Livro de Êxodo

Livro de Êxodo
O livro de Êxodo é o segundo livro da Bíblia cristã e conta a saída dos israelitas do Egito onde foram parar através de José, cujos capítulos finais de Gênesis nos informa que o mesmo se tornara alguém de destaque.

§1. Introdução

Êxodo recebe seu nome pela Septuaginta, uma tradução grega do Antigo Testamento em uso nos dias de Jesus Cristo. O título hebraico era somente as primeiras palavras do texto: “Estes, pois, são os nomes dos filhos de...” (1.1). A palavra êxodo dá o tema da primeira metade do livro, visto que denota grande quantidade de pessoas saindo de uma região. A última metade do livro descreve o estabelecimento das instituições, das leis e da adoração em Israel.

§2. Autor e Data

O texto é bastante claro ao indicar que o autor foi testemunha ocular dos acontecimentos descritos no livro. As vívidas descrições das pragas do Egito, das trovoadas no monte Sinai e do maná no deserto requerem a presença de uma testemunha. Os detalhes minuciosos relacionados com as fontes de água e as palmeiras em Elim, as duas tábuas de pedra, a adoração do bezerro de ouro e muitos outros elementos apontam uma testemunha ocular. Considerando que há pouca ou nenhuma evidência de adições posteriores ao livro, presumimos com segurança que o escritor de Êxodo compôs o material durante ou logo após as experiências registradas no livro.

Tomando como certo que um israelita contemporâneo aos fatos tenha escrito as narrativas em Êxodo, é fácil deduzir que Moisés foi o autor. O autor não poderia ter sido um israelita comum; ele era altamente talentoso, educado e culto. Quem estava mais bem preparado entre todos estes escravos que Moisés? Jesus afirmou que a lei foi escrita por Moisés (Mac 1.44; Jo 7.19-22); seus discípulos também atestaram este fato (Jo 1.45; Act 26.22). Há evidências internas no próprio livro de que Moisés escreveu certos trechos (17.14; 24.4). Connell escreve: “Nada no livro entra em conflito com a afirmação de Moisés ser o autor. A menção frequente do nome de Moisés na terceira pessoa tem paralelos nos livros de Isaías e Jeremias. Além disso, o registro do seu chamado no capítulo 3 contém as mesmas marcas de autenticidade que as narrativas desses profetas”.

A alta crítica contesta a afirmação de Moisés ter escrito o Pentateuco e assevera que estes livros são compilação de documentos escritos em diversas épocas posteriores. Esta posição radical, que nega a autoria mosaica do Livro da Lei, não é tão amplamente defendida hoje como foi outrora. “Embora muitos estudiosos liberais ainda questionem a autoria mosaica do Pentateuco, achados arqueológicos dão a estudiosos de todas as formações teológicas um respeito maior pela historicidade dos acontecimentos que descreve”. À luz da pesquisa atual, não há razão sólida para abandonar a visão tradicional de Moisés ter escrito Êxodo durante a peregrinação no deserto.

A verdadeira data do êxodo do Egito e da doação da Lei é um problema que, durante séculos, os estudiosos ainda não solucionaram. As datas sugeridas vão de 1580 a.C. a 1230 a.C. Achados arqueológicos “sugerem data em algum ponto do século XIII”, embora esta afirmação conflite com a data apresentada em 1 Reis 6.1. O caso “não é questão de doutrina, mas questão de esclarecimento histórico”.

§3. Conteúdo

O material encontrado em Êxodo segue com naturalidade a narrativa do Livro de Gênesis. A palavra “pois” (1.1) une esta narrativa com o relato que a antecede. O material em Êxodo não teria sentido sem os relatos de Gênesis. Depois de breve referência ao que vem antes, o autor descreve uma mudança da situação. O povo de Deus, outrora convidado e protegido de Faraó, tornou-se uma nação de escravos. Jeová incumbe-se de libertar o povo dos que o oprimem e fazer dele uma nação governada pelas instituições e leis de Deus dadas por revelação divina. O Êxodo é um quadro das grandiosas operações de Deus, redimindo e criando um povo para si mesmo.

