Significado do Livro de Zacarias
Motivação e esperança são os temas principais da profecia de Zacarias. Com Ageu
e Malaquias, Zacarias foi um dos profetas que exerceram seu ministério junto
aos ex-exilados da Babilônia, regressos a Jerusalém. Esses ex-exilados
passaram a conviver com a ruína daquela que fora um dia uma esplêndida cidade,
dotada de um templo glorioso. Muito havia com o que se entristecer, mas
Zacarias encorajaria os israelitas com visões do juízo sobre os inimigos de
Israel e a restauração total da cidade de Jerusalém. Sua visão mais
extraordinária de todas, no entanto, foi a que se encontra em sua profecia
sobre a futura vinda de um rei — o Messias —, que traria a salvação e o Reino
eternos que haviam sido prometidos ao povo de Deus.
Zacarias viveu justamente
durante a época que se seguiu ao cativeiro babilônico, o qual durou de 597 a
538 a.C. Jeremias havia profetizado que os israelitas voltariam à Terra
Prometida depois de setenta anos de disciplina no exílio. Deus começou a
cumprir essa promessa ao levantar Ciro, rei da Pérsia, que, com ação militar,
conquistou a Babilônia em 539 a.C. Logo após sua vitória, Ciro promulgou um decreto
permitindo a todos os povos ali exilados voltarem à sua terra natal. O povo
judeu foi um dos beneficiados com essa medida, bem oposta à política babilônica.
O primeiro grupo de exilados judeus retornou a Jerusalém sob a liderança de
Sesbazar (Ed 1.8) em 537 a.C. O altar do templo foi restaurado no outono
daquele ano, mas a reconstrução do templo arrasado, propriamente dita, só iria
começar na primavera de 536 a.C. A pressão da oposição à reconstrução do templo
por parte dos inimigos dos judeus que viviam em Judá e a seu redor fez com que
a obra fosse abandonada até 520 a.C. Durante esses 16 anos de apatia, o povo de
Judá perdeu a visão e o propósito espiritual ligados à reedificação da casa de
Deus. Sua indiferença resultaria em castigo divino (Ag 1.11; 2.17). Todavia,
embora a colheita agrícola houvesse chegado a ser praticamente nula e o povo tivesse
padecido muito, ainda assim não se arrependeram os judeus até o Senhor vir a
levantar dois profetas para clamar que todo o povo voltasse para Ele. Em 520
a.C., Ageu exortava os israelitas a redefinir suas prioridades espirituais e reconstruir
o templo. O ministério profético de Zacarias teria início dois meses depois,
apenas, do de Ageu (compare Zacarias 1.1 com Ageu 1.1). O ministério de Ageu e
Zacarias não cessou ao começarem as obras de reconstrução do templo, mas
continuaram os dois profetas motivando o povo. As mensagens de Ageu foram
entregues em 520 a.C.; a última profecia de Zacarias data de 518 a.C. (Zc 7.1).
Desde que o povo se comprometeu em restaurar a adoração ao Senhor e o templo,
Deus derramou Suas bênçãos, já que os israelitas se achavam novamente
arrependidos e espiritualmente avivados.
A reconstrução do templo terminou em
515 a.C., sendo de novo dedicado ao Senhor, com grande júbilo. A profecia de
Zacarias tinha dois objetivos. Em primeiro lugar, desafiar os exilados que
retornavam a Judá a voltar para o Senhor, purificar-se de seus pecados e
experimentar novamente as bênçãos de Deus (Zc 1.3). Em segundo lugar, confortar
e motivar o povo quanto à reconstrução do templo e à futura obra que Deus faria
entre os israelitas (Zc 1.16,17; 2.12; 3.2; 4-9; 6.14,15). Na maior parte dos
primeiros capítulos, Zacarias encoraja o povo, mostrando que Deus escolheu Jerusalém
como Sua cidade (Zc 1.17; 2.12; 3.2). O Senhor não rejeitou o povo de Sua
antiga aliança. Usando Zacarias, Deus não somente reafirma a divina eleição de
Jerusalém, como também promete estar no meio do povo que retornou e viver entre
ele (Zc 2.10,11; 8.3,23). Mediante Sua presença viva no meio de Seu povo Deus realiza
Sua maravilhosa obra. Na segunda metade de seu livro, Zacarias dá detalhes de
como Deus se relacionaria no futuro com Seu povo escolhido, revelando a derrota
dos inimigos de Israel, a futura glória de Sião e o Reino universal do Messias.
