Significado de Mateus 23

Mateus 23

Mateus 23 contém a severa repreensão de Jesus aos fariseus e escribas por sua hipocrisia e legalismo. Jesus os chama de “hipócritas” e “sepulcros caiados”, e os acusa de negligenciar os assuntos mais importantes da lei, como justiça, misericórdia e fidelidade.

Ele adverte seus discípulos a não seguirem o exemplo deles e diz que quem se exalta será humilhado, mas quem se humilha será exaltado.

Jesus também lamenta sobre Jerusalém, dizendo que eles rejeitaram os profetas enviados a eles e que sua casa ficará deserta.

Mateus 23 enfatiza o perigo da hipocrisia e do legalismo, e a importância da justiça, misericórdia e fidelidade. Também destaca o papel profético de Jesus ao advertir sobre o julgamento vindouro e sua tristeza sobre o estado espiritual de Israel.

I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento

Mateus 23 reúne a derradeira palavra profética de Jesus a Israel sob a forma de ensino público e de “ais”, ecoando a Lei, os Profetas e a Sabedoria, e antecipando leituras do restante do Novo Testamento. O capítulo inicia com o reconhecimento da cátedra mosaica: “os escribas e fariseus se assentaram na cadeira de Moisés” (Mateus 23:2), linguagem que supõe o arranjo de Deuteronômio 17:8–13 (os juízes que decidem causas segundo a Torá) e o ideal sacerdotal de instruir o povo (Malaquias 2:7), mas imediatamente denuncia a ruptura entre ensino e vida: “fazem todas as obras a fim de serem vistos” (Mateus 23:5; cf. Isaías 29:13; Ezequiel 33:31). O alargamento de filactérios e o alongamento das franjas retoma preceitos legítimos — a lembrança da palavra amarrada “na mão” e “entre os olhos” (Deuteronômio 6:8; Deuteronômio 11:18; Êxodo 13:9) e os “tsitsit” nas bordas do manto para lembrar os mandamentos (Números 15:37–39) —, mas Jesus os confronta quando convertidos em insígnias de vaidade, à semelhança do que já advertira contra a ostentação no jejum, na oração e na esmola (Mateus 6:1–18). O amor aos primeiros assentos e aos títulos (“rabi”, “pai”, “guia” — Mateus 23:6–10) é revertido pela ética do Reino: um só é o Mestre, um só o Pai, e entre vós o maior é servo (Mateus 23:8–12), em consonância com o cântico do Servo que se humilha para servir (Isaías 52:13–53:12), com o gesto do lava-pés (João 13:13–15) e com a regra já dada: “quem quiser ser grande seja vosso servo” (Mateus 20:26–28; Filipenses 2:5–11).

A série de “ais” inscreve Jesus na tradição profética que denunciou a hipocrisia cultual (Isaías 5:8–23; Amós 5:21–24). Ao dizer que os líderes “fecham o Reino dos céus diante dos homens” (Mateus 23:13), ele os aproxima dos sacerdotes de Malaquias que “tropeçaram na Lei” e fizeram muitos “tropeçarem” (Malaquias 2:8) e dos doutores que, segundo o paralelo lucano, “tomaram a chave do conhecimento” e “impedem os que estavam entrando” (Lucas 11:52). A denúncia de “devorar as casas das viúvas” pertence ao retrato sinótico do formalismo que explora os frágeis (Marcos 12:40; Lucas 20:47) e contrasta com a “religião pura” que visita órfãos e viúvas (Tiago 1:27; Êxodo 22:22–24). O zelo proselitista que torna o convertido “filho do inferno duas vezes mais do que vós” (Mateus 23:15) ironiza um fervor sem conhecimento (Romanos 10:2) que percorre “mar e terra” enquanto perde o essencial. Ao desmascarar casuísticas de juramentos — “jurar pelo ouro do templo” ou “pelo presente sobre o altar” (Mateus 23:16–22) —, Jesus retoma sua própria proibição do jurar (Mateus 5:33–37; Levítico 19:12; Êxodo 20:7) e reordena o sagrado: é o templo que santifica o ouro e o altar que santifica a oferta, como ensina a lógica cultual (“tudo o que tocar o altar será santo”, Êxodo 29:37; 30:29; Isaías 66:1–2).

