve ser desprezado. Pois é um dom de Deus que o homem possa colher com alegria os frutos de seu trabalho, recebendo assim posses concedidas por Deus e não adquiridas à força. Pois nem tal homem é afligido por problemas, nem é, na maior parte, escravo de maus pensamentos; mas ele mede sua vida por boas ações, sendo de bom coração em todas as coisas e regozijando-se no dom de Deus.”

Comentários sobre Eclesiastes 5:2

✝️ Evágrio Pôntico (399 d.C.)

““Não sabemos orar como convém.” Ele não está falando [sobre oração] neste ponto, mas sim emitindo uma ordem para não teologizar irrefletidamente. De fato, qualquer pessoa que pertença a este mundo material e cujos pensamentos tenham origem neste mundo não pode falar sobre Deus sem erro — ou sobre outros assuntos que escapam aos sentidos. É por isso que ele diz: “E sejam poucas as vossas palavras”, isto é, devem ser verdadeiras e bem escolhidas. Penso também que “poucas” significa o mesmo que nos seguintes textos: “Melhor é o pouco com justiça do que a abundância de riquezas com pecadores”. E: “Melhor é receber o pouco com justiça”. Mas para aqueles que não observam isso, ele diz: “Pois, assim como surge o sonho quando há muitos cuidados, assim é a voz do tolo com muitas palavras”. … Ele também fala sobre “a voz do tolo”, que inventa palavras falsas e engana a alma. Esta é “a voz do caluniador e do difamador”. Ele também é capaz de aplicar isso à voz do tolo que “pela multidão de palavras não escaparás do pecado”.”

Comentários sobre Eclesiastes 5:4

✝️ Cesário de Arles (542 d.C.):

“De nada adianta alguém dizer que possui fé se negligencia cumprir em atos o que promete em palavras. Como dizem as Escrituras: “Se você votou alguma coisa a Deus, não adie o cumprimento. Pois uma promessa infiel e tola o desagrada. É muito melhor não fazer voto do que, depois de fazer voto, não cumprir a promessa.” Para que possamos compreender esses fatos claramente em nossas relações com nossos servos, deixe alguém me dizer se é suficiente para ele que seu servo diga o dia todo que é seu senhor e não cesse de elogiá-lo com louvores, mas se recuse a fazer o que foi ordenado. Portanto, se palavras sem ações não nos agradam, quanto mais a fé sem obras pode deixar de nos beneficiar aos olhos de Deus? Acima de tudo, devemos temer que alguém acredite tão fortemente que receberá a misericórdia de Deus a ponto de não temer sua justiça. Se uma pessoa faz isso, ela não tem fé. Da mesma forma, se ela teme tanto a justiça de Deus a ponto de desesperar de sua misericórdia, não há fé. Visto que Deus não é apenas misericordioso, mas também justo, creiamos em ambos. Não desesperemos de sua misericórdia por temermos sua justiça ou por amarmos tanto sua misericórdia a ponto de desconsiderá-la. Portanto, não devemos ter esperanças erradas nem nos desesperarmos perversamente.”

Comentários sobre Eclesiastes 5:9

✝️ Dídimo, o Cego (398 d.C.):

“Quanto à interpretação literal: Ninguém é senhor, dono e governante de um campo em pousio, onde crescem espinhos e cardos; mas o campo bem lavrado tem um rei. Por isso, o dono é chamado de rei.… Quando os defensores do ensinamento de que a providência de Deus governa tudo argumentam que existe providência, geralmente dizem: Assim como uma trama mostra claramente que há um tecelão — quer ele seja visto ou não —, da mesma forma aquele que vê um campo bem lavrado tem a impressão de que há alguém que o lidera e governa.… Quando, portanto, você vê uma alma bem lavrada, que semeia com lágrimas e está pronta para colher com gritos de alegria, então este campo lavrado tem um rei, o Logos, que lidera, governa e reina.”

Comentários sobre Eclesiastes 5:10

✝️ Gregório, o Dialogista (604 d.C.):

“Quando estiverem decididos a acumular dinheiro, ouçam o que está escrito: “O avarento não se farta de dinheiro, e quem ama as riquezas não colherá delas o fruto”. Pois, de fato, colheria fruto delas se, sem amá-las, quisesse distribuí-las bem. Mas quem, em sua afeição por elas, as retém, certamente as deixará para trás sem fruto. Quando ansiarem por se encherem de uma vez com toda espécie de riqueza, ouçam o que está escrito: “Aquele que se apressa em enriquecer não será inocente”. Pois, certamente, aquele que se esforça para acumular riquezas é negligente em evitar o pecado; e, sendo apanhado como os pássaros, enquanto olha avidamente para a isca das coisas terrenas, não se dá conta do laço do pecado em que está sendo estrangulado.”

Comentários sobre Eclesiastes 5:12

✝️ Ambrósio de Milão (397 d.C.):

“Eclesiastes vê que as riquezas são guardadas para o mal por quem as possui, pois sua perda causa grande ansiedade e inquietação. De fato, elas estão perdidas, pois são deixadas aqui e não podem ser de nenhuma vantagem para alguém que está morto. E assim, o morto sentiu ansiedade em relação a elas e não conseguiu encontrar descanso; ele deixou o que lhe traria vergonha e não levou consigo o que poderia guardar. Ele era muito diferente daquele de quem está escrito: "Bem-aventurado o homem que delas satisfez o seu desejo; ele não será confundido quando falar com seus inimigos à porta". Sua herança é o Senhor, sua recompensa vem da descendência da Virgem Maria, e ele é exaltado com louvores na manifestação da sabedoria.”

Comentários sobre Eclesiastes 5:19

✝️ Dídimo, o Cego (398 d.C.):

“Esta é a interpretação literal. Se alguém tem muito dinheiro, se tem muita comida boa e muito vinho, ainda assim não pode comer e beber tudo. Mas ele sem dúvida tem um dom: tudo o que pode consumir, se tiver comida suficiente para se satisfazer e bebida suficiente, isso é um dom de Deus. Mas quando alguém come e bebe mais do que o necessário, então não é um dom de Deus, mas um dom do desejo. Quanto à interpretação espiritual: Deus dá sabedoria junto com as riquezas e capacidades inerentes à sabedoria, isto é, os insights da sabedoria, para que as pessoas comam e bebam das coisas que receberam: o pão da sabedoria, sua água, o vinho, que ele misturou em um cálice. Este é um dom de Deus. Se alguém toma o espiritual da maneira correta, é, finalmente, a graça de sua sorte.”

Obs: Os comentários foram tirados diretamente da maior referência de comentários bíblicos dos Pais Apostólicos, o site Catena Bible.

📚 Comentários Clássicos Teológicos

📖 Matthew Henry (1662–1714)

Matthew Henry vê Eclesiastes 5 como uma exortação profunda ao temor reverente a Deus, especialmente no contexto do culto. Ele entende que os primeiros versículos (vv.1–7) tratam da reverência no templo — “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus” (v.1) —, o que para ele significa aproximar-se de Deus com coração humilde, mente atenta e atitude submissa. Henry comenta que o “sacrifício de tolos” (זֶבַח כְּסִילִים, zevaḥ kesîlîm) não é necessariamente idolatria grosseira, mas uma adoração insensata, formalista ou sem entendimento. Ele enfatiza que falar muito (vv.2–3) — inclusive orar ou prometer precipitadamente — revela um espírito leviano diante da majestade divina.

Nos versículos 4–7, Henry adverte contra votos impensados. “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo” (v.4) mostra que Deus leva a sério a palavra empenhada, especialmente no culto. Ele compara os votos precipitados aos de Jefté (Juízes 11), mostrando que mais vale não prometer do que prometer e não cumprir. O v.7 — “na multidão das palavras há vaidade” — fecha a seção litúrgica do capítulo com uma exortação: tema a Deus! Para Henry, isso resume o espírito de adoração verdadeira.

A partir do v.8, Henry observa uma transição para temas sociais e econômicos. A injustiça dos altos escalões do poder não deve surpreender (v.8), pois há “um mais alto que atenta por cima deles”. Henry interpreta isso como uma consolação teológica: Deus é juiz sobre todos os juízes, e nada escapa a seus olhos.