O tema de Êxodo é claramente a redenção pelos atos poderosos de Deus. O líder de Israel é o Todo-poderoso que opera em seu servo Moisés e por meio dele. A tarefa de libertação parecia impossível, mas Deus a realizou com mão poderosa. O estabelecimento deste povo difícil em nova pátria como nação religiosa mostra-se impraticável, mas o livro termina com o triunfo da graça de Deus. O foco está no caráter de Deus que é aquele que se revela como poderoso e justo e, ao mesmo tempo, terno e perdoador. Israel rememoraria estes acontecimentos por estas páginas da história, e veria — talvez com mais clareza do que o Israel do Êxodo — o Deus que se revelou a seu povo.

O propósito em escrever o livro é evidente. Esta narrativa dos atos de Deus em libertar seu povo do Egito e de lhe dar leis e instituições seria lembrança constante do interesse especial de Deus por Israel e fator de união na adoração. Israel nunca poderia ter se tornado e permanecido como povo cujo Deus é o Senhor sem a consciência destas ocorrências divinas na história de sua existência. Recontar estes eventos gerou fé nas gerações posteriores de Israel. Estes mesmos eventos são espiritualizados na grande redenção feita por Jesus Cristo na cruz do Calvário. Os cristãos olham estas manifestações divinas como símbolos da obra de Deus a favor deles em Cristo (ver Jo 1.29; Hb 8.5; 10.1).

§4. Esboço

I. A OPRESSÃO NO EGITO, 1.1-11.10
Introdução, 1.1-22
A Preparação do Libertador, 2.1-4.31
O Prelúdio para a Libertação, 5.1-7.13
As Pragas do Egito, 7.14-11.10

II. LIBERTAÇÃO E VITÓRIAS, 12.1-18.27
A Páscoa, 12.1-36
O Êxodo, 12.37-15.21
A Viagem para o Monte Sinai, 15.22-18.27

III. O CONCERTO NO MONTE SINAI, 19.1-24.18
O Concerto Proposto por Deus, 19.1-25
Os Dez Mandamentos, 20.1-17
O Medo do Povo, 20.18-20
As Leis do Concerto, 20.21-23.33
A Ratificação do Concerto, 24.1-18

IV. A INSTITUIÇÃO DA ADORAÇÃO A DEUS, 25.1-40.38
A Planta do Tabernáculo, 25.1-31.18
A Quebra e a Restauração do Concerto, 32.1-34.35
A Construção do Tabernáculo, 35.1-38.31
A Confecção das Roupas, 39.1-31
Os Trabalhos Prontos São Apresentados a Moisés, 39.32-43 
E A Montagem do Tabernáculo, 40.1-33 
G. A Dedicação Divina, 40.34-38

§5. Fundo Histórico

Alguns acontecimentos no Egito durante o período coberto pelo Livro do Êxodo lança luz adicional sobre o registro bíblico. Êxodo 12:40 registra que os israelitas viveram no Egito durante 430 anos. Isso colocaria o acerto de Jacó e sua família em Gosén (Gn 47: 4, 11) em cerca de 1870 a.C., durante a 12ª dinastia poderoso do Médio Império do Egito. Por volta da virada do século duas dinastias mais fracas seguiram-se. Os invasores semitas da Ásia começaram a se infiltrar ao norte do Egito. Esses estranhos, conhecidos como os hicsos, foram capazes de deslocar a dinastia nativa com seu próprio rei em torno de 1730. Esse foi o “novo rei”, que “não conhecia José” (Ex 1: 8). Sendo eles mesmos os estrangeiros, eles estavam naturalmente preocupado com os israelitas que estavam “demasiados e muito poderoso” para eles (1: 9). Em caso de guerra, os israelitas podem “juntar os nossos inimigos [os egípcios] e lutar contra nós” (1:10). A escravidão foi, portanto, a solução mais fácil para o problema dos israelitas. Os reis hicsos poderiam usar a nova fonte de trabalho para ampliar Ramsés, naquele tempo a capital do Baixo Egito.

Não até cerca de 1580 a.C. foram os egípcios, liderados por Ahmose, capazes de expulsar os hicsos e restabelecer uma linha egípcia dos reis. Uma vez que os israelitas ainda estavam se multiplicando, apesar de seu trabalho duro, os faraós da 18ª dinastia continuaram sua servidão e decretaram que todas as crianças do sexo masculino deviam ser mortos. Quando nasceu Moisés (c. 1560 aC) o edito ainda estava em vigor. Tutmés I (1539-1514), o grande construtor de impérios e terço desse dinastia, era faraó.