Quando censura o dízimo do “hortelã, do endro e do cominho” sem o peso de “justiça, misericórdia e fidelidade” (Mateus 23:23), Jesus não abole o zelo minucioso (“estas coisas importava fazer, sem omitir aquelas”), mas o subordina ao coração profético de Miquéias 6:8 e Oséias 6:6, e à retidão exigida pelo Decálogo (Levítico 19; Deuteronômio 10:12–19). A sátira “coais um mosquito e engolis um camelo” (Mateus 23:24) brinca com a pureza alimentar — ambos impuros, o menor dos insetos e o camelo (Levítico 11:4, 20) — para expor a inversão de prioridades. A imagem da taça limpa por fora mas cheia de rapina por dentro (Mateus 23:25–26) recolhe Isaías 1:11–17 (mãos cheias de sangue) e a crítica de Jesus à pureza externa que ignora o coração (Mateus 15:10–20; Marcos 7:14–23); a ordem “limpa primeiro o interior” dialoga com Salmos 51:6, 10 (“verdade no íntimo... coração puro”). Os “sepulcros caiados” belos por fora e cheios de ossos por dentro (Mateus 23:27–28) unem a prática de caiar tumbas para evitar contaminação (Números 19:16) à metáfora de Ezequiel 13:10–15 contra paredes caiadas que escondem ruína; não por acaso, Paulo chamará o sumo sacerdote de “parede caiada” ao denunciar sua hipocrisia (Atos 23:3).

O bloco final mira a contradição de “edificar túmulos dos profetas” enquanto se caminha nos passos dos que os mataram (Mateus 23:29–32). Jesus lê a história como contínuo de rejeição (1 Reis 19:10; 2 Crônicas 36:15–16; Neemias 9:26) e conclui com a sentença: “enchei a medida de vossos pais” (Mateus 23:32), eco do princípio de Gênesis 15:16 (“a medida... ainda não se encheu”) e paralelo a 1 Tessalonicenses 2:15–16 (“enchendo sempre a medida de seus pecados”). O invectivo “serpentes, raça de víboras” (Mateus 23:33) retoma a pregação de João (Mateus 3:7) e evoca a geração envenenada do pecado (Gênesis 3; Salmos 140:3; Isaías 59:5). Em seguida, Jesus projeta a missão e a perseguição: “envio-vos profetas, sábios e escribas; a uns matareis e crucificareis, a outros açoitareis nas sinagogas” (Mateus 23:34), anúncio que se cumpre nos Atos e nas cartas (Atos 5:40–41; 7:54–60; 2 Coríntios 11:24–27). O juízo de “vir sobre esta geração todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel até ao de Zacarias” (Mateus 23:35) abrange a Escritura inteira: Abel é o primeiro justo assassinado (Gênesis 4:8–10), Zacarias filho de Joiada foi morto “no pátio da casa do SENHOR” (2 Crônicas 24:20–22), o último mártir do cânon hebraico — de Gênesis a Crônicas —, e essa abrangência será retomada por Estêvão ao acusar os “traidores e assassinos” dos profetas (Atos 7:51–52) e pelo autor de Hebreus ao lembrar a fileira dos maltratados (Hebreus 11:36–38).

A péricope culmina no lamento: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados!” (Mateus 23:37), no qual Jesus se apresenta com metáfora maternal: “quantas vezes quis eu reunir teus filhos, como a galinha ajunta os pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste”. A imagem associa-se ao cuidado de Deus que traz Israel “sobre asas de águias” (Êxodo 19:4), ao refúgio “debaixo das asas” no Saltério (Salmos 17:8; 36:7; 91:4) e à promessa de proteção sobre Sião (Isaías 31:5), mas o refrão “não quiseste” põe a responsabilidade no endurecimento (Isaías 30:15; Jeremias 6:16). A sentença “eis que a vossa casa vos fica deserta” (Mateus 23:38) retoma o oráculo do Templo tornado desolado por infidelidade (Jeremias 7:14; 22:5; Salmos 69:25) e prepara o discurso escatológico sobre a destruição do santuário (Mateus 24:1–2). O versículo final — “não me vereis, doravante, até que digais: Bendito o que vem em nome do SENHOR” (Mateus 23:39) — religa a cena ao Salmo 118:26, que selou a entrada messiânica (Mateus 21:9), e aponta, numa chave ao mesmo tempo litúrgica e escatológica, para o momento em que o reconhecimento do “Bendito” reabrirá a visão (Romanos 11:25–27).

