Comentário de Apocalipse 19:1-21 (J. W. Scott)

Comentário de Apocalipse 19

APOCALIPSE 19, COMENTÁRIO, ESTUDO, LIVROOs hinos de louvor que trovejavam do céu se inspiram pela manifesta justiça de Deus na destruição do império anticristão, mas eles podem incidentalmente formar também uma resposta ao clamor exultante do profeta em Ap 18.20. Isto encontra confirmação se considerarmos a primeira ação de graças como vinda da hoste angélica (cfr. Ap 5.11-12); o amém responsivo; Aleluia (4) dá-se então pelos vinte e quatro anciãos e os quatro querubins, seguindo-se o ressoar dos louvores da Igreja (6-7); isto corresponde à seqüência no apelo de João para o regozijo da parte do "céu, e vós santos apóstolos e profetas" (Ap 18.20). É um fenômeno constante deste livro contrapor a revelação dos justos juízos de Deus sobre os maus ao culto do céu e da humanidade redimida, sendo o tema de tal culto geralmente os juízos a que se refere: ver Ap 7.9 depois dos selos; Ap 11.15 depois das trombetas; Ap 14.1 depois do assolamento do anticristo; Ap 15.2 em antecipação das taças. A afirmação que Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao nosso Deus (1), vindo neste ponto, sugere que Deus tem manifestado estes atributos. O cântico, portanto, expande Ap 7.10 e tem um sentido semelhante ao Ap 12.10. Verdadeiros e justos são os seus juízos (2) foi dito junto ao altar depois de derramada a terceira taça (Ap 16.7); cfr. também Ap 15.3. Os dois grandes crimes da civilização prostituta eram a sua corrupção da terra e a morte dos cristãos.

Se se considerarem o novo céu e a nova terra de Ap 21.1 como uma criação completamente nova, a expressão para todo o sempre (3) tem que ser aqui limitada aos mil anos do milênio; as cinzas da cidade arruinada presumivelmente desaparecem com a velha terra. O emprego desta, e de frases semelhantes na literatura bíblica é muitas vezes muito frouxo (cfr. especialmente os Salmos), mas, em tais passagens, como Ap 4.9; Ap 5.13; Ap 11.15; Ap 22.5, ela significa claramente a eternidade, presumivelmente tem este significado em Ap 14.11. Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes endossam a ação de graças da hoste angélica (4; cfr. Ap 5.14). Uma voz que saiu do trono pede à Igreja que se una a este serviço de ação de graças (5).

Como os quatro seres viventes estão mais perto do trono, é provável ser um deles que clama, certamente não Cristo, que nunca diria louvai o nosso Deus (cfr. Ap 3.12). A descrição daqueles que são invocados como vós, os seus servos, e vós que o temeis, assim pequenos como grandes (5) exclui a possibilidade que está em vista somente um seleto corpo da Igreja, tal como os mártires. A "esposa do Cordeiro" é a Igreja toda, não uma seção dela. A primeira linha da ação de graças da Igreja deve ser traduzida "Aleluia: porque o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, tem começado a reinar" (6; cfr. Ap 11.17). O símbolo de casamento, aplicado a Cristo e à Igreja, exprime a união íntima e indissolúvel de Cristo e o seu povo redimido. Diz-se que as bodas são vindas (7) a esta altura, no mesmo sentido em que se dizia ter caído Babilônia, em Ap 14.8; isto é, está no ponto de se cumprir. A Igreja está preparada. Tão logo a besta e os seus exércitos sejam mortos, as "bodas" tomarão lugar, e a noiva começará a sua vida consumada na nova era (Ap 20.4; Ap 21.9). Para o símbolo da Igreja como a noiva de Cristo, cfr. Mt 22.2; Mt 25.1; 2Co 11.2; Ef 5.23. Observe-se no vers. 8, que é provavelmente um comentário de João, em vez de uma parte do cântico, o balanço delicado entre a graça de Deus e a resposta humana; "foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente"; isto é, o vestido vem de Deus; mas o linho fino são os atos de justiça dos santos. Cfr. Fp 2.12-13. Para as várias tonalidades de sentido sugeridas pelo simbolismo do vestido dos santos, cfr. Ap 3.5; Ap 6.11 n.

