Interpretação de Daniel 6

Daniel 6

Daniel 6 conta a história de Daniel na cova dos leões. Destaca temas de fé, integridade e proteção de Deus. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Daniel 6:

1. A promoção de Daniel (Daniel 6:1-3): Dario, o Medo, que havia assumido o reino da Babilônia, nomeou Daniel como um dos três administradores do reino. A integridade e as habilidades excepcionais de Daniel fizeram dele um conselheiro confiável e valioso no novo governo.

2. A conspiração contra Daniel (Daniel 6:4-9): Os colegas de Daniel, invejosos de sua alta posição e do favorecimento do rei, procuraram encontrar uma maneira de apresentar acusações contra ele. Eles sabiam que Daniel era fiel ao seu Deus e que orava diariamente. Eles conspiraram para usar sua devoção a Deus contra ele, convencendo o Rei Dario a emitir um decreto proibindo qualquer pessoa de fazer petições a qualquer deus ou homem que não fosse o rei por 30 dias.

3. A Fidelidade de Daniel (Daniel 6:10): Apesar do decreto do rei, Daniel continuou a orar ao seu Deus três vezes ao dia, como era seu costume. Sua fidelidade a Deus teve precedência sobre qualquer lei ou decreto humano.

4. Daniel Acusado e Sentenciado (Daniel 6:11-17): Os inimigos de Daniel o pegaram no ato de orar ao seu Deus. Eles o denunciaram ao rei Dario, que ficou profundamente angustiado porque valorizava Daniel e não queria prejudicá-lo. No entanto, devido à natureza vinculativa do decreto, Dario relutantemente fez com que Daniel fosse jogado na cova dos leões.

5. A Libertação de Deus (Daniel 6:18-23): Naquela noite, o rei Dario não conseguiu dormir e foi para a cova dos leões ao amanhecer. Para seu alívio e espanto, encontrou Daniel ileso. Deus enviou um anjo para fechar a boca dos leões, poupando a vida de Daniel. Dario se alegrou e ordenou que os acusadores de Daniel fossem jogados na cova, onde foram imediatamente devorados pelos leões.

6. Proclamação de Dario (Daniel 6:24-28): O rei Dario emitiu um novo decreto reconhecendo o Deus de Daniel como o Deus vivo e eterno que realiza sinais e maravilhas. Ele ordenou que todas as pessoas do seu reino tremessem e temessem diante do Deus de Daniel. Daniel continuou a prosperar no reinado de Dario.

Daniel 6 destaca várias lições espirituais importantes:

1. Fé e Integridade: A fé inabalável de Daniel em Deus e o seu compromisso com a oração e a adoração, mesmo diante de um decreto real, exemplificam a sua integridade e devoção a Deus. Ele escolheu obedecer a Deus e não ao homem.

2. A Proteção de Deus: A libertação milagrosa de Daniel da cova dos leões sublinha o poder de Deus para proteger e resgatar os Seus servos fiéis. Deus interveio sobrenaturalmente para salvar Daniel.

3. Consequências da Inveja e do Engano: A conspiração contra Daniel por parte dos seus colegas invejosos resultou na sua própria destruição. Suas ações enganosas e maliciosas levaram à sua queda.

4. Reconhecimento da Soberania de Deus: A proclamação do Rei Dario no final do capítulo reconhece a soberania e a grandeza do Deus de Daniel. Serve como testemunho do poder e autoridade de Deus sobre os reis e governantes terrenos.

Daniel 6 serve como um exemplo inspirador de fidelidade, mesmo diante de perseguições e ameaças. Demonstra o profundo impacto de uma vida piedosa e a notável proteção que Deus proporciona àqueles que permanecem firmes na sua fé. O capítulo enfatiza a importância de colocar Deus em primeiro lugar e confiar em Sua libertação, mesmo quando enfrentamos desafios aparentemente intransponíveis.

Interpretação

O tema da fé e oração desenvolve-se na história da perseguição religiosa, um tema pela primeira vez mencionado nas Escrituras em Gênesis e que prossegue até o Apocalipse 20 (veja também Mt. 10:16-26; 23:33-36; 24:1-28; João 21:18, 19; Atos 7; 18:2; I Pe. 4:12, 13; I João 3:12; Ap. 1:9; 13).

