Significado de Juízes 1

Juízes 1

1:1-2.5 A passagem introdutória de Juízes mostra a continuidade da atividade militar (Jz 1:1-26), o que indica que as tomadas das cidades não foram concluídas durante a época de Josué. O livro, então, detalha explicitamente as conquistas incompletas de várias tribos (Jz I.27-36). Fica evidente o fato de que Israel desobedecera às instruções de Deus em relação à posse da terra em Juízes 2.1-5, pois o Anjo do Senhor faz tal crítica.

Contrastando imensamente com a ilustração pacífica e unificada de Israel no final do livro de Josué, o colapso da sociedade israelita já é evidente. Em Juízes 1, a conquista estava, de certa forma, incompleta (Jz 1:21; do verso 27 ao 36, encontramos detalhes das terras que várias tribos deixaram de tomar). Isso se opõe à figura da conquista em Josué, especialmente em Josué 10. Por exemplo, Josué 10.40 estabelece que: Assim, feriu Josué toda aquela terra, as montanhas, e o sul, e as campinas, e as descidas das águas, e todos os seus reis; nada deixou de resto; mas tudo o que tinha fôlego destruiu, como ordenara o Senhor, Deus de Israel. O contraste, entretanto, não está apenas em Josué 10 e Juízes 1: Mesmo no livro de Josué, vemos indicações de que a posse não fora completa. Isso fica particularmente claro em Josué II.22; 13.2-6; 15.63; 16.10e 17.12, 13, textos que falam sobre as pessoas da terra que sobreviveram e não foram expulsas. Também em oposição à ilustração em Josué 10 acerca da rápida limpeza, a passagem de Josué 11:18 declara que, por muitos dias, Josué fez guerra contra todos esses reis.

1:1-21 O livro de Juízes começa com o registro das conquistas na parte sul da Palestina. A tribo de Judá assumiu a liderança e aliou-se a Simeão nas campanhas contra os cananeus, os quais não tinham sido expulsos de seus respectivos territórios. Eles lutaram em uma série de batalhas bem-sucedidas, “subindo” contra Bezeque e Jerusalém, “descendo” contra Hebrom, Debir e Zefate, e concluindo com uma invasão no território filisteu. Eles tiveram vários sucessos contra os cananeus, e suas vitórias (Jz 1:4 -18, 20) compensavam seus fracassos (Jz 1:19, 21).

1:1 E sucedeu, depois da morte de Josué. Juízes começa como o livro de Josué, fazendo referência à morte dos líderes anteriores Moisés (Js 1:1) e Josué (Jz 1:1). Entretanto, nenhum homem foi encarregado de liderar Israel após a morte de Josué. Contudo, designou-se a tribo de Judá para comandar a luta contra os cananeus (Jz 1:1-4). A escolha de Judá era o primeiro aviso de que a predição feita por Jacó para a tribo (Gn 49.8 -12) aconteceria. A profecia iria realizar-se com o estabelecimento da monarquia sob o comando de Davi, que pertencia à tribo de Judá, e seus descendentes.

1:2 Judá subirá. A liderança de Judá fora antecipada já na bênção de Jacó, na qual ele prometeu que reis surgiriam da linhagem desta tribo (Gn 49.8-12).

1:3 A história une Simeão e Judá. Ambos descenderam da mesma mãe (Gn 29.33, 35), e Simeão herdou terras no território de Judá (Js 19.1, 9). A aliança dessas duas tribos era natural.

1:4, 5 Os cananeus e os ferezeus (leia Js 3.10). Bezeque, a área da batalha entre os israelitas e os cananeus, é desconhecida. Muitos estudiosos acreditam que o combate aconteceu próximo a Khirbet Bezqa, a cerca de 5km a nordeste de Gezer, a noroeste de Jerusalém. Entretanto, a passagem de 1 Samuel 11:8-11 menciona uma cidade chamada Bezeque, a nordeste de Siquém, no território de Manassés, onde Saul fez o censo das pessoas. Considerando que Judá estava liderando uma campanha em favor de todo Israel (Jz 1:1, 2), uma batalha no território de Manassés é bastante provável. Mais tarde, Judá conduziu operações militares em seu próprio território (Jz 1:8-19).

