Significado Bíblico de SANTIDADE

Significado de SANTIDADE

Significado Bíblico de SANTIDADE


Esboço:

I. Os Termos Envolvidos
II. Características da Santidade de Deus
III. A Santidade do Povo de Deus. Cuja Base é a Salvação
IV. Santidade de Coisas e de Lugares
V. O Filho de Deus é Santo
VI. O Espírito de Deus é Santo
VII.A Suprema Manifestação do Amor é a Santidade

I. Os Termos Envolvidos

O vocábulo hebraico qodesh envolve a ideia de separação ou frescor. O termo grego agiosúne significa "separação", "santidade". A palavra-raiz, agos, indica qualquer objeto que merece respeito religioso, que pode ser um sacrifício expiatório, uma maldição, uma polução, algo que transmite culpa, algo separado para uso e adoração aos deuses. A raiz verbal é adzomai, que significa "ter medo", "ter respeito profundo". Agiôtes é a condição da santidade. Esses são os sentidos básicos. Ver o sumário a seguir. 

No hebraico: Qodesh, o substantivo, "separação", "santidade". O verbo, qadash. "separar". O adjetivo qadosh, "santo", "sagrado". O verbo qidash, "santificar", "separar". As raízes consonantais do substantivo qdsh (vocalizadas como qadesh) continuam sendo estudadas pelos especialistas. É palavra cognata de termos que significam "glória", "honra", "abundância" e "peso". No emprego dessa raiz temos a ideia de "separação" para uso santo ou reconhecimento como sagrado. Em suas várias formas e derivações, a palavra é usada mais de 830 vezes no Antigo Testamento, das quais 350 só no Pentateuco. o que ilustra a importância desse conceito para os hebreus.

Qodeshé palavra usada acerca de Deus, lugares e coisas. Deus é santo; um rito levítico é santo; um santuário é um lugar santo. Essas coisas e lugares eram separados para uso divino. Ver os exemplos bíblicos a seguir: Êxo. 3:5 (terra santa); Êxo. 12:16 (convocação santa); Êxo. 15:13 (habitação santa); Êxo, 16:23 (descanso santo); Lev. 2:3,10 (oferendas santas); Núm. 4:4 (coisas santas); I Sam. 2:2 e 6:20 (Deus é santo); Sal. 99:9 (o monte santo de Sião). No grego: Ãgos é palavra que indica qualquer objeto ou condição que desperta respeito e solenidade religiosos, mas também temor, maldição, sacrifício etc. Agias era um dos cinco sinônimos para "santo", no grego clássico. Os deuses eram santos; os seus santuários também eram santos. O sentido original está relacionado ao que desperta respeito ou temor; mas, no uso diário, a palavra algumas vezes indica coisas que são puras, castas, dedicadas ao serviço divino, coisas dignas de estar ligadas com Deus. O próprio Deus é santo (João 17:11; I Ped. I: 15), tal como os profetas (Luc. 1:70; Atos 3:21; 11 Ped. 12). João Batista figura como um homem santo (Mar. 6:20); os apóstolos são santos (Efé, 3:6); os crentes são santos (Col. 3: 12; 11 Tim. I :9). Assim como Deus é santo, também devem ser considerados santos a adoração e o serviço que prestamos a ele (I Ped. 1:15, 16). O termo grego ágios equivale mais ou menos, no Novo Testamento, ao vocábulo hebraico qodesh, conforme também se vê na tradução da Septuaginta.

II. Características da Santidade de Deus. A santidade, em seu sentido mais sublime, é aplicada a Deus. Ela denota os pontos seguintes:

I. O fato de que Deus está separado da criação. até mesmo daquela porção da criação que não está maculada com a maldade inerente, como os seres angelicais que não caíram no pecado. Isso porque a santidade consiste também na bondade positiva, e não meramente na ausência do mal.

2. Yahweh, pois, é transcendental, fazendo contraste com os falsos deuses (ver Êxo, 15: 1) e com a criação inteira (ver Isa. 40:25).

3. Deus é a essência absolutada santidade, da bondade e da retidão sendo ele o alvo de toda a inquirição por santidade, pureza e bem-estar. baseados na retidão.

4. A santidade de Deus é perfeita e inspiradora (ver Sal. 99:3).

5. A santidade de Deus fala acerca de sua "excelência moral", bem como do fato de que ele está livre de todas as limitações acerca da "excelência moral" (ver Hab. 1:13).

6. A santidade incorpora em si mesma todas as excelências morais de Deus, como a sua bondade, o seu amor, a sua longanimidade, sendo a luz solar que abarca todas as cores do espectro, mesclando-se com uma força de poderosa 1uz.

