Daniel 7 — Interpretação Bíblica
Daniel 7
7:1-3 É importante notar que os eventos em Daniel nem sempre são apresentados em ordem cronológica. Diz-se que essa visão em particular ocorreu no primeiro ano do rei Belsazar (7:1), que foi destronado no final do capítulo 5. Mais tarde, no capítulo 9, retornaremos ao período de Dario.Na primeira metade do livro, Daniel interpretou as visões de outros. Na segunda metade, as próprias visões de Daniel precisavam ser interpretadas. Anos depois de abordar o sonho do rei Nabucodonosor sobre as quatro grandes potências mundiais (ver capítulo 2), Daniel teve uma visão relacionada a esses mesmos quatro reinos. É fascinante ver a diferença de perspectiva entre o sonho de um rei pagão e a visão dada ao servo de Deus. Embora a sequência dos reinos e sua eventual destruição sejam a mesma, há uma diferença extraordinária na forma como eles são apresentados. No sonho de Nabucodonosor, esses poderes foram representados por uma estátua gloriosa e inspiradora (2:31). Mas, no sonho de Daniel (7:1), esses reinos gentios eram enormes animais vindos do mar (7:3), empenhados em dominar.
7:4-5 A primeira besta representa a Babilônia, retratada como um leão com asas de águia. Mas, as asas foram arrancadas desta besta (7:4) – o que talvez seja uma referência a Deus reduzindo Nabucodonosor à loucura até que ele aprendeu a humildemente dar glória a Deus (veja 4:28-37). A segunda besta representa o Império Medo-Persa, retratado como um urso que foi instruído a se empanturrar de carne. Por que o urso foi levantado de um lado (7:5)? Provavelmente porque os persas derrotaram os medos e os absorveram no império. Combinadas, suas forças foram capazes de derrotar a Babilônia. As três costelas na boca do urso (7:5) simbolizam os três grandes inimigos que a Pérsia derrotou em sua conquista: Egito, Assíria e Babilônia. Todos eles foram engolidos pelo Império Medo-Persa, que governou por cerca de duzentos anos.
7:6 O Império Grego estabelecido por Alexandre, o Grande, é representado pelo terceiro animal — um leopardo. Leopardos são incrivelmente rápidos, mas este tinha quatro asas, indicando que poderia se mover com a velocidade da luz. Os gregos sob Alexandre derrotaram os medo-persas em questão de alguns meses em 334 aC, e Alexandre conquistou o mundo quando tinha trinta anos. As quatro cabeças que Daniel viu referem-se aos quatro reinos em que o domínio de Alexandre foi dividido após sua morte.
7:7-8 A quarta besta da visão de Daniel corresponde ao Império Romano. Deus deu a Daniel um quadro muito mais completo do que o recebido nos dias de Nabucodonosor, porque descobrimos que o Império Romano aparecerá na história novamente, exceto em uma forma diferente – durante a grande tribulação. Esta besta era assustadora e terrível, e dela saíram dez chifres (7:7) – isto é, dez reis ou reinos. Daniel notou que um chifre pequeno apareceu entre eles, obviamente de grande importância. A chave para identificar esta figura é que ela tem olhos de um humano e uma boca que falava com arrogância (7:8). Esta figura é o Anticristo, chamado de “uma besta” em Apocalipse 13:1. Ele é o governante mundial final cujo reinado de terror durante a tribulação completará os tempos dos gentios, quando Israel for pisado pelas nações.
7:9-14 Duas outras pessoas aparecem em Daniel 7, colocando todo o resto em perspectiva eterna. Há esperança para o povo de Deus em todas as épocas porque o Ancião de Dias (7:9) e o Filho do Homem (7:13), Deus Pai e Deus Filho, têm tudo sob controle. Até que esses dois tenham agido, a história não acabou. Deus é chamado de “o Ancião de Dias” aqui porque ele é o eterno. Como o caos ocorre na terra, ele está sentado em seu trono. Daniel viu uma cena da grande tribulação, particularmente os últimos três anos e meio, quando o Anticristo quebrará sua aliança com Israel e exigirá que o mundo o adore sob pena de morte. O caos da tribulação terminará quando Jesus Cristo retornar em glória com seus santos, derrotar o Anticristo e seus exércitos e entregar todos os seus inimigos ao fogo ardente (7:11).
Que Daniel viu um como um filho do homem... vir com as nuvens do céu é certamente uma referência a Deus Filho porque Jesus aplicou esta passagem a si mesmo durante seu ministério (7:13; veja Mt 26:64; Mc 14:62; Lc 21:27). Daniel o viu aproximar-se do Ancião de Dias, que apresentou ao Filho um domínio eterno (7:13-14). Esta é uma imagem profética de Deus Pai entregando os reinos deste mundo para o Senhor Jesus Cristo governar em cumprimento do mandato de domínio dado ao homem (veja Sl 8:3-8).
