Alcorão — Estudo Bíblico

Alcorão — Estudo Bíblico
Alcorão


A palavra “alcorão” vem do árabe Quran, da palavra cognata qara’a,  que significa “ler”. O sentido resultante é leitura ou lição. Trata-se do Livro Sagrado do islamismo, tido como eterna palavra de Deus, e que o arcanjo Gabriel teria entregue a Maomé, em 622 D.C. Após haver chegado em Medina, Maomé começou a ditar os seus oráculos a um discípulo, à medida que lhe iam sendo revelados. O termo Quran à princípio foi aplicado à cada revelação, ao ser anunciada pelo profeta, mas, eventualmente, o termo foi dado ao livro inteiro com pilado após a morte de Maomé, por seu secretário, Zaid Ibn Thabit, por ordem do califa Abu Bekr.

Parte do conteúdo do Alcorão deriva-se do período de Meca, antes de 622. O resto veio existência entre 622 e 632. Quando Maomé faleceu, o livro existia sob forma de fragmentos, o que explica a necessidade de compilação. Porém, antes mesmo disso, muitos islamitas conheciam de memória grandes trechos do mesmo, o que mostra o poder do livro, desde os seus primórdios. Os redatores arranjaram a obra em capítulos, ou suras, os mais longos no princípio e os mais breves no fim do livro. Esse arranjo, pois, ignora a lógica e a cronologia. Há 114 suras,  totalizando cerca de 77.638 palavras. Em páginas batidas à máquina, espaço e meio, daria cerca de 150 páginas, ou seja, um livro de tamanho relativamente pequeno.

O estilo do mesmo é métrico. Suas fortes cadências; e suas reiterações cumulativas são lidas em voz alta e com eloquência, o que muito atrai os ouvintes islamitas. O livro foi escrito em árabe clássico, tendo-se tornado modelo de outras variedades literárias, como ciências, filosofia, ética, etc. Características e mensagens:

1. O orador é Deus, do princípio ao fim, que se com única com os homens através de um anjo. Da primeira à última página é enfatizado o monoteísmo.

2.  As primeiras suras são apaixonadas, contendo vividas descrições de casos de ressurreição, de julgamento, do céu, etc.

3. As últimas suras são menos vívidas e contêm exortações acerca da fé, das virtudes, do cerimonial, das leis civis e religiosas. Os judeus são atacados violentamente, Deus é exaltado e a idolatria é combatida. É deplorada a deificação dos homens (como no caso de Cristo). Os homens são exortados a defender a fé.

4. O Alcorão contém relatos cujo intuito é ensinar lições morais e espirituais, mormente sobre como Deus recompensa os fiéis e julga os incrédulos. Personagens como Abraão, Moisés, José (do Antigo Testamento), alguns do N.T., bem como aqueles pertencentes à cultura árabe, são usados como veículos dessas narrativas. Aquelas narrativas baseadas na Bíblia são distorcidas.

5. O conteúdo da obra é unificado no fato de que sempre se faz presente o fluxo da comunicação divina, através do anjo, ao profeta. O conteúdo centraliza-se nas exortações à obediência e na busca da salvação através da obediência.

6. Uma sura notável.  Essa é chamada de alfatiha (abertura), também denominada Oração do Senhor dos islamitas. Diz como segue: “No nome de Deus, o misericordioso compassivo. Louvado seja Deus, o Senhor dos mundos, o misericordioso com passivo, o soberano do dia do julgamento. Adoramos a ti e te imploramos a ajuda. Dirige-nos pelo reto caminho, no caminho daqueles a quem tens agraciado, em quem não há ira, e que não se desviam”.

7. Cristo aparece ali como profeta, e importante, mas não como ser divino.

8. Alvo geral do Alcorão,  “...orientação para os piedosos que creem nos mistérios da fé, fazem orações e dão esmolas”.

9. Autoridade.  O Alcorão é aceito como isento de erros, é encarado com profunda reverência, é tido como acima de qualquer crítica. Sua influência e autoridade, no mundo islâmico, não pode ser exagerada.