Mateus 23 costura a cátedra de Moisés com a ética do Servo, as franjas e filactérios da Torá com a denúncia de Isaías e Amós, os juramentos com a santidade do templo e do altar, os dízimos minuciosos com as exigências de Miquéias e Oséias, os sepulcros caiados com Ezequiel e Números, a galeria dos profetas mortos com Abel e Zacarias, e o lamento sobre Jerusalém com Êxodo, Salmos e Jeremias. O Novo Testamento recolhe e amplia esse quadro: Estêvão e os apóstolos experimentam o padrão da perseguição anunciado (Atos 5–7), Tiago funda a pureza na misericórdia aos vulneráveis (Tiago 1:27), Paulo resiste à vanglória religiosa e insiste no culto “em espírito e em verdade” (Filipenses 3:3–9; Romanos 12:1–2), e a igreja aprende que o verdadeiro ensino se autentica no serviço humilde (1 Pedro 5:1–3). Em Mateus 23, portanto, a voz de Jesus é a voz dos profetas em clímax: denuncia a hipocrisia que fecha o Reino, chama à justiça, misericórdia e fidelidade, anuncia juízo sobre a casa desolada e, ainda chorando, mantém estendido o convite para, enfim, dizer com verdade: “Bendito o que vem em nome do SENHOR.”

II. Comentário de Mateus 23

Mateus 23:1, 2 As sinagogas tinham um assento especial chamado de cadeira de Moisés (Lc 4-20). Os escribas eram os copistas oficiais do Antigo Testamento e também doutores da Lei (Mt 7.29; 8.19).

Mateus 23:3 Os escribas e fariseus levavam as Escrituras ao pé da letra para que todos fizessem o que eles diziam. Todavia, Jesus chamou a atenção dos fariseus por causa de seu legalismo, pois eles davam mais valor às suas próprias regras e determinações do que às Escrituras. Aparentemente eles seguiam suas leis com muito rigor e pareciam justos. Contudo, as pessoas não deveriam agir como eles, porque, embora parecessem justos, o coração deles era cheio de inveja, ódio e malícia.

Mateus 23:4 Compare as atitudes dos fariseus com o convite de Jesus às pessoas em Mateus 11.28-30.

Mateus 23:5 Uma característica peculiar da hipocrisia é fazer boas obras para receber o aplauso daqueles que as veem (Mt 6.1-18). Filactérios eram caixinhas que continham passagens bíblicas e eram amarradas com tiras de couro no braço e na testa. Esse costume tinha como base Êxodo 13.9, 16 e Deuteronômio 6.8; 11.18. Mas, por meio de passagens como Provérbios 3.3; 6.21; 7.3, os escribas deveriam saber que o Senhor queria muito mais do que um simples adorno externo.

Franjas, também traduzidas por orla, em Mateus 9.20, referem-se às franjas que eram usadas na borda das vestes para lembrar aos israelitas a Lei de Deus (Nm 15.38; Dt 22.12). Para que fossem vistos como especialmente justos, alguns hipócritas usavam filactérios bem maiores e franjas mais longas que as comuns.

Mateus 23:6 Os primeiros lugares eram os lugares de honra nos banquetes. As primeiros cadeiras ou melhores assentos era uma fila de cadeiras que ficava na frente da sinagoga, de frente para a congregação.

Mateus 23:7 Saudações, nesse contexto, significa mais do que um olá; era um cumprimento respeitoso a alguém superior. Rabi significa mestre.

Mateus 23:8-10 O princípio aqui exposto não pode ser aplicado de uma maneira geral, porque esse título é usado em outras passagens das Escrituras sem nenhuma restrição ou censura (Mt 15.4-6; 19.5, 29; 2 Rs 2.12; 1 Co 4.15; G1 4.2; Hb 12.9). Os hipócritas buscavam esses títulos não com o propósito de usar sua posição para servir aos outros, mas, sim, porque eles traziam muito prestígio e poder. Mestres também pode significar líderes.

Mateus 23:11 As hierarquias deste mundo não acabarão (1 Ts 5.12, 13; 1 Tm 5.17; Hb 13.17); contudo, toda liderança deve ser exercida com humildade e espírito de serviço.

Mateus 23:12 Haverá exaltação no Reino futuro de Cristo (Rm 8.17; 2 Tm 2.12).

Mateus 23:13, 14 Jesus proclamou esses ais para os escribas e fariseus por causa de sua nítida oposição à verdade.

Mateus 23:15 Percorreis o mar e a terra. Os escribas e fariseus jamais poderiam receber a acusação de ser preguiçosos, mas estavam seguindo por um caminho totalmente perigoso e contrário aos planos de Deus.

Mateus 23:16-22 As autoridades religiosas ensinavam a jurar pelo templo, pelo altar e pelo céu; no entanto, os juramentos feitos pelo ouro do templo, pela oferta do altar ou por Deus eram a mesma coisa. Jesus expôs o absurdo de seus ensinamentos e chamou os líderes religiosos de condutores cegos.

