Obras de Deus — Estudos Bíblicos
OBRAS DE DEUS
Uma expressão
bíblica comum, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é “as obras de Deus”,
ou, então, “as obras de Jesus”. Essa expressão denota tanto aquilo que foi
criado por Deus quanto os atos de Deus, no decorrer da história humana. As
palavras particularmente empregadas, nessa conexão, são os vocábulos
gregos relacionados abaixo:
Érgon, “trabalho” (por exemplo, Mat. 11:2; João 3:36);
megalela, “atos poderosos” (Atos 2:11); poíema, “realização”, “obra”
(Rom. 1:20; Efé. 2:10) e, finalmente, megaleia, “operação”, “energia”
(por exemplo, Efé. 1:19; Col. 2:12 e II Tes. 2:11).
Esboço:
I. No Antigo
Testamento
A. As Obras
Divinas
B. A Reação
Humana
II. No Novo
Testamento
A. Na Criação
B. Na
Salvação
I. No Antigo Testamento
A. As Obras Divinas
1. Na
Criação. Quando expõe sua vigorosa doutrina da criação, a Bíblia, mui
naturalmente, usa o vocábulo érgon para descrever a totalidade da
obra criativa de Deus. E faz isso em um sentido ativo, para indicar as
realizações reais de Deus, conforme se vê, por exemplo, em Génesis 2:2,3: “E
havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou
nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia
sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como
Criador, fizera”. E, no Novo Testamento, em Heb. 4:4: “Porque em certo
lugar assim disse, no tocante ao sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo
dia, de todas as obras que fizera”. Contudo, no Antigo Testamento,
conforme se vê na Septuaginta, também se vê um sentido passivo desse termo
(cf. Sal. 8:6). Na verdade, o sentido passivo mescla-se com o
sentido ativo, pois a obra criativa de Deus resultou na obra da criação,
A voz passiva
é muito mais comum e clara, no plural, aludindo aos fenômenos individuais da
natureza. Assim, os céus são obras dos dedos de Deus (ver Sal. 8:3). Todas
as criaturas são obras de suas mãos, mormente no caso dos seres humanos. E
é com base nesse fato que os crentes buscam a proteção e a misericórdia
divinas (Sal. 138:8, etc.). Os descendentes de Jacó, tal como os crentes
em Jesus, são especialmente descritos como obras das mãos de Deus (ver
Sal. 90:16, na Septuaginta; Isa. 29:23). E as realizações históricas de
Deus também poderiam ser classificadas como obras divinas.
2. Na
História. O Antigo Testamento também alude aos atos divinos na
história da humanidade. Esses atos divinos históricos são, acima de tudo,
atos de intervenção libertadora. Os acontecimentos registrados no livro de
Êxodo são os atos divinos libertadores, realizados especialmente em favor do
povo de Israel. Tais obras, com frequência, são de natureza miraculosa, ou
seja, atos poderosos, que transcendem ao curso normal da história. Para
exemplificar: “Disse o Senhor a Moisés: Agora verás o que hei de fazer ao
Faraó; pois por mão poderosa os deixará ir, e por mão poderosa os lançará
fora da sua terra” (Êxo. 6:1). E foi daí que sobrevieram as dez pragas
do Egito.
Não se deve
pensar, entretanto, que essas intervenções divinas, em favor de seu povo
antigo, cessaram quando eles entraram na terra de Canaã. Os atos básicos
de redenção servem de garantia constante acerca de novas obras
interventoriais de Deus. Assim, de certa feita, o Senhor livrou Judá e
Jerusalém dos assírios, e, mais tarde, restaurou o povo de Israel à sua
própria terra, quando estavam exilados na Babilónia há setenta anos.
