Quem Escreveu o Livro de Isaías?

Quem escreveu o Livro de Isaías? Tradicionalmente, o Livro de Isaías tem sido atribuído ao profeta Isaías, e ele é comumente reconhecido como o autor principal dos primeiros 39 capítulos.

Os estudiosos geralmente se referem a esta porção como “Primeiro Isaías” ou “Proto-Isaías”. Esta seção contém profecias e oráculos dirigidos principalmente ao Reino de Judá durante os reinados do rei Uzias, rei Jotão, rei Acaz e rei Ezequias.

No entanto, alguns estudiosos propõem que o Livro de Isaías pode ter mais de um autor, sugerindo que as seções posteriores, particularmente os capítulos 40-66, foram escritas por diferentes indivíduos ou grupos. Esta teoria levou ao conceito de “Deutero-Isaías” ou “Segundo Isaías” para os capítulos 40-55, e “Trito-Isaías” ou “Terceiro Isaías” para os capítulos 56-66.

Esses capítulos, geralmente chamados de “Canções do Servo”, concentram-se em temas de esperança, restauração e a chegada de uma nova era.

Unidade e Autoria Disputada:

A questão da autoria em Isaías tem sido um tema de debate acadêmico há séculos. Alguns argumentam que as semelhanças de linguagem e temas entre as diferentes seções são evidências de um único autor com uma mensagem coesa. Outros apontam para diferenças no contexto histórico, estilo de escrita e ênfases teológicas como indicações de múltiplos autores.

A crença tradicional judaica e cristã sustenta que todo o Livro de Isaías foi escrito pelo profeta Isaías. Muitos pais da igreja primitiva, como Justino Mártir, Clemente de Alexandria e Tertuliano, afirmaram essa visão. O Novo Testamento também atribui certas profecias em Isaías ao próprio profeta, apoiando ainda mais a autoria tradicional.

A erudição moderna, por outro lado, tende a enfatizar a probabilidade de múltiplos autores ou editores, com alguns sugerindo que o livro pode ter sofrido compilação e redação ao longo do tempo. Esses pontos de vista são baseados em análises textuais e comparações de recursos linguísticos e temáticos.

1. Ponto de Vista Tradicional.

No século XVIII, a unidade do livro de Isaías começou a ser questionada. Até então, o livro inteiro era aceito como produção literária do profeta Isaías, e de mais ninguém. Pode-se notar que seu nome figura nos capítulos um, dois, sete, treze, vinte, trinta e sete a trinta e nove. Em apoio a essa contenção, deve-se observar que todos os manuscritos do livro de Isaías o apresentam como uma unidade. Não há menção histórica de que algum outro autor esteve envolvido no preparo de qualquer porção dessa produção. Um dos mais bem preservados manuscritos dentre os manuscritos do mar Morto é um completo rolo de Isaías, com data de cerca de 150 A.C. Não há nenhuma evidência de interrupção no começo do capítulo quarenta, conforme alguns eruditos liberais querem dar a entender.

2. Um Autor Distinto para os Capítulos 40—66.

O primeiro a sugerir um autor distinto de Isaías foi o erudito alemão Doderlein. Esses capítulos finais do livro de Isaías foram chamados de deutero-lsaías. Presumivelmente, um autor desconhecido, que teria escrito durante o exílio babilônico, teria produzido essa adição aos primeiros trinta e nove capítulos.

3. Outra Divisão: o trino-lsaías.

Eruditos posteriores pensaram ter encontrado ainda um terceiro autor, no capítulo cinquenta e cinco do livro de Isaías, pelo que uma terceira divisão do livro foi proposta, envolvendo os capítulos 56 a 66.

