Significado de Gênesis 42

Gênesis 42

Gênesis 42 conta a história do reencontro de José com seus irmãos, que o haviam vendido como escravo muitos anos antes. A fome atingiu a terra de Canaã, e os irmãos de José vieram ao Egito para comprar grãos. Ao chegarem, encontraram José, que os reconheceu, mas eles não o reconheceram. José testou seus irmãos acusando-os de serem espiões e prendendo-os por três dias. Ele finalmente se revelou a eles e os perdoou pelo que haviam feito, mas não antes de submetê-los a uma série de testes para ver se realmente haviam mudado.

Um dos temas centrais de Gênesis 42 é o poder do perdão e da reconciliação. José tinha todos os motivos para guardar rancor de seus irmãos pelo que haviam feito a ele, mas escolheu estender a graça e o perdão a eles. Este capítulo nos desafia a refletir sobre como podemos seguir o exemplo de José e estender o perdão àqueles que nos ofenderam. Somos lembrados de que o perdão não é apenas um ato pessoal de cura, mas uma força poderosa de reconciliação e restauração em nossos relacionamentos.

Gênesis 42 é um poderoso lembrete da importância da honestidade e integridade em nossos relacionamentos. Os testes de José com seus irmãos não eram apenas uma forma de determinar sua lealdade, mas também uma forma de revelar seu caráter. Este capítulo nos desafia a considerar como podemos cultivar honestidade e integridade em nossa própria vida e como podemos desenvolver confiança em nossos relacionamentos com os outros. Somos lembrados de que a verdadeira reconciliação requer não apenas perdão, mas também um compromisso com a honestidade e integridade em nossas interações com os outros.

I. A Septuaginta e o Texto Hebraico

A narrativa de Gênesis 42 marca o primeiro encontro de José com os irmãos no Egito e é um laboratório filológico onde o hebraico massorético (MT), a tradução grega dos Setenta (LXX) e a recepção neotestamentária convergem em fraseologia, sintaxe e léxico. O v. 6 descreve a prostração dos irmãos: wayyābōʾû ʾăḥê yôsēp wayyištaḥăwû lô ʾappayim ʾarṣāh (“…prostraram-se diante dele com o rosto em terra”); a LXX verte com precisão cultual: prosekynēsan autō epi prosōpon epi tēn gēn. O verbo grego proskyneō (προσκυνέω; proskyneō) reaparece no Novo Testamento como gesto de reverência/adoração (por exemplo, os magos em Mateus 2:11 “pesontes prosekynēsan autō”), mostrando continuidade semântica entre o ato de homenagem régia diante de José e a linguagem de adoração empregada pelos cristãos primitivos.

Quando José acusa: “Espiões sois vós” (hebr. mĕraggĕlîm, מְרַגְּלִים), a LXX usa o substantivo kataskopoi (κατάσκοποι; kataskopoi), um termo que continuará produtivo no grego koinê. O mesmo campo semântico aparece no NT no verbo kataskopeō (κατασκοπέω; kataskopeō) em Gálatas 2:4 (“…entraram secretamente para espionar a nossa liberdade”), ecoando a linguagem investigativa/judicial que já molda a cena egípcia. Ainda em Gênesis 42:11, a autodefesa hebraica “kēnîm ʾănaḥnû” (“somos homens íntegros/honestos”) é vertida pela LXX como “eirēnikoi esmen” (εἰρηνικοί ἐσμεν; eirēnikoi — “pacíficos”), deslocando levemente o foco do eixo ético (integridade) para o eixo relacional (pacificação). Esse deslizamento lexical cria uma ponte natural para o NT, onde eirēnē e seus derivados qualificam a ética cristã: “a sabedoria do alto é… eirēnikē (‘pacífica’)” (Tiago 3:17) e “eirenopoioi (‘pacificadores’) serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). Assim, a escolha lexicográfica da LXX já predispõe leitores gregos a ouvir Gênesis em tons de shalom.

Outra expressão chave é a finalidade atribuída aos “ʿerwat hāʾāreṣ” (עֶרְוַת הָאָרֶץ) — literalmente “a nudez da terra” (42:9.12), um hebraísmo para vulnerabilidade territorial. Tradutores gregos e modernos explicam em termos de “pontos fracos” ou “partes desprotegidas” do país, esclarecendo o idiomatismo para o leitor não hebraico. Essa normalização semântica preserva a força forense do interrogatório (vocabulário de espionagem/defesa) e sintoniza com o imaginário político-militar do Mediterrâneo helenista, sem romper com o sentido original.

