Interpretação de Marcos
Marcos 6
I. Outra Viagem
Missionária pela Galileia. 6:1-30.
Marcos registra
apenas duas das três viagens missionárias do Senhor pela Galileia, a primeira
com os quatro pescadores (1:35-45), e a terceira na conclusão do ministério da
Galileia (6:1-30). A segunda viagem teve lugar logo depois da escolha dos Doze
(Lc. 8:1-3). A terceira foi diferente das duas anteriores em que os discípulos
foram enviados dois a dois (Mc. 6:7), depois que Cristo foi de cidade em cidade
pregando e ensinando ele mesmo (Mt. 11:1). A viagem deve ser entendida
incluindo a visita a Nazaré (Mc. 6:1-6). Foi também durante esse período que
Herodes ficou preocupado com a grande popularidade do Senhor (6:14-16).
1. Partido
dali. Isto
é, de Cafarnaum. Embora o lugar para o qual Jesus foi não está especificamente
mencionado, é óbvio à vista dos versículos seguintes, que sua pátria se refere
à sua cidade, Nazaré.
3. Jesus foi
chamado de irmão de Tiago e outros, uma designação que deve ser tomada
literalmente. Não há motivo bíblico nenhum para deixarmos de aceitar que esses
quatro homens e suas irmãs fossem filhos de José e Maria, nascidos algum tempo
depois de Jesus. Tiago tornou-se o líder da igreja de Jerusalém (Atos
15:13 e segs.) e autor da epístola que leva o seu nome. Judas é o autor
da epístola geral do mesmo nome. Os habitantes da cidade escandalizavam-se. Este
verbo originalmente significava "ser apanhado em uma armadilha". Eles
foram apanhados na armadilha de sua própria crença e tropeçaram quando podiam
ter-se levantado diante de sua maior oportunidade.
5. Cristo não foi
capaz de realizar ali nenhum milagre. Entretanto, não quer dizer que ele
tentasse curar alguém e descobrisse ser incapaz, mas que tão poucas pessoas
tinham fé suficiente para vira ele em busca de cura.
6. Onde o Senhor
Jesus deveria ter podido encontrar a maior fé nele, descobriu a mais
persistente incredulidade. E mesmo sendo o Filho de Deus onisciente, admirou-se
diante dos seus conhecidos incrédulos. Percorria. O imperfeito grego
descreve uma ação que se processa. Ele ia de vila em vila, a ensinar em
todas as localidades. Este ministério em Nazaré e aldeias vizinhas foi o
primeiro estágio da terceira viagem missionária pela Galileia.
7. O segundo
estágio da viagem foi apresentado quando Jesus chamou os Doze e passou a
enviá-los. Parece que era a primeira vez que iam sem a companhia de Cristo,
e portanto constituía um passo mais avançado do seu treinamento. Poder. Autoridade.
8. Eles não deviam
levar nada... para o caminho. Era para treiná-los na prática da fé em
preparação para o tempo quando ficassem sozinhos. Nem alforje. Um saco
de viagem para levar provisões. Nem dinheiro. Esse termo se refere a
pequenas moedas de cobre. Não deviam levar com eles nem mesmo dinheiro trocado.
Cinto. Um cinto que os orientais usavam para manter no lugar suas roupas
folgadas; servia também para carregar dinheiro.
9. A intenção era
que não levassem com eles vestuário extra. Túnicas. A roupa mencionada
aqui é roupa de baixo, que se usa junto à pele, e não um casaco.
11. Deviam sacudir
o pó não em animosidade pessoal mas como um testemunho demonstrando
a seriedade da rejeição da mensagem do Filho de Deus. A declaração referente à Sodoma
e Gomorra não consta dos manuscritos gregos mais antigos.
13. Ungindo-os
com óleo era
prática médica usual (cons. Lc. 10:34; Tg.