Por outra
parte, se as obras de Deus eram, predominantemente, intervenções libertadoras,
também há um lado reverso. Pois o livramento de Israel, às margens do mar
Vermelho, significou a ruína dos egípcios. E o mesmo povo judaico que, por
diversas vezes foi libertado de seus opressores, por intermédio dos juízes, em
outras oportunidades foi entregue às mãos de seus adversários, quando
pecou. Os profetas de Israel, em particular, por muitas vezes anunciaram
o julgamento divino, mediante obras de Deus, no tocante a um
povo rebelde e de duro coração: “Porque o Senhor se levantará como
no monte Perazim, e se irará, como no vale de Gibeom, para realizar
a sua obra, a sua obra estranha, e para executar o seu ato, o seu
ato inaudito. Agora pois, não mais escarneçais, para que os vossos
grilhões não se façam mais fortes; porque já ao Senhor, Deus dos Exércitos,
ouvi falar duma destruição, e essa já está determinada sobre toda a terra”
(Isa. 28:21,22). Os crentes individuais podem conhecer, experimentalmente,
as poderosas obras de intervenção de Deus, conforme transparece, por
tantas vezes, nos Salmos. Em último lugar, mas não de somenos importância,
devemos pensar nas obras escatológicas de Deus. “Todos os do teu povo
serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim
plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado” (Isa. 60:21).
B. A Reação Humana
1. A Meditação.
As realizações portentosas de Deus, na criação e nas intervenções divinas
na história humana, requerem que os homens reajam favoravelmente a elas.
Em primeiro lugar, o homem deve considerar essas obras. Várias palavras
são usadas nessa conexão. O homem não deveria esquecer as grandes coisas
realizadas por Deus (ver Sal. 77:11), além do que, cumpre-lhe meditar
sobre elas, conforme se aprende em Salmos 77:12: “Considero
também nas tuas obras todas, e cogito dos teus prodígios”. Essa meditação prepara
o crente para enfrentar melhor as tribulações, quando estas chegarem.
2. Ação de
Graças e Louvor. Em segundo lugar, o homem deve se mostrar agradecido
a Deus, por suas obras. “Rendam graças ao Senhor por sua bondade e por
suas maravilhas para com os filhos dos homens”, prorrompe o salmista (Sal.
107:15; ver também os vss. 21 e 31). O homem está na obrigação moral de
louvar e de bendizer a Deus, autor de tantas coisas boas para os homens (Salmos
145). Esses atos divinos são poderosos e terríveis (Sal. 66:3). Deus
os realiza, movido pela sua fidelidade (Sal. 33:4). Essas obras manifestam
o governo controlador de Deus (Sal. 90:16). Mas, embora possam ser percebidas,
essas realizações são, realmente, insondáveis (Ecl. 8:17). São atentamente
examinadas por todos aqueles que têm prazer nas obras de Deus (Sal. 111:2).
Finalmente, as próprias obras divinas aliam-se ao louvor Àquele que as
criou, segundo se vê em Salmos 145:10: “Todas as tuas obras te renderão
graças, Senhor; e os teus santos te bendirão”.
3. Proclamação.
Em último lugar, cabe-nos considerar que o homem deve declarar as poderosas
obras de Deus. Ele deve ensinar tais coisas aos seus filhos (Sal. 78:4)
como também deve anunciá-las a seus semelhantes. Tornar conhecidos, aos
filhos dos homens, os poderosos atos divinos, é a tarefa básica que
confere unidade à vida inteira do ministério e da adoração. “Falarão da
glória do teu reino, e confessarão o teu poder, para que aos filhos dos
homens se façam notórios os teus poderosos feitos, e a glória da majestade
do teu reino” (Sal. 145:11,12).
II. No Novo Testamento
A. Na
Criação. O que o Novo
Testamento tem a dizer acerca das obras do Senhor Deus é, essencialmente,
a mesma coisa que se acha no Antigo Testamento. A única referência é que,
no Novo Testamento, essas obras são atribuídas, igualmente, a Jesus Cristo,
por intermédio de Quem todas as coisas foram feitas. “Todas as
cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito
se fez” (João 1:3). Destarte, as obras de Deus, em um sentido
perfeitamente literal, são as obras de Jesus. Deus Pai faz tudo através
do Filho. “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17).