4. Explicações das Divisões.

Os capítulos 40 a 55 consistem em uma coletânea de poemas em um novo estilo rapsódico, que alguns atribuem ao período do exílio babilônico de Judá. A crítica da forma (ver no Dicionário o artigo intitulado Crítica da Bíblia) procura separar os elementos dessa seção. Ali encontramos alusões a Ciro, como uma figura que começava a levantar-se. Seria isso uma predição, ou seria história? E também há menção à iminente queda da Babilônia dos caldeus. Se essa seção teve origem imediatamente após a queda da Babilônia, o que ocorreu a 29 de outubro de 539 A.C., então a composição dessa segunda suposta seção do livro de Isaías deve ter sido feita durante esse tempo, ou alguns anos mais tarde. Ciro é especificamente mencionado em Isa. 44.28 e 45.1. A menos que tenhamos aí uma afirmação profética, podemos pensar seriamente na possibilidade da existência de um deutero-lsaías, porquanto não haveria como Isaías tivesse sobrevivido desde o cativeiro assírio até o cativeiro babilônico. Pois ele teria de viver por mais de duzentos anos! Diferenças de estilo, de terminologia e de expressões, quanto a certas ideias, são adicionadas ao argumento histórico. Muitos eruditos modernos, por isso mesmo, creem que essa porção do livro de Isaías deve ser considerada história, e não profecia.

Os capítulos 56 a 66 são uma coletânea de poemas similares aos dos capítulos 40 a 45. Muitos eruditos creem que foram escritos pelo mesmo autor daquela seção. E, nesse caso, então houve somente um deutero-lsaías e não um trino-lsaías. Outros eruditos opinam que essa seção reflete uma escatologia mais avançada, típica de tempos posteriores. Daí supõem que esses capítulos tenham sido, realmente, produzidos mais tarde que a época de Isaías. Além disso, esses estudiosos acham que há um interesse maior pelo culto, nessa seção, que seria distinto das outras duas porções do livro. Segundo eles, o conteúdo sugere uma data entre 530 e 510 A.C., talvez da época dos contemporâneos de Ageu e Zacarias. E alguns estudiosos pensam que os capítulos 60 a 62 devem ser atribuídos a uma época ainda posterior. Outros crêem que o próprio trino-lsaías consiste apenas na coletânea de poemas escritos por vários autores. Uma data tão tardia quanto 400 A.C. tem sido atribuída a essa alegada terceira seção. Dizem esses estudiosos que os vários autores envolvidos faziam todos parte da escola de Isaías, pelo que o livro de Isaías teria sido uma compilação de material recolhido no processo de muitos anos. A continuar nesse pé, vai ver que cada capitulo do livro de Isaías teve um autor diferente! Já há quem pense que essa escola de seguidores de Isaías usava seu livro original como um livro de texto, ao qual, periodicamente, foram adicionados novos capítulos!

Respostas dos Defensores da Unidade do Livro de Isaías:

1. O ponto de vista tradicional merece consideração. Todos os manuscritos antigos favorecem a ideia da unidade do livro de Isaías As evidências históricas também. Não há nenhum relato sobre alguma escola de Isaías que tenha compilado gradualmente algum manual profético. Não há evidência histórica em favor de um segundo ou um terceiro Isaias.

2. O argumento acerca do estilo podería ter algum peso, pois sabe-se que todo autor tem sua maneira distinta de exprimir-se, um vocabulário próprio, e ideias específicas que ele gosta de enfatizar. Todavia, as diferenças não são maiores do que aquelas encontradas, por exemplo, nas obras de Shakespeare ou nas obras mais volumosas de outro autor qualquer. Além disso, ao escrever sobre diferentes assuntos, qualquer pessoa se utiliza de uma maneira toda própria para expressar-se. Um autor que escreva prosa também pode escrever poemas; e seu estilo então varia, e bastante. A história nos dá muitos exemplos disso. Um só autor que escreva poesias fica diferente quando escreve em prosa. Além disso, um Isaías mais idoso, que tivesse escrito certas porções de seu livro mais tarde na vida, poderia ter adquirido certas ideias e certos maneirismos de estilo diferentes da época em que ainda era jovem. Para julgarmos a questão, tornar-se-ia mister, antes de tudo, que fôssemos mestres do hebraico. É quase impossível julgar questões que envolvam estilo. Julgo que poucos dos críticos e poucos dos defensores da unidade do livro de Isaías dominam o hebraico o bastante para fazerem as afirmações que fazem com grande grau de seriedade. E mesmo que tivessem tal conhecimento, ainda assim é difícil julgar questões de estilo.