5:14). W. K. Hobart (The Medical Language of St. Luke, págs. 28, 29)
registra numerosas citações de escritores antigos nesse sentido. Swete (Mark,
pág. 119) diz que a unção ritualística dos doentes não existia até o segundo
século. Assim, essas curas eram uma combinação de milagre e medicina.
14. O incidente
registrado em 6:14-29 aconteceu durante a terceira viagem pela Galileia (cons.
vs. 12, 13, 30). Este rei Herodes era Herodes Antipas, filho de Herodes,
o Grande, e tetrarca da Galileia e Pereia. O ministério contínuo de Cristo e
seus discípulos na Galileia espalhara sua fama por toda aquela região. Aqui,
pela primeira vez, temos indicação de que a reputação de Cristo chamara a
atenção das autoridades governamentais.
15. Havia um rumor
corrente entre o povo que ele era Elias retornando para cumprimento de
Ml. 4:5 (cons. Mt. 16:14; Jo 1:21), ou que ele era um dos profetas segundo os
padrões do V.T.
17. O cárcere onde João se
encontrava estava localizado em Maquerus, na praia ocidental do Mar Morto (Joseph.
Antiguidades xviii. 5.2). O relacionamento marital de Herodes era
escandaloso. Herodias era a esposa de seu próprio meio-tio, Herodes Filipe I,
mas ela o abandonara para se casar com outro meio-tio, Herodes Antipas, irmão
do primeiro. Herodes Antipas já era casado com a filha de Aretas, rei da
Arábia, mas havia despedido a sua esposa.
18. João lhe
dizia. Ele
o dizia repetidas vezes (gr. imp.).
19. Herodias o
odiava. Literalmente,
Marcos diz que ela lhe dedicava um rancor contínuo. Ao contrário de Herodes,
ela não sentia nenhuma atração por João e sua pregação; ela queria matá-lo.
20. Com Herodes a
coisa era outra. Apesar de sua vida desregrada, ele sentiu-se tocado pela vida
e mensagem de João. Tinha em segurança. Antes, protegia-o, não
permitindo que Herodias o matasse. Ficava perplexo. A mais autêntica
variante diz, Ele estava perplexo. O conflito entre sua admiração por
João e a atração de suas amizades pecadoras mantinha-o em estado de íntima
confusão. Apesar disso, ele o ouvia (gr. continuava ouvindo) de
boa mente.
21. Herodias
aguardava com astúcia um dia favorável para transpor a proteção com a
qual Herodes cercara João. A elite dos círculos governamental, militar e social
foi convidada (grandes, tribunos e príncipes, respectivamente).
22. A filha mencionada era
Salomé, fruto do primeiro casamento de Herodias. Calcula-se que a jovem não
tinha mais de vinte anos de idade naquela ocasião (Vincent Taylor, Mark,
pág. 314). Era coisa inusitada que a filha de um governador divertisse a
nobreza nesse estilo. Era tarefa de uma escrava, não de uma princesa. Este era,
entretanto, o momento oportuno esperado por Herodias (v. 21), e Herodes sob o
efeito da bebida e da sensualidade, caiu na sua armadilha. Aos seus
convivas. Antes, reclinavam-se com ele (veja 2:15).
25. O pedido de
Herodias tinha a marca da urgência. Ela queria que a atitude fosse tomada antes
que Herodes descobrisse um meio de escapar. Salomé voltou apressadamente e
pediu que o seu pedido fosse atendido, não dentro em pouco, mas no
mesmo instante (gr.).
26. Embora o pedido
entristecesse Herodes profundamente, viu que era impossível retroceder em seu
juramento diante de um grupo tão augusto. Era mais importante manter o seu
prestígio do que preservar a vida do profeta de Deus. Não causa admiração que a
sua consciência o perturbasse depois (vs. 14, 16).
27. O palácio de
Herodes em Maquerus era também uma fortaleza e como tal devia conter um cárcere.
Assim, a cena da execução não aconteceu muito longe da sala do banquete.