7. A santidade de Deus é incomparável (ver Êxo. 15:11 e I Sam. 2:2).

8. A santidade de Deus é exibida em seu caráter (ver Sal. 22:3e João 17:11), em seu nome (ver Isa. 57:15), em suas palavras (ver Sal. 60:6), em suas obras (ver Sal. 145:17) e em seu reino (ver Sal. 47:8 e Mat. 13:41). Há pureza, justiça e bondade perfeita em todas essas coisas, tendendo à retidão e ao bem-estar de todos, pois Deus é a fonte de tudo isso.

9. A santidade de Deus deve ser magnificada (ver lsa. 6:3 e Apo. 4:8).

10. A santidade de Deus deve ser imitada (ver Lev. 11:44; I Ped. 1:15,16).

11. A santidade de Deus será duplicada nos remidos (ver I Tes. 4:3; Mat. 5:48 e Gál. 5:22,23).

12. A santidade de Deus requer um serviço santo (ver Jos. 24: 19 e Sal. 93:5).

III. A Santidade do Povo de Deus, Cuja Base é a Salvação

1. A Mensagem Bíblica Fala sobre a Redenção. O pecado é o obstáculo básico à redenção. Deve haver liberação do princípio do pecado, se o homem tiver de ser salvo. Ademais, deve haver a santificação ao Ser divino. Não basta alguém ser impecável. Também deve haver a participação positiva nos atributos divinos e nas qualidades morais. Ver os artigos separados sobre Santificação e Fruto do Espírito.

2. A transformação moral processa-se somente mediante a santificação. A transformação moral é necessária à transformação metafísica. Esses são estágios da própria salvação. São elos de ouro da cadeia da redenção que, finalmente, levam a alma salva à glorificação. Essa glorificação consiste em um processo eterno, não sendo um único acontecimento, que ocorre de uma vez por todas. Ver o artigo sobre a Glorificação. A glorificação leva-nos a participar da imagem e da natureza de Cristo (Rom. 18:29), através do poder do Espírito, o qual nos conduz através de muitos estágios de transformação (11 Cor. 3:18), para que participemos de toda a plenitude de Deus (Efé. 3:19), ou seja, da própria natureza divina (Cal. 2: 10; 11 Ped. 1:4). Essa participação será real, mas finita. Ver o artigo intitulado Divindade, Participação dos Homens na.

3. A Base Necessária. Toma-se patente, de imediato, que a santidade é algo supremamente necessário à salvação, não algo opcional. O trecho de Heb. 12:14 garante-nos que ninguém verá a Deus sem a santificação. Jamais devemos conceber a santidade como a mera ausência de pecado. Esse é um começo necessário, mas não a própria substância da santidade. Deve haver a participação nas qualidades morais positivas e metafísicas do Ser Divino, para que a verdadeira santidade seja atingida.

4. O Pano de Fundo Veterotestamentário. O povo de Israel deve santificar-se para o Senhor (Deu. 7:6; 14:2,21), tomando-se uma nação santa (Êxo. 19:6); um povo santo (Isa. 62: 12; 63: 18; Dan. 12:7); uma raça santa (Esd. 9:2; Isa, 6: 13); uma comunidade de santos (Sal. 16:3; 34:9); um reino de sacerdotes (Êxo. 19:6) e uma congregação santa (Núm, 16:3). O livro de Levítico servia de uma espécie de código de santidade, com inúmeras leis pessoais, rituais e cerimoniais, cuja finalidade é promover e tipificar a santidade. Ver Núm. 17--26. Ali são tratadas todas as questões de moralidade prática e pessoal, e não apenas questões cerimoniais. Espera-se que o povo de Deus seja honesto (Núrn, 19:11,36), veraz (19:11), respeitoso aos seus pais (19: 3), respeitoso aos idosas (19:32), tratando os servos com justiça e equidade(19:13), amando ao próximo (19:33,34), mostrando-se generoso para com os pobres (19: 10,15), ajudando aos fisicamente incapacitados (19: 14,32), mostrando-se sexualmente puro (18: 1-30; 20: 1-21) e evitando as superstições (19:26,31;
20:6,27).

Adzomai, "ter medo", "sentir profundo respeito", embora não apareça no Novo Testamento, ilustra o sentido original básico.

Agiádzo, um verbo, significa ~separar coisas para propósitos religiosos apropriados (Exo. 29:27,37,44) (na Septuaginta). Tem o sentido de santificar, consagrar (conforme é comum na Septuaginta e nos escritos de Filo, como em Leg. All. 1:18; Spec. Leg. 1,67). A ideia de separação para uso divino encontra-se em Mat. 23:18; I Tim. 4:5. A consagração, dedicação e santificação de sacrifícios, em Heb. 2: 11; 9: 13, e a santificação do cônjuge incrédulo pelo cônjuge crente (I Cor. 7: 14), são idéias ilustrativas. Deus consagrou ou santificou o seu Cristo (João 10:36) e também os crentes (João 17: 17; I Tes. 5: 13).