Mateus 23:23 Hortelã, endro e cominho são plantas usadas como são temperos. Cominho é uma planta. Os escribas e fariseus eram muitos rigorosos em relação aos dízimos dos pequenos grãos, mas não se preocupavam com assuntos mais importantes, como se assegurar de que suas ações fossem pautadas conforme o juízo, a misericórdia e a fé (Mq 6.8). Jesus não estava dizendo que o dízimo não é importante; Ele só estava mostrando que os escribas e fariseus davam importância a uma área em detrimento da outra. Do mesmo modo, também podemos preocupar-nos demais com as regras e normas da igreja e esquecer os princípios que há por trás delas.

Mateus 23:24 Levítico 11.41-43 contém uma proibição de comer tudo o que anda sobre o ventre, que anda sobre quatro pés ou que tem muitos pés. Os fariseus usavam um pano para coar com todo o cuidado tudo o que fossem beber, especialmente o vinho, para tirar até os menores insetos, que eram impuros. Mas Jesus disse que, apesar disso, eles engoliam facilmente um animal muito maior, como um camelo. Jesus usou uma ilustração bem exagerada para mostrar como os fariseus desprezavam o juízo, a misericórdia e a fé (Mt 23:23). Ele usou o mesmo recurso em Mateus 19.24 para mostrar a dificuldade do jovem rico de receber a salvação.

Mateus 23:25, 26 O interior do copo representa o caráter da pessoa. As vezes, aqueles que mais acusam os pecados dos outros são culpados por ocultar os mesmos pecados, ou ainda piores, dentro de si.

Mateus 23:27-33 A geração dos escribas, fariseus e hipócritas do tempo de Jesus herdou toda a culpa de seus antepassados.

Mateus 23:34 Eu vos envio no presente do indicativo se refere aos profetas, sábios e escribas enviados por Deus à Igreja primitiva. O livro de Atos confirma essa profecia: os israelitas perseguiram os primeiros pregadores e mestres que anunciaram as boas-novas (At 7.51-60).

Mateus 23:35 Abel foi o primeiro homem assassinado no Antigo Testamento (Gn 4.8); Zacarias, o último. A morte de Zacarias é descrita em 2 Crónicas 24-20-22, o último livro do cânon hebraico. O que Jesus quer dizer aqui é que, do começo ao fim da Bíblia, os verdadeiros servos de Deus sempre foram tratados assim. Filho de Baraquias. Em 2 Crónicas 24.20, consta que Zacarias é filho de Jeoiada. O profeta Zacarias é chamado de filho de Baraquias em Zacarias 1.1. È provável que Jeoiada fosse avô do profeta Zacarias e Baraquias fosse seu pai. Algo pouco provável, mas também possível, é que o pai de Zacarias tivesse dois nomes: Jeoiada e Baraquias.

Mateus 23:36 Esse versículo é similar a Mateus 23:32 e prediz a destruição de Jerusalém em 70 d.C. (veja o comentário de 24-34)

Mateus 23:37 Dizer um nome duas vezes, como Jerusalém, Jerusalém, indica uma grande emoção (Mt 27.46; 2 Sm 18.33; At 9.4). As palavras quis eu e tu não quiseste mostram a oposição de Israel à vontade de Cristo (para outra citação igual a essa, veja o Salmo 91.4).

Mateus 23:38 Casa pode estar referindo-se ao templo, porém é mais provável que seja uma referência à dinastia de Davi (2 Sm 7.16). Israel jamais deixou de ter um rei designado para reinar no trono de Davi, mas, com frequência, esse rei não se achava no trono por causa da desobediência do povo. Contudo, quando a nação se voltar para o Senhor, sua escravidão chegará ao fim, e Jesus reinará (Dt 30.1-6). Assim como o templo seria destruído, Israel também enfrentaria o juízo de Deus.

Mateus 23:39 Todas as esperanças de Israel estavam no termo até que. Um dia, a nação irá arrepender-se (Zc 12.10-14), e Israel ocupará novamente um lugar de destaque e de bênçãos (Rm 11.26). A citação aqui é do Salmo 118.26, um salmo messiânico que predisse o dia em que a pedra seria rejeitada pelos edificadores (Sl 118.22). Este é o dia que fez o Senhor (Sl 118.24) remete a um tempo de grande júbilo.