No Novo
Testamento, essa intermediação de Cristo, nas obras da criação, pode ser vista
desde a criação. Todas as coisas foram criadas por meio de Cristo, “nos
céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis... Tudo foi criado por
meio dele e para ele” (Col. 1:16). Deus criou os mundos por meio do Filho
(ver Heb. 1:2). Por isso mesmo, as obras da criação são obras de Jesus
Cristo. Tudo gira em torno dele.
B. Na
Salvação
1. No
Livro de Atos. Entretanto, a ênfase principal do Novo Testamento recai
sobre a obra salvaticia de Deus, realizada em Jesus Cristo. E não deveria
ser de estranhar que os evangelhos sinópticos pouco declarem diretamente
sobre isso. Esses evangelhos meramente registram as obras de Cristo, que
atingiram o seu ponto culminante na crucificação e na ressurreição. Todavia,
essas realizações testificam, com tremenda eloquência, o papel de Jesus
como Salvador. Nos evangelhos sinópticos, a menção às obras de Cristo é
posta nos lábios de João Batista: “Quando João ouviu, no cárcere, falar
das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: “És
tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?” (Mat. 11:2,3).
Todavia, na
pregação da Igreja primitiva, historiada no livro de Atos, o quadro descritivo
altera-se drasticamente. Uma vez dotados de poder pelo Espirito Santo, os
apóstolos declararam abertamente as admiráveis obras de Deus, na pessoa de
Cristo, “...como os ouvimos falar, em nossas próprias línguas, as
grandezas de Deus?” (Atos 2:11). E, já no primeiro dia da vida da Igreja,
dirigida pelo Espírito de Cristo, o dia de Pentecostes, as obras de Cristo
foram destacadas na prédica apostólica: “Varões israelitas, atendei a
estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante
de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou
por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis, sendo este entregue
pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes,
crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou,
rompendo os grilhões da morte...” (Atos 2:22-24). Essa citação do âmago da
pregação de Pedro, naquele dia, mostra-nos que o coroamento das
realizações salvatícias de Deus, em Jesus Cristo, foi a crucificação e a
ressurreição de Jesus Cristo.
E, no
decorrer do ministério dos apóstolos originais, como também durante o
ministério do apóstolo dos gentios, chamado bem mais tarde, eram efetuadas
grandes maravilhas, notáveis prodígios, provenientes de Jesus Cristo, “...enquanto
estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios, por intermédio do
nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde
estavam reunidos, todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez,
anunciavam a palavra de Deus” (Atos 4:30,31).
E, se as
curas e ressurreições eram obras prodigiosas de Deus, outro tanto se pode dizer
no tocante à atividade dos missionários cristãos. Poderíamos exemplificar
com o ministério de Paulo e Barnabé. “Entretanto demoraram-se ali muito
tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua
graça, concedendo que por mão deles se fizessem sinais e prodígios” (Atos 14:3).
Isso posto, o Senhor Jesus continuou operando miraculosamente no mundo,
por intermédio do Espírito Santo, o seu alter ego.
2. João.
No quarto evangelho, as obras realizadas por Cristo figuram com destaque.
Antes de tudo, essas obras prestam testemunho acerca de sua verdadeira
identidade: “Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras
que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço,
testemunham a meu respeito, de que o Pai me enviou” (João 5:36). Essas obras de
Jesus eram boas (João 10:32). Eram as próprias obras de Deus (João 9:3).
Foram dadas pelo Pai, para que Cristo as realizasse (João 5:37). E, para
nós, que vivemos às vésperas do século XXI, ou mesmo já dentro dele, não
esta vedado ter maravilhosas experiências com as realizações de Cristo,
conforme ele mesmo esclareceu, falando a Tomé: “Não crês que eu estou no
Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por
mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. Crede-me
que eu estou no Pai, e o Pai em mim; crede ao menos por causa das
mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê
em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores
fará, porque eu vou para junto do Pai” (João 14:10-12).
No tocante à
maior realização de Cristo, a salvação das almas, é usado o termo “obra”, no
singular, conforme se vê em João 6:29, para exemplificar: “Respondeu-lhes
Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por ele foi enviado.