1:6, 7 Adoni-Bezeque. O nome deste rei significa Senhor de Bezeque. E lhe cortaram os dedos polegares das mãos e dos pés. Isso impediria que Adoni-Bezeque pudesse engajar-se em batalhas novamente, visto que os polegares são necessários para empunhar uma espada, e os dedões dos pés servem para correr. A prática da mutilação em inimigos derrotados, registrada em documentos antigos encontrados na Mesopotâmia e na Grécia, foi exercida pelo próprio Adoni-Bezeque. Como consequência de suas ofensas, entretanto, Adoni-Bezeque morreu.

1:8, 9 Após a batalha em Bezeque, Judá levou as operações militares contra os cananeus para Jerusalém, as montanhas, a parte sul e as planícies. Jerusalém foi tomada e queimada, mas não povoada. O versículo 21 estabelece que Benjamim não expulsou os jebuseus da cidade. (Para mais informações acerca desta diferença na passagem, leia Josué 15.63.) A conquista completa e o povoamento de Jerusalém não foram feitos até o tempo de Davi (2 Sm 5.6-10).

1:10-15 A tomada de Hebrom e Debir aparece como uma nova conquista, mas essas vitórias já haviam sido contadas em Josué 15. Esta passagem é, provavelmente, uma referência aos triunfos anteriores (ou, talvez, o texto bíblico em que Josué antecipa os sucessos vindouros). O trecho de narrativa do versículo 11 ao 15 é uma repetição quase textual de Josué 15.15-19, e é a terceira passagem da herança de Calebe (a outra seção é encontrada em Josué 14.6-15).

1:10 O nome Hebrom significa confederação. Esta cidade chamava-se anteriormente Quiriate-Arba (literalmente Cidade de Quatro). Arba também era o nome de um líder dos anaquins (Js 14-15). Presume-se que, por causa desses nomes, Hebrom fora originalmente uma aliança entre quatro cidades. Ela, que ficava aproximadamente a 32 km a sudoeste de Jerusalém, foi o lugar onde Abraão assentou-se e construiu um altar (Gn 13.18). E feriram a Sesai, e a A imã, e a Talmai. Calebe expulsou estes três homens de Hebrom (Jz 1:20; Js 15.14).

1:11 Debir foi a cidade seguinte tomada pelos israelitas. Seu nome anterior, Quiriate-Sefer, significa Cidade do Livro. O local era, possivelmente, um centro administrativo onde se mantinham os registros. Entretanto, na área arqueológica moderna, Tell Beit Mirsim, não se achou nenhuma grande biblioteca nem documentos. Todavia, os arqueólogos descobriram uma cidade grandemente fortificada, a qual fora destruída por volta de 1200 a.C.

1:12, 13 O oferecimento da filha de Calebe em casamento como prêmio é similar à exigência de cem prepúcios filisteus feita por Saul a Davi como preço pela sua filha Mical (1 Sm 18.25).

1:14, 15 Como dote, a filha de Calebe pediu fontes de água em acréscimo a terra que ele lhe tinha dado. A propriedade sem fontes de água doce era quase inútil. Este, sim, era um pedido bastante astuto.

1:16, 17 As referências ao sul (isto é, Neguebe) nos versículos 9 e 15 ligam-se aos descendentes do queneu, o sogro de Moisés, Jetro (Ex 3.1). Essa conexão familiar havia estabelecido relações amistosas entre os israelitas e os queneus, que eram os midianitas, no deserto (Nm 10.29-32). Seu acordo harmonioso com Judá cumpre as palavras de Moisés em Números 10.29. A cidade das Palmeiras é uma referência a Jericó (Dt 34.3; 2 Cr 28.15), abrigada para baixo do vale do Jordão, a nordeste de Jerusalém.

1:18 Gaza, Asquelom e Ecrom eram as três principais cidades do reino filisteu (as outras duas eram Asdote e Gate, Js 13.2, 3) Israel não podia dominá-las por muito tempo. No tempo de Sansão, todas as três estavam novamente nas mãos dos filisteus (Jz 14-19; 16.1; 1 Sm 5.10).