O capítulo começa explicando a posição de destaque que Daniel tinha na Babilônia (vs. 1-3). Logo a seguir fala-se de uma conspiração contra a sua vida (vs. 4-9). Segue-se a oração modelo de Daniel (vs. 10, 11), depois a narrativa do sucesso aparente da conspiração (vs. 11-17). O capítulo continua com a surpreendente resposta divina à oração e o fracasso da conspiração (vs. 18-28).

6:1a. Pareceu bem a Dado. O mesmo Dario conforme representado em 5:31 como sendo o primeiro governador da Babilônia depois da conquista medo-persa, um homem de sessenta e dois anos de idade. A história não nos conta sobre nenhum homem chamado Dado que nessa ocasião reinasse na Babilônia. Ciro (1:21; 10:1) foi o rei persa de suprema autoridade nesse período, segundo testificam a Bíblia (Is. 44:21–45:5; II Cr. 36:22, 23; Esdras 1:1-4), historiadores seculares (Heródoto, Berosus, Xenofonte) e evidências arqueológicas (Crônica de Nabonidus, Cilindro de Ciro, etc.). A verdade da narrativa pode permanecer sem outro apoio, entretanto. Dario obviamente foi um vice-rei sob Ciro. A linguagem de Dn. 5:31 e especialmente de 9:1 praticamente o indica. Ele foi um "rei sobre o reino dos caldeus" (9:1, isto é, a Babilônia), rei local; enquanto que Ciro era o "rei da Pérsia" (isto é, do império, 10:1).

Se podemos identificar Dario com o próprio Ciro, com Ciáxares, ou Astíages, ou Cambises das fontes seculares, ou com Ugbaru ou Gubaru dos registros contemporâneos, não pode ser considerado ou estabelecido, embora uma boa conjuntura tenha sido recentemente estabelecida para Gubaru (John Withcomb, Darius the Mede). Diversas das teorias acima mencionadas são anualmente consideradas muito improváveis. A fé pode aguardar por informações futuras. Sabemos que era coisa comum entre os reis ter dois ou mais nomes (por exemplo II Cr. 36:4, 8; cons. Jr. 22:24).

6:1b. Cento e vinte sátrapas. Não eram os chefes das 127 províncias do grande império de Assuero (Xerxes, 486-465 A.C.). Não se mencionam divisões geográficas. Antes, eram os 120 assistentes de Dario como governador da Babilônia. “Rei” no aramaico e hebraico é um termo bastante elástico encampando qualquer governante desde um reizinho fantoche (por exemplo, os reis das cidades no livro de Josué) até Nabucodonosor (Dn. 1:3), Ciro (10:1) e Assuero (Ester 1:2).

6:2. Três presidentes. Antes, supervisores. Para que o rei não sofresse dano. O rei estava preocupado com o seu próprio lucro financeiro e material, não pela administração da justiça. Os antigos monarcas pagãos não tinham o verdadeiro conceito do governo “para o povo” (veja I Sm. 8).

6:3. Evidentemente Daniel, com mais de cinquenta anos de serviço público, era uma figura de destaque internacional, conhecido por sua integridade; pois ele era um estrangeiro, afastado somente dois cargos de Dano, e uma herança da administração inimiga. Isto dá ideia do valor da idade em posições de alta responsabilidade (Pv. 16:10-16). Mas era exatamente no destaque de Daniel que estava o perigo, por causa da inveja e do ciúme dos outros.

6:4. A inveja estava operando (cons. Pv. 27:4; os irmãos de José; Atos 7:9; Joabe, II Sm. 20: 4-10; os inimigos de Jesus, Mt. 27:18).

6:5. A renomada integridade de Daniel fez dele o alvo certo. Já se sabe de antemão o que fará um homem honesto em determinadas circunstâncias. Controle as circunstâncias e você o controlará!

6:6-9. O poder do plano estava em se aproveitar da vaidade de Dado. O discurso e as sugestões dos homens, tudo apelava para os desejos pagãos de vanglória do rei. Sendo um homem de sessenta e dois anos de idade, ele sabia que se quisesse obter glória, seria agora ou nunca! A declaração de que “todos” os conselheiros tinham sido consultados era uma mentira, pois Daniel não fora consultado. Na cova dos leões. Os persas, na qualidade de zoroastrianos, consideravam o fogo sagrado. Por isso, para eles, teria sido impróprio cremar ou executar pelo fogo. Os zoroastrianos (parsas) continuam até o dia de hoje a expor seus mortos a aves carniceiras.

