Alexandria (Cidade)
Alexandria
Essa
cidade foi fundada no ano de 332 a.C., por Alexandre o Grande, da Macedônia, e
dele derivou o seu nome. Era um grande porto marítimo situado na costa noroeste
do delta do rio Nilo, no Egito, no estreito istmo existente entre o mar e o
lago Mareotis. Evidentemente só o pequeno povoado egípcio denominado Racotis
tem assinalado o antigo local, até que foi absorvido pela nova cidade de
Alexandria, com a passagem do tempo.
Os
engenheiros do exército de Alexandre traçaram os planos da fundação da nova
cidade. E, nesse ínterim, Alexandre o Grande visitou o famoso templo do antiquíssimo e mui venerado deus egípcio, A m om , localizado no coração do deserto, —
atualmente conhecido como oásis de Siwa. D essa visita, Alexandre voltou com o
título de filho de Zeus Amom, que lhe
foi aplicado pelo sumo sacerdote daquele culto. Tudo isso fazia parte dos
planos que Alexandre tinha de deificar-se, evidentemente como um meio de
exaltar o seu próprio orgulho e prestígio de grande conquistador militar.
Depois
do falecimento de Alexandre, o Grande, passou a governar o Egito Ptolomeu I
Soter (323- 283) A.C.). Foi sucedido no trono egípcio por Ptolomeu II Filadelfo
(285-247 A.C.). Este último não poupou esforços por completar a já notável
biblioteca de Alexandria, que Ptolomeu I havia fundado, e muitos outros
tesouros foram levados para Alexandria. Foi igualmente sob os seus auspícios
(conforme a tradição nos revela) que se iniciou a famosa tradução das Escrituras
hebraicas para o grego, a qual. uma vez pronta, passou a ser chamada de
tradução da Septuaginta, vertendo as Escrituras do A.T. para o mesmo idioma
internacional em que o N.T. estava destinado a ser lançado. Pouquíssimas
descobertas arqueológicas se têm podido fazer em Alexandria, devido ao fato de
que a cidade antiga foi inapelavelmente sepultada sob a sua moderna sucessora.
Por
essa razão é que a maior parte do conhecimento de que dispomos acerca da natureza
da antiga cidade obrigatoriamente deve ser extraída de referências literárias,
muitas das quais não são muito precisas. Foi sob o governo de Ptolomeu II que
Alexandria atingiu, pela primeira vez, o seu resplendor arquitetural, que se
destaca de tal modo nas referências literárias da antiguidade. Entre a ilha de Faros
e a praia continental se estendia um caminho elevado chamado “Heptastaidion”,
devido ao fato de que se prolongava por “sete estádios”, ou seja, cerca de dois
quilômetros.
Esse
caminho elevado vinculava o continente com a ilha, e dividia o ancoradouro em um
porto ocidental e em um porto oriental, também denominado Grande, cuja entrada era dominada pela torre do farol
de Faros. Havia também um chamado porto Real, o qual era ladeado, a leste, pelo
palácio real. A cidade de Alexandria ficava ao sul da linha costeira, e se
estendia ao longo da mesma, por detrás, até o lago Mareotis. Os portos de
Alexandria, descritos no parágrafo acima, eram próprios tanto para as
atividades comerciais como para os movimentos bélicos. Alexandria era um dos
principais portos de embarque de cereais do império romano. O navio mencionado
no trecho de Atos 27:6, que velejaria de Alexandria para a Itália tinha “carga”
(ver Atos 27:10), e provavelmente essa carga era de trigo. Desde os tempos mais
antigos que Alexandria contava com três elementos étnicos mais proeminentes em
sua população: gregos, egípcios e judeus.
Visto
que os judeus não sofriam perseguições nessa cidade, mas antes, desfrutavam de
iguais privilégios juntamente com quaisquer outros, eles estabeleceram ali um a
poderosíssima colônia. E assim , apesar de continuarem os judeus considerando
Jerusalém como a sua cidade santa, passaram a possuir a sua própria versão das
Escrituras do A.T. em grego (a chamada Septuaginta), bem como o seu próprio templo, em Leontópolis.
Foi nessa cidade que a revelação hebraica entrou em contato íntimo com a
filosofia grega.
Filo
Judeus (viveu em cerca de 50 d.C.) foi o mais famoso de todos os filósofos
judeus, seguindo as tendências neoplatônicas. O seu esforço maior consistiu na
tentativa de reconciliar as revelações dadas aos hebreus com a filosofia grega,
para o que ele se utilizou sobretudo das ideias platônicas. Alguns judeus
consideravam-no como o Moisés de língua grega; mas outros (talvez mais corretam
ente), preferiam reputá-lo como um Platão de fala hebraica. Não foi ele o
criador, mas foi quem desenvolveu um pouco mais a doutrina do “logos”, que
finalmente aparece, sob forma cristã, em João 1:1. Sob os governantes
Ptolomeus, Alexandria foi feita capital do Egito, não demorando a tornar-se a
maior cidade helenista de sua época, tanto no que diz respeito à erudição como
no que tange à sua importância política e comercial.