Os vv.10–17 tratam da futilidade das riquezas. Henry analisa que o amor ao dinheiro nunca é satisfeito (v.10), pois a ganância cresce com os bens. Ele comenta o v.11 — “quando os bens se multiplicam, também se multiplicam os que os comem” — como uma advertência contra o orgulho das posses, que muitas vezes trazem mais estresse do que conforto. O v.12 destaca a paz do trabalhador simples, em contraste com a insônia do rico.

Henry lê os vv.13–17 como uma denúncia de males graves: riquezas guardadas para o mal de quem as possui (v.13), perdas súbitas (v.14), a nudez com que se nasce e morre (v.15). A mensagem é clara: sem Deus, o acúmulo leva à frustração. Ele encerra com o v.20 — “porque Deus responde com alegria ao coração dele” — como uma promessa de contentamento ao homem que teme a Deus e goza do que tem, sabendo que tudo é dádiva.

Fonte: Matthew Henry Commentary on Ecclesiastes 5

📖 John Gill (1697–1771)

John Gill começa sua exposição de Eclesiastes 5 destacando que o “guardar o pé” (v.1) é uma metáfora para preparar-se com reverência para encontrar-se com Deus. A “casa de Deus” é o templo em Jerusalém, e Gill entende que se aplica hoje ao lugar de culto ou à presença de Deus em qualquer assembleia dos santos. Ele observa que “chegar-se para ouvir” (v.1) é preferível ao “sacrifício de tolos”, que ele interpreta como rituais mecânicos sem conhecimento.

No v.2, Gill analisa o verbo תְּבֹהֵל (tevohēl, “apresses”) como uma advertência contra a impulsividade na fala religiosa. Deus está nos céus — infinitamente acima — e o homem deve se lembrar de sua posição terrena. Ele relaciona isso à oração, afirmando que deve ser sóbria, consciente e fundamentada. O v.3 — “dos muitos negócios vêm os sonhos” — é interpretado como uma analogia: assim como atividades intensas geram sonhos confusos, muitas palavras no culto produzem tolices.

Sobre votos (vv.4–6), Gill nota que os votos eram voluntários, mas uma vez feitos, exigiam cumprimento. Ele compara a advertência com Deuteronômio 23:21–23 e destaca que negligenciar um voto é um pecado grave, especialmente se feito em público. A expressão “não consintas que a tua boca te faça pecar” (v.6) é, para ele, um apelo à sobriedade no discurso espiritual.

O v.7 conclui com “teme a Deus” — uma síntese sapiencial de toda a seção. Gill afirma que esse temor é o fundamento do culto verdadeiro e da vida ética. Nos vv.8–9, Gill entende que a corrupção nas altas esferas do poder é comum, mas não definitiva. Há “um que é mais alto que os altos” — uma referência ao Deus que observa todas as camadas do governo humano.

A partir do v.10, ele analisa a vaidade da riqueza: quem ama o dinheiro não se farta, e bens materiais só aumentam as preocupações. O v.12 — “o sono do trabalhador é doce” — é, segundo Gill, uma celebração da modéstia piedosa. Em contraste, o rico “não deixa dormir a fartura” — expressão que ele interpreta como inquietação causada pelo acúmulo de bens.

Os vv.13–17 falam da tragédia das riquezas mal guardadas. Gill observa que perder tudo “num mau negócio” mostra a instabilidade do mundo. Ele destaca que o v.15 — “como saiu do ventre de sua mãe... assim volta” — ecoa Jó 1:21 e reforça a transitoriedade da existência.

O capítulo termina com a defesa do gozo moderado da vida (vv.18–20). Gill vê nisso uma doutrina equilibrada: é bom aproveitar o trabalho e o alimento com gratidão, sabendo que tudo é dom de Deus. O v.20, que fala de Deus “responder com alegria ao coração”, ele entende como uma concessão especial da providência — uma alegria interior dada por Deus àquele que confia nele.

Fonte: John Gill's Exposition of the Entire Bible on Ecclesiastes 5

📖 Albert Barnes (1798–1870)

Albert Barnes interpreta Eclesiastes 5 como uma advertência à falsa religiosidade e um apelo à moderação econômica. No v.1 — “guarda o teu pé” — ele vê uma metáfora para a preparação reverente para o culto. A frase “sacrifício de tolos” (v.1) é, segundo ele, uma referência a atos religiosos hipócritas. O v.2 adverte contra a verbosidade na oração: “Deus está nos céus, e tu na terra” é, para Barnes, um lembrete da distância ontológica entre Criador e criatura.

Ele vê nos vv.3–7 uma crítica à confusão mental causada pelo ativismo espiritual ou pela religiosidade apressada. O v.4 — “cumpre o que votares” — é comentado com base na tradição mosaica (cf. Nm 30; Dt 23). Para Barnes, votos devem ser raros, ponderados e cumpridos.

Do v.8 em diante, Barnes passa à esfera social. Ele observa que o v.8 — “se vires opressão do pobre... não te maravilhes” — descreve uma cadeia de autoridades corruptas. Mas há um Deus supremo que observa todas essas camadas de poder. O v.9 é interpretado de forma ambígua: pode ser um comentário cínico ou uma afirmação positiva sobre o benefício do trabalho agrícola, “o rei serve-se do campo”.

Nos vv.10–17, Barnes destaca a frustração dos que buscam realização nas riquezas. Ele observa que a repetição do tema da insônia do rico (v.12) e a perda súbita dos bens (v.14) formam um argumento contra a idolatria financeira. O v.15 — “nu saiu... e assim voltará” — é uma declaração definitiva da vacuidade dos bens terrenos. Para ele, esses versículos preparam o leitor para valorizar a verdadeira dádiva: a paz com Deus.

O v.18–20 é visto como uma moderação do pessimismo: o gozo do trabalho é lícito e agradável, se reconhecido como presente divino. O v.20, que fala do coração alegre, é interpretado por Barnes como um sinal de bênção espiritual que livra o homem da ansiedade existencial.

Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Ecclesiastes 5

📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)

Keil & Delitzsch oferecem uma leitura altamente filológica de Eclesiastes 5, começando pelo v.1, que inicia com שְׁמֹר רַגְלְךָ (shemor raglĕkha, “guarda o teu pé”). Eles observam que “guardar o pé” é uma expressão idiomática que implica atenção ao caminho — aqui, o modo de se aproximar da presença divina. O “sacrifício de tolos” é lido como culto formalista, e o contraste com “ouvir” aponta para a importância da obediência sobre o ritual.

No v. 2, eles destacam a construção poética entre “Deus nos céus” e “tu na terra”, e o verbo תְּבֹהֵל (tevohēl) como advertência contra pressa na oração. O v. 3 estabelece um paralelismo entre “sonho por muito trabalho” e “voz do tolo por muitas palavras” — comparando confusão mental com verborragia religiosa.

Os vv. 4–6 trazem, segundo eles, uma ética do discurso sagrado: votos precipitados são pecados. O termo שַׁלֵּם (shallem, “cumprir”) é analisado em seu uso legal e ritual — o cumprimento do voto é dever inescapável. O v. 6 — “por que irias à casa de Deus para dizer que foi erro?” — é interpretado como advertência contra perjuro. O v.7 conclui com o mandamento sapiencial: “teme a Deus”.

Nos vv. 8–9, eles analisam a estrutura escalonada do poder: um “alto sobre outro alto” até o Altíssimo. O v.9 tem leitura ambígua no hebraico: a expressão בֶּחָרוּץ נֶעֱבָד שָׂדֶה (beḥārûṣ neʿebād sādeh) pode significar que até o rei depende da lavoura, ou que o sistema político serve aos interesses econômicos.

Nos vv. 10–17, Keil & Delitzsch fazem uma leitura sapiencial da futilidade das riquezas. A expressão לֹא יִשְׂבַּע הַכֶּסֶף (lōʾ yisbaʿ hakkésef, “a prata não satisfaz”) indica uma busca insaciável. Eles observam que o v. 13 — “riquezas guardadas para o seu próprio mal” — mostra o risco do acúmulo sem propósito. O v. 15 — “como veio... assim vai” — retoma o princípio da transitoriedade em linguagem quase litúrgica.