Os judeus haviam indagado como realizariam as obras de Deus, e essa foi a
resposta dada pelo Senhor Jesus. Assim, os homens participam das obras de
Deus confiando em Jesus como Salvador, porquanto essa é a grande
obra de Deus. Essa grandiosa realização de Deus está separando
os homens em duas classes distintas: os salvos, que são aqueles
que chegam a confiar em Jesus; e os perdidos, que são aqueles
que rejeitam o testemunho dado pelo Senhor Jesus.
3. Paulo.
O apóstolo dos gentios também não se descuidou em enfatizar as obras de
Deus. Entretanto, de modo um tanto diferente do que fez o apóstolo João,
Paulo se preocupava, primariamente, com essa obra divina, como o atual
ministério do evangelho no mundo, sob a orientação do Espírito de Cristo.
Assim, os crentes de Corinto eram uma realização de Paulo, no Senhor, “...acaso
não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” (I Cor. 9:1b). Para Paulo,
uma das realizações dos crentes consiste em procurar edificar aos irmãos,
segundo se vê em Romanos 15:2. E todos os crentes podem e devem participar
dessa realização (I Cor. 15:58). Apesar disso, contrariamente à opinião de
alguns, não há um real sinergismo (vide), porquanto é Deus quem
opera tudo nos crentes, desde o impulso inicial até a concretização final,
segundo vemos em Filipenses 1:6: ”Estou plenamente certo de que aquele que
começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Fil.
1:6). Os crentes, que assim cooperam com o Espírito de Cristo, são,
eles mesmos, uma realização de Deus, criados com vistas às boas obras, ”...somos
feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras...” (Efé. 2:10).
Dessa forma, as realizações de Cristo continuam sendo realizações de Deus,
em Jesus Cristo, redundando em sua glória e louvor.
De tudo
quanto foi exposto, conclui-se que as obras de Deus, em Jesus Cristo, são tão
importantes quanto a doutrina que Cristo ensinou. Lucas frisa essa verdade, ao
escrever a Teófilo: “Escrevi o primeiro livro (o evangelho de Lucas), ó
Teófilo, relatando todas as cousas que Jesus fez e ensinou...” (Atos 1:1).OBRAS DE DEUS
Uma expressão
bíblica comum, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é “as obras de Deus”,
ou, então, “as obras de Jesus”. Essa expressão denota tanto aquilo que foi
criado por Deus quanto os atos de Deus, no decorrer da história humana. As
palavras particularmente empregadas, nessa conexão, são os vocábulos
gregos relacionados abaixo:
Érgon, “trabalho” (por exemplo, Mat. 11:2; João 3:36);
megalela, “atos poderosos” (Atos 2:11); poíema, “realização”, “obra”
(Rom. 1:20; Efé. 2:10) e, finalmente, megaleia, “operação”, “energia”
(por exemplo, Efé. 1:19; Col. 2:12 e II Tes. 2:11).
Esboço:
I. No Antigo
Testamento
A. As Obras
Divinas
B. A Reação
Humana
II. No Novo
Testamento
A. Na Criação
B. Na Salvação
I. No Antigo Testamento
A. As Obras Divinas
1. Na
Criação. Quando expõe sua vigorosa doutrina da criação, a Bíblia, mui
naturalmente, usa o vocábulo érgon para descrever a totalidade da
obra criativa de Deus. E faz isso em um sentido ativo, para indicar as
realizações reais de Deus, conforme se vê, por exemplo, em Génesis 2:2,3: “E
havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou
nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia
sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como
Criador, fizera”. E, no Novo Testamento, em Heb. 4:4: “Porque em certo
lugar assim disse, no tocante ao sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo
dia, de todas as obras que fizera”. Contudo, no Antigo Testamento,
conforme se vê na Septuaginta, também se vê um sentido passivo desse termo
(cf. Sal. 8:6). Na verdade, o sentido passivo mescla-se com o
sentido ativo, pois a obra criativa de Deus resultou na obra da criação,
A voz passiva
é muito mais comum e clara, no plural, aludindo aos fenômenos individuais da
natureza. Assim, os céus são obras dos dedos de Deus (ver Sal. 8:3). Todas
as criaturas são obras de suas mãos, mormente no caso dos seres humanos. E
é com base nesse fato que os crentes buscam a proteção e a misericórdia
divinas (Sal. 138:8, etc.). Os descendentes de Jacó, tal como os crentes
em Jesus, são especialmente descritos como obras das mãos de Deus (ver
Sal. 90:16, na Septuaginta; Isa. 29:23). E as realizações históricas de
Deus também poderiam ser classificadas como obras divinas.