6:10, 11 A reputação de Daniel diante do próprio Deus nos céus tornou suas orações dignas de atenção e imitação (cons. Ez. 14:14; Dn. 10:11). A sublimidade de sua corajosa fé está reconhecida por todos os que procuram se colocar dentro da situação. Ele manteve seus hábitos piedosos e suas crenças – como costumava fazer - diante de um transe absolutamente insuportável – quando soube que a escritura estava assinada.

6:10. Quando soube. A oração, em primeiro lugar, foi corajosa (cons. Hus at Constance, d.C. 1415 ). Entrou em sua casa... e orava. Em segundo lugar, ela era verdadeiramente piedosa, sem exibição do heroísmo em público. Não houve ostentação de religião. Daniel só fez o que achou que era certo (cons. Tg, 1: 27; Mt, 6: 5 e segs.). Em terceiro lugar, foi uma oração de acordo com as Escrituras. Como Moisés, em Dt. 28:36-68, predisse o cativeiro dos judeus, assim as palavras de Salomão em II Cr. 6:36-39 determinaram que adorariam em cativeiro. Daniel 6:10, 11 deve ser entendido à luz indispensável destas passagens.

Oito elementos específicos da verdadeira oração aparecem na comparação:

(1) Fé. Daniel cria na Palavra, pois ele obedecia e orientava suas orações por meio dela. A oração dos exilados tinha de ser orientada “na direção de sua terra” e ao orar voltado para os lados de Jerusalém, Daniel demonstrou fé respeitosa.

(2) Adoração. Salomão determinou que fosse “em direção da cidade”, isto é, Jerusalém (Dt. 12:5-7; I Cr. 11:4-9; 13:1-14; 15:25-29; II Cr. 3:1, 2; 5:1-14; 7:1-3. Cons. João 4:20-22; Atos 4:12). Daniel não podia adorar literalmente na Cidade Santa, mas sua atitude demonstrava que ele desejava fazê-lo; e em espírito ele o fazia.

(3) A base da expiação pelo sangue. “A casa... edificada para o meu nome” era o centro do ritual sacrificial. A atitude de Daniel reconhecia isto (cons. Hb. 10:19-22).

(4) Humildade. Isto está indicado pela ênfase marcada sobre a posição de joelhos (cons. Luc. 18:13, 14).

(5) Regularidade. Três vezes no dia (cons. Sl. 55:16, 17).

(6) Petição. E orava ou e perseverava orando. A palavra sela’ significa “curvar-se num pedido”.

(7) Ação de graças. Dava graças, etc. (cons. Fp. 4: 6).

(8) Constância. Como costumava fazer.

6:11. Então aqueles homens foram juntos, e, tendo achado a Daniel a orar... Aqui, como no versículo 6, juntos tem o sentido de assembleia tumultuosa. No primeiro exemplo cercaram o rei com sugestões nervosas e no segundo rumorosamente interromperam um idoso e santo servidor público em suas devoções particulares. Nenhuma das atitudes falava a seu favor.

6:12-17 Dario encontrou-se tolhido e amordaçado por sua própria lei. Nisto demonstrou que sua autoridade era bastante inferior em natureza a de Nabucodonosor, cuja pessoa estava acima da lei. O governo de Dario aproximou-se do ideal democrático, mas era menos absoluto do que o dos caldeus. Neste sentido era inferior, e assim cumpriu o que fora predito dele pela porção de prata da imagem na profecia do capítulo 2. Observe que a admiração do rei por Daniel não desapareceu, e que a fé de Daniel inspirou o rei a crer também.

6:18-28 Se Daniel orou por si mesmo, então os versículos 21-23 descrevem a resposta; se foi pelo rei, então o versículo 16 da seção anterior mostra a operação divina no seu coração; se pela glória de Deus, então os versículos 24-28 dão a resposta. A fé zoroastriana do rei era o ponto mais próximo do monoteísmo ético judeu que o paganismo conseguiu alcançar. Esta declaração traduz-se quase como se ele tivesse contribuído para o desenlace. Deus foi glorificado pela destruição dos Seus inimigos, pela confissão do rei e pela recompensa do Seu servo.

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