Interpretação de Marcos 12

Marcos 12

12:1. Parábola. Que Jesus apresentou mais de uma parábola nesta ocasião vemos fazendo uma comparação com Mt. 21:28132, onde a história dos maus lavradores foi precedida pela dos dois filhos. A introdução à parábola, conforme a encontramos em Mc. 12:1, foi inconfundivelmente extraída de Is. 5:1, 2. O fato de que a vinha, lá, representasse Israel (Is. 5:7), deu aos líderes judeus a pista para a interpretação da parábola de Jesus. Sebe. A palavra usada por Marcos quer dizer cerca; poderia ser uma cerca de pedras, ou um muro. O lagar era o lugar onde se espremia o suco das uvas. A torre era uma combinação de atalaia e armazém. Os lavradores eram fazendeiros, neste caso, produtores de vinho, usados aqui para representarem os líderes religiosos de Israel, tais como aqueles aos quais Jesus falava (cons. 11:27; 12:12).

12:2. O servo, conforme 12:4, 5, representa um profeta que Deus enviou a Israel.

12:3. O fato de que, o agarram, espancando, indica a perseguição que sofreram os profetas do V. T. (cons. 23:34, 37).

12:6. Um, seu filho amado. Essas palavras são uma óbvia descrição do próprio Cristo (Cons. 1:11; 9:7). O termo reverência é muito forte. Respeito é o mais indicado.

12:7, 8. A conspiração de matá-lo foi uma descrição dos planos nos quais os líderes judeus estavam ocupados exatamente naquela ocasião para condenar Jesus à morte.

12:9. A predição de que o proprietário exterminará aqueles lavradores cumpriu-se em 70 A.D., quando os romanos sob o comando de Tito destruíram Jerusalém e acabaram com qualquer aparência de governo próprio que os judeus haviam desfrutado anteriormente. Os outros aos quais a vinha seria entregue foram mais amplamente descritos em Mt. 21:43, onde Jesus foi citado, dizendo. O reino de Deus vos será tirado, e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. Esta é uma referência óbvia aos gentios e à igreja.

12:10 A pergunta, Ainda não lestes?, foi feita esperando-se uma resposta positiva. A citação neste versículo e no seguinte é uma citação exata do Sl. 118:23, 24 da Septuaginta. A pedra é Cristo, que foi rejeitado pelos construtores, os líderes religiosos dos judeus.

12:13 Em 12:13-17, os fariseus e os herodianos interrogaram Jesus em relação ao pagamento do tributo devido a César. Esta combinação não é usual, pois os fariseus pouco tinham em comum com os herodianos. Os primeiros opunham-se decididamente a qualquer domínio estrangeiro, enquanto que os últimos apoiavam o governo estrangeiro dos Herodes. Um dos grupos se oporia ao imposto romano; o outro o favoreceria. A motivação desses conspiradores incongruentes era oculta. Queriam apanhá-lo nalguma palavra como um caçador apanha a sua presa.

12:14 Não te importas. Isto foi dito com a intenção de lisonjeá-lo, querendo dizer que os seus ensinamentos não eram influenciados pelo que pensavam amigos ou inimigos. O tributo em questão era um imposto per capita que tinha de ser pago pessoalmente no tesouro romano. É lícito? Queriam que respondesse quanto à legalidade ou ilegalidade do imposto diante dos olhos de Deus.

12:15. Porque me experimentais? O Senhor percebeu o dilema no qual pretendiam colocá-lo. Pensavam que respondendo de modo afirmativo, o povo judeu, que odiava o imposto per capita, levantar-se-ia e o rejeitaria com suas reivindicações; mas se respondesse negativamente, poderia ser acusado de oposição à Roma. Um denário. Era o denário, com o qual se pagava o imposto.