7:15-28 As visões eram tão avassaladoras e perturbadoras que Daniel não conseguia interpretá-las. Por isso, pediu a um dos presentes, provavelmente um anjo, que lhe desse a interpretação (7:15-16). Os quatro animais eram de fato os quatro reis/reinos (7:17; veja 2:39-40) que Nabucodonosor tinha visto em seu sonho. Mas, Daniel ficou especialmente angustiado com o quarto animal, que era diferente de todos os outros e extremamente aterrorizante (7:19). Ele estava certo em perguntar, porque o Império Romano não desapareceu na história como os outros três reinos. O anjo revelou a Daniel que surgiria uma forma futura do Império Romano, caracterizada por dez chifres (7:20): dez reis... ressurgirá deste reino (7:24). Nesse momento, o outro chifre (7:20), o Anticristo, se levantará, fará guerra e subjugará três reis em sua marcha ao poder (7:24). Uma vez que ele tenha conquistado o poder mundial, ele blasfemará contra o Altíssimo e oprimirá os santos por seus três anos e meio – tempo, tempos e meio tempo (7:25). No entanto, Cristo retornará em triunfo, esmagará o Anticristo e seus exércitos e receberá seu reino eterno (7:26-27). Apesar das provações que virão, Deus reina sobre sua criação e acabará com a rebelião de uma vez por todas. Diariamente podemos nos alegrar porque sabemos como a história termina.
Notas Adicionais:
7.1-8 A visão dos quatro monstros dá início à segunda parte do Livro de Daniel (caps. 7—12). Os quatro monstros são quatro reis (7.17). Depois deles, vem um ser parecido com um homem (7.13), que representa o povo do Deus Altíssimo (7.27). Essa visão lembra o sonho de Nabucodonosor (2.31-35) e alguns dos elementos dela reaparecem no Livro do Apocalipse (12.3; 13.1-6; 17.8).
7.2 tive... vi. A partir desse momento, quem conta a história é o próprio Daniel. mar imenso. Esse mar representa as forças do mal (Jó 26.12-13; Sl 74.13-14; 89.9-10; Is 27.1; 51.9).
7.3 quatro monstros. Esses monstros correspondem aos quatro metais da estátua em Dn 2.31-35.
7.4 O primeiro parecia um leão. Corresponde à cabeça de ouro (Dn 2.32), que é identificada com o rei Nabucodonosor (Dn 2.38).
7.9-14 Nessa visão, Daniel viu “aquele que sempre existiu” (ver v. 9, n.) sentado no seu trono, no céu, pronto para julgar a humanidade.
7.10 os livros. Nesses livros, está escrito tudo o que as pessoas do mundo fizeram (Dn 12.1; Êx 32.32-33; Sl 69.28; Ml 3.16; Lc 10.20; Fp 4.3; Hb 12.23; Ap 3.5; 20.12).
7.13 um ser parecido com um homem. Ele é parecido com um homem, e nisso ele é diferente dos monstros (vs. 4-7). Em língua grega, isso fica semelhante ao título “Filho do Homem”, que, no NT, é usado por Jesus (Mc 2.10,28). Os vs. 18,22,27 mostram que esse ser representa o povo de Deus. vinha entre as nuvens do céu. Isso significa que ele vem de Deus, enquanto os monstros saem do mar (v. 3). A mesma linguagem é usada no NT (Mt 24.30; 26.64; Mc 13.26; 14.62; Lc 21.27; Ap 1.7,13; 14.14).
7.15-28 A explicação das visões dá mais atenção ao quarto monstro e especialmente ao chifre, que procurou derrotar o povo de Deus (vs. 19-21).
7.16 um dos que estavam ali. Ao que parece, um anjo (Dn 8.15).
7.17 quatro monstros... quatro reis. Dn 7.4-7. Os reis representam quatro Impérios: 1) Babilônia; 2) Média; 3) Pérsia; 4) Grécia. vão dominar o mundo Outra tradução possível: “vão se levantar da terra”.
7.22 aquele que sempre existiu. Deus (Sl 90.2). Ele julgou a favor do povo do Deus Altíssimo Outra tradução possível: “Ele deu ao povo do Deus Altíssimo o direito de julgar o mundo”. começar a reinar Ap 20.4.
7.23 um rei. Alexandre, o Grande, rei da Grécia.
7.24 dez chifres. Ap 17.12.
7.25 três anos e meio. Tempo limitado de sofrimento e perseguição (Ap 11.2-3; 12.14; 13.5-6).
7.27 governarão... para sempre. Ap 20.4; 22.5.
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