O v. 18–20 conclui com a aceitação serena da vida: “é bom e agradável” — טוֹב אֲשֶׁר יָפֶה (ṭov ʾăšer yāfēh), expressão que combina ética e estética. Eles comentam que o verbo נָתַן (nātan, “dar”) aparece três vezes no v.19 — indicando que o contentamento é dom sobrenatural. O v.20 é lido como uma bênção: Deus mantém a mente do justo longe das ansiedades, com alegria interior.

Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Ecclesiastes 5

✝️ Comentário Reformado

A Adoração Sincera, os Votos e a Efemeridade da Riqueza

Em Eclesiastes 5:1, o Pregador nos aconselha a “guardar” a conduta, a evitar a religião e a devoção hipócritas ao nos aproximarmos da “casa de Deus”, o Templo construído por Salomão (1Rs 5–6). O Templo não era apenas um local de sacrifício, mas também de ensino. A exortação é para “ouvir”, o que significa não desprezar a Palavra de Deus e a pregação dela, mas sim digeri-la e ruminá-la internamente. O texto alerta contra o “sacrifício de tolos”, que consiste em ofertas rasgadas, doentes, coxas e sem valor (ver pp. 170–71; cf. Pr 21:3, 7; Is 1:11–15; Jr 6:20), algo que é uma abominação para o Senhor. Aqueles que enganam a Deus, enganam as suas próprias almas. Lutero, ao refletir sobre essa passagem, comenta: “Quando pessoas insensatas ouvem esta doutrina, de que devemos ter um coração tão quieto e pacífico que entregamos tudo a Deus, elas inferem: ‘Se tudo está na mão de Deus, não faremos nenhuma obra.’ Da mesma forma, outros pecam na direção oposta, sendo excessivamente solícitos e querendo medir e controlar tudo de todas as maneiras. Mas deve-se viajar na estrada real. Trabalhemos duro e façamos tudo o que pudermos de acordo com a Palavra de Deus; não devemos, no entanto, medir o trabalho com base em nossos esforços, mas entregar todo esforço, plano e resultado à sabedoria de Deus. Portanto, Salomão parece, para mim, estar antecipando uma objeção aqui e dirigindo uma exortação salutar àqueles que não estão viajando no caminho do meio, mas são ou muito negligentes em seu trabalho ou muito preocupados com ele. Ele os aconselha a se deixarem governar pela Palavra de Deus e, enquanto isso, a trabalhar diligentemente” (Luther’s Work, vol. 15, pp. 74–75).

O versículo 5:2 aborda a importância de “uma palavra diante de Deus”, referindo-se a um voto (ver nota, Nm 30:2; cf. Mt 5:33–37; 15:8–9; e vv. 4–6). Sobre a expressão "diante de Deus", Lutero comenta:

Isto é, na casa de Deus, naquele lugar onde a Palavra é ensinada, onde Deus é adorado e pregado — ali você não deve falar precipitadamente. Em outras palavras, você não deve ser o mestre e não deve ensinar, mas deve permitir que lhe ensinem. Os ímpios, porém, depois de ouvirem a Palavra, imediatamente se queixam e murmuram, alguns à esquerda e outros à direita. À esquerda, os papistas lutam, os sectários à nossa direita. Ambos são rápidos em falar diante de Deus, pois querem provar que suas doutrinas são divinas. Portanto, você não deve seguir a sua própria palavra ou a de qualquer outra pessoa, mas deve ouvir o Senhor, como também diz Tiago (Tiago 3:1): “Não sejam muitos de vocês mestres.” O significado, portanto, é este: “Não seja seu próprio mestre nem de qualquer outra pessoa, e não ouça a si mesmo nem a qualquer outra pessoa, mas somente a Palavra de Deus.” “Vocês têm um só Mestre, Cristo” (Mateus 23:10), que está no céu. “Ouvi-o” (Mt 17,5). (Ibid., p. 77)

A menção do “céu... terra” por Gregório de Nissa ilustra a vasta distância entre o divino e o humano: “Ele mostra, penso eu, … pela distância entre eles, quão longe a natureza divina está acima das especulações da razão humana … tão alta acima do cálculo terreno quanto as estrelas estão acima do alcance de nossos dedos; ou melhor, muitas vezes mais do que isso” (NPNF2 vol. 5, p. 260).

A pressa do trabalho, mencionada em Eclesiastes 5:3, pode perturbar o sono. Na oração, um tolo é reconhecido pela multiplicidade de palavras (cf. 5:7; Pr 10:8, 10). Em 5:4–6, o “voto” (do hebraico neder) é enfatizado como uma oferta que expressa gratidão a Deus (Nm 21:1–3; Sl 116:14; Na 1:15). O “pagamento” de um voto, que envolvia a oferta de um animal (cf. Lv 27:9–13), é crucial, pois fazer um voto e não cumpri-lo acarreta a culpa de traição e perjúrio, sendo, na verdade, mentir a Deus (ver p. 7; cf. Dt 6:13; Hb 6:16). No seu comentário resumindo os vv. 4-6, o Reformador diz:

Esta passagem tem sido bastante difundida na Igreja e no reino do papa, e é quase a única com a qual eles incentivam e apoiam os votos monásticos. 6 Já falamos sobre este assunto mais detalhadamente em outro lugar. Não discutimos se os votos devem ser pagos ou não, mas se o que eles discutem são verdadeiramente votos. Jerônimo e Lira concordam que um voto deve ser aquele que é possível e que redunda em honra de Deus. Eles chamam de voto tolo algo como pegar um pedaço de palha do chão ou coçar a cabeça com o dedo. 8 Moisés também lista os tipos de votos e quais coisas podem ser prometidas, a saber, um campo, uma casa, comida, roupas, nosso próprio corpo, todos os quais estão em nosso poder (Lv 27:14-25). Assim, os judeus prometiam sua alma ou corpo aos sacerdotes, prometendo servi-los em algum momento definido. Além disso, Moisés não tem voto perpétuo, exceto por um que ele chama de anátema, a saber, o voto de morte, no último capítulo de Levítico (Lv 27:28-29); tudo o que tivesse sido prometido deveria ser morto, fosse dentre seres humanos ou gado, como no caso de Jefté em Juízes 11. Portanto, se os monges quisessem fazer tal coisa com votos perpétuos, eles logo seriam estrangulados, isto é, se quisessem defender seus votos com base em Moisés. Caso contrário, todos os votos devem ser possíveis e temporários, como você poderia, por exemplo, prometer seu corpo ao Senhor, ou um campo, um prado, uma vestimenta por um certo tempo, para que um sacerdote ou um levita os usasse. Esse método de voto era muito valioso para os levitas, para prover suas necessidades com mais facilidade e conforto. Deus estabeleceu regras sobre essas coisas a fim de prover suas necessidades dessa maneira. Mas os nossos votos são completamente tolos, para não dizer perversos, porque fazemos votos de pobreza e obediência, que são ordenados no Evangelho e se aplicam a todos os cristãos. Mas o voto de virgindade é impossível; portanto, com base no julgamento. (Ibid., p. 79)

No versículo 5:6, “o mensageiro” (do hebraico mal’ak, cf. Ml 2:7) refere-se ao sacerdote, que deve ensinar a Lei de Moisés (Lv 10:11; Sf 3:4; Ag 2:11) como alguém através de quem o povo poderia inquirir a Deus. A menção ao mensageiro, que na tradução do texto hebraico de Lutero consta "anjo", ele diz:

Isto porque Deus governou este povo através da mediação de anjos, e é dito em Gálatas (3:19) que a Lei “foi ordenada por anjos através de um intermediário”. Moisés diz ao povo (Êx 32:34): “O meu anjo irá adiante de vós”, recomendando-lhes o anjo como o guia do povo. Desta forma, Salomão diz: “Não digais diante do anjo”, ou seja, daquele a quem Deus deu como nosso guia. “Diante do anjo”, no entanto, é o mesmo que “diante de Deus”. Para que Deus não se irrite com a vossa voz, isto é, cuidai para que não sejais um desprezador do vosso voto e para que não vos torneis infelizes em tudo o que fizerdes. (Ibid.,p. 81)

A menção de “sonhos” em 5:7 remete ao versículo 3 e a Jeremias 23:25–40, sugerindo que muitos sonhos e palavras são vãos. Aludindo a isso, o Pai da Reforma comenta:

Em seguida, ele conclui toda esta passagem quase da mesma maneira e com quase a mesma afirmação acima: apenas um sonho e futilidade. Pois onde há muitos cuidados, muitos sonhos se seguem; e onde há muitos conselhos e disputas, há muita futilidade. Portanto, você teme a Deus, contenta-se com a Palavra e deixa que Ele governe por Seu conselho. Pois Ele está no céu, e você na terra, como foi dito acima. Você realmente trabalha, mas deixa que Ele governe seus trabalhos e que Ele lhe conceda sucesso. Pois o que você realiza com todas as suas palavras, planos e argumentos, senão aflição? Pois onde há muitas palavras, há muitos sonhos, e vice-versa. Este é um princípio universal, que é simplesmente convertido: onde há muitos pensamentos ou disputas, há muitos sonhos; e onde há muitos sonhos, há também muitas palavras e disputas. Portanto, tudo se resume a isto: Teme a Deus, isto é, reverencia-O e considera-O em seu coração. Dessa forma, Paulo ordena à esposa que tema o marido (Ef 5:33), isto é, que o reverencie de tal maneira que não cometa facilmente algo que o ofenda. É assim também que devemos temer a Deus; isto é, devemos reverenciá-Lo e não fazer nem cometer nada que O ofenda. Salomão quer dizer: “Não concordes nem com os que são excessivamente ansiosos, nem com os que são excessivamente negligentes. Assim, não serás nem um desprezador perverso, nem um conselheiro e investigador presunçoso.” (Ibid., p. 82)

Em resumo, de Eclesiastes 5:1–7, percebe-se que os ímpios e tolos pecam contra Deus por meio de atos de complacência religiosa, devoção vazia e votos não cumpridos. No entanto, apesar de uma religião superficial e de votos sem significado, Deus é fiel e justo. Mediante nossa confissão, Ele nos absolverá de nossos pecados por causa de Cristo. • Ó Deus misericordioso e eterno, Tu nos falas das maiores e mais elevadas coisas, da vida eterna e da bem-aventurada inocência em Teu reino dos céus. Somos pó e cinzas e necessitamos de Tua Palavra constantemente. Concede-nos Tua graça e ilumina-nos com Tua verdade. Amém.

Injustiça, Riqueza e a Verdadeira Satisfação

Em Eclesiastes 5:8, o conselho é não se “admirar” com a opressão e a perversão da justiça, pois estas residem nos corações de pessoas pecadoras (cf. Jo 2:24–25). Os olhos de Deus estão sobre os auto exaltados (cf. Jó 24:22–24). A ideia de que “vigiados por um superior” implica que presidentes, governadores, senadores, juízes, etc., são necessários para a boa ordem e todos são responsáveis perante Deus. Sobre isso, Lutero nos diz:

Ele quer tranquilizar nossos corações. “Não se surpreendam”, diz ele, “se virem tais coisas, mas fiquem contentes. Vocês não vão consertar essas coisas, pois não são capazes nem de dar auxílio nem de aconselhar. Portanto, temam a Deus e entreguem-nas a Ele. Assim vocês terão paz. Quem não fizer isso não terá nada além de aflição.” Pois o alto funcionário é vigiado por um superior. Isto é, não se atormentem se não puderem mudar as coisas, mas deixem isso para um juiz superior. O que uma pessoa inferior não pode fazer, ela deve considerar como pertencente a uma pessoa superior. Se o príncipe é mau, submetam-se ao Príncipe superior, Deus. Assim, se eu ficar muito aborrecido por causa dos sacramentários e das seitas que estão perturbando a igreja de Deus e contaminando o Evangelho, o que farei? Portanto, entrego o assunto a Deus, o Juiz, em cujas mãos tudo está. Embora eu mesmo lamente que almas estejam sendo enganadas e desviadas tão miseravelmente, não posso fazer mais nada a não ser opor-me a elas, de acordo com meu ofício, e dizer: “Parem com isso! Já houve erro suficiente. Voltem a si!”. Depois de dar este conselho à outra pessoa, você deve entregar o assunto a Deus, de acordo com a declaração de Paulo (Tito 3:10): “Rejeita o homem herege, depois da primeira e segunda admoestação”; e novamente (2 Timóteo 3:13): “Os homens maus irão de mal a pior” e não escaparão ao seu juiz. Cada um tem seu juiz. Se o assessor não o fizer, o oficial de justiça ou o capitão o farão. E se este não o julgar, o príncipe o fará. E se o príncipe também o negligenciar, o imperador o fará. Se o imperador desprezar seu dever, Deus não o desprezará nem o negligenciará. É isso que ele quer dizer quando afirma: “Acima destes há um rei sobre toda a terra”. Salomão não tinha nenhum magistrado superior ao rei. “Deixe o rei realizar o que você não pode.” (Ibid., pp. 84-85)

A triste realidade de que líderes pecadores abusam da autoridade que lhes foi concedida por Deus, acumulando em vez de servir (cf. Sl 68:6; Lc 12:15), é exposta em Eclesiastes 5:9. O “ganho” se refere à renda obtida na terra para o conforto da vida humana. Em uma economia agrícola, “campos cultivados” eram de suma importância.

Os versículos 5:10-11 alertam que os desejos corruptos são insaciáveis. Devemos considerar a diferença entre necessidade e desejo (cf. Mt 6:19–21, 24–34; 1Tm 6:9–10). Grande riqueza traz maior ansiedade, e quanto mais se tem, mais se cobiça.

A verdadeira tranquilidade, em Eclesiastes 5:12, é encontrada no Senhor, não na abundância (cf. Lc 12:13–21). O acúmulo de riqueza pode, ironicamente, levar ao “próprio prejuízo” (5:13), pois convida a charlatães, ao pecado, ao orgulho e ao amor ao dinheiro, afastando a pessoa do Senhor e de Sua Palavra. Ampliando nosso entendimento, Lutero aponta:

Isto se refere ao que ele havia dito no primeiro capítulo (1:8): “O ouvido não se enche de ouvir, nem o olho se farta de ver”. Pois aqui se trata da vaidade do coração e dos desejos humanos. Um mundo não era suficiente para Alexandre. Assim é em todos os outros assuntos, em honras, riquezas e coisas semelhantes. Pois a vida miserável do homem é organizada de tal forma que o avarento é um exemplo para todos. Ele tem dinheiro e ainda não está satisfeito. De fato, ele não desfruta das coisas que estão presentes, mas apenas tem sede de outro dinheiro que ainda não está presente. Portanto, o que é um avarento senão um coração que se distrai com o que não tem e se afasta do que tem? Isso, então, é vaidade do coração. Não seria preferível contentar-se com as coisas que estão presentes e abandonar a ansiedade pelas coisas que estão no futuro? Os soldados são mais felizes do que os avarentos, mesmo que estejam cheios de todos os vícios, sejam extremamente dissolutos e vivam uma vida muito difícil. Pois, de outro modo, todos os homens são avarentos, exceto aqueles em quem outros vícios semelhantes extinguiram este. Mas somente os piedosos têm esta bênção: contentam-se com as coisas que estão presentes e também as usam com gratidão e alegria. Um avarento não tem boca ou estômago maiores do que um pobre piedoso, nem come mais; contudo, este último contenta-se com o pouco que tem e é de fato rico, enquanto aquele, em meio às suas riquezas, é necessitado e carente. Essas coisas são ditas e apontadas de maneira saudável e piedosa, mas a carne, em sua presunção, despreza tudo o que você diz ou faz. (Ibid., p. 86)

Em Eclesiastes 5:14, a “má aventura” revela que as coisas nem sempre são o que parecem. Empreendedores frequentemente têm dívidas que excedem seus bens, tornando sua aparente fortuna sem valor. Nesse cenário, o homem sequer é capaz de prover para seu filho. O versículo 5:15, “como veio... assim voltará”, ilustra o ciclo do berço à sepultura: chegamos ao mundo sem nada e partimos da mesma forma (cf. Lc 12:14–21). Nesse contexto, ricos e pobres são equalizados. A “grande maldade” (5:16) refere-se à transitoriedade do mundo temporal, que nos escapa na morte. O reformador, explicação:

O mesmo aparece em Jó 1:21: “Nu saí do ventre da minha mãe, etc.”; e em Paulo, 1 Timóteo 6:7: “Nada trouxemos ao mundo, e nada podemos levar dele.” Mesmo o mais rico dos homens não pode se gabar de nada além daquilo que comeu e bebeu enquanto esteve vivo. Já que, portanto, não levaremos nada conosco, compartilhemos com os outros, usando nossas riquezas como se fossem água ou ar fluindo. É assim que devemos pensar: “Assim como abandonarei minhas riquezas quando morrer, também as abandonarei enquanto estiver vivo. Por que, então, eu as acumularia com tanta ansiedade, quando não podemos ter nada mais do que um pequeno gole? É assim que eu uso a água: eu me lavo, e os outros também se lavam. O que não precisamos, deixamos fluir. É assim que usamos o fogo ou o ar.” As riquezas também devem ser usadas desta forma, de modo que você seja apenas o administrador delas. De que adianta trabalhar para o vento? “Trabalhar para o vento” é uma frase hebraica que Paulo imitou em 1 Coríntios 9:26: “Não luto como quem bate no ar”; e em 1 Coríntios 14:9: “Você estará falando ao ar”. Significa o mesmo que falar em vão. É isso que Salomão está dizendo: “O avarento trabalha para o vento, isto é, trabalha em vão”. É trabalho perdido. (Ibid., p. 91)

Eclesiastes 5:17 descreve alguém que “come o pão das tristezas”, o que não é uma tristeza de arrependimento diante de Deus (cf. Sl 77:2), mas uma raiva na velhice, onde a aflição e a saúde debilitada levantam a questão sobre a validade do trabalho “debaixo do sol”. O tema do contentamento em Deus retorna em Eclesiastes 5:18, ecoando os versículos 2:24–25; 3:12–13, 22. Somente em Deus a vida tem significado e verdadeiro prazer. Sem Ele, nada satisfaz. O verdadeiro prazer só vem quando reconhecemos e reverenciamos a Deus (12:13). A própria vida é um “dom” de Deus, assim como o desfrute dela (5:19; cf. Sl 145:15–16). Ele designa o número de dias que temos para servi-Lo com alegria e júbilo de coração (Jó 14:5).

Por fim, Eclesiastes 5:20 conclui que um coração alegre é um dom de Deus. Ele permite que as experiências mais difíceis da vida percam a força em comparação com o amor indizível que Ele primeiramente demonstrou a nós pela graça somente.

✝️ Teologia de Eclesiastes 5

Deus Está nos Céus – A Teologia do Culto (Teontologia e Ética Teológica)

Eclesiastes 5 marca uma virada decisiva no livro. Após observar o caos do mundo e o fracasso das tentativas humanas de encontrar sentido, Qohelet levanta os olhos em direção ao templo e à adoração. A linguagem muda. A crítica social dá lugar ao sagrado. Mas o tom permanece sóbrio. Este capítulo é, ao mesmo tempo, uma advertência teológica e uma correção ética: Deus é santo, está nos céus, e não pode ser tratado como um instrumento a serviço da ansiedade humana. O capítulo inteiro constrói uma doutrina implícita do culto — uma Teontologia que afirma a transcendência de Deus — e uma Ética Teológica que exige integridade, reverência e temor.

“Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus” (Ec 5:1). A advertência inicial é prática, mas teologicamente carregada. Guardar o pé é um modo de dizer: “prepara teu coração, ordena tua conduta, reconhece com quem estás falando”. Qohelet adverte contra a pressa em falar, contra a verborragia litúrgica que mascara a irreverência. “Porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras” (v. 2). Essa frase é uma confissão de transcendência. Deus não é um ídolo que habita a terra, não é um espírito domesticável, nem uma energia impessoal. Ele está nos céus — e essa localização simbólica define o tom da relação: reverência, humildade, temor.

Essa concepção contrasta radicalmente com a religiosidade humana, que tende a usar o culto como mecanismo de barganha, manipulação ou autopromoção espiritual. Qohelet denuncia esse impulso com clareza: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo, porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o” (v. 4). Votos precipitados, palavras vazias e promessas não cumpridas revelam um coração que não compreendeu quem é Deus. A teontologia do capítulo afirma que Deus é santo, digno e presente, mesmo quando silencioso. A ética que dela deriva exige coerência entre palavra e ação — entre culto e vida.

O verso 6 expande a advertência: “Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro que foi erro.” Trata-se da denúncia do falso arrependimento e da negligência religiosa. O culto que não transforma o coração é inútil, e o arrependimento superficial diante de um mensageiro do templo (possivelmente um sacerdote) é ainda mais ofensivo do que o erro inicial. Aqui, a adoração é vista como compromisso: com Deus e com a verdade. A ética teológica do culto exige integridade. E o fundamento disso é a afirmação solene do final do v. 7: “mas a Deus teme.”

Esse temor não é terror supersticioso, mas reverência vital. O temor do Senhor, em Eclesiastes, é a síntese da sabedoria e da piedade. Ele aparece aqui como o oposto de uma religiosidade trivial. Adorar a Deus exige reconhecer que Ele é o centro, e que a adoração não existe para nos exaltar ou manipular o divino, mas para nos colocar no devido lugar diante do Santo. Em termos cristãos, trata-se da adoração “em espírito e em verdade” que Jesus prescreve (Jo 4:24), onde a presença de Deus é acolhida com humildade, e não com espetáculo ou jargão vazio.

Do v. 8 em diante, o capítulo volta a observar as injustiças sociais, mas agora sob uma nova lente: a de um Deus que observa tudo. “Se vires em alguma província opressão de pobres, e perversão de juízo e de justiça, não te maravilhes; porque o que está alto vigia os mais altos” (v. 8). O mundo é injusto, sim — mas Deus não está ausente. Ele está nos céus, observa e julga. A teontologia aqui se amplia: Deus é transcendente, mas também é justo. Sua santidade não é neutra, mas moral. E esse juízo não é apenas escatológico — é presente. A corrupção, a ganância, o amor ao dinheiro (v. 10), todos esses são ídolos que substituem o culto verdadeiro.

A frase “o que ama o dinheiro nunca se fartará” (v. 10) é uma crítica direta à idolatria moderna, e ecoa o ensino de Jesus: “não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6:24). A crítica à opressão social é, ao fim, uma crítica à falsidade de um culto que não gera justiça. A ética do templo precisa se estender às ruas, e a reverência pelo Deus nos céus deve moldar a forma como lidamos com o próximo na terra. O culto verdadeiro é, portanto, um ato teológico e ético, que reconhece quem Deus é e transforma quem O adora.

✝️ Cristologia de Eclesiastes 5

O Culto, a Palavra e a Riqueza Redefinidos na Pessoa de Cristo

Em Eclesiastes 5, a figura de Cristo não é nomeada, mas sua presença se projeta nas entrelinhas de um texto que alterna entre advertência cultual, desilusão econômica e a busca do contentamento. O Pregador contempla, sob o sol, os gestos do homem diante de Deus, e os juízos do homem diante do dinheiro. E em ambos os casos, o diagnóstico é de vaidade. Mas ao olhar essas reflexões à luz do Novo Testamento, percebemos que os traços de um Cristo oculto vão se desenhando nas ausências, nos fracassos humanos e nas carências existenciais. Qohelet não oferece a solução: ele apenas nomeia o vazio. É justamente por isso que a leitura cristológica se torna possível — pois onde o homem falha, ali Deus encarna.

O capítulo se inicia com uma cena silenciosa: “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus” (v. 1). Essa advertência ecoa mais do que regras cerimoniais; é um chamado à reverência diante do Mistério. A recomendação de “chegar-se para ouvir” mais do que para “oferecer o sacrifício dos tolos” ressoa com a ética do coração pregada por Jesus no Sermão do Monte (Mateus 5–7), onde o que conta não é a aparência do culto, mas a inteireza interior. Qohelet diz: “Deus está nos céus, e tu na terra; sejam, por isso, poucas as tuas palavras” (v. 2). Há aqui um reconhecimento da distância ontológica entre Criador e criatura, que só se dissolve plenamente no Verbo feito carne. Cristo, ao encarnar-se, não elimina essa reverência — antes a aprofunda. Ele é o Deus que fala pouco diante dos juízes, que não multiplica palavras no templo, e que, mesmo sendo igual ao Pai, ora com temor e lágrimas (Hebreus 5:7).