Mateus 23:1-4 (Devocional)

Líderes religiosos

Os oponentes terminaram de falar. Embora não haja mais palavras hipócritas em seus lábios, seus corações estão invariavelmente cheios de hipocrisia. O Senhor agora descobrirá esse coração hipócrita. Ele conhece todas as deliberações e pensamentos do coração do homem. Ele é o Deus onisciente. Ele faz de acordo com a palavra que certa vez falou a Samuel: “Porque Deus [vê] não como vê o homem, pois o homem olha para a aparência, mas o Senhor olha para o coração” (1 Samuel 16:7).

No final deste capítulo, Ele prediz a destruição do povo. Isso não diz respeito principalmente aos iníquos e licenciosos, nem mesmo aos saduceus incrédulos. Trata-se, em primeiro lugar, da queda daqueles que geralmente são tidos em alta estima por seu conhecimento religioso e santidade.

O Senhor fala às multidões e aos discípulos que ainda são vistos juntos aqui. Somente depois que Ele é capturado, ocorre uma separação entre a multidão e os discípulos. Ele se dirige a ambos os grupos para avisá-los sobre os fariseus. Ele o faz em termos inequívocos. Ao lermos esta seção, devemos ter cuidado para não pensar que o Senhor está sempre falando sobre ‘outros’. Ele também fala conosco. Em nós também se esconde algo dos fariseus e escribas. Experimentaremos isso se aplicarmos a nós mesmos as palavras que Ele fala aos fariseus.

A primeira coisa que Ele diz sobre eles é que aceitam o lugar de mestre, um lugar elevado acima do povo. Eles menosprezam as pessoas e até ‘amaldiçoam’ a multidão que aos seus olhos não conhece a lei (João 7:49). É assim que eles pensam sobre a multidão cuja honra eles tanto amam. A aplicação para nós é óbvia. Para qualquer um que tenha conhecimento da Palavra de Deus, existe um grande perigo de ocupar uma posição acima do povo de Deus, onde geralmente não há conhecimento da Palavra de Deus.

Apesar da postura dessas pessoas, o Senhor diz que elas devem ser ouvidas. Isso é apenas até onde eles ensinam a Palavra de Deus. O Senhor não diz que as tradições dessas pessoas devem ser seguidas. Eles não devem seguir suas obras. A razão, diz ele, é que esses falsos líderes dizem algo sobre a lei, mas não agem de acordo com ela. Eles dão sua própria interpretação para guardar a lei. Isto é, eles dizem aos outros como guardar a lei, embora não façam a menor conta dela em suas próprias vidas. Eles nem querem isso. Sempre encontramos isso com fanáticos religiosos. Eles gostam de dizer às outras pessoas o que fazer enquanto facilitam as coisas para eles.

Mateus 23:5-7 (Devocional)

Aos Olhos do Povo

Esses líderes religiosos fazem de tudo para serem vistos pelo povo. Eles querem prestígio entre o povo. Eles não estão interessados no que Deus pensa deles. Quando se trata de sua vida de oração, que acontece propriamente em segredo, eles são extravagantes. Alargam os seus filactérios, literalmente: amuletos, por isso destacam-se bem. Os filactérios são fitas de pergaminho, escritas com textos usados ao redor da testa e na mão (Exo 13:9; Deu 6:8). Sua vida de oração não é marcada por estar na presença de Deus, mas por estar na presença dos homens. É uma forma maligna de religião fingir que estão se aproximando de Deus quando sua intenção é que as pessoas os honrem por sua piedade.

O mesmo vale para a ostentação com que deixam claro que guardam os mandamentos de Deus. As borlas de suas vestes, que são cordões na bainha das roupas exteriores, alongam-se. Essas borlas estão diretamente relacionadas à comemoração e cumprimento dos mandamentos de Deus (Nm 15:37-40).

Além disso, em várias ocasiões eles se empurram para os lugares de honra porque se consideram os mais importantes. Banquetes nas casas e reuniões religiosas na sinagoga são tudo sobre eles. Eles também querem chamar a atenção para si mesmos em público nos mercados. Saudações extensas e barulhentas devem servir para tornar seu nome e fama conhecidos por todos os espectadores. O que eles também amam e os faz estufar o peito é quando as pessoas os chamam de ‘Rabino’. É uma homenagem à sua elevação sobre o povo.

Mateus 23:8-12 (Devocional)

Um é seu professor

O Senhor adverte Seus ouvintes sobre certas coisas que não deveriam acontecer entre eles. Portanto, é inapropriado ser chamado de “Rabi”, pois esse título pertence somente a Ele. Todos os outros são irmãos. Todos estão em pé de igualdade, ninguém é mais que o outro. O que Ele diz de ‘Rabi’ também se aplica a “pai”. Há apenas Um que tem o direito de ser assim chamado e esse é o Pai no céu. Um dos pecados do papado é que o papa chama a si mesmo assim e até de ‘santo padre’ (cf. João 17:11). Esta é uma postura horrível.