28. Parece que
Salomé permaneceu no salão do banquete até a execução de João e lhe trouxeram a
cabeça num prato. A aparente calma com a qual fez o pedido e depois levou o
sangrento prato à sua mãe indicam a natureza insensível da moça.
30. Tendo acabado
de apresentar a parentética explicação relativa ao destino de João, Marcos
retoma aos discípulos e à viagem missionária. Nada registra relacionado com o
tempo que durou ou os acontecimentos sucedidos. Simplesmente conta que os apóstolos
voltaram juntos novamente. A designação, "apóstolo", é muitíssimo
apropriada à ocasião. A palavra fala de alguém que foi enviado em uma missão, e
os discípulos estavam voltando de tal tarefa.
IV. As Retiradas de Cristo da Galileia.
6:31 - 9:50.
O Senhor cobriu
a Galileia tão completamente com a sua mensagem que os galileus, em cada setor
da vida, estavam cônscios do seu ministério. Entre pessoas simples a sua
popularidade estava num ponto tão alto que queriam coroá-lo seu rei pela força.
A antipatia dos líderes religiosos dos judeus estava perigosamente atingindo o
ponto de saturação. E o próprio Herodes estava agora ficando preocupado com a
popularidade de Cristo. A situação estava se desenvolvendo na direção de uma
crise prematura, enquanto o ministério de Cristo ainda não estava completo. O
resultado foi que Jesus fez quatro retiradas sistemáticas da Galileia, uma para
o litoral ocidental do mar (6:31-56), uma para a região de Tiro e Sidom
(7:24-30), uma para Decápolis (7:31 - 8:9), e a quarta para Cesareia de Filipe
(8:10 - 9:50). Durante esse tempo Cristo estava ocupado com o treinamento dos
doze discípulos em preparação para o momento de sua morte.
A. Retirada
para o Litoral Ocidental do Lago. 6:31-56.
Esta seção do
Evangelho registra a narrativa dos cinco mil que foram alimentados (6:31-44), o
milagre de Jesus andando sobre as águas (6:45-52), e as curas na planície de
Genesaré (6:53-56). Em vez de ser um período de descanso e recolhimento longe das
multidões, foi um período de contínua atividade.
31. O lugar
deserto era provavelmente no litoral nordeste do Mar da Galileia. Não era
deserto; a expressão significa "um lugar abandonado, sertão". Depois
do esforço da viagem missionária eles precisavam repousar um pouco.
33. Muitos. . .
reconhecendo-os. Quando
as pessoas viram que estavam se afastando, foram reconhecidos (texto gr.) O
fato da multidão ser capaz de se antecipar a Cristo chegando ao lugar antes
dele parece confirmar o ponto de vista que o lugar deserto (v. 31) era o
nordeste do litoral do lago.
34. Quando Jesus
desembarcou, tornou-se aparente que ele e seus homens não poderiam desfrutar do
planejado período de descanso. Sua reação, contudo, não foi de aborrecimento;
pelo contrário, ele compadeceu-se deles. Viu as necessidades do povo
como se fosse um rebanho de ovelhas sem pastor, sem liderança espiritual (cons.
Nm. 27:17; I Reis 22:17).
36. Campos ao
redor e pelas aldeias. A palavra empregada por Marcos significa
literalmente campos, que provavelmente se refere às fazendas dos campos.
37. Dai-lhes
vós. A
ênfase foi colocada sobre o sujeito vós. O termo monetário que foi usado
aqui, duzentos denários, é a palavra denariôn, o denário romano
que valia cerca de dezoito centavos americanos naquele tempo (Arndt, pág. 178).
39. Em grupos. A palavra grega
significa canteiros (Arndt, pág. 705). A cena que Marcos descreve é a de
grupos de pessoas espalhadas como canteiros de flores sobre a relva (v. 39).
Sem dúvida a variedade de cores das roupas servia para criar essa impressão
quando vista de longe.