Nos versículos que seguem, Qohelet se volta para a imprudência dos votos. Ele adverte: “Melhor é que não votes, do que votes e não cumpras” (v. 5). O sacrifício da palavra dita e não sustentada é um tema grave no Antigo Testamento. E em Cristo esse peso ganha uma chave de leitura totalmente nova. Pois se o ser humano é inconstante em seus compromissos, Jesus é aquele que cumpre a promessa desde antes da fundação do mundo. Ele é o único que nunca volta atrás no que diz. “Sim, sim; não, não” — sua própria ética verbal (Mateus 5:37) responde ao clamor de Qohelet por integridade diante de Deus. Cada voto precipitado que pronunciamos se contrapõe ao voto eterno que o Filho fez ao Pai: “Eis-me aqui, para fazer a tua vontade” (Hebreus 10:7). A liturgia tem sentido porque Cristo cumpriu aquilo que prometeu.

Mais adiante, Eclesiastes contempla o mundo econômico e o uso do poder com frieza realista. “Se vires em alguma província a opressão dos pobres e a violência contra o direito e a justiça, não te espantes” (v. 8). A resignação de Qohelet não é cinismo, mas consciência de que os sistemas humanos são, por natureza, opressivos. É o mesmo mundo em que Jesus nasceu — um império que tributava os pobres, uma religião que vendia pombas no templo, e reis que matavam meninos por medo de perder o trono. A resposta do Evangelho a essa constatação trágica não é o escândalo ou a revolta imediata, mas o Reino invertido: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. O Cristo que não se espanta com a opressão, mas a carrega até o Gólgota, torna-se o juiz final do sistema que oprime.

Nos versículos 10 a 17, o Pregador se dedica à vaidade das riquezas. “Quem ama o dinheiro jamais se fartará de dinheiro”. As palavras são secas e penetrantes. O rico, diz ele, perde o sono, vive para guardar o que se perderá, e no fim sai nu do mundo, como entrou. Aqui está um dos pontos mais agudos da teologia de Eclesiastes: o dinheiro, mesmo bem acumulado, falha como sentido. Jesus retoma e radicaliza essa percepção ao dizer: “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24). Mas Ele vai além: não apenas denuncia o poder destrutivo do dinheiro, como propõe um novo modo de viver — uma vida confiada à providência, à esmola em segredo, ao pão de cada dia. Cristo não apenas fala sobre a futilidade do ouro: Ele vive como quem nada tem, para tornar muitos ricos (2 Coríntios 8:9).

Ao final do capítulo, Qohelet oferece um raro momento de serenidade. “Eis o que vi: boa e bela coisa é comer, beber e gozar do bem de todo o seu trabalho”. Essa visão do contentamento como dom é mais do que uma fuga estoica: é um reconhecimento de que a capacidade de se alegrar é presente divino. E nesse ponto, o discurso toca novamente em Cristo, ainda que sem nomeá-lo. Pois Jesus também convida a comer e beber com simplicidade (cf. João 21:12), a viver o agora com gratidão, sem ansiedade pelo amanhã. Qohelet vê a possibilidade de uma alegria discreta, serena, quase doméstica. E Cristo a assume como vocação messiânica: “Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10:10). Não a abundância dos celeiros cheios, mas do coração satisfeito. A bem-aventurança do trabalhador que dorme em paz é o evangelho encarnado em forma de sabedoria.

Assim, Eclesiastes 5 é uma galeria de inquietações e lampejos. É o culto desconectado, a promessa descumprida, a opressão institucionalizada, a riqueza vazia e a vida que escapa. Mas cada um desses espaços negativos — o culto sem temor, a palavra sem fidelidade, a justiça sem redenção, o trabalho sem descanso — encontra, em Cristo, sua realização última. O Jesus que cumpre tudo o que promete, que assume o silêncio reverente diante do Pai, que desafia os poderosos e sacia o faminto, é o rosto vivo do que Eclesiastes apenas entrevia por sombras. Qohelet desenha as faltas; Cristo as preenche.

🏛️ Filosofia em Eclesiastes 5

A Filosofia da Palavra diante do Sagrado e da Ilusão Social (com alusões filosófico-teológicas)

Ao abrir o capítulo com a advertência “Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus” (v.1), o Qohelet desloca imediatamente a atenção do leitor para uma dimensão que transcende o labor e a vaidade dos capítulos anteriores: o espaço sagrado. No entanto, este não é um sagrado domesticado — não há aqui qualquer traço de liturgia triunfalista ou dogmática. O que o autor prescreve é vigilância existencial, quase uma fenomenologia da presença diante do divino. Essa atitude remete à consciência trágica do humano como ser lançado entre silêncio e revelação, tal como abordado em correntes filosóficas posteriores que tratam da mística negativa, da ética da escuta e da fragilidade do sujeito religioso.

O hebraico שְׁמֹר רַגְלְךָ (shemor raglekha) evoca mais do que cautela física: é uma metáfora para a atitude interior de quem se aproxima de uma realidade que excede o controle discursivo. A advertência do Qohelet antecipa o desconforto que pensadores como Franz Rosenzweig e Martin Buber identificariam na linguagem religiosa que tenta capturar Deus em sistemas ou fórmulas. Em termos fenomenológicos, trata-se de uma interrupção da lógica instrumental, um gesto semelhante ao que se encontra na teologia dialógica e na ontologia do rosto como lugar do inatingível — tal como desenvolvido por Emmanuel Levinas.

A ênfase seguinte, “chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos” (v.1), funda uma verdadeira ética do ouvir silencioso, que antecipa, em estilo sapiencial, o que se tornaria mais tarde a crítica ética à linguagem saturada e à religiosidade performativa. O verbo לִשְׁמֹעַ (lishmoaʿ) na tradição hebraica implica relação e acolhimento. A primazia da escuta sobre o rito, da interioridade sobre a ostentação, aponta para o que teólogos existenciais descreveram como a vulnerabilidade radical do homem diante do sagrado, tema profundamente caro à teologia negativa e à mística judaica e cristã.

Já no versículo 2, “Não te precipites com a tua boca...”, o problema da linguagem ganha centralidade. A expressão אַל־תְּבַהֵל עַל־פִּיךָ (ʾal-tevahel ʿal-pikha) sugere uma crise de sobriedade verbal. Pensadores como Simone Weil perceberiam aqui o risco do excesso de palavras como ocultação da verdade; o uso da linguagem para se proteger da presença. O reconhecimento de que “Deus está nos céus, e tu na terra” não apenas estabelece um abismo ontológico — ele resgata a alteridade radical do divino, elemento que recorre em múltiplas correntes de pensamento religioso que desconfiam do Deus domesticado pelos sistemas. O texto bíblico, nesse ponto, se aproxima de perspectivas que veem o sagrado como o absolutamente Outro, irredutível a conceitualizações humanas — uma linha que se prolonga desde a teologia apofática até a ontologia da alteridade radical.

Esse ponto é reforçado no v. 3: “Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e da multidão das palavras, a voz do tolo.” Aqui, o Qohelet denuncia a ilusão imaginária criada pela superprodução de signos — uma intuição que ecoaria em autores modernos como Giorgio Agamben, que abordam o esvaziamento do conteúdo simbólico na linguagem religiosa e política. O trabalho e a palavra se convertem em vetores de alienação se não forem atravessados por uma escuta da realidade. Essa crítica se afina com diagnósticos contemporâneos da linguagem religiosa como mecanismo de fuga, e com a desconfiança generalizada da linguagem que pretende “tomar o lugar do real”.

A seção entre os versículos 4 e 6 aprofunda essa análise no terreno dos votos religiosos. A advertência contra o voto não cumprido evidencia uma crítica da performatividade litúrgica que não é acompanhada de integridade existencial. Teólogos como Søren Kierkegaard intuíram esse colapso entre palavra e ser — a “estética da promessa” que não se realiza no tempo da vida. O autor bíblico denuncia a palavra vazia como pecado encarnado na carne; a linguagem que compromete o corpo, pois assume vínculos ontológicos que não pode sustentar. A teologia aqui se aproxima de uma metafísica da responsabilidade, onde o dizer carrega o peso do ser — ideia que seria recuperada por pensadores judaicos do pós-Holocausto como Levinas, em sua reconfiguração da ética como primeiro fundamento da linguagem.