O nome de Deus precisa ser tratado como santo, reconhecido como tal, segundo se vê em Isa. 29:23 e Eze. 36:23, na Septuaginta. A ideia de purificação também faz parte do significado dessa palavra (ver Núm. 6: 11, na Septuaginta; Rom. 15:16; I Cor. 1:2; I Tes. 5:23). Agiasma aponta para o "santuário" (I Macabeus 1:23 e Testamento de Daniel 5:9).

Agiasmás significa "santidade", "consagração", "santificação". Ver Rom. 6:18,22; II Tes. 2: 13; I Ped. 1:2; I Cor. 1:30.

Agiosúne também é traduzida por "santidade", e "retidão". É a santificação, em contraste com o ato de santificar (agiasmós). Essa palavra acha-se apenas por três vezes no Novo Testamento: em Rom. 1:4 (o espírito de santidade); em 11 Cor. 7: 1 (a santidade que os santos devem possuir, no temor de Deus); e em I Tes, 3: 13 (a santidade que os crentes precisam ter diante de Deus, tomando-se inculpáveis, a fim de poderem enfrentar a segunda vinda de Cristo).

Agiotes indica a santificação como um estado, e não como o processo santificadoro Ver Heb. 12: 10. Osiôtes, "santidade", encontra-se somente por duas vezes, em Luc. 1:75 e Efé, 4:24. O significado básico dessa palavra é a observância das leis divinas, da retidão e da piedade. Õsios indicava algo sancionado ou aprovado pelas leis da natureza, ao passo que dikaios indicava algo estabelecido pelas leis humanas. Originalmente, no grego clássico, o seu sentido cúltico apontava para aquelas coisas que pertenciam aos deuses, ao "sagrado", em contraste com o que é profano. A raiz verbal, osloo (que nunca aparece no Novo Testamento), significa "tomar santo", "purificar", "fazer expiação", e corresponde ao termo latino expiare. O vocábulo ôsios encontra-se por oito vezes no Novo Testamento, sendo usado acerca de Deus, o Santo (Atos 2:27; 13:35), dos atos de misericórdia (Atos 13:34), das mãos santas, erguidas em oração (I Tim. 2:8); e também é usado acerca de Cristo corno o nosso Sumo Sacerdote (Heb. 7:26). Cristo era separado dos pecadores, conforme aquele versículo esclarece. Ver também o artigo separado sobre a Piedade.

5. A Santa Igreja do Novo Testamento. A santidade é salientada por Cristo, que nos trouxe um código moral superior, como também os meios espirituais, através do poder do Espírito, permitindo-nos cumprir as exigências da lei. Ele nos trouxe a nova lei, que opera mediante o poder do Espírito (Rom. 8:2). A comunidade cristã é o Novo Israel (Gál. 6:16; Efé. 2: 12). O trecho de I Ped. 2:9 destaca a ideia do reino de sacerdotes (Êxo. 19:6), trazendo-a para o Novo Testamento e aplicando a questão à Igreja. Os crentes devem separar-se de todo o mal, como sucedia a Israel, não entrando em alianças comprometedoras (lI Cor. 6: 14 ss.).

Eles devem participar das virtudes morais positivas do próprio Deus (Gál, 5:22 ss.). À Igreja cumpre ser o veículo das atividades divinas neste mundo (I Cor. 12:27; Cal. 1:18). A Igreja é o templo do Espírito Santo (Efé. 2:22; 3:5,6; I Cor. 3:16 ss.). O próprio templo é a edificação do Espírito, sendo equivalente, segundo os termos neotestamentários, à Igreja (Efé. 2:19-22). A expiação realizada por Cristo, em favor de sua Igreja (a Noiva), deve resultar na santidade, e não apenas no perdão dos pecados (Efé. 5:25~27; II Cor. li :2). Ver também Apo. 19:7,8; 21 :9. Os próprios "santos" são freqüentemente intitulados "santos", o que significa que formam um povo distinto e separado para Deus. Ver Rom. 1:7; I Cor. 1:2; Efé. 1:15; Cal. 1:12,26; Heb. 6:10; Jud. 3; Apo. 8:3; 16:6 e 19:8.

A associação com Cristo separa os crentes do pecado (I Cor. 6: 19), conferindo-lhes pureza e piedade (Efé. 1:4; 5:27), dando-lhes uma chamada santa (Col. 3:12; II Tim. I :9). Na vida do crente, a santidade toma-se realidade mediante a vontade de Deus (I Tes. 4:3), estando centrada em Cristo (I Cor. 1:30), além de ser produzida pelo Espírito (lI Tes. 2: 13), em parceria com a fé (Atos 26: 18; Efé. 1: I; II Tes. I: 11; Apo. 13:1O). O seu objetivo é a glória de Deus, agora e sempre (lI Tes. 1:10, 12). Resulta de estar alguém em Cristo, expressão usada por Paulo por mais de 160 vezes. Ver sobre Cristo - Misticismo. A união com Cristo deve produzir a santidade, sob pena de nem ter havido tal união (Rom.8:9).