No v. 18, José declara: ʾet-hāʾĕlōhîm ʾănî yārēʾ (“eu temo a Deus”), que a LXX verte como ton theon gar egō phoboumai. A fórmula phobeomai ton theon é recorrente no grego bíblico e neotestamentário como marcador ético-teológico (p. ex., “temor de Deus” em diversas passagens), mostrando uma continuidade de sintaxe (objeto direto com artigo) e teologia (o temor como freio ao abuso de poder). Logo em seguida, a fórmula de juramento “Pela vida de Faraó!” (42:15) reflete um ambiente egípcio realista. O juramento contextualiza a tensão judicial do teste imposto aos irmãos sem que José abdique do monoteísmo ético expresso no v. 18.

O v. 23 apresenta um detalhe filológico notável: “havia um melîṣ (מֵלִיץ) entre eles” — um intérprete/mediador. A LXX traduz por hermēneutēs, termo que dará origem a todo o vocabulário de “hermenêutica” no grego cristão. No NT, o mesmo campo lexical aparece tanto como verbo (dihermēneuō/ hermēneuō) — “Jesus explicou (dihermēneusen) nas Escrituras” (Lucas 24:27) — quanto como substantivo (hermēneia) — “interpretação de línguas” (1 Coríntios 12:10). A opção da LXX por hermēneutēs não apenas comunica a cena, mas também instala no imaginário helenista a mediação linguística como categoria teológica (tradução/explicação da revelação).

A sintaxe de reconhecimento também merece nota: em Gênesis 42:7–8 o hebraico usa o par vayyakîrēm… wĕhēm lōʾ hikîrûhû (“José os reconheceu… eles, porém, não o reconheceram”). A LXX escolhe epegnō (ἐπέγνω; epegnō, “reconheceu plenamente”) para José, mantendo o contraste irônico do narrador. Essa nuance de “reconhecimento pleno” antecipa motivos neotestamentários de epignōsis (conhecimento/recognição plena) que descrevem a percepção espiritual à luz da revelação (cf. o uso de epignōsis em cartas paulinas). Além disso, quando José “se lembra dos sonhos” (42:9), a LXX (cf. edições críticas) emprega o campo de mnēm- (memória), o mesmo tronco lexical de anamnēsis no NT, sublinhando a coerência da economia narrativa: promessa → lembrança → cumprimento.

O motivo do dinheiro devolvido nos sacos (42:25.35) ilustra bem a tessitura lexical: o grego usa sakkoi (σάκκοι; sakkoi, “sacos”) e argyrion (ἀργύριον; argyrion, “prata/dinheiro”), inclusive com a expressão desmos tou argyriou (“feixe de prata”). O NT retoma argyria em Mateus 26:15 (“trinta argyria”), mostrando como a LXX consolidou o termo “prata” como unidade econômica e teológica (preço, resgate, culpa) na leitura cristã. Assim, a cena que causa temor em Jacó e nos irmãos (42:35) ganha campo semântico que ecoará nos Evangelhos.

Do ponto de vista teológico-narrativo, Atos dos Apóstolos 7:9–10 testemunha que os primeiros cristãos liam a história de José como tipologia de sofrimento e exaltação: “os patriarcas… venderam José ao Egito, mas Deus estava com ele”, linguagem que resume Gênesis 37–50 e legitima a leitura cristã da história de Israel como prenúncio do evangelho. Que a LXX tenha dado a leitores gregos as chaves lexicais (proskyneō, kataskopos, eirēnē-, hermēneu-, argyrion, phobeomai) explica por que o Novo Testamento soa “coerente” com Gênesis: não se trata de uma bricolagem posterior, mas de um contínuo tradutório-teológico já em circulação na diáspora judaica e assumido pelos cristãos.