2. Na
História. O Antigo Testamento também alude aos atos divinos na
história da humanidade. Esses atos divinos históricos são, acima de tudo,
atos de intervenção libertadora. Os acontecimentos registrados no livro de
Êxodo são os atos divinos libertadores, realizados especialmente em favor do
povo de Israel. Tais obras, com frequência, são de natureza miraculosa, ou
seja, atos poderosos, que transcendem ao curso normal da história. Para
exemplificar: “Disse o Senhor a Moisés: Agora verás o que hei de fazer ao
Faraó; pois por mão poderosa os deixará ir, e por mão poderosa os lançará
fora da sua terra” (Êxo. 6:1). E foi daí que sobrevieram as dez pragas
do Egito.
Não se deve
pensar, entretanto, que essas intervenções divinas, em favor de seu povo
antigo, cessaram quando eles entraram na terra de Canaã. Os atos básicos
de redenção servem de garantia constante acerca de novas obras
interventoriais de Deus. Assim, de certa feita, o Senhor livrou Judá e
Jerusalém dos assírios, e, mais tarde, restaurou o povo de Israel à sua
própria terra, quando estavam exilados na Babilónia há setenta anos.
Por outra
parte, se as obras de Deus eram, predominantemente, intervenções libertadoras,
também há um lado reverso. Pois o livramento de Israel, às margens do mar
Vermelho, significou a ruína dos egípcios. E o mesmo povo judaico que, por
diversas vezes foi libertado de seus opressores, por intermédio dos juízes, em
outras oportunidades foi entregue às mãos de seus adversários, quando
pecou. Os profetas de Israel, em particular, por muitas vezes anunciaram
o julgamento divino, mediante obras de Deus, no tocante a um
povo rebelde e de duro coração: “Porque o Senhor se levantará como
no monte Perazim, e se irará, como no vale de Gibeom, para realizar
a sua obra, a sua obra estranha, e para executar o seu ato, o seu
ato inaudito. Agora pois, não mais escarneçais, para que os vossos
grilhões não se façam mais fortes; porque já ao Senhor, Deus
dos Exércitos, ouvi falar duma destruição, e essa já está
determinada sobre toda a terra” (Isa. 28:21,22). Os crentes individuais
podem conhecer, experimentalmente, as poderosas obras de intervenção
de Deus, conforme transparece, por tantas vezes, nos Salmos. Em último
lugar, mas não de somenos importância, devemos pensar nas obras
escatológicas de Deus. “Todos os do teu povo serão justos, para sempre
herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos,
para que eu seja glorificado” (Isa. 60:21).
B. A Reação Humana
1. A Meditação.
As realizações portentosas de Deus, na criação e nas intervenções divinas
na história humana, requerem que os homens reajam favoravelmente a elas.
Em primeiro lugar, o homem deve considerar essas obras. Várias palavras
são usadas nessa conexão. O homem não deveria esquecer as grandes coisas
realizadas por Deus (ver Sal. 77:11), além do que, cumpre-lhe meditar
sobre elas, conforme se aprende em Salmos 77:12: “Considero
também nas tuas obras todas, e cogito dos teus prodígios”. Essa
meditação prepara o crente para enfrentar melhor as tribulações, quando
estas chegarem.
2. Ação de
Graças e Louvor. Em segundo lugar, o homem deve se mostrar agradecido
a Deus, por suas obras. “Rendam graças ao Senhor por sua bondade e por
suas maravilhas para com os filhos dos homens”, prorrompe o salmista (Sal.