Aqueles que são chamados (9), é-lhes atribuída a aceitação do convite, não como aqueles mencionados em Mt 22.14. Os convivas e a noiva são um só; cfr. Ap 22.9-10 onde a noiva também é a cidade santa. A declaração do anjo-Estas são as verdadeiras palavras de Deus -pode-se relacionar particularmente com as visões de Ap 17.1 até este ponto, inclusive a certeza da vinda da ceia das bodas do Cordeiro, a que agora mesmo se fez alusão. Cfr. Ap 21.6, que inclui o livro todo. O anjo recusa o culto de João por enumerar-se a si mesmo com o resto dos servos de Deus (10), Ver nota sobre Ap 22.8-9. Tanto as hostes angélicas como a Igreja seguram bem o testemunho de (dado por) Jesus. Esse testemunho inclui tanto o testemunho histórico do Senhor, preservado pelos Evangelhos, como o que ele continua a dar pelo seu Espírito, tais como as revelações deste livro. A cláusula explanatória que se segue significa, ou que o ensino de Cristo, tornado conhecido no passado e no presente, é o espírito ou essência (Moff. "fôlego") de profecia, ou que o Espírito Santo, que inspira a profecia, interpreta ao profeta o testemunho de Cristo, tanto o revelado como o não revelado. Aquela interpretação parece dar-se melhor com o contexto; esta concorda com Jo 15.26-27.

O nome Fiel e Verdadeiro (11) recorda Ap 3.14. O resto do versículo parece ter em vista Is 11.3-5. Cristo tem muitos diademas (12) porque Ele é REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES (16); cfr. 1Macabeus 11.13. O seu nome desconhecido (12) faz lembrar o nome secreto que Ele dará aos Seus depois deste evento (Ap 2.17 e especialmente Ap 3.12). Em vista destas últimas duas referências, não é provável que todos os seres criados sejam excluídos de saber o Seu nome (como crê Swete). Bousset sugere que o fato do seu sigilismo pode ser ligado à, crença popular que poder se prende ao conhecimento de um nome. Se o nome de Cristo leva consigo poder sobre toda a criação, então, atualmente, Ele é o único dono desse poder, só Ele sabe do Seu nome; mas quando Ele tiver conquistado os Seus inimigos na Sua vinda, Ele compartilhará a Sua autoridade com os Seus fiéis e, portanto, também o Seu nome. O fundo deste, conceito é reconhecidamente não-cristão, como João plenamente reconheceria; mas o sentido espiritual que ele pretende dar por esta interpretação acha reconhecimento através do Novo Testamento. É possível, portanto, que este seja o sentido. A veste do Senhor salpicada de sangue tem por finalidade lembrar o leitor Is 63.1-6. Cristo é o vindimador celeste. Se a interpretação de Bousset de vers. 12 está correta, a identificação do Messias com a Palavra de Deus (13) não revela o segredo do nome desconhecido. A sua menção aqui alude, talvez, ao poder criador do Senhor, evocando para nós as associações do Velho Testamento da "Palavra" (cfr. também Sabedoria Ap 18.15).

Os exércitos no céu (14) certamente incluem companhias angélicas (cfr. Ap 12.7; Ap 14.14-20) e provavelmente santos ressurretos também (ver Ap 17.14 e nota sobre Ap 2.27), se bem que a conquista dos santos, que se refere em Ap 17.14, pode ser apenas a sua vitória espiritual sobre a besta. De qualquer maneira, a conquista é conseguida principalmente, não pelas hostes seguidoras, mas pelo Cordeiro (cfr. vers. 15,21). Em vista de Ap 15.4; Ap 20.3, que sugerem a existência de nações no início do milênio, parece que só aqueles povos hostis a Cristo estão em mente nos vers. 15 e 19-21. Para a linguagem figurada que se emprega, comparar Ap 1.16; Is 11.4; Sl 2.9; Is 63.1-6.