IV. Santidade de Coisas e de Lugares

Momentos específicos de adoração e observância religiosa são santos, como o sábado (Gên, 2:3; Êxo. 16:23). Há também dias santos (Nee. 8: 11), santas convocações religiosas (No. 12:1-6), nas quais Deus se mostra santo (Deu. 26: 15; II Crô. 30:27; Sal. 11:4). A Terra Prometida é santa (Êxo. 15: 13), como também o são o acampamento de Israel (Lev. 10:4), a cidade de Jerusalém (Nee. 11:1), Sião (Isa. 11:9), o tabernáculo e o templo (Exo. 38:24; Lev. la: 17,18; 1Crô. 29:3; Sal. 5:6). Além disso, coisas contidas no tabernáculo e no templo eram consideradas santas (Exo. 29:38;30:27; 40:10; II Crô. 29:33; Núm. 5:9; Sal. 89:20; I Sam. 21:4; 1Reis 7:51).

V. O Filho de Deus é Santo

Cristo é pioneiro no caminho que conduz à salvação (Heb. 2: 10). Aquele que é santo conduz o seu povo à santidade. Em doze trechos do Novo Testamento, Jesus Cristo é descrito como santo. Em nove dessas vezes, é empregado o termo grego agios (Mar. 1:24; Luc. 1:35; 4:34; João 6:69; Atos 3: 14; 4:27,30; I João 2:20; Apo. 17). Por três vezes é empregado o termo grego ôsios (Atos 2:27; 13:5 e Heb. 7:26). Cristo foi prometido como o santo filho de Maria, e seria o santo Filho de Deus, irmão mais velho dos outros filhos de Deus (Luc. 1:35). Um demônio, em Cafarnaum, reconheceu que Cristo é o Santo de Deus (Mar. 1:24; Luc. 4:24). Ele é o Santo por meio de quem os crentes são ungidos (I João 2:20). Ele é o Senhor das igrejas, e também aquele que é santo e verdadeiro (Apo. 3:7). Foi escolhido para a sua missão messiânica pelo Pai, por causa de sua santidade superior (Heb. 1:9). Foi tentado, mas não revelou nenhuma falha moral (Heb. 4: 15). Ver o artigo separado sobre a Impecabilidade de Jesus. Em nossa própria transformação segundo a sua imagem, a sua santidade vai sendo produzida em nós, mediante o poder do Espírito Santo (lI Cor. 3:18).

VI. O Espírito de Deus é Santo

Um adjetivo muito comum, para indicar o Espírito de Deus, é "santo". No Antigo Testamento, este título ocorre apenas três vezes (ver Sal. 51: 11; Isa. 63: 10,11). Porém, no Novo Testamento, a expressão "Espírito Santo" ocorre por mais de 90 vezes. Ver o artigo separado sobre Espírito de Deus. Para algumas referências neotestamentárias sobre o Espírito Santo, ver Mal. 3:11 (é ele quem batiza); Atos 2:4 (é ele quem enche e santifica a Igreja); Rom. 5:5 (é ele quem derrama o amor de Deus em nosso coração); I Cor. 2: 13 (ele é o nosso Mestre); I Cor. 3: 17 (somos o templo que ele santifica); 11 Ped. 2:21 (ele é o inspirador das Santas Escrituras); Jud. 20 (ele nos ajuda em oração).

VII. A Suprema Manifestação do Amor é a Santidade

A única virtude ou atributo de Deus que pode tomar o lugar do nome divino é o amor. Ver I João 4:8. O amor é a prova mesma da espiritualidade de alguém (1 João 4:7). Essa é a grande prova de que alguém nasceu de Deus. "A suprema manifestação da santidade é o amor. Vemos, ao mesmo tempo, um elogio ao agape cristão e ao delineamento da santidade cristã, no décimo terceiro capítulo de 1 Corintios. Isso teve pleno cumprimento somente no homem Jesus Cristo. No entanto, permanece como critério pelo qual é medido o desenvolvimento do crente na graça. A essência da natureza divina é o amor santo. É nisso, acima de tudo, que assim como ele é, também o somos no, mundo (I João 4:17)". (Z)

Deus ama, e, por conseguinte, deseja santificar-nos, porquanto, sem a santificação, as aspirações do amor de Deus, no tocante à salvação do homem, jamais se concretizam. O pecado e a imperfeição destroem o plano piloto da salvação do homem. Isso posto, o amor busca e atinge a verdadeira santidade no homem. O amor cultiva a santidade nos crentes.