107:15; ver também os vss. 21 e 31). O homem está na obrigação moral de
louvar e de bendizer a Deus, autor de tantas coisas boas para os homens (Salmos
145). Esses atos divinos são poderosos e terríveis (Sal. 66:3). Deus
os realiza, movido pela sua fidelidade (Sal. 33:4). Essas obras manifestam
o governo controlador de Deus (Sal. 90:16). Mas, embora possam ser percebidas,
essas realizações são, realmente, insondáveis (Ecl. 8:17). São atentamente
examinadas por todos aqueles que têm prazer nas obras de Deus (Sal. 111:2).
Finalmente, as próprias obras divinas aliam-se ao louvor Àquele que as
criou, segundo se vê em Salmos 145:10: “Todas as tuas obras te renderão
graças, Senhor; e os teus santos te bendirão”.
3. Proclamação.
Em último lugar, cabe-nos considerar que o homem deve declarar as poderosas
obras de Deus. Ele deve ensinar tais coisas aos seus filhos (Sal. 78:4)
como também deve anunciá-las a seus semelhantes. Tornar conhecidos, aos
filhos dos homens, os poderosos atos divinos, é a tarefa básica que
confere unidade à vida inteira do ministério e da adoração. “Falarão da
glória do teu reino, e confessarão o teu poder, para que aos filhos dos
homens se façam notórios os teus poderosos feitos, e a glória da majestade
do teu reino” (Sal. 145:11,12).
II. No Novo Testamento
A. Na
Criação. O que o Novo
Testamento tem a dizer acerca das obras do Senhor Deus é, essencialmente,
a mesma coisa que se acha no Antigo Testamento. A única referência é que,
no Novo Testamento, essas obras são atribuídas, igualmente, a Jesus Cristo,
por intermédio de Quem todas as coisas foram feitas. “Todas as
cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito
se fez” (João 1:3). Destarte, as obras de Deus, em um sentido
perfeitamente literal, são as obras de Jesus. Deus Pai faz tudo através
do Filho. “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17).
No Novo
Testamento, essa intermediação de Cristo, nas obras da criação, pode ser vista
desde a criação. Todas as coisas foram criadas por meio de Cristo, “nos
céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis... Tudo foi criado por
meio dele e para ele” (Col. 1:16). Deus criou os mundos por meio do Filho
(ver Heb. 1:2). Por isso mesmo, as obras da criação são obras de Jesus
Cristo. Tudo gira em torno dele.
B. Na
Salvação
1. No
Livro de Atos. Entretanto, a ênfase principal do Novo Testamento recai
sobre a obra salvaticia de Deus, realizada em Jesus Cristo. E não deveria
ser de estranhar que os evangelhos sinópticos pouco declarem diretamente
sobre isso. Esses evangelhos meramente registram as obras de Cristo, que
atingiram o seu ponto culminante na crucificação e na ressurreição. Todavia,
essas realizações testificam, com tremenda eloquência, o papel de Jesus
como Salvador. Nos evangelhos sinópticos, a menção às obras de Cristo é
posta nos lábios de João Batista: “Quando João ouviu, no cárcere, falar
das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: “És
tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?” (Mat. 11:2,3).
Todavia, na
pregação da Igreja primitiva, historiada no livro de Atos, o quadro descritivo
altera-se drasticamente. Uma vez dotados de poder pelo Espirito Santo, os
apóstolos declararam abertamente as admiráveis obras de Deus, na pessoa de
Cristo, “...como os ouvimos falar, em nossas próprias línguas, as
grandezas de Deus?” (Atos 2:11). E, já no primeiro dia da vida da Igreja,
dirigida pelo Espírito de Cristo, o dia de Pentecostes, as obras de Cristo
foram destacadas na prédica apostólica: “Varões israelitas, atendei a
estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante
de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou
por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis, sendo este entregue
pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes,
crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou,
rompendo os grilhões da morte...” (Atos 2:22-24). Essa citação do âmago da
pregação de Pedro, naquele dia, mostra-nos que o coroamento das
realizações salvatícias de Deus, em Jesus Cristo, foi a crucificação e a
ressurreição de Jesus Cristo.
