Mateus 4 — Comentário de Matthew Henry



Comentário do Evangelho de Mateus 4 
por Matthew Henry

Mateus 4

Versículos 1-11: A tentação de Cristo; 12-17: O começo do ministério de Cristo na Galiléia; 18-22: O chamado de Simão e dos outros; 23-25: Jesus ensina e faz milagres.

Vv. 1-11. Com referência à tentação de Cristo, observe que Ele foi tentado logo depois de ser declarado Filho de Deus e Salvador do mundo. Os grandes privilégios e os sinais especiais do favor divino não asseguram a ninguém que não possa vir a ser tentado. Porém, se o Espírito Santo dá testemunho de que temos sido adotados como filhos de Deus, isso contestará todas as sugestões do espírito mal.

Cristo foi levado ao combate. Se nos envaidecermos por nossa própria força e desafiarmos o Diabo a nos tentar, provocaremos uma situação em que Deus nos deixará à mercê de nossa própria sorte. Outros são tentados quando desviados por seus próprios desejos, e são seduzidos (Tg 1.14); o Senhor Jesus não tinha natureza corrupta, portanto, Ele foi tentado somente pelo Diabo. Na tentação de Cristo se observa que nosso inimigo é sutil, mal-intencionado e muito atrevido, mas é possível resisti-lo. Um consolo para nós é que Cristo sofreu sendo tentado, porque assim manifesta-se que nossas tentações, enquanto não cedemos a elas, não são pecado, mas tão somente aflições. Em todas as suas tentações, Satanás atacava para que Cristo pecasse contra Deus.

1. Ele tentou fazê-lo perder a esperança em relação à bondade de seu Pai, e a não confiar no cuidado divino. Um dos ardis de Satanás é tirar proveito de nossa condição exterior; e os que são postos em apertos precisam redobrar sua guarda. Cristo respondeu todas as tentações de Satanás com um "Está escrito", para dar-nos o exemplo ao apelar ao que está escrito na Bíblia ; Devemos adotar este método cada vez que formos tentados a pecar. Aprendamos a não seguir rumos equivocados para a nossa provisão, conforme nossas próprias opiniões, quando nossas necessidades forem muito prementes: o Senhor proverá de uma ou de outra forma.

2. Satanás tentou a Cristo a que suspeitasse do poder e proteção de seu Pai em termos de segurança. Não há extremos mais perigosos do que o desespero e a presunção, especialmente no que se refere aos assuntos de nossa alma. Satanás não se intimida de assaltar até em lugares sagrados. Não baixemos a guarda em nenhum lugar. A cidade santa é o lugar onde, com a maior vantagem, ele tenta os homens ao orgulho e à presunção. Todos os altos são lugares escorregadios; o avanço no mundo expõe o homem a tornar-se um alvo, para que Satanás dispare contra ele os seus dardos de fogo. Satanás está tão bem versado nas Escrituras que é capaz de citá-las facilmente? Sim, ele está. É possível que um homem tenha sua cabeça cheia de noções das Escrituras, e sua boca cheia de expressões das Escrituras, enquanto seu coração esteja cheio de inimizade inflamada contra Deus e contra toda bondade. Satanás citou mal as palavras. Se sairmos de nosso caminho, abandonaremos a promessa e nos colocaremos fora da proteção de Deus. Esta passagem (Dt 8.3) é feita contra o tentador, portanto ele omitiu uma parte. Esta promessa é firme e resiste bem. No entanto seguiremos no pecado para que a graça abunde? Não.

3. Satanás tentou a Cristo quanto à idolatria, oferecendo-lhe os reinos do mundo e a glória deles. A glória do mundo é a tentação mais encantadora para quem não pensa e não se dá conta; isto é o que mais facilmente vence os homens. Cristo foi tentado a adorar Satanás. Recusou a proposta com repulsa e respondeu: "Vai-te daqui Satanás". Algumas tentações são abertamente más; e não devem ser simplesmente resistidas, mas reprovadas de imediato. Bom é ser rápido e firme para resistir à tentação. Se resistirmos ao Diabo este fugirá de nós. Porém a alma que se entrega a ele deliberadamente está vencida. Encontramos somente alguns que podem resistir de modo resoluto às práticas carnais oferecidas pelo Diabo; mas de que aproveita a um homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?