Por fim, a coesão intertextual de Gênesis 42 com o NT resulta de uma dupla fidelidade: (1) à semântica hebraica (gestos, juramentos, reconhecimento, culpa — cf. ʾăšēmîm ʾănaḥnû, “somos culpados”, 42:21) e (2) às escolhas lexicais da LXX que “catolicizam” (tornam comum no koinê) conceitos-chave. Desse modo, a cena em que os irmãos confessam a culpa e o sangue exigido (42:21–22) prepara o leitor para categorias neotestamentárias de confissão e reconciliação; e o “temor de Deus” (42:18) delimita eticamente o poder — um princípio retomado no ensino cristão.

II. Comentário de Gênesis 42

Gênesis 42.1-6 Nesta época, Judá tinha retornado para Jacó (cap. 38). Há uma grande diferença na forma como José trata os egípcios que passam fome e como trata seus irmãos. Os irmãos são os culpados pela rejeição do irmão. Portanto, um profundo trabalho de arrependimento deve ocorrer neles antes que possam receber a bênção. Isto também se aplica aos judeus no futuro, pouco antes da vinda do Senhor Jesus. Esse arrependimento será trabalhado através do que eles vivenciam na grande tribulação.

Para os irmãos, o arrependimento é trabalhado através da forma como José os trata. Assim como o filho pródigo é levado para casa pela fome (Lucas 15:17-18), a fome leva os irmãos a José. Já não têm um lugar especial entre os povos, pois estão “entre os que vinham” para comprar cereais. No entanto, o Espírito de Deus mantém o lugar separado que eles têm para a fé, falando dos “filhos de Israel” e não dos “filhos de Jacó”, o que teríamos entendido.

Também na nossa vida, Deus às vezes permite períodos de ‘fome’, de provações, através dos quais Ele quer levar-nos a recorrer ao Senhor Jesus ou a regressar a Ele. Ele quer que Cristo, o verdadeiro José, tenha o Seu verdadeiro lugar em nossas vidas.

Jacó não deixa Benjamim ir com os irmãos. Ele conhece seus filhos. Ele ainda pode ter dúvidas sobre a história deles sobre José. Talvez eles também sacrifiquem Benjamin para salvaguardar os seus próprios interesses. Benjamim tornou-se seu filho favorito em vez de José, o filho restante de sua esposa favorita, Raquel.

Já se passaram mais de vinte anos desde que os irmãos apareceram diante de José e se curvaram diante dele, sem reconhecê-lo. As circunstâncias mudaram completamente. José é o segundo homem mais poderoso do Egito, depois do Faraó. O mundo inteiro depende dele para se alimentar.


Gênesis 42.2-4 Jacó continuava a manter um favorito, Benjamim (Gn 37.3). No entanto, não há menção de ciúmes entre os outros irmãos, como ocorrera em relação a José (Gn 37.8).

Gênesis 42.5, 6 Deus fez com que se cumprissem os sonhos que José teve aos dezessete anos de idade (Gn 37.5-11). Finalmente, os irmãos se curvaram diante do governador do Egito.

Gênesis 42.7, 8 Aqueles que estavam diante de José eram os mesmos que o venderam como escravo 20 anos antes. Não eram pessoas comuns, eram seus irmãos. Eles estavam ali, curvando-se diante dele, exatamente como no sonho! A vida de José agora era completamente diferente. Na verdade, ele nomeou seu primeiro filho como Manassés, em homenagem ao seu esquecimento das dolorosas memórias provocadas por seus irmãos e outros que injustamente o fizeram sofrer. O que teria se passado na cabeça de José no momento em que ele reconheceu seus irmãos? Sem dúvida alguma, um misto de surpresa, dor e raiva. José pode ter se mostrado estranho e falado asperamente com eles, a fim de não denunciar as próprias emoções.

Gênesis 42.9-12 José lembrou-se dos sonhos que tivera e liberou suas emoções contidas. Ele acusou seus irmãos de algo que sabia que eles não eram: espias. Dessa forma, José pretendia saber se seus irmãos tinham mudado para melhor. Eles trairiam uns aos outros ao serem colocados sob pressão?

Gênesis 42.13 Ao ouvir notícias sobre o seu irmão mais novo, Benjamim, José deve ter tido uma grande dificuldade de esconder seus sentimentos, ainda mais quando eles se referiram a José como um que já não existia. Estas palavras provavelmente foram insuportáveis para José. Embora seus irmãos pensassem que José estava morto, ele estava ali, bem defronte de seus olhos.