Também não devemos querer que nos chamem de “líderes”, pois esse título pertence apenas a Cristo. Todos a quem o Senhor glorificado deu a tarefa de mestre (Efésios 4:11), portanto, não são mais do que outros. Pelo contrário, são servos dos outros. Cristo é o único Líder. Os líderes só lideram naquilo que aprenderam de Cristo. Não se trata de elevar-se acima dos outros, sentir-se melhor ou mais importante, mas de curvar-se ao outro e servi-lo. Tal pessoa é verdadeiramente o maior.

Deus tratará com cada homem de acordo com a escolha que ele fizer. Erguer-se é uma escolha própria, assim como humilhar-se. A resposta de Deus depende da escolha do homem. Ele humilhará os que se exaltam e exaltará os que se humilham. A escolha é nossa.

Mateus 23:13 (Devocional)

Primeiro Ai

[Mateus 23:14 não é encontrado nos primeiros manuscritos: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para fingir, fazeis longas orações; portanto, você receberá maior condenação.]

O Senhor agora se dirige diretamente aos escribas e fariseus. Ele derrama seu primeiro “ai” sobre eles e os chama de “hipócritas”. Em vez de apontar para as pessoas o reino dos céus e o que é necessário para entrar nele, eles fecham o reino das pessoas. Eles não apontam para os interesses de Deus, mas apenas têm seus próprios interesses em mente. Portanto, eles próprios permanecem fora do reino dos céus, enquanto também impedem a entrada de outros que desejam entrar. Portanto, eles levantam o povo contra o Senhor Jesus. Todos aqueles que O recebem entram no reino. Eles perderam sua autoridade sobre eles. Eles querem evitar a todo custo que seu prestígio e influência entre o povo diminuam.

Mateus 23:15 (Devocional)

Segundo Ai

O segundo “ai” vem de seu fanatismo para fazer seguidores e o que eles fazem com esses novos seguidores. Seu zelo em fazer até mesmo “um prosélito [isto é, um judeu convertido, ou “companheiro do judeu”]”, não conhece limites. Eles viajam incansavelmente por mar e terra para isso. As pessoas que eles colocaram sob sua influência são tão doutrinadas por eles que se tornam filhos do inferno e se comportam duas vezes pior do que eles. “Um filho do inferno” significa que eles criam seus seguidores, que consideram filhos, do e para o inferno.

Mateus 23:16-22 (Devocional)

Terceiro Ai

Em Seu terceiro “ai”, o Senhor se dirige a eles com “líderes cegos”. A cegueira deles é aparente a partir de sua própria teoria que eles desenvolveram sobre juramentos. Eles argumentam que jurar pelo templo não tem poder vinculante, ao passo que tem quando jurar pelo ouro do templo.

O Senhor os chama de “loucos e cegos”. Com Sua explicação, Ele não pretende indicar a forma correta de juramento, mas indicar a tolice de seu raciocínio. Eles só olham para a aparência. Eles veem o ouro e isso significa muito para eles, não importa em que casa esteja. Também pode ser um templo de ídolos. Eles não pensam em nada sobre o que o templo fala e o que acontece lá e qual o valor que um serviço sincero nele tem para Deus. Eles só veem o brilho do ouro. Isso os torna cegos para o fato de que o ouro deriva seu significado do fato de o templo ser decorado com ele. Para Deus, o ouro não é o mais importante, mas o templo, Sua morada.

O Senhor menciona outro exemplo, o altar, com o qual se refere ao próprio serviço. O exemplo anterior, o templo, diz respeito ao local onde ocorre o serviço. Assim como o templo, o altar também não significa nada para eles. Eles apenas olham para a oferta.

Novamente o Senhor os chama de “cegos”. Também com relação ao altar Ele faz a pergunta o que é maior. Por meio de Seu questionamento, Ele mostra que eles fazem a distinção errada. Aqui também eles olham apenas para a oferta e não para o altar. Para eles não importa que tipo de altar seja. Pode muito bem ser um altar idólatra. Contanto que haja uma oferta impressionante nele. Então, pelo menos, você tem algo pelo que jurar.

Na ordem inversa, o Senhor explica o significado do altar e do templo. Jurar pelo altar significa jurar tanto pelo altar quanto por tudo que está nele. Altar e oferenda são inseparáveis. Em sua loucura e cegueira, os líderes os separam.