Cristo foi socorrido depois da tentação para que fosse estimulado a seguir em seu esforço, e para que fôssemos estimulados a confiar nEle, porque sabia por experiência o que é sofrer sendo tentado, de modo que também sabia o que é ser socorrido na tentação; portanto, podemos esperar não somente que Ele sinta por seu povo quando este é tentado, mas que Ele mesmo se apresente com o socorro necessário e oportuno.

Vv. 12-17. É justo que Deus retire o Evangelho e os meios da graça daqueles que os desprezam e os lançam para longe de si. Cristo não permanecerá por muito tempo onde não seja bem-vindo. os que estão sem Cristo estão em trevas, e instalados nesta condição, preferem-na mais do que a luz; são voluntariamente ignorantes. Quando vem o Evangelho, vem a luz; quando o Evangelho chega à qualquer parte, à uma alma, aí se faz dia. A luz revela e dirige; assim faz o Evangelho.
A doutrina do arrependimento é um bom princípio apresentado pelo Evangelho. Não só o austero João Batista, mas também o bondoso Senhor Jesus, pregou o arrependimento. Ainda existe a mesma razão para fazê-lo deste modo.

Não foi reconhecido por completo que o reino dos céus havia chegado, até a vinda do Espírito Santo, depois da ascensão de Cristo.

Vv. 18-22. Quando Cristo começou a pregar, reuniu discípulos que deveriam ser ouvintes, e logo depois pregadores de sua doutrina; que deviam ser testemunhas de seus milagres, e logo depois testificar sobre eles. Não foi à corte de Herodes, nem a Jerusalém, ou aos sumos sacerdotes, nem aos anciãos, mas ao mar da Galiléia, aos pescadores. o mesmo poder que chamou a Pedro e a André poderia ter trazido a Anás e Caifás, porque nada é impossível para Deus. Porém, Cristo escolhe o néscio deste mundo para confundir o sábio.

A diligência é um chamado honesto para agradar a Cristo, e não é um obstáculo para uma vida santa. As pessoas ociosas estão mais suscetíveis às tentações de Satanás do que aos chamados de Deus. É algo feliz e esperançoso ver filhos que,cuidam de seus pais e cumprem o seu dever. Quando Cristo vier, é bom que sejamos achados fazendo assim. Estou em Cristo? É uma pergunta muito necessária que devemos fazer a nós mesmos, e logo a seguir devemos nos perguntar: Estou vivendo de acordo com a minha chamada? Haviam seguido anteriormente a Cristo como discípulos constantes (Jo 1.37); agora devem deixar seu ofício. Os que seguem bem a Cristo devem, por sua ordem, deixar todas as coisas para segui-lo e disporem-se a separar-se delas. Esta instância do poder do Senhor Jesus nos exorta a depender de sua graça. Ele fala e está feito.

Vv. 23-25. Onde ia, Cristo confirmava sua missão divina por meio de milagres, que foram o símbolo do poder de curar que tem a sua doutrina e do poder do Espírito que o acompanhava.

Há ocasiões em que somos milagrosamente curados pelo poder do Salvador, mas se formos também curados pela medicina, o louvor deve ser igualmente dEle. Aqui se usam três palavras gerais. Ele curou todas as enfermidades ou doenças: nenhuma foi demasiadamente má ou demasiadamente terrível para que Cristo não pudesse curar com uma palavra. Nomeiam-se três enfermidades: a paralisia, que é a máxima debilidade do corpo; a loucura, que é a maior enfermidade da mente; e a possessão demoníaca, que é a maior de todas as desgraças e calamidades; porém Cristo curou a todos, e assim ao curar as enfermidades do corpo, demonstrou que sua grande missão no mundo era curar os males espirituais. o pecado é uma terrível doença e tormento da alma: Cristo veio tirar o pecado e assim curar a alma.