É este o tema que engloba todo o livro: a total restauração do povo de Deus,
que acontecerá quando vier o Messias e realizar Sua obra de libertação e
redenção. O livro de Zacarias contém muitas profecias sobre a primeira e a
segunda vindas de Jesus.
Refere-se ao Messias como o Renovo, como o meu servo
(Zc 3.8) e o Pastor de Deus (Zc 13.7). Faz referência ao ministério do Messias
como Rei-Sacerdote (Zc 6.13; Hb 6.20—7-1). Além disso, profetiza a entrada de Jesus
em Jerusalém montado em um jumentinho (Zc 9.9; Mt 21.4,5; Jo 12.14-16); a
traição que Ele sofreria por 30 moedas de prata (Zc 11.12,13; Mt 27.9-10); os
cravos em Suas mãos e em Seus pés (Zc 12.10; Jo 19.37); e a purificação dos
pecados, que viria por meio de Sua morte (Zc 13.1; Jo 1.29; Tt 3.5). Na
verdade, os capítulos 9 a 14 de Zacarias são os mais citados, de todos os
profetas, nos evangelhos. No que diz respeito à segunda vinda do Messias,
Zacarias profetiza eventos futuros como a conversão de Israel (Zc 12.10—
13.1,9; Rm 11.26), a destruição dos inimigos de Israel (Zc 14.3,12-15; Ap
19.11-16) e o reinado de Cristo na Nova Jerusalém (Zc 14.9,16; Ap 20.4-6). Além
de dar ênfase ao Messias, Zacarias nos traz ainda, de forma muito apropriada,
importante mensagem acerca do plano da salvação de Deus. Já no início de sua
profecia, enfatiza a importância do arrependimento e de nos voltarmos para Deus
(Zc 1.3-6). Depois, em Zacarias 3.1-5, é oferecida impactante ilustração sobre
a expiação do pecado e o cumprimento da justiça. A substituição das vestes imundas
do sumo sacerdote por vestes cerimoniais fazem, ali, notável alusão à obra de Cristo.
Mediante Sua morte expiatória, Jesus retira nossas vestes sujas e reveste-nos
de Sua própria justiça.
Eis por que podemos, então, achegar-nos a um Deus justo
e santo. A verdadeira religião, segundo Zacarias, não se encontra apenas em
atitudes externas de santidade ritual, mas sim em um relacionamento pessoal com
Deus (Zc 7.5-7). Tal relacionamento com Deus leva à mudança de motivação e de atitude
das pessoas em relação ao próximo. Tal como os profetas que o antecederam,
Zacarias condena a opressão à viúva, ao estrangeiro e ao órfão (Zc 7.10). Como
pregador da justiça, conclama o povo a voltar a agir com retidão, piedade, misericórdia
e verdade (Zc 7.9; 8.16). O nome Zacarias significa Yahweh se lembra. Estas
palavras poderosas trazem consigo uma mensagem de esperança: o Deus de Israel
terá misericórdia e há de lembrar-se sempre de Seu povo. O profeta é
identificado como filho de Baraquias, filho de Ido. Ido estava entre os cabeças
das famílias sacerdotais que voltaram de Babilônia para Judá. Zacarias,
portanto, fazia parte da tribo de Levi, tendo servido, provavelmente, além de
profeta, como sacerdote. Ele começou seu ministério profético somente depois
que seu contemporâneo Ageu concluiu os primeiros escritos. Há quem questione a
legitimidade da autoria de Zacarias do livro que leva seu nome, afirmando, em
geral, que os capítulos 9 a 14 datam do período helênico (331-167 a.C.) ou do
período dos macabeus (167-73 a.C.) da história israelita. A referência à Grécia
em Zacarias 9.13 geralmente tem sido usada como prova da data tardia, depois
das conquistas de Alexandre (cerca de 330 a.C.). Todavia, o Oriente Médio já
sofria influência grega muito forte no início do século 7 a.C. A Grécia é
citada, além disso, por Isaías, profeta do século 8 a.C. (Is 66.19, onde é
chamada Javã), assim como pelo profeta Ezequiel, do século 6 a.C. (Ez 27.13,19,
onde a Grécia é também referida como Javã). Os que creem que Zacarias é o único
autor do livro afirmam que ele terminou de escrevê-lo entre 500 e 470 a.C.
Zacarias começou seu ministério profético em 520 a.C., no segundo ano do rei
persa Dario (522—486 a.C.), e entregou sua última profecia dois anos depois, em
518 a.C.