Interpretação de Joel 2

Interpretação de Joel 2

Interpretação de Joel 2 


1) Um Quadro Vivo do Juízo Vindouro. 2:1-11.
1. Tocai a trombeta. Um aviso de perigo (veja Jr. 6:17; Ez. 33:3; Os. 8:1). Perturbem-se. Está passando da hora e é preciso despertar da indiferença descuidada. A convocação é para atos de penitência diante do flagelo.
2, 3. Uma descrição mais real do Dia já percebido pela atual calamidade. Dia de escuridade e densas trevas, . . . nuvens e negridão. Quatro sinônimos foram usados