Interpretação de Ezequiel 38

Ezequiel 38 contém uma profecia sobre uma futura invasão de Israel por uma coalizão de nações liderada por um governante conhecido como Gogue.

O capítulo começa com Deus instruindo Ezequiel a profetizar contra Gogue, o governante da terra de Magogue. Gog é descrito como o líder de uma coalizão de nações que virá contra Israel no futuro. As nações mencionadas incluem Pérsia, Cuxe, Pute, Gômer, Togarma e outras.

Ezequiel 38 descreve as intenções de Gogue e sua coalizão de invadir Israel. O motivo desta invasão não é explicitamente declarado, mas o capítulo enfatiza que o próprio Deus trará Gogue contra Israel como parte do Seu plano.

Deus declara que intervirá e demonstrará Seu poder em favor de Israel. Ele causará confusão entre as forças invasoras, fazendo com que se voltem umas contra as outras. Deus desencadeará desastres naturais, pragas e julgamento sobre os exércitos invasores.

Ezequiel 38 conclui com o propósito da intervenção de Deus ser mostrar Sua santidade e dar-se a conhecer às nações. O capítulo transmite que a intenção última de Deus é revelar Sua soberania e demonstrar Sua autoridade sobre as nações.

Ezequiel 38 é uma mensagem profética sobre um evento futuro que tem sido interpretada de diversas maneiras por estudiosos e teólogos. Contém temas sobre a soberania de Deus, Seu papel na história e o eventual reconhecimento de Seu poder pelas nações. O capítulo também destaca o conceito de intervenção e proteção divina para Israel em meio a desafios e ameaças.

Interpretação

O Senhor Protege Israel Contra Gogue e Seus Aliados. 38:1–39:29.

Estes capítulos descrevem de maneira apocalíptica o livramento divino do Seu povo de uma invasão sem paralelos por um inimigo temível. Israel estará restaurada em sua terra (34:12, 13, 15, 23, 27) e convertida (36:24.28). Deus habita no meio deles (37:21-28), e a nação vive em prosperidade e segurança (38:8, 11, 12, 14). Seus inimigos vizinhos já não a molestam (25-32; 36:36). Então no futuro distante (38:8, 16), tem lugar uma invasão anteriormente predita (38:17; 39:8) por nações habitando nos limites do mundo (cons. Is. 66:19). Elas vêm como uma nuvem (38:9, 16) – Gogue da terra de Magogue, e seus afiados, Rosh (?), Meseque e Tubal (38:2, 3), das regiões do extremo norte (38:15; 29:2), junto com a Pérsia, Cush e Pute (38:25) e Gômer e Togarma, com suas hordas do norte (38:6). As nações comerciantes de Seba, Dedã e Társis e suas cidades (38:13) também estão interessadas nesta invasão. Gogue vem orientado pelo Senhor (38:4-7, 16; 39:2, 3), mas também por sua própria iniciativa, incitado por sua ganância (38:10-14). De todos os profetas Ezequiel é o único que coloca “aquele dia” (38:10, 14, 18, 19; 39:11) depois de Israel desfrutar a restauração e a prosperidade em sua terra. Veja também Ap. 19:11; 20:7.

Israel é milagrosamente preservada, mas as hordas de Gogue são destruídas por um terremoto, lutas internas, pragas, chuvas torrenciais, fogo e enxofre (38:19-22), como também pela derrota na batalha (39:3, 4). Suas armas abandonadas servirão de combustível para Israel durante sete anos (39:9, 10). Serão precisos sete meses para o sepultamento dos seus cadáveres (39:11-15), e também os seus corpos e sangue virão a ser uma festa para as aves e os animais (39:17-20). O resultado desta batalha será que as nações hão de saber que Deus é o Senhor (38:16, 23; 39:6, 7, 21, 23; cons. Is. 45:23), enquanto que Israel jamais precisará duvidar da proteção do seu Deus (39:22; com. 39:25 -29 ). São três as opiniões divergentes sobre estes capítulos.

Eles apresentam uma descrição literal de um futuro ataque a Israel. Desde Jerônimo até os nossos dias, Gogue tem sido diversamente identificado como os babilônios; os citas; Cambises, rei da Pérsia; Alexandre, o Grande; Antíoco, o Grande; Antíoco Epifânio; Antíoco Eupator; os partas; Mitrídates, rei do Ponto; os turcos de Suleiman; os turcos e os cristãos; os descendentes armênios dos citas; e uma confederação dos poderes do norte da Europa incluindo a Rússia (Rosh; Meseque e Tubal como Moscou e Tobolsqui) e a Alemanha (Gômer).

Damos a seguir as objeções às interpretações literais (cons. Fairbairn, 414-431, esp. pág. 421; Keil, II, 432; Faussett, JFB, IV, 348 e segs.):

a) A impossibilidade de identificar Gogue e Magogue com uma pessoa ou lugar históricos.
b) A improbabilidade de um tal exército conglomerado formando uma coligação milita.
c) O tamanho desproporcional do exército invasor em comparação a Israel e seus produtos.
d) Os problemas envolvidos no sepultamento dos cadáveres durante sete meses e no uso de armas abandonadas como combustível durante sete anos.
e) A rude carnalidade da cena sendo inconsistente com os tempos messiânicos.

Eles são uma descrição simbólica de algum acontecimento futuro. Alguns mestres adotam a opinião de Hengstenberg de que esta seção descreve o conflito final da nação de Israel com inimigos não identificados. A interpretação mais tradicional de Havernick e Keil vê isto como a luta final e catastrófica entre a Igreja e as forças do mundo, e o triunfo da verdade divina sobre todas as formas de mundanismo. Este ponto de vista permite que a narrativa seja uma fonte de conforto para Israel e para a Igreja, mas restringe-a a um cumprimento muito distante.