O versículo 7 retoma a cadência sapiencial com precisão poética: “Na multidão dos sonhos e das vaidades e nas muitas palavras, há também vaidade; mas teme a Deus.” A tríade sonhos, vaidades e palavras sintetiza o que o autor vê como os grandes instrumentos de autoilusão. A vaidade (הֶבֶל, hevel) continua a designar a ontologia do efêmero. Tal concepção dialoga, em linhas conceituais, com a crítica da presença plena — como quando se sustenta que a realidade última só pode ser experimentada por meio da suspensão, do silêncio, ou mesmo do vazio. A exigência final, “teme a Deus”, articula aquilo que a tradição mística judaica conheceu como yirah — não medo punitivo, mas tremor diante da realidade que excede o sujeito. Isso está em consonância com uma espiritualidade do despojamento, encontrada tanto em tradições proféticas quanto em pensadores como Abraham Heschel, que opõem o assombro reverente ao niilismo performático das sociedades da hiperexpressão.

A parte final do capítulo (vv. 8–20) transita da teologia para a crítica social. Quando o autor observa a opressão e a corrupção — e diz para não se espantar —, não está promovendo resignação, mas desilusão como despertar. Tal atitude ecoa a desconfiança de autores como Adorno e Horkheimer, que viam na razão instrumental e nos sistemas religiosos ou políticos organizados uma função ideológica de manutenção da opressão. O Qohelet, ao reconhecer a estrutura como corrupta, antecipa essa crítica: não se trata de reformar o mundo, mas de discerni-lo em sua queda, sem ilusões redentoras internas ao sistema.

A crítica ao desejo insaciável por riqueza (vv.10ss) se insere numa tradição ética que compreende o desejo como estruturado pela ausência e pela repetição — um traço que a filosofia posterior interpretaria como marca da condição humana alienada. O hebraico אֹהֵב כֶּסֶף (ohev kesef) descreve o afeto investido no objeto — um amor desordenado que jamais encontra plenitude. O dinheiro, aqui, funciona como uma instância idolátrica e escatológica: promete o que nunca entrega. É um substituto do transcendente, sem transcendência. Autores contemporâneos das teologias pós-metafísicas têm observado como as formas modernas do capital operam como estruturas soteriológicas seculares — promessas de sentido que substituem Deus por um absoluto monetário.

O capítulo encerra com um retorno ao motivo do contentamento moderado: comer, beber, trabalhar. O texto, porém, não recua para o hedonismo. O gozo é descrito como dom, não como conquista. É o “dom de Deus” que permite ao homem “não pensar muito nos dias da sua vida” (v.20), pois a alegria é recebida, não produzida. Trata-se de uma ética da gratuidade que desafia os sistemas meritocráticos e a teologia da retribuição. A ideia de uma alegria que suspende a memória do tempo é próxima da intuição mística de um presente pleno que emerge da suspensão do eu — tal como encontrado nas tradições contemplativas e no pensamento de autores que veem no instante uma via de interrupção da lógica histórica.

Eclesiastes 5 é, assim, um tratado filosófico-teológico sobre o perigo da palavra e a grandeza do silêncio, sobre a ilusão do desejo e a sabedoria do contentamento. Nele, o autor constrói, com extraordinária densidade, uma crítica à idolatria da linguagem, ao poder desordenado, ao voto inconsequente, e à riqueza que captura a alma. É um capítulo que, mesmo situado em sua época, dialoga intensamente com correntes de pensamento posterior que buscaram reconciliar ética e transcendência, fé e crítica, temor e liberdade.

📜 Contexto Histórico de Eclesiastes 3

Advertências contra Atitudes Equivocadas perante Deus e o Governo em Eclesiastes

Eclesiastes 5:1-9 apresenta importantes advertências contra atitudes inadequadas em relação a Deus e ao governo. Ao se referir a “Guardar os passos quando fores à casa de Deus” (Ec 5:1), o texto nos aconselha a evitar a religião e a devoção hipócritas. A Instruction of Ptahhotep egípcia, de forma similar, adverte contra falar precipitadamente (ANET, 412), e uma inscrição ugarítica menciona um tolo que, sem um senso apropriado de culpa, oferece orações impensadamente ao seu deus. Essa parte do texto contrasta a direção da comunicação: enquanto o sacrifício do tolo geralmente acompanha uma petição à divindade por favor ou concessão de um pedido, o que se ouve no templo tipicamente seria um oráculo no qual a divindade pode expressar favor ou desfavor. A Egyptian Teaching of Ptah-Hotep dedica quase cinquenta linhas a exaltar as virtudes daquele que ouve sobre a insensatez daquele que fala de forma impensada.

A ideia de que “Deus está no céu, e você está na terra” (Ec 5:2), ou “Deus está no céu e você na terra”, tem sido notada por estudiosos por sua semelhança com uma passagem na Epopeia de Gilgamesh, na qual Enkidu tenta dissuadir Gilgamesh de entrar na perigosa Floresta de Cedros, e Gilgamesh responde: “Quem, meu amigo, pode escalar o [céu]? / Apenas os deuses [vivem] para sempre debaixo do sol. / Quanto à humanidade, seus dias são contados; / Tudo o que eles alcançam é apenas vento!” (ANET, 79). O ponto de Gilgamesh é que, como somos mortais, devemos buscar toda a glória que pudermos obter. As palavras de Gilgamesh expressam o ideal pagão: os mortais estão condenados ao sofrimento e à morte, mas podem dar valor às suas vidas através do heroísmo. Eclesiastes, por sua vez, começa com a mesma premissa, mas se move em uma direção diferente: os mortais são fracos e perecíveis, e isso deve impeli-los a compreender o verdadeiro significado do temor a Deus.

A passagem em Eclesiastes 5:3, que descreve o ritmo frenético do trabalho perturbando o sono, também compara um tolo que, em oração, é conhecido por uma multiplicidade de palavras (cf. 5:7; Pr 10:8, 10). Nesse sentido, os sonhos no mundo antigo eram considerados uma fonte de informação do reino divino e, portanto, levados muito a sério. Alguns sonhos, aqueles concedidos a profetas e reis, eram vistos como um meio de revelação divina. A maioria dos sonhos, no entanto – os sonhos comuns de pessoas comuns –, acreditava-se que continham presságios que comunicavam informações sobre o que os deuses estavam fazendo.

Os sonhos que eram revelação geralmente identificavam a divindade e frequentemente a envolviam. Os sonhos que eram presságios geralmente não faziam referência à divindade. Os sonhos eram frequentemente cheios de simbolismo, necessitando de um intérprete, embora às vezes os símbolos fossem razoavelmente autoevidentes. A informação que vinha através dos sonhos não era considerada irreversível, mas um sonho poderia ser motivo de preocupação, se não de alarme. Assim, este versículo seria melhor lido como: “Assim como um sonho é acompanhado por muitas preocupações, a fala de um tolo vem com muitas palavras.”

Quando se trata de “fazer um voto a Deus” (Ec 5:4), Eclesiastes 5:4–6 retoma a terminologia específica da legislação mosaica sobre a formulação de votos (Dt 23:21–23), advertindo contra a tentativa de impressionar a Deus com promessas insinceras. A informação sobre votos pode ser encontrada na maioria das culturas do Antigo Oriente Próximo, incluindo hitita, ugarítica, mesopotâmica e, com menos frequência, egípcia. Os votos eram acordos voluntários feitos com a divindade, tipicamente condicionais e acompanhando uma petição. Eram compromissos cúlticos com Deus nos quais o adorador prometia realizar uma certa ação (geralmente de natureza ritual) se Deus atendesse ao seu pedido.

Artefatos usados como oferendas votivas foram encontrados em vários sítios arqueológicos no Levante. Além disso, estelas votivas da Fenícia e literatura (orações e textos de ação de graças) da Mesopotâmia, Egito e Anatólia mostram evidências de votos. O juramento de um voto era considerado um assunto muito sério no antigo Israel, bem como em todo o mundo antigo. Um juramento é sempre feito em nome de um deus, o que impõe uma pesada responsabilidade ao jurante de cumprir suas estipulações, pois ele seria passível de retribuição divina, bem como humana, se não o fizesse.