10. Texto original.  O livro terreno presumivelmente seria apenas uma cópia física do Alcorão que há no céu, que seria eterno e não teria sido criado. Um protesto: Com o devido respeito aos sentimentos e à fé religiosa de outras pessoas, sinto-me obrigado a deixar aqui registrada a minha observação de que é lamentável que a maioria das pessoas religiosas, se não mesmo todas, quando são fortemente conservadoras (tanto no islamismo como em vários segmentos do judaísmo e do cristianismo) sinta-se na obrigação de resolver todos os problemas de conhecimento e fé por meio da revelação que resulta em algum livro. 

Uma vez que tal livro esteja completo, supõe-se que nada naquele livro está errado, e que o livro é final. Esse tipo de crença só pode estagnar a busca pela verdade e o desenvolvimento espiritual, por estar alicerçado em um dogma,  e não nos requisitos do processo de revelação. Isso é o que os homens dizem sobre suas revelações e livros sagrados, e não o que a própria revelação sagrada requer. Jamais haverá tempo em que Deus deixará de revelar-se. Jamais chegará o tempo em que o caminho espiritual não continuará sendo aberto à nossa frente, ao passarmos de um estágio de glória para outro (ver II Cor. 3:18), em que nossas almas são transformadas segundo os moldes da natureza de Deus (ver II Ped. 1:4). Também não é possível que um único livro, ou uma coletânea, contenha toda a verdade de Deus. Continua sendo labor do Espírito conduzir-nos a toda a verdade. Em consequência, devemos respeitar as revelações, mas não podem os pô-las no lugar do próprio Deus Todo-Poderoso, o qual é maior que qualquer uma ou que a soma total de Suas revelações. Além disso, também devemos afirmar que a revelação não é o único meio através do qual obtemos conhecimento, sagrado ou profano. 

Há outros meios válidos de obtenção de conhecimento, mediante os quais chegamos a conhecer a Deus e às obras. Podemos buscar o conhecimento através do método empírico, conforme nos mostra a ciência. A intuição e a razão são meios frutíferos de obtenção de conhecimento. Tudo isso é criação e dom de Deus, e tudo pode ser útil na investigação dos variegados aspectos da verdade de Deus. O homem é um ser temporal e finito. Portanto, ele busca sofregamente pontos finais e conforto mental. Fica aterrorizado diante de questões não resolvidas e de um eterno futuro misterioso, que se estende ininterruptamente diante dele. Em consequência, a sua fé religiosa fá-lo tornar-se um construtor de cercas e de limitações. Porém, essas limitações são autoconfinadoras apenas. Tais cercas, tão cuidadosamente erigidas por meio de dogmas, confinam a maneira dos homens pensarem acerca de Deus e da inquirição espiritual. Porém, não confinam a Deus e nem ao poder que Ele tem de revelar-se. 

Devemo-nos lembrar que o próprio Deus é o nosso alvo, que Cristo é o nosso caminho, e que o Espírito é quem nos dá energia. Se concentrarmos toda a nossa busca em um livro sagrado, terem os posto um ponto final em nosso raciocínio, mas não na própria busca. Quão frequentemente, na história das religiões, encontramos a convicção e a declaração que diz: “O nosso grupo é o único e o melhor. Nosso livro sagrado é a última das revelações de Deus”. Isso foi dito pelo judaísmo. Jesus e Paulo foram perseguidos porque pregaram novas idéias, tendo algo mais a declarar além do que já fora dito. Essa (nosso grupo é o único e o melhor) tem sido uma constante declaração que se ouve na Igreja. O islamismo a reitera. Muitos cultos e seitas assim afirmam. Tem sido dito até mesmo por pequenos grupos cismáticos da fé cristã. Tais grupos, derivados do cristianismo central, têm a audácia de dizer: “Somente nós sabem os o que o Mestre quis dizer. Somente nós praticamos o que Ele ordenou”. Os dois fraude absurdos. 

Em primeiro lugar, a fé religiosa, em qualquer forma em que ela possa expressar-se, será errada e fútil. Assim asseveram o ceticismo e o ateísmo. Em segundo lugar, qualquer grupo que, com seus livros sagrados e suas interpretações particulares, tenta monopolizar a Deus. As reivindicações de qualquer religião ou seita particular, de que atingiu um ponto de verdade completa ou final, quanto ao método ou quanto às crenças atinentes a Deus, à alma e à inquirição espiritual, são por demais ridículas para lhes darmos um momento sequer de atenção. Porém, o extremo oposto, que afirma que a experiência religiosa inteira é apenas um a gigantesca ilusão, é igualmente ridículo.