Comentário de Apocalipse 6:1-17 (J. W. Scott)

Comentário de Apocalipse 6

APOCALIPSE 6, COMENTÁRIO, ESTUDO, LIVROMuitos elementos complexos confluem para formar o panorama que o profeta agora descreve. A divisão de sete dos ais messiânicos podem ultimamente remontar à profecia de condenação de Lv 26 onde quatro vezes se afirma "Eu prosseguirei em castigar-vos sete vezes mais por causa dos vossos pecados" (vers. 18,21,24,28). Se isso for assim, a adequação do testamento com os seus sete selos, para representar estes juízos, é um fator secundário, e não a causa da sétupla divisão. Outrossim, Charles tem ressaltado que o discurso escatológico do nosso Senhor contém os sete juízos enumerados por João; no Evangelho de (ver cap. 21) eles se encontram na mesma ordem, exceto que João coloca em último lugar os terremotos, devido à sua descrição coerente dos terremotos como o precursor imediato da consumação; ver Ap 8.5; Ap 11.13; Ap 16.18. Deste modo, com respeito ao conteúdo dos selos, o profeta tem seguido aparentemente o discurso de nosso Senhor; mas, para a forma da abertura dos primeiros quatro juízos, ele tem usado uma visão de Zacarias (a visão dos quatro carros e cavalos, que vão aos quatro cantos da terra, Zc 6), adaptando o simbolismo para servir o seu propósito.

As palavras Vem, e vê (1) interpretam a chamada dos seres viventes como dirigida ao vidente. Mas as palavras "e vê" são um acréscimo posterior; a ordem é dirigida ao que está montado, que aparece ao abrir-se o selo. O mesmo se diz de vers. 3,5,7. Muitos intérpretes consideram o cavaleiro vencedor como sendo o Cristo, e comparam a visão ao Senhor que volta em Ap 19.11. Deve ser admitido, contudo, que a única coisa em comum nos dois retratos é o cavalo branco, que é um símbolo de vitória. Outros mantêm que o cavaleiro representa o triunfo do evangelho, e citam Mc 13.10. Esta última sugestão é mais viável, mas, em vista da semelhança dos quatro cavaleiros, parece mais natural interpretar todos como retratando os últimos juízos. Este cavaleiro significa invasão, ou guerra de modo geral.

O conflito criado pelo cavaleiro no cavalo vermelho (4) parece denotar tanto guerra civil como internacional. A repetição, desta maneira, do primeiro ai é a causa de alguns alegarem que o primeiro cavaleiro representa um específico império vitorioso (especialmente o parto), enquanto o segundo tem uma referência geral. Isto é possível, mas deve ser notado que ocorre a mesma repetição em cada relatório do discurso escatológico (Mt 24.6-7; Mc 13.7-5; Lc 21.9-10).

O cavaleiro no cavalo preto denota fome. A balança em suas mãos sugere escassez de alimento. Os preços citados são proibitivos. O dinheiro (gr. denarion) era o salário de um dia de um operário (Mt 20.3); uma medida de trigo (gr. choinix, cerca de um litro) seria o suficiente para a ração diária de um homem, porém não para a sua família. Trigo, portanto, seria inadquirível pelo pobre. Três medidas de cevada renderiam mais, mas, assim mesmo, ainda permaneceria uma subsistência esparsa com a possibilidade de fome em alguns casos. Por outro lado, não danifiques o azeite e o vinho pressupõe amplo abastecimento dos gêneros menos procurados. Poucos anos antes de escrever-se este livro (92 A. D.), uma falta aguda de cereais, junto com uma abundância de vinho no Império, levou Domiciano a decretar a restrição da vinicultura e o incremento da produção de cereais; o decreto criou um tal furor, que teve que ser abandonado. O texto pode ter em mente uma igual situação.

Hades seguia-se, acompanhado da morte, uma lembrança que nem a morte física daria repouso aos pecadores; o mundo ínfero e o juízo os aguardavam. Para as quatro pragas-espada, e fome, e peste (traduzida "morte" nos LXX), e feras da terra-ver Ez 14.12-21.

As almas dos mártires dizia-se estarem debaixo do altar (9), porque elas tinham sido "sacrificadas"; cfr. Fp 2.17, 2Tm 4.6 Esta posição era de honra, não humilhação. Charles cita Akiba como dizendo, "Quem estivesse enterrado na terra de Israel era o mesmo que estivesse enterrado debaixo do altar, e quem estivesse enterrado debaixo do altar era o mesmo que houvesse sido enterrado debaixo do trono da glória" (Aboth R. M. 26). Os mártires foram mortos por amor da palavra de Deus, e por amor do testemunho (dado por Jesus; ver Ap 12.17) que deram (9). O testemunho era o que eles haviam recebido, não dado. As vestes brancas dadas aos mártires (11) significam uma garantia da gloriosa imortalidade a ser concedida na primeira ressurreição (Ap 20.4-6), com talvez uma sugestão que já era deles a vitória. Observa-se que este incidente forma parte integrante dos últimos juízos na terra, pois está satisfeita a oração por vingança (10) e, por conseguinte, apressado o fim; ver Ap 8.1-5. Para a ideia que a vinda do dia de Deus aguarda o último mártir, comparar 2Ed 4.33-36.

A descrição dos efeitos do sexto selo origina-se de numerosas Escrituras, inclusive os Evangelhos. O pensamento subjacente destas perturbações cósmicas é a impossibilidade que continuasse a vida sob tais circunstâncias; o fim está próximo, é vindo o grande dia da sua ira (17). Para o terremoto como um sinal do fim, cfr. Ez 39.19; para o sol e a lua, Jl 2.31; para a queda das estrelas e o retirar-se do céu, Is 34.4; para o esconder-se nas rochas, Is 2.10; para a petição aos montes, Os 10.8; para o grande e insuportável dia da ira, Jl 2.11. Estes sinais da consumação nos escritos escatológicos são por demais regulares para considerá-los figurativos. Contudo, que eles não devem ser considerados demasiadamente literais, parece evidente do quadro do céu que foge ante o trono celeste, no desfecho da era milenária (Ap 20.11), e o implorar pelos homens que as montanhas, que já se moveram do seu lugar, caíssem sobre eles. Note-se aqui a sétupla classificação dos homens (15). A ira do Cordeiro revela o caráter de Cristo sugerido no fato de Ele possuir sete pontas (vers. 6), isto é, poder completo para estabelecer justiça e executar juízo (cfr. Ap 6.10).






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