Alexandria
continuou sendo a capital administrativa do Egito durante o período de Rom a imperial
e durante o tempo bizantino. Essa cidade era o centro bancário do Egito, bem
como a sua principal cidade comercial, e ali se manufaturavam principalmente
tecidos, vidro e papiro. Sua população, durante a era cristã primitiva, orçava
em mais de um milhão de habitantes. Por igual modo, Alexandria tomou-se o
grande centro intelectual da dispersão judaica. Além da tradução da Septuaginta
e dos volumosos escritos do filósofo Filo, há também o livro apócrifo do A.T., intitulado
Sabedoria, que teve a sua origem nessa cidade.
Os
remanescentes literários testificam da energia intelectual, da preocupação
missionária e da seriedade com que os judeus ali enfrentavam a mensagem de suas
Escrituras sagradas, a despeito de alguns desvios importantes do judaísmo
ordinário. No tempo dos monarcas da casa dos Ptolomeus, a biblioteca de
Alexandria aumentou até atingir a cifra de mais de meio milhão de rolos de
papiro, e diversos eruditos famosos ocuparam a posição de bibliotecário ali. De
Alexandria é que chegou até nós a versão Septuaginta, isto é a tradução do A.T.
hebraico para o grego (250 -150 A.C.). O nome dessa versão se deve ao fato de
que, segundo uma tradição, teriam sido setenta os seus tradutores, que trabalharam
por orientação sobrenatural, os quais trabalharam somente durante setenta e
dois dias até terminar o seu trabalho.
Ali
vivia também o grande filósofo neoplatônico dos judeus, Filo, que talvez
tivesse sido o mestre de Apoio, que foi um dos grandes pregadores cristãos,
antes da conversão deste ao cristianismo. O Talmude menciona uma sinagoga
judaica separada, em Jerusalém, para os judeus de Alexandria; e isso pesa em
favor da interpretação de alguns eruditos que dizem que, a despeito de
traduções aparentemente melhores de que havia apenas duas sinagogas (em que os
três primeiros patronímicos formariam uma sinagoga, e os dois últimos formariam
outra), Atos 6:9, quer dizer que havia cinco sinagogas separadas de
conformidade com a nacionalidade de seus membros. (Juchasim , foi. 26,2 e Talmude
Hieros. Megilla, foi. 73:4). Também
somos informados de que Alexandria possuía uma população de cerca de cem mil
habitantes por essa época, e os judeus que dali haviam retomado a Jerusalém
eram suficientemente numerosos para organizarem a sua própria sinagoga, tendo
formado ao menos um a delas.
A
cidade de Alexandria possuía a terceira maior população judaica de todas as
cidades do mundo, só sendo ultrapassada por Roma e Jerusalém. Os judeus tinham
o seu próprio distrito, que lhes foi designado por Ptolomeu Filadelfo, e que
governavam como uma república independente, por um tetrarca judeu (ver Josefo,
Antiq. xiv.7,2). A passagem de Antiq. mostra-nos
que os judeus eram reconhecidos como cidadãos por seus senhores romanos. Sabemos
que Alexandria se tomou um importante centro de cristianismo, em bora não sejam
muito abundantes as informações autênticas de que dispomos sobre a igreja
cristã ali existente. O que se sabe sobre o movimento cristão ali é que era
herdeiro do judaísmo alexandrino. Clemente de Alexandria (212 D.C.) é um dos
mais conhecidos pais da igreja provenientes daquela área. A doutrina por ele ensinada
exibe influências do neoplatonismo, tal como sucede com os escritos de Filo.
Isso também ocorre no tocante aos escritos de Orígenes, outro famoso pai da igreja que era natural de
Alexandria (250 D.C.) Atualmente, em Alexandria, existe a famosa Biblioteca do
Patriarcado Grego, que entesoura a segunda maior coletânea de manuscritos
bíblicos do mundo, ocupando posição inferior somente em relação ao mosteiro de
Sta Catarina, no Sinai. Ver o artigo sobre Alexandria, Biblioteca de, Alexandria
não é mencionada no Antigo Testamento, e só incidentalmente é mencionada no
Novo (ver Atos 2:10; 6:9; 18:24 e 27:6). No entanto, teve imensa importância
histórica no tocante a Israel e ao cristianismo primitivo. Ali estudaram e
ensinaram vários importantes pais da Igreja. Ver o artigo sobre a teologia
alexandrina.