12:17. Dai. O verbo significa devolvam totalmente. Implica em obrigação com César. O povo era obrigado a sustentar o governo por causa dos privilégios que o governo romano lhe concedera (cons. Rm. 13:1-7). Tinham, também, de cumprir suas obrigações com Deus. E não há nenhuma incongruência no pagamento de ambas as dívidas, pois ambos os pagamentos são feitos em cumprimento da vontade de Deus. Uma resposta assim resolveu completamente o dilema previsto, resultando em que os interrogadores ficaram completamente pasmados (muito se admiraram, exethaumazon, uma palavra aumentativa para grande espanto).

12:18 A pergunta dos saduceus (vs. 18-27) bastante naturalmente relacionava-se com a ressurreição, a qual Jesus ensinava e eles negavam. Os saduceus não admitiam uma coisa tal como a existência depois da morte. Também negavam a realidade dos anjos e espíritos (Atos 23:8).

12:19. Moisés nos deixou escrito. A declaração da lei propriamente dita do levirato, referente ao casamento, encontra-se em Dt. 25:5-10. Se um homem morria sem filhos, seu irmão devia se casar com sua esposa, e o primeiro filho dessa união era então considerado o filho do marido morto.

12:23 O problema levantado parecia irrespondível. Na ressurreição... de qual deles será ela esposa? Os saduceus apenas supõem a possibilidade da ressurreição como base de sua argumentação. O propósito da pergunta era tentar provar a impossibilidade da ressurreição como base de sua argumentação. O propósito da pergunta era tentar provar a impossibilidade da ressurreição reduzindo-a ao absurdo.

12:24. Não provém o vosso erro. O verbo grego significa desencaminhar. Eles estavam sendo desencaminhados (ou, eles mesmos estavam se desencaminhando) por dois motivos. Um, eles não entendiam o que ensinavam as Escrituras do V.T. com referência à ressurreição (cons. vs. 26, 27). Dois, eles subestimavam o poder de Deus de ressuscitar os mortos e de resolver todas as aparentes dificuldades relacionadas com a ideia da ressurreição.

12:25. Com esta declaração de fatos Jesus arrasou com seu aparente problema. Eles haviam erradamente presumido que haveria a continuação do relacionamento conjugal depois da ressurreição. Em vez disso, Cristo explicou, as pessoas terão o mesmo relacionamento dos anjos.

12:26. A pergunta, Não tendes lido? aguarda uma resposta afirmativa, pois Cristo sabia bem que esses saduceus estavam inteiramente familiarizados com o Pentateuco. Ele se referiu especificamente a Êx. 3:6, da Septuaginta.

12:27. A verdade aqui demonstrada é o fato da imortalidade. Ser o Deus de Abraão é estar em comunhão com Abraão. Não é possível, portanto, ser o Deus de mortos, mas apenas de vivos. Assim, quando Deus falou de dentro da sarça ardente, ainda que os patriarcas estivessem mortos há anos, continuava em comunhão com eles. O argumento de Cristo, então, admite que, havendo vida após a morte, isto é suficiente para provar que a ressurreição se seguirá. A perfeita existência humana exige a união da alma com o corpo.

12:28. A pergunta relacionada com o quinto mandamento (vs. 28-34) partiu de um dos escribas. Ele, sem dúvida, era um fariseu, pois aprovou a resposta que Jesus deu aos saduceus. Parece que não havia nenhum motivo secreto para esta inquisição (cons. vs. 28, 32-34).

12:29, 30. Jesus não buscou a tradição dos escribas para dar a sua resposta, mas à Lei escrita. Em Dt. 6:4, 5. A citação foi feita da Septuaginta, com a adição das palavras e de todo o teu entendimento. O entendimento e o coração são, na realidade a mesma coisa na compreensão hebraica. As palavras, Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, são do credo conhecido por “Shema” e eram citadas diariamente pelos judeus devotos. Declaram o princípio distintivo da fé hebraica que Deus é um. O significado deste mandamento, amar a Deus, é que ele deve ser amado com todas as forças e a capacidade que o homem possui. Este é o alicerce e o resumo da obrigação total do homem para com Deus.