Isso também é importante em relação à obra do Senhor Jesus. Vemos que altar e oferta são inseparáveis nEle e em Seu sacrifício. O que Ele ofereceu a Deus foi muito agradável para Deus porque Ele o ofereceu. O Senhor Jesus é tanto o Altar quanto a Oferta.

O mesmo se aplica aos juramentos pelo templo quanto aos juramentos pelo altar. Juramentos pelo templo são juramentos tanto pelo templo quanto – não: pelo ouro, mas – por Aquele que nele vive.

O Senhor acrescenta a isso outro aspecto, no qual passa de falar da terra para falar do céu. Eles também juram pelo céu. Aqui, novamente, não é a aparência exterior que importa, mas o interior. O trono de Deus no céu, eles têm que considerar isso cuidadosamente. E Deus está sentado naquele trono, eles também têm que considerar isso bem. Se eles estivessem cientes de tudo isso, eles estariam revisando seus ensinamentos sobre juramentos.

Mateus 23:23-24 (Devocional)

Quarto Ai

O quarto “ai” o Senhor pronuncia sobre a hipocrisia que eles revelam em conexão com o cumprimento do mandamento de dar o dízimo. Eles cumprem esse mandamento até o último detalhe, negligenciando o que realmente é a lei, que é “justiça, misericórdia e fidelidade” (cf. Mq 6:8).

Dar dízimos é prescrito. Eles, portanto, aderem estritamente a isso. Deram-lhe um significado que os torna, a seus próprios olhos, os mais fiéis cumpridores desse mandamento. O Senhor deixa claro para eles quais são as “disposições mais importantes da lei” e que isso não tem utilidade para eles. Ele os acusa de não se preocuparem com a “justiça” ou com a avaliação de Deus, com o que Ele pensa sobre determinado assunto, com o que Ele considera importante. Também a demonstração de “misericórdia” é completamente estranha para eles. Sobre “fidelidade” a Deus e Seus mandamentos, eles sabem muito pouco. Eles mesmos estão violando a lei.

O Senhor Jesus não diz que nenhum dízimo deve ser dado. O que Ele denuncia é a distinção que fazem nos mandamentos, pela qual se mostram verdadeiramente cegos. Eles prestam atenção no mosquito, essa é a coisa meticulosa que fazem, enquanto não prestam atenção no grande, no realmente importante, que é o camelo, e passam por ele.

Mateus 23:25-26 (Devocional)

Quinto Ai

O quinto “ai” tem a ver com sua aparência piedosa que contrasta fortemente com sua depravação interior. O que eles fazem parece muito piedoso, muito separado, muito puro, mas na realidade seus corações são predatórios e eles não conhecem medida. Esse julgamento pode ser dado pelo Senhor porque Ele conhece o interior do homem. Esse ser interior é tão visível para Ele quanto as ações que observamos (Sl 139:1-4; Hb 4:12-13).

O Senhor lhes mostra o caminho pelo qual podem se libertar dessa hipocrisia. Isso só pode ser feito limpando primeiro o interior, ou seja, arrependendo-se internamente. Ao confessar os pecados, a pessoa é purificada interiormente. Só então suas ações podem vir de um ser interior puro e, portanto, também ser puro.

Mateus 23:27-28 (Devocional)

Sexto Ai

Em Seu sexto “ai” sobre eles, o Senhor revela o cheiro de morte que paira sobre todas as suas ações. Eles são caixões ambulantes. Caixões magníficos, no entanto. Mas não importa quão bonito o caixão pareça, não há nada de belo no caixão; pelo contrário, é sem vida, sujo e fedorento.

O Senhor enfatiza o quanto essas pessoas mantêm uma aparência falsa que as faz parecer justas aos homens, enquanto em seus corações não há nada além de engano. Esse engano é que eles se apresentam de forma diferente do que são e que fazem a sua própria vontade. Ele diz que eles estão “cheios” disso. Realmente não há mais nada presente nesses hipócritas e não há espaço para mais nada. A hipocrisia é contrária a ser honesto em quem você é e a ilegalidade é contrária a fazer a vontade de Deus.

Mateus 23:29-32 (Devocional)

Sétimo Ai

O sétimo e último “ai” diz respeito à hipocrisia deles em relação à honra dos profetas e justos que foram mortos. Eles fingem grande respeito por essas testemunhas que foram mortas nos séculos anteriores por causa de seu testemunho da verdade. Para tais testemunhas, eles constroem monumentos e adornam o local onde estão enterrados. Ao fazê-lo, ousam distanciar-se com palavrões e uma atitude arrogante de seus pais que têm esses crimes em sua consciência. Eles nunca teriam participado.