41. Os verbos tomando,
erguendo, abençoou e partindo estão todos no aoristo grego, significando
ação imediata. Mas o verbo deu está no tempo imperfeito, mostrando, como
um contraste, que ele continuou dando aos discípulos. Foi nesse ponto que o
milagre da multiplicação aconteceu.
43. O fato
surpreendente não foi que o povo simplesmente se satisfez, mas que houve um
suprimento superabundante. Os cestos eram grandes cestos de se carregar pão. De
um modo geral, entretanto, eles eram menores do que aqueles que foram usados
para alimentar os quatro mil (veja comentários sobre 8:8).
44. A contagem dos
cinco mil não incluiu mulheres e crianças (cons. Mt. 14:21).
45. Cristo compeliu
os seus discípulos a entrarem no barco e dirigiu-se para Betsaida.
Evidentemente o lugar do milagre foi ao sul de Betsaida Julias (Lc. 9:10), e
Cristo orientou os discípulos a navegarem para a cidade a fim de se encontrarem
com ele. O motivo dessa abrupta dispersão da multidão, conforme
apresentada por João (6:14, 15), foi o perigo de uma tentativa revolucionária
de coroá-lo rei.
47. Ao cair da
tarde. Isto
é, às seis horas da tarde, a hora do pôr-do-sol.
48. Uma vez que
ainda não estava escuro, pôde vê-los ainda da terra em dificuldade a remar.
Dificuldade, de um verbo com o significado de atormentaram-se ou desesperaram-se,
descreve a dificuldade dos discípulos na sua tentativa de remar contra o vento.
Quarta vigília da noite ia das três às seis da manhã. Jesus retardou sua
ajuda desde o pôr-do-sol até cerca das 3 horas da madrugada. A declaração de
que queria tomar-lhes a dianteira não deveria apresentar nenhum problema
referente à sinceridade de Jesus. Ele não caminhava diretamente em direção do
barco, de modo que para os discípulos pareceu que ele ia ultrapassá-los senão o
tivessem chamado (v. 49). Em vez de subitamente entrar no barco, Jesus estava,
sem dúvida, dando-lhes tempo para o reconhecerem.
49. Um
fantasma. Esta
não é a palavra grega para "espírito", mas um termo que significa aparição.
Pensaram que estivessem vendo um fantasma.
50. Tende bom
ânimo. Este
verbo leva com ele a ideia de coragem, que era provavelmente o pensamento
principal de Cristo. A proibição no tempo presente, não temais, significa
parem de temer.
51. Sem uma palavra
da parte de Cristo, o vento cessou (gr., tornou-se cansado). A
perplexidade que tomou conta dos discípulos foi o resultado do duplo milagre. O
texto grego omite as palavras e maravilhados.
52. Além de se
esquecerem que anteriormente Cristo já tinha acalmado as ondas (4: 39), não
entenderam (texto gr.) o milagre dos pães. Porque o seu coração
estava endurecido, não captaram a verdade relativa à divindade de Cristo, o
que os milagres estavam continuamente demonstrando.
53. Provavelmente
Jesus entrou no barco em algum lugar afastado da praia de Betsaida Julias, pela
qual passaram atingindo a praia oriental do lago novamente. Genesaré era
o nome de uma planície ao longo da praia do lago ao sul de Cafarnaum. Uma
cidadezinha do mesmo nome também se localizava nas vizinhanças.
55. Marcos fornece
um vislumbre do tipo de cenário que deve ter aparecido muitas vezes quando
Jesus entrava numa localidade. As pessoas correndo em busca dos seus parentes
doentes antes que Cristo saísse da vizinhança.
56.
Rogando-lhe. Os
repetidos pedidos de pessoa após pessoa foram descritos por esse verbo. É a
segunda referência em Marcos de curas efetuadas pelo tocar nas roupas de Cristo
(cons. 5:27-29).
4 comentários:
Amém!!
Glórias a Deus :)
Excelente estudo! Obrigada por compartilhar.
muito bom esse estudo. Glórias a Deus.
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