12:31. O segundo mandamento foi citado textualmente de Lv. 19:18 (Septuaginta). Aqui também está a base e o conjunto das obrigações do homem para com o homem. Estes dois mandamentos são fundamentais nos ensinamentos de toda a Lei e os Profetas (Mt. 22:40).

12:34. Sabiamente. Isto é, com sabedoria. Cristo declarou que o homem tem o tipo de compreensão espiritual que, se for cultivada, levá-lo-á ao reino de Deus. O presente reino espiritual, no qual se entra pela fé e pelo novo nascimento, é o reino em questão aqui (cons. Jo. 3:3, 5). Marcos termina sua narrativa desta discussão com uma forte afirmação mostrando como Cristo silenciou completamente seus oponentes. Ninguém mais tinha coragem de perguntar alguma coisa. Nunca mais tentaram apanhar Cristo com um quebra-cabeça teológico ou legal.

12:35. Entretanto, Cristo ainda não terminara de lidar com os seus oponentes. Ele tinha uma pergunta para lhes fazer relativa ao parentesco de Davi com o Messias (vs. 35-40). A citação do ensinamento dos escribas representa a opinião judia padronizada de que o Messias seria um descendente de Davi.

12:36. A citação foi tirada do Sl. 110:1 (Septuaginta), uma passagem que os judeus há muito reconheciam como messiânica. Com sua introdução à passagem, Cristo afirmou a autoria davídica como também a inspiração divina do salmo. Seu propósito em usar as palavras de Davi foi de trazer à baila, partindo das próprias Escrituras, a verdade da divindade do Messias.

12:37. O fato que Jesus destacou foi que Davi o chamou de Senhor. Como então, pode o Messias ser as duas coisas, o exaltado Senhor de Davi e seu filho? Mateus declara que ninguém foi capaz de lhe responder essa pergunta (22:46). Contudo, ali de pé diante deles, estava o Filho de Deus encarnado, o Messias de Israel, a própria resposta personificada. Ele era um descendente de Davi “segundo a carne” e o Filho de Deus “segundo o espírito de santidade” (Rm. 1:3,4).

12:38. Ensinar. Nossa palavra “ensinamentos” representa melhor o que Marcos quis dizer. As vestes talares eram as longas vestes flutuantes das pessoas ricas ou importantes. As saudações são explicadas em Mt. 23:7.

12:39. Primeiras cadeiras e primeiros lugares são os lugares de honra nas sinagogas e nos banquetes.

12:40. Mesmo sendo reconhecidos como os honrados líderes da comunidade, os escribas eram na realidade culpados da mais indigna desonestidade. Faziam longas orações nos lares das viúvas para encobrir o fato de que estavam ocupados em planos tortuosos de lhes roubar as casas.

12:41. Localizado na área do templo conhecida como o Átrio das Mulheres, o gazofilácio continha treze cornucópias para o depósito das ofertas e do imposto devido ao templo. Parece que Jesus ficou observando as pessoas que davam suas ofertas durante algum tempo e notou algumas pessoas ricas fazendo suas ofertas (cons. imp. grego usado com os verbos observava e lançava, segunda ocorrência).

12:42. Dos sinônimos gregos para a pobreza, Marcos escolheu uma palavra que descrevia a condição miserável de um indigente para caracterizar esta viúva pobre. Ela deu uma quantia igual a duas pequenas moedas ou meio centavo. Uma moeda (lepton) era a menor das moedas de cobre, geralmente igual a um oitavo do centavo americano (Arndt, pág. 473). O meio centavo (kodantrês) era uma moeda romana valendo um quarto do centavo (Arndt, pág. 438).

12:44. O princípio enunciado por nosso Senhor nessa ocasião é que uma oferta deve ser avaliada não pelo tamanho mas pela comparação da oferta com a quantia total possuída pelo ofertante. Um donativo grande vindo da abundância pode ser menos significativo que um donativo pequeno vindo da pobreza. Esta mulher deu a menor oferta possível, mas foi mais significativa do que as outras, pois era todo o seu sustento.

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