Então a ponta da lança que eles apontam para seus pais é apontada para eles mesmos. Eles falam de “nossos pais”. O Senhor declara que assim eles estão se revelando como verdadeiros filhos daqueles assassinos. Como filhos dos assassinos, eles também não se curvam à mensagem que os profetas assassinados trouxeram.

Que eles são filhos de seus pais, eles logo provarão matando o verdadeiro Profeta e Justo. Com isso eles encherão a medida da culpa de seus pais!

Mateus 23:33-36 (Devocional)

O Senhor julga

O Senhor explode contra essas pessoas. Ao chamá-los de “serpentes,... raça de víboras”, Ele os coloca em pé de igualdade com o diabo. Assim como o diabo não escapará do inferno, essas pessoas também não. Esta declaração é a acusação mais terrível dos lábios do Senhor Jesus mencionada a nós nas Escrituras. Ele nunca disse nada assim a nenhum cobrador de impostos ou pecador. Ele guardou essas palavras inflamadas para hipócritas religiosos.

Com as palavras “portanto, eis que vos envio”, Ele se exalta aqui em Sua autoridade divina como Juiz sobre eles. Aquele que eles estão prestes a matar é Javé, Deus revestido de poder. Depois de ser morto por eles, Ele se levantará. Após Sua ressurreição e ascensão, como o Senhor e Cristo glorificado, Ele enviará profetas, sábios e escribas a eles.

Enviar esses servos é uma nova prova de Sua grande graça. Eles também permanecerão cegos para esta nova prova de graça por causa do interesse próprio que continuarão a perseguir. Eles vão matar várias dessas novas testemunhas. Ao fazer isso, eles permitirão que toda a medida de sua iniquidade transborde na rejeição de seu Messias.

No testemunho de Estêvão e seu assassinato, temos um exemplo notável disso. Como essa testemunha agiu como um profeta que falou ao coração e à consciência deles. A sabedoria com que ele falava seus oponentes não podiam resistir, e sua interpretação das Escrituras ninguém podia refutar (Atos 6:10; Atos 7:53). O resultado é que eles o apedrejaram com raiva (Atos 7:57-58).

A consequência da rejeição dos servos que o Senhor enviará em Sua graça após Sua ascensão é que não haverá mais salvação para eles. A medida está mais do que cheia. Todo o sangue derramado por eles cairá sobre eles. Deus exigirá deles o sangue derramado de todo homem justo. O primeiro justo cujo sangue foi derramado é Abel (Gn 4:8). O último mártir mencionado nas Escrituras é Zacarias (2Cr 24:20-22). Com este último, devemos lembrar que na Bíblia hebraica o último livro da Bíblia não é Malaquias, mas Crônicas.

Com um solene “Em verdade vos digo”, o Senhor confirma o veredicto sobre “esta geração”, isto é, este tipo de gente.

Mateus 23:37-39 (Devocional)

Julgamento sobre Jerusalém, até...

Toca no Senhor que esta cidade privilegiada tenha se afastado Dele. Que esforço Ele fez para cuidar e proteger todos os seus habitantes. Ele o fez “como a galinha ajunta os pintinhos sob as asas”. Todo o amor de Seu coração vai para eles, mas Jerusalém não os ouviu. Os filhos de Jerusalém não quiseram.

O coração de Jerusalém, o templo, foi primeiro a Sua casa, isto é, a casa de Deus. Ele a chama aqui de “sua casa”, ou seja, a casa dos líderes religiosos que a ocuparam. Ele havia partido (Eze 9:3; Eze 10:3-4; Eze 10:18; Eze 10:19; Eze 11:22-23) e não morava mais lá. A casa está vazia e permanecerá vazia e será deixada para eles desolada.

Deus corta o vínculo com Seu povo porque eles rejeitam seu Messias. Portanto, a cidade não verá mais o seu Messias. Ele se retira para o céu. Mas não para sempre. Existe um “até”. Deus restaurará a conexão quebrada com Seu povo. O Messias vai voltar. Quando eles O virem então, reconhecerão Aquele a quem agora rejeitam com tanto desdém (Zacarias 12:10).

O remanescente fiel O receberá com as palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor” (Sl 118:26). Essas palavras são a introdução dos próximos dois capítulos nos quais o Senhor Jesus fala sobre essa vinda e tudo o que vem com ela.

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