Swete pensa que o terceiro nome de Cristo (16) está "exposto na sua veste, onde cai sobre a coxa". Desde, contudo, que alguns manuscritos omitem a frase no seu vestido e enquanto outros omitem simplesmente e, é possível que estas palavras sejam uma nota marginal inserida para explicar o texto, e para mostrar coma o nome podia ser visto na coxa do Senhor. Charles elucida da seguinte maneira: "O Vidente vê na visão o guerreiro divino e os seus cavaleiros celestiais-não hesitando, mas precipitando-se para baixo desde os céus e para a frente contra os exércitos cerrados da besta, do falso profeta e dos reis da terra, e, como eles prosseguem, as suas vestes ondeiam após si, e assim na coxa do líder revela-se o nome: "Rei dos reis e Senhor dos senhores". O convite do anjo às aves de rapina (17) é tirado da visão de Ezequiel, da conquista de Gogue e Magogue (Ez 29.17-20). Deve ser observado, contudo, que o real assalto de Gogue e Magogue não toma lugar até ao fim do milênio (Ap 20.7-9); isto concorda com a visão de Ezequiel que coloca o último ataque do mal depois do estabelecimento do reino messiânico. O retrato de uma festa para as aves de rapina, à alvorada do reino, pode ser uma alusão satírica à bem conhecida comparação do reino de Deus com um grande banquete; ver Is 25.6; Lc 14.15; Lc 22.30. Nenhuma descrição nos vers. 19-21 é dada da batalha, somente a disposição das hostes rivais. Não há evidentemente nenhuma luta verdadeira; o anticristo e o seu profeta são lançados vivos no ardente lago de fogo e de enxofre (20), que arde com enxofre, e os seus exércitos mortos com a espada de Cristo (21). O lago de fogo, enquanto tendo finalmente um sentido semelhante à Geena (Vale de Hinom, ver Jr 7.31), é uma representação do inferno desenvolvida do conceito do abismo. Em 1Enoque 18.4 diz-se, "Eu vi lá algo semelhante a uma nuvem invisível; pois, em razão da sua profundidade, eu não podia ver além, e vi uma chama de fogo resplandecente... e eu perguntei a um dos santos anjos que estava comigo e lhe disse, "Que é esta coisa resplandecente? pois não é um céu, mas somente a chama de um fogo resplandecente, e a voz de choro e lágrimas e lamentação e de dor excruciante". E ele me disse, "Este lugar que tu vês, aqui são lançados os espíritos de pecadores e blasfemadores, e daqueles que obram a iniquidade". Se João usa símbolos tirados deste círculo de idéias, é claro que ele não pode significar o aniquilamento daqueles que se lançam no lago; cfr. também Ap 20.10. A destruição dos exércitos do anticristo pela espada que sai da boca de Cristo deve ser interpretada por Ap 14.14-20, isto é, totalmente judicial; cfr. Is 11.4. Conseqüentemente, tal interpretação, como a de Swete, que faz a matança ser o aniquilamento da inimizade contra Deus no homem (Ef 2.16), e a "espada" ser a palavra de Deus, que salva ao homem (cfr. Hb 4.12), de maneira que Armagedom é, na realidade, a conversão das nações, será mal recebida. O juízo aqui descrito parece acarretar a destruição física daqueles que são envolvidos, sendo seus espíritos presumivelmente despachados ao Hades.





Apocalipse 1:1-20 Apocalipse 2:1-28 Apocalipse 3:1-22 Apocalipse 4:1-11 Apocalipse 5:1-14 Apocalipse 6:1-17 Apocalipse 7:1-17 Apocalipse 8:1-13 Apocalipse 9:1-23 Apocalipse 10:1-11 Apocalipse 11:1-19 Apocalipse 12:1-18 Apocalipse 13:1-18 Apocalipse 14:1-20 Apocalipse 15:1-8 Apocalipse 16:1-21 Apocalipse 17:1-18 Apocalipse 18:1-24 Apocalipse 19:1-21 Apocalipse 20:1-15 Apocalipse 21:1-27


Veja também...

O Filho do Homem Glorificado no Apocalipse
Apocalipse e a Simbologia das Sete Igrejas
Parábolas do Livro de Apocalipse
O Livro de Apocalipse no Novo Testamento

Interpretação de Apocalipse 1
Interpretação de Apocalipse 2-3
Interpretação de Apocalipse 4-5
Interpretação de Apocalipse 6
Interpretação de Apocalipse 7 e 8
Interpretação de Apocalipse 9, 10 e 11
Interpretação de Apocalipse 12 e 13
Interpretação de Apocalipse 14, 15 e 16
Interpretação de Apocalipse 17, 18 e 19
Interpretação de Apocalipse 20 e 21
Interpretação de Apocalipse 22