1:19, 20 Porém não expeliu os moradores do vale. Considerando que as três cidades filisteias, mencionadas no verso 18, localizavam-se no vale, este versículo, provavelmente, indica que os israelitas não tiveram sucesso além dessas três cidades e, talvez, até mesmo signifique que eles perderam o controle muito rápido. Carros de ferro. Eram bastante úteis nas superfícies costeiras, mas não nas áreas montanhosas de Canaã. Assim, os israelitas, que não possuíam tais carros, tiveram mais sucesso nas batalhas contra os habitantes das montanhas.

1:21 Porém os filhos de Benjamim não expeliram os jebuseus. Este versículo repete quase que textualmente o trecho de Josué 15.63, exceto pelo fato de que, em Josué 15, a tribo de Judá é responsabilizada por não expulsar os jebuseus de Jerusalém. Observe também que, em Juízes 1:8, é dito que Judá tomou Jerusalém (em contradição com Jz 15.63) [Isso provavelmente se deve ao fato de Josué e Juízes focarem momentos históricos diferentes de Israel. Considere que, em algumas Bíblias, o título dado ao capítulo 1 de Juízes é Novas conquistas pelas tribos.].

1:22-36 Contrastando com os sucessos no sul (Jz 1:1-21), os judeus sofreram derrotas no norte. Inicialmente, eles se apossaram de Betei (anteriormente chamada Luz), uma importante cidade no território de Efraim (Jz 1:22-26), mas avançaram pouco depois disso. Seis tribos, Manassés, Efraim, Zebulom, Aser, Naftali e Dã, fracassaram na expulsão dos cananeus de seus territórios.

1:22 A casa de José era Efraim e Manassés (Gn 48.5, 6; Dt 33.17), que dividiram a herança de seu pai. Eles são as duas próximas tribos mencionadas nesta passagem em Juízes (Jz 1:27, 29). Betei significa a casa de Deus. Era um local que possuía uma honrada história, começando com o primeiro sacrifício de Abraão a Deus (Gn 13.3, 4) e a revelação de Deus a Jacó (Gn 31:13). Josué tomou a cidade (Js 12.16), talvez, como parte da conquista de Ai (Js 8.17).

1:23-25 Luz significa engano ou perversão, mas Jacó mudou o nome do local para Betei, depois de seu encontro com Deus naquele lugar.

1:26 Terra dos heteus [hititas, na NVI]. Arqueólogos escavaram um grande reino heteu na Ásia Menor (atual Turquia), que data de aproximadamente 1800 a 1200 a.C. Entretanto, a relação entre os heteus de Canaã e os desta descoberta é incerta.

1:27 Nem Manassés expeliu. Neste verso, tem início um longo registro de desobediência que começou quando os israelitas falharam na expulsão dos cananeus (Js 10.28-43). Tal fracasso resultou em muito pesar nos anos seguintes. Além da tribo de Manassés, as de Benjamim Qz 1:21), Efraim (Jz 1:29), Zebulom (Jz 1:30), Aser (Jz 1:31), Naftali Qz 1:33) e Dã (Jz 1:34) também não fizeram o que Deus havia ordenado. Vemos, no capítulo 2, e, na verdade, ao longo de todo o livro, os efeitos que isso gerou na vida de Israel: as pessoas se voltaram para os deuses cananeus e abandonaram o Senhor. Além disso, quiseram os cananeus habitar na mesma terra e confiaram em seus próprios recursos (Jz 1:19), a fim de intimidar os israelitas. Contudo, todas as dificuldades poderiam ter sido afastadas caso os filhos de Israel tivessem exercitado sua fé de forma completa.

1:28-33 Fez dos cananeus tributários. Esta expressão significa que eles forçaram seus prisioneiros a trabalhar como servos involuntários sem receber coisa alguma. Davi, Salomão e outros reis continuaram essa prática (2 Sm 20.24). Os israelitas escravizaram os cananeus em muitas áreas (Jz 1:30, 33, 35; Js 16.10; Js 17.13).

1:34-36 Os amorreus eram povos cananeus que viviam nas montanhas centrais do território de Canaã. Eles bloquearam a entrada de Dã nesta região. Consequentemente, os filhos de Dã foram forçados a migrar para a parte norte (Jz 18.1; Js 19.47). (Para mais informações sobre os amorreus, leia Josué 3.10.

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