Gênesis 42.14, 15 Por duas vezes, José acusou seus irmãos de serem espias. Eles devem ter ficado com muito medo. Estavam diante do homem que tinha poder de um rei. Com apenas uma palavra deste homem, eles poderiam ser executados.

Gênesis 42.16, 17 José ordenou que Benjamim, seu irmão, fosse levado até lá. Este estava aos cuidados do pai, Jacó (v. 4). Também mandou prender os irmãos por três dias.

Gênesis 42.18-20 Nesta passagem, José solta os irmãos para enviá-los a Jacó, a fim de trazer Benjamim até ele. José também dá uma pista aos irmãos de que ele era um hebreu, quando disse eu temo a Deus (Gn 41.32). Apesar de estar há mais de 20 anos no Egito, José não havia perdido a sua fé no verdadeiro Deus.

Gênesis 42.21 Os irmãos de José se deram conta de que estavam sendo punidos pelo Senhor pelo que haviam feito a José muitos anos atrás. Lembraram-se da angústia de sua alma, quando [lhes] rogava. Em Gênesis 37.18-28, não é mencionado este detalhe.

Gênesis 42.22 Rúben respondeu-lhes, dizendo: Somente Rúben tentou salvar José naquele terrível dia (Gn 37.22). Seu plano de resgatar o irmão foi frustrado quando os outros decidiram vendê-lo aos negociantes midianitas, em vez de abandoná-lo no poço para que ele morresse. Aqui, de acordo com Rúben, os irmãos estavam sendo punidos pela morte de José.

Gênesis 42.23 José falava aos irmãos na língua dos egípcios, e um intérprete traduzia a conversa. Os irmãos não suspeitavam de que o oficial egípcio diante deles pudesse entender o que diziam em seu idioma nativo.

Gênesis 42.24 E retirou-se deles e chorou. Neste ponto, as emoções de José fogem ao seu controle. Depois, tornou a eles, falou-lhes, tomou a Simeão dentre eles e amarrou-o perante os seus olhos. Já que Rúben, o filho primogênito, foi o seu principal defensor, José escolheu Simeão como refém, pois este era o segundo irmão mais velho (Gn 35.23-26).

Gênesis 42.25-27 A atitude de José aqui é ao mesmo tempo benevolente e perturbadora. A devolução dos valores permitiria que os irmãos voltassem algum tempo depois para outra compra. Por outro lado, eles poderiam ser acusados de roubo. O termo dinheiro, usado em algumas traduções, refere-se às peças de prata. A cunhagem das moedas ainda não tinha sido inventada.

Gênesis 42.28 A descoberta de parte do dinheiro na bagagem assustou os irmãos (mas veja o v. 35). Eles acusaram Deus pelo que havia acontecido.

Gênesis 42.29-34 Os irmãos relataram fielmente ao pai, Jacó, tudo o que lhes acontecera.

Gênesis 42.35 A descoberta dos valores na bagagem de um dos irmãos (v. 27,28) poderia ser explicada como um engano. Contudo, agora eles perceberam que o dinheiro de cada um estava em sua respectiva bolsa.

Gênesis 42.36 A aflição de Jacó aumentou. Um dos filhos estava morto, o outro na prisão, e um terceiro poderia ser ameaçado por um oficial egípcio.

Gênesis 42.37 Rúben novamente tomou a liderança e assumiu os riscos. Ele tentou dar uma garantia ao seu pai de que retornaria com Benjamim são e salvo. A drástica promessa que Rúben fez, dando seus filhos como garantia, é uma tentativa de mostrar quão determinado ele estava. Apesar de tudo, algumas vezes tais atitudes resultaram em desastres nos tempos bíblicos (leia a história da filha de Jefté, em Jz 11.29-40). Nestes casos, o melhor é seguir as instruções de Jesus acerca dos juramentos, em Mateus 5.33-37.

Gênesis 42.38 Jacó estava decidido. Ele já tinha perdido filhos o suficiente e não queria arriscar a vida de Benjamim, seu favorito. Ele confessou a seus filhos que a morte de José, acrescida à possibilidade de perder Benjamim, levaria-no a uma depressão profunda, que causaria a sua morte prematura.

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