Eles constituem uma parábola profética ilustrando uma grande verdade e não se referindo a nenhum acontecimento histórico específico.

As ilustrações de Ezequiel frequentemente têm detalhes que não podem ser literalmente forçados (por exemplo, 16:46-51, 53-56, 61) mas fazem parte do aspecto da história. Aqui as imagens elaboradas e misteriosas expressam uma grande verdade. Para Israel na Babilônia esta profecia dava a certeza de que, uma vez restaurada à sua terra, o poder de Deus a protegeria dos piores inimigos imagináveis. Para a Igreja sofrendo nas mãos de seus mais implacáveis perseguidores, esta é uma promessa do livramento divino. O triunfo final do Messias no tempo do fim também está implícito nesta parábola. Este ponto de vista torna a passagem pertinente a cada período da história. O propósito das obras apocalípticas como esta é o “desvendamento” do futuro, mostrando o Senhorio de Deus sobre ele. Assim elas orientam e fortalecem o povo de Deus em períodos de trevas (por exemplo, Daniel, Apocalipse. Cons. H. H. Rowley, The Relevance of Apocalyptic).

Na sinagoga, 38:18–39:16 é o haphtarah para Êx. 33:12–34:26 e Nm. 29:26-31 para o Sábado dentro do festival de Sucote.

Os capítulos contêm sete oráculos introduzidos pela fórmula, “Assim diz o Senhor” (veja Introdução abaixo, 38:1, 2; também os vs. 3-9, 10-13, 14-16, 17.23; 39:1-16, 17-24; conclusão, vs. 25-29).

A Invasão de Gogue e Sua Destruição. 38:1-23.

Introdução. 38:1, 2.


38:2. Gogue (nos caps. 38; 39; Ap. 20:7) não se baseia em Gogaia das Cartas de Amarna, nem Gyges, rei da Lídia (670-652), mas nas profecias transmitidas. Da terra de Magogue. A localização deste lugar é desconhecida. Talvez fique entre a Capadócia e a Média; ou talvez o termo se refira aos citas (Josefos Antq. 1. 6.1). Príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal (cons. 27:13). Leia-se o T.M, nesî'rô'sh em aposição, príncipe de, cabeça de Meseque e Tubal. A palavra rô'sh significa “cabeça” ou “chefe”. O T.M, também pode ser traduzido para “príncipe de Rosh, Meseque e Tubal”. Rôs não tem sido identificado. Possivelmente se refere a alguma tribo cita na região das montanhas Taurus.

Sobre as últimas batalhas com Gogue e Magogue, veja Enoque 56, 57; Livros Sibilinos (Oráculos), III, 319, 320; II Esdras 13; Talmude Babilônico, Aboda Zara, 3b; Berakoth, 7, 8; G.F. Moore, Judaísmo, II, 344, 348. Cons. as batalhas sangrentas de Anate, ANET, 136, 137.

Gogue e Suas Hordas Conduzidas pelo Senhor. 38:3-9.

38:4. Far-te-ei que te volvas. A figura é a de se fazer uma besta fera voltar-se de suas inclinações sem significado para cumprir propósitos divinos.

38:5. Persas e etíopes (Kûsh), e Pute (Lídia). Cons. 27:10; 30:5.

38:6. Gômer (Gn. 10:2). Os gimirrai dos assírios; os cimérios dos gregos, que moravam ao sul do Mar Negro, provavelmente na Capadócia. Togarma (cons. 27:14) da banda do norte. (Das partes extremas do norte, RSV). Do mesmo modo Roma nos Sal. de Salomão, 8:16.

38:7. Serve-lhe de guarda ou líder para os exércitos invasores.

38:8. Depois de muitos dias... no fim dos anos. Uma expressão usada com referência ao futuro escatológico (cons. introd. observações sobre os caps. 38 e 39).

38:9. Gogue e seus aliados virão como tempestade... como nuvem (cons. v. 16; Is. 21:1; Jr. 4:13) contra o Israel pacífico e próspero (cons. vs. 8, 11, 12).

O Propósito Maligno de Gogue na Invasão. 38:10-13.

38:10. No teu coração. Os planos do homem são apenas parte dos extensos propósitos divinos. Veja, por exemplo, 39:2; Is. 10:5, 6.

38:12. No meio (lit. , no umbigo) da terra. Cons. 5:5.

38:13. Sabá e Dedã... mercadores de Tarsis. Cons. 27:22, 20, 12. E todas as suas cidades (RSV). Também a LXX e a Siríaca, dão ke'parîm em lugar do T.M. kepîrîm, “jovens leões”. O clamor das nações comerciantes talvez saia irônico ou talvez uma aprovação dos lucros antecipados que aguardam.

A Vinda de Gogue Determinada pelo Senhor. 38:14-16.

38:14. Quando o meu povo Israel habitar seguro. Cons, os versículos 8, 11, 12.

38:16. Meu povo... minha terra. Um ataque contra a terra do Senhor é um ataque contra Ele.

A Destruição de Gogue. 38:17-23.

38:17. Os profetas... os quais..., profetizaram. Esta invasão foi prevista, ou na precedente profecia de Ezequiel, ou nas profecias que já não existem mais (cons. 39:8; Sf. 1:14 e segs.; Jr. 3-6; Joel 3; Zc. 14).
19-22. A destruição de Gogue se efetua por meio de um terremoto (v. 19) que aterroriza toda a natureza (v. 20), por meio de um pânico sobrenatural entre os seus soldados (v. 21.), por meio de pestilência e derramamento de sangue e visitações da natureza (v. 22).