E, no
decorrer do ministério dos apóstolos originais, como também durante o
ministério do apóstolo dos gentios, chamado bem mais tarde, eram efetuadas
grandes maravilhas, notáveis prodígios, provenientes de Jesus Cristo, “...enquanto
estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios, por intermédio do
nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam
reunidos, todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam
a palavra de Deus” (Atos 4:30,31).
E, se as
curas e ressurreições eram obras prodigiosas de Deus, outro tanto se pode dizer
no tocante à atividade dos missionários cristãos. Poderíamos exemplificar
com o ministério de Paulo e Barnabé. “Entretanto demoraram-se ali muito
tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua
graça, concedendo que por mão deles se fizessem sinais e prodígios” (Atos 14:3).
Isso posto, o Senhor Jesus continuou operando miraculosamente no mundo,
por intermédio do Espírito Santo, o seu alter ego.
2. João.
No quarto evangelho, as obras realizadas por Cristo figuram com destaque.
Antes de tudo, essas obras prestam testemunho acerca de sua verdadeira
identidade: “Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras
que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço,
testemunham a meu respeito, de que o Pai me enviou” (João 5:36). Essas obras de
Jesus eram boas (João 10:32). Eram as próprias obras de Deus (João 9:3).
Foram dadas pelo Pai, para que Cristo as realizasse (João 5:37). E, para
nós, que vivemos às vésperas do século XXI, ou mesmo já dentro dele, não
esta vedado ter maravilhosas experiências com as realizações de Cristo,
conforme ele mesmo esclareceu, falando a Tomé: “Não crês que eu estou no
Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por
mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. Crede-me
que eu estou no Pai, e o Pai em mim; crede ao menos por causa das
mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê
em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores
fará, porque eu vou para junto do Pai” (João 14:10-12).
No tocante à
maior realização de Cristo, a salvação das almas, é usado o termo “obra”, no
singular, conforme se vê em João 6:29, para exemplificar: “Respondeu-lhes
Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por ele foi enviado.
Os judeus haviam indagado como realizariam as obras de Deus, e essa foi a
resposta dada pelo Senhor Jesus. Assim, os homens participam das obras de
Deus confiando em Jesus como Salvador, porquanto essa é a grande
obra de Deus. Essa grandiosa realização de Deus está separando os homens
em duas classes distintas: os salvos, que são aqueles que chegam a confiar
em Jesus; e os perdidos, que são aqueles que rejeitam o testemunho dado
pelo Senhor Jesus.
3. Paulo.
O apóstolo dos gentios também não se descuidou em enfatizar as obras de
Deus. Entretanto, de modo um tanto diferente do que fez o apóstolo João,
Paulo se preocupava, primariamente, com essa obra divina, como o atual
ministério do evangelho no mundo, sob a orientação do Espírito de Cristo.
Assim, os crentes de Corinto eram uma realização de Paulo, no Senhor, “...acaso
não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” (I Cor. 9:1b). Para Paulo,
uma das realizações dos crentes consiste em procurar edificar aos irmãos,
segundo se vê em Romanos 15:2. E todos os crentes podem e devem participar
dessa realização (I Cor. 15:58). Apesar disso, contrariamente à opinião de
alguns, não há um real sinergismo (vide), porquanto é Deus quem
opera tudo nos crentes, desde o impulso inicial até a concretização final,
segundo vemos em Filipenses 1:6: ”Estou plenamente certo de que aquele que
começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Filp.
1:6). Os crentes, que assim cooperam com o Espírito de Cristo, são,
eles mesmos, uma realização de Deus, criados com vistas às boas obras, ”...somos
feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras...” (Efé. 2:10).
Dessa forma, as realizações de Cristo continuam sendo realizações de Deus,
em Jesus Cristo, redundando em sua glória e louvor.
De tudo
quanto foi exposto, conclui-se que as obras de Deus, em Jesus Cristo, são tão
importantes quanto a doutrina que Cristo ensinou. Lucas frisa essa verdade, ao
escrever a Teófilo: “Escrevi o primeiro livro (o evangelho de Lucas), ó
Teófilo, relatando todas as cousas que Jesus fez e ensinou...” (Atos 1:1).