Juramentos eram usados em processos legais (ver nota em Êx 22:11) e em tratados e pactos políticos (ver nota em Dt 6:13). Em todo o Antigo Oriente Próximo, a execução ritual adequada era essencial para que os deuses olhassem com favor para um rei ou nação, mas, diferentemente do Antigo Testamento, as pessoas percebiam a dificuldade em discernir os desejos dos deuses, como um sábio babilônico gracejou: “Mesmo que se tente apreender a intenção divina, as pessoas não conseguem compreendê-la.” (COS 1.154:494)

O “mensageiro do templo” ou “mensageiro de Deus” (Ec 5:6) é uma figura sobre a qual os estudiosos não têm certeza, pois não há outra referência bíblica a esse ofício. Desse versículo, podemos presumir que existia um oficial do templo cuja função era garantir que os adoradores tivessem cumprido seus votos. Funcionários semelhantes podem ter sido mencionados em inscrições fenícias.

A ideia de que “o rei é servido pelo campo” (Ec 5:9) introduz uma das passagens mais difíceis de interpretar em Eclesiastes 5:7–8. A dúvida reside em saber se o rei explora o campo, como se afirma nas “Profecias de Neferti” (COS 1.4, Eccl 5:109) egípcias (“A terra diminui, mas seus governantes são numerosos”), ou se um governo estável é essencial para que a agricultura prospere (“Afinal, um rei que cultiva o campo é uma vantagem para a terra”), como implica a NASB (cf. ESV). Essa discussão se relaciona com a questão da “burocracia corrupta” (Ec 5:8). O rei no Antigo Oriente Próximo era obrigado a proteger os direitos legais de seu povo. A burocracia real era, portanto, responsável pela justiça e retidão. No entanto, muitas vezes, a realidade era muito mais dura: quando todos (desde os funcionários locais até o templo e o palácio) recebiam sua parte da colheita do agricultor (na forma de taxação de produtos), apenas a subsistência básica era possível.

A seção que trata da “Riqueza” (Ec 5:10–6:9) apresenta três cenários distintos sobre posses, introduzidos por “Eu vi... eu vi... eu observei” (Ec 5:13, 18; 6:1). Provérbios compartilha a perspectiva do Pregador de que a pobreza pode ter diversas causas: opressão (Ec 5:8), preguiça (4:5), investimentos imprudentes (Ec 5:14) ou um “desastre” generalizado (11:2). As “Máximas de Ptaotepe” (LAE 134–35), um antigo documento egípcio de sabedoria prática, também reconhecem que a riqueza vem de Deus (“Se você se dedicar à agricultura e [seu] campo prosperar, e Deus o fizer aumentar sob sua mão”), e que a riqueza nem sempre é benéfica para seu proprietário (“Pois a riqueza não traz vantagem quando é um fardo”).

A afirmação “Como ele veio do ventre de sua mãe, assim ele voltará, nu como veio” (Ec 5:15) é quase idêntica à de Jó 1:21, reforçando a transitoriedade da vida e das posses. A ideia da “riqueza acumulada” (Ec 5:13) e a inutilidade de comer “no escuro” (Ec 5:17) são semelhantes às apresentadas em um texto do final do segundo milênio a.C. de Emar, um local no rio Eufrates na Síria. Nesse texto, um pai aconselha seu filho a ser frugal e prudente para adquirir riqueza.

O filho responde que nós, como as bestas, devemos morrer, e ele questiona o valor das posses de seu pai para ele quando morrer, dizendo: “Pai, você construiu uma casa. Você fez [sua entrada] alta, com um depósito de dez cúbitos de tamanho.” (GIANTO, p. 478.) O ponto do filho é que acumular não proporciona uma vida feliz à medida que a morte se aproxima; assim, trabalhar nos campos do nascer ao pôr do sol, e comer o café da manhã e o jantar no escuro, ilustra como aqueles que desejam riqueza não terão plenitude.

Índice: Eclesiastes 1 Eclesiastes 2 Eclesiastes 3 Eclesiastes 4 Eclesiastes 5 Eclesiastes 6 Eclesiastes 7 Eclesiastes 8 Eclesiastes 9 Eclesiastes 10 Eclesiastes 11 Eclesiastes 12

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ZORELL, Franz. Lexicon Hebraicum et Aramaicum Veteris Testamenti. Roma: Pontificium Institutum Biblicum, 1958.

📖 Bíblias de Estudo:

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Eclesiastes. In.: BÍBLIA DE ESTUDO NAA (NOVA ALMEIDA ATUALIZADA). Barueri, SP: SBB, 2018, pp. 1117-1128.
Eclesiastes. In.: BÍBLIA DE ESTUDO GENEBRA. Barueri, SP: SBB, 2011. 1985 pp. 854-866.
Eclesiastes. In.: MACARTHUR, John F. (Org.). Bíblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. pp. 834-845.
Eclesiastes. In.: HOLMAN, Jeremy Royal (Ed.). BÍBLIA DE ESTUDO HOLMAN. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2019. pp. 1013-1031.
Eclesiastes. In.: JESUS, Erivaldo de. Bíblia do Pregador Pentecostal. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2025, pp. 992-1009.
Eclesiastes. In.: NVI BÍBLIA ARQUEOLÓGICA. São Paulo: Editorial Vida, 2013, pp. 1012-1031.
Ecclesiastes. In.: KEENER, Craig S.; WALTON, John H. NKJV, Cultural Backgrounds Study Bible: Bringing to Life the Ancient World of Scripture. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2017.

📕Seção Teologia:

PIPER, John. Vivendo à Luz. São Paulo: Vida Nova, 2019.
STOTT, John. O Incomparável Cristo. Minas Gerais: Ultimato, 2008.
LEWIS, C. S. A Abolição do Homem. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática, vol. 4 – Escatologia. São Paulo: Cultura Cristã, 2020.
FRAME, John M. The Doctrine of God. Phillipsburg: P&R Publishing, 2002.
SPROUL, R. C. Deus é Santo. São Paulo: Editora Fiel, 2007.

📗 Seção Cristologia:

WRIGHT, N. T. Following Jesus: Biblical Reflections on Discipleship. Grand Rapids: Wm. B. Eedmans Publishing Co. 2014.
SCHWEITZER, Albert. The Mystery of the Kingdom of God. New York: Criative Media, 2015.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Trad.: Clélia Barqueto, Murilo Jardelino. São Paulo: ed. Mundo Cristão, 2016.

📘 Seção Filosofia:

AGAMBEN, Giorgio. O Reino e a Glória: uma genealogia teológica da economia e do governo. Tradução de Selvino J. Assmann. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Natan Schapiro. São Paulo: Centauro, 1974.
HESCHEL, Abraham Joshua. Deus em busca do homem: uma filosofia da religião judaica. São Paulo: Perspectiva, 2005.
KIERKEGAARD, Søren. Temor e Tremor. 3. ed. São Paulo: Hemus, 2001.
LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito: ensaio sobre a exterioridade. Tradução de José Geraldo Coutinho. Lisboa: Edições 70, 2008.
ROSENZWEIG, Franz. A Estrela da Redenção. São Paulo: Perspectiva, 2007.
TILLICH, Paul. A Coragem de Ser. São Leopoldo: Sinodal, 2004.
WEIL, Simone. A Gravidade e a Graça. 1. ed. São Paulo: Lafonte, 2023.
ELLUL, Jacques. La parole humiliée. Paris: Éditions du Centurion, 1981.

🌐 Sites:

LANGE, Johann Peter. Ecclesiastes. In: Lange’s Commentary on the Holy Scriptures: Critical. Doctrinal and Homiletical. [S. l.]: BibleHub.com, [s.d.]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/lange/ecclesiastes/5.htm. Acesso em: 9 jul. 2025.
PLUMPTRE, Edward H. Ecclesiastes. In: The Cambridge Bible for Schools and Colleges. [S. l.]: BibleHub.com, [1881]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/cambridge/ecclesiastes/5.htm. Acesso em: 9 jul. 2025.
SPENCE, H. D. M. Ecclesiastes. In: SPENCE, H. D. M.; EXELL, Joseph S. (Eds.). The Pulpit Commentary. [S. l.]: BibleHub.com, [1909]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/pulpit/ecclesiastes/5.htm. Acesso em: 9 jul. 2025.