3. A crítica que afirma que os capítulos 40—66 são históricos, e não proféticos, repousa sobre a suposição de que não há capacidade verdadeiramente profética. O fato de o nome de Ciro ser mencionado é, para os críticos, uma clara indicação de que esta porção de Isaías foi escrita depois do cativeiro babilônico. Sabemos, todavia, que o homem possui o poder de precognição, fato esse abundantemente ilustrado através dos estudos da parapsicologia. É raro, obviamente, que um místico moderno preveja nomes muito antes dos acontecimentos, mas até isto acontece. Também não devemos esquecer o poder de Deus que dá aos profetas uma capacidade extraordinária. Supomos que Isaías fosse um verdadeiro profeta capaz de prever o futuro. Os estudos mostram que todas as pessoas, nos seus sonhos, têm uma previsão do futuro. De fato, a experiência psíquica mais comum é o sonho precognitivo. Sendo este o caso, não é um grande pulo de fé acreditar que o profeta de Deus, com capacidades além das dos homens comuns, poderia ter verdadeiras visões do futuro remoto. Portanto, a menção de Ciro, por nome, embora incomum em profecias, não é impossível.

4. O argumento derivado de diferenças de ideias e ênfase é o mais fraco de todos. Nos capítulos 1—39, temos a ênfase sobre a majestade de Deus. A segunda parte do livro é, de fato, mais interessada no culto religioso, seus ritos, leis etc., mas isto dificilmente comprova um autor distinto. Qualquer livro pode ter estes tipos de variações sem indicar que outro escritor esteja envolvido. Diferenças de temas e de ênfase ocorrem em todas as peças de literatura reconhecidas como dos mesmos escritores. Autores até incorporam contradições de ideias e acontecimentos, e erros crassos. Mas tais coisas não indicam, necessariamente, uma mudança de escritor.

A maior parte dos eruditos acredita que o mesmo escritor produziu os capítulos 1-39. Alguns acham que esta porção sofreu algumas interpolações. O nome de Isaías aparece em 1.1; 7.3; 13.1; 20.2,3; 37.2.5,6,21; 38.1 4,21; 39.3,5,8. É curioso que não apareça depois do capítulo 39, o que é. sem dúvida, um peso em favor da suposição de que os capítulos 40-66 tenham sido escritos por outro autor. De qualquer maneira, o que cremos sobre a autoria, naturalmente, tem efeito sobre a(s; data(s) que atribuímos ao livro ou a suas partes distintas.

Na seção III, pontos um e quatro, oferecemos várias conjecturas acerca da data da composição do livro de Isaías. As ideias diferem desde cerca de 750 A.C. até cerca de 400 A.C., dependendo de quantos autores aceitarmos estar envolvidos nessa obra. Se um único autor escreveu o livro inteiro, então é possível que parte tenha sido escrita tão cedo quanto 750 A.C., embora outras porções só tenham sido escritas no tempo do reinado de Ezequias, o que seria nada menos que uma geração mais tarde.

Ezequias é mencionado várias vezes nesse livro, incluindo em 1.1 (o último nome da lista de reis). Ver também Isa. 36.1, 2, 4, 7, 14-16, 22; 37.1, 3, 5, 9; 38.1, 2, 35, 39; 39.1-5,8. Isaías profetizou durante os dias do reinado de Uzias (791-740 A.C.), sendo possível que uma parte do livro tenha vindo dessa época, com outras porções acrescentadas no ano 700 A.C., embora Isaías tenha sido o autor de todas essas porções.

Mais estudos sobre Isaías:

Cf. Esboço do Livro de Isaías
Cf. Introdução ao Livro de Isaías
Cf. Fundo Histórico do Livro de Isaías
Cf. Problema da Autoria de Isaías
Cf. Cronologia do Livro de Isaías
Cf. Os Reis de Judá no Livro de Isaías
Cf. Unidade do Livro de Isaías
Cf. Teologia do Livro de Isaías
Cf. Significado do Livro de Isaías
Cf. Conteúdo do Livro de Isaías
Cf. Profeta Isaías
Cf. Estudo do Livro de Isaías
Cf. Inspiração do Livro de Isaías
Cf. Comentário do Livro de Isaías