Interpretação de Deuteronômio 7

Deuteronômio 7

7:1-5 No Livro da Aliança criado no Sinai promulgou-se um programa de conquista e exterminação dos habitantes e dos cultos cananitas (cons. Êx. 23:20-33; 34:11-16). Desse modo a antiga profecia pela qual Noé amaldiçoou Canaã e o servo de Sem (Gn. 9:25, 26 ; cons. Gn. 10:15-18; Êx. 23:23) viria a se cumprir (veja, também Gn. 15:16-21) Tendo chegado a hora do juízo divino, Moisés agora desafiou Israel com a execução desse programa. Tudo e todos em Canaã que fossem consagrados aos ídolos e não ao serviço de Deus tinham de ser consagrados à ira de Deus.

7:1. Sete nações (cons. Js. 3:10; 24:11). Em listas iguais a esta o número varia de três a dez. O “sete” especificado aqui possivelmente é uma figura de totalidade.

7:2 A raiz hebraica hrm, traduzida para totalmente as destruirás nas principais traduções, significa em primeiro lugar devotar e então “banir” e “extirpar”. O princípio do herem vem a se manifestar inteira e finalmente nos juízos do inferno.

Há pessoas que se escandalizam com a ordem dada por Deus a Israel de exterminar os cananitas, como se representasse ética sub-cristã. Na realidade, essas pessoas se escandalizam diante da teologia e religião da Bíblia como um todo. O Novo Testamento, além do Velho, adverte os homens quanto ao reino do banimento eterno, onde os réprobos, destinados à ira, devem magnificar a justiça do Deus a quem odiaram. Considerando que a teocracia do V.T. em Canaã era um símbolo divinamente estabelecido do final reino de Deus, encontra-se em conexão com ele uma antecipação intrusiva do padrão ético que entrará em vigor no juízo final e depois dele.

Mais ainda, a exterminação dos cananitas e seus cultos habituais (derrubareis os seus altares... queimares... as suas imagens, v. 5) foi necessária para cumprimento da vocação de Israel à consagração positiva a Deus em serviço vivo. Pois, por causa da fragilidade de Israel, a proximidade dos cananitas levada à dissolução da sua característica espiritual (v. 3), à fidelidade estranha e idólatra (v. 4a) e, consequentemente, à própria destruição de Israel (4b). O programa da conquista (cap. 7) torna-se assim uma aplicação consistente do princípio da consagração (cap. 6; esp. 6:12-15).

7:6-16 Os propósitos da eleição de Israel, que tinha de ser protegida com a eliminação dos cananitas, estão aqui elaborados.

7:6. Escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio. Isto faz lembrar Êx. 19:5, 6, a clássica formulação do singular status teocrático para o qual Israel foi escolhido. Uma vocação superior vem acompanhada da tentação à jactância (cons. a preocupação de Moisés com este problema nos caps. 8-10). Portanto, Israel foi lembrada de se gloriar apenas no nome de Deus.

7:8. Porque o Senhor vos amava. Só em Seu amor soberano e em Sua fidelidade podia-se descobrir a explicação da eleição de Israel (4:37), certamente não no tamanho da nação. Pois Deus escolheu Abraão, o pai dela, que era um somente, e a família de Jacó, que desceu ao Egito com apenas setenta almas (7:7; cons. 10:22). Conclui-se através da soberana graça divina que Israel não tinha reivindicações que pudessem estimular a falta de cuidado no que se refere às exigências e sanções da aliança.

7:9. Que guarda a aliança... até mil gerações. Aludindo à fórmula das sanções anexas ao segundo mandamento, Moisés declarou que embora a graça imerecida continuasse até a milésima geração, os zombadores apóstatas da graça e santidade descobririam que as maldições da aliança não eram ameaças infundadas (7:9-11).

7:12. O Senhor... guardar a aliança. Os fiéis deviam confiar que as bênçãos da aliança não eram promessas vazias (vs. 12-15; cons. Gn. 12:2, 3; Êx. 23:22-31). O Deus de Israel, o Criador, não Baal, era o concessor da fertilidade no campo, nos rebanhos e na família (Dt. 7:13,14).

7:15. O Senhor afastará de ti toda enfermidade. Fora o Senhor que sujeitara o homem à maldição da natureza por causa do seu pecado, e Ele podia por isso livrar os israelitas das notórias doenças dos egípcios (por exemplo, elefantíase, disenteria e oftalmia) exatamente como Ele os libertara do infame Faraó do Egito (v. 15; cons. v. 8; Êx. 15:26). O versículo 16 resume o assunto, repetindo a ordem e o seu propósito.

7:17-26 Embora, no que se refere aos privilégios da eleição os israelitas fossem tentados à vaidade, diante da responsabilidade de sua comissão eles se sentiriam tentados à timidez (v. 17; cons. Nm. 13:31 e segs.).

7:18, 19a. Não tenhas temor. Em resposta a quaisquer temores que assim fossem despertados, Moisés fá-los lembrar daquela maravilhosa experiência no Egito durante a sua mocidade, quando por meio de poderosos sinais o seu Deus os salvou. Ele lhes assegurou que este mesmo Deus terrível ainda estava no meio deles para lutar em seu favor contra os reis cananitas (vs. 19b-24). A quem deviam então temer?

7:20. Vespões (cons. Êx. 23:28; Js. 24:12) aqui não são um símbolo do poder de Faraó, embora fosse usado pelos egípcios. É, antes, uma figura do terror de Deus, que, descendo sobre os inimigos de Israel, produziriam pânico e debandada (cons. Dt. 7:23). O fato de certas espécies de vespões, na Palestina, construírem seus ninhos debaixo da terra e nas rachaduras das rochas, sugere a propriedade da figura que a destruição dos cananitas foi nos seus esconderijos. Alguns traduziriam sirá para “desencorajamento” e não “vespões”.

7:22. Lançará fora... pouco a pouco. Cons. Êx. 23:29,30; Jz. 2:20-23; 3:1,2. O desapossamento gradual dos cananitas feito por Deus, para o bem de Israel, foi suspenso após a apostasia de Israel depois de Josué, como castigo.

7:24. Apagues o nome deles. A promessa tranquilizadora transforma-se em imperativo renovado nos versículos 24b-26 (cons. v. 5). Apropriar-se daquilo que foi colocado sob o anátema de Deus seria perder o direito ao status do favor convencional e colocar-se sob o anátema divino (cons. Js. 7).

Capítulos 8-11 apresentam a verdade que revela que a fidelidade absoluta ao Senhor (6:4 e segs.) significava que os israelitas, além de terem de se abster do culto simultâneo a qualquer outro deus (6:11 e segs.; 7:1 e segs.), também não deviam declarar sua independência religiosa. Por isso Moisés reforçou a obrigação fundamental de uma devoção de todo coração a Deus, advertindo dos perigos de uma atitude autônoma, quer manifesta em espírito de auto-suficiência (cap. 8) quer no espírito de justiça própria (9:1 – 10:11). Seguindo às advertências negativas, esta seção conclui com um desafio positivo a que se submetam ao senhorio divino (10:12–11:32).

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