Único sobrevivente herdeiro legal de Tutmés I era uma filha, Hatshepsut. Seu marido assumiu o nome Tutmés II (1514-1504). Quando ele morreu, outro dos descendentes do faraó foi nomeado sucessor-Tutmés III (1504-1450), que tinha 10 anos na época. Hatshepsut recebeu o reino do jovem governante e controlou por 22 anos (1503-1482). Tal mulher de temperamento forte poderia ter a coragem de desobedecer à ordem de seu pai por salvar a vida de um bebê hebreu e elevando-o ao palácio em Tebas.

Hatshepsut, que continuou a governar apesar da coroação de Thutmose III, possivelmente destinou Moisés para ao trono, ou, pelo menos, a uma alta posição no reino. Tutmés III, uma vez que tinha pleno poder após a morte de Hatshepsut, teria ficado ansioso para acabar com Moisés. A fuga apressada de Moisés para o deserto depois de matar o capataz se encaixa bem com essas possibilidades históricas. A morte de Tutmés III em 1450 aC abriu o caminho para Moisés para voltar e enfrentar o faraó Amenhotep II com a ordem de Deus, “deixa meu povo ir.”

Uma inscrição interessante foi encontrada em uma coluna de granito entre as patas da grande Esfinge de Gizeh. O deus Horus disse ter prometido o trono do Egito para Tutmés IV (1424-1417), sucessor de Amenhotep II. Assim Tutmés IV não foi, possivelmente, o legítimo herdeiro do trono. Se assim for, então o relato bíblico de que o filho mais velho do faraó morreu na décima e última praga é verídico (Ex 12:29).

§6. Fontes do Livro

O livro de Êxodo dá evidência de extremas tradições variadas e vertentes literárias (Veja Quem Escreveu o Pentateuco?). Os motivos de rachaduras textuais 3 e 6 (P) são essencialmente paralelos, com Êxodo 3 em si consiste em dois segmentos (J, E). A série pragas (7-11), bem como a história do livramento do Mar Vermelho (14), pode ser claramente dividida em duas camadas (J, P), com certas seções textuais restantes incerto (E? redação?). A história da teofania (19: 16-25) também une dois relatos diferentes (J e E, compare com 24: 15b-18 P). Daí as fontes (J, E, com P são claramente discerníveis a partir deles) podem ser rastreadas através do Livro do Êxodo, mesmo que não sejam de forma igualmente distribuídas ou mesmo em todos os lugares discerníveis; além disso, também devemos assumir também a presença de adendas estendidas (esp. nas coleções legais, também nos capítulos 4:13; 32-34, e em outros lugares).

§7. Rolos do Mar Morto

Dentre os manuscritos encontrados junto ao mar Morto, 15 contêm fragmentos do livro de Êxodo. Um fragmento (4QExf) tem sido datado como de cerca de 250 AEC. Dois dos fragmentos, que se crê datem do segundo ou do terceiro século AEC, foram escritos em antigos caracteres hebraicos, usados antes do exílio babilônico.

Bibliografia 

B. Childs (OTL; Philadelphia, 1974) G. W. Coats (FOTL; Grand Rapids, 1999) caps. 1–18 ∙ C. Houtman (HCOT; Kampen, 1993–96) B. Jacob (Hoboken, N.J., 1992) M. Noth (OTL; Philadelphia, 1962) ∙ W. H. Schmidt (BKAT; Neukirchen, 1995–99). Outras obras: G. Fohrer, Überlieferung und Geschichte des Exodus (Berlin, 1964) H. Gressmann, Mose und seine Zeit (Göttingen, 1913) ∙ E. Osswald, Das Bild des Mose (Berlin, 1962) W. H. Schmidt, Exodus, Sinai und Mose (3d ed.; Darmstadt, 1995) ∙ W. H. Schmidt, com H. Delkurt and A. Graupner, Die Zehn Gebote im Rahmen alttestamentlicher Ethik (Darmstadt, 1993) M. Vervenne, ed., Studies in the Book of Exodus (Louvain, 1996) ∙ P. Weimar and E. Zenger, Exodus. Geschichten und Geschichte der Befreiung Israels (2d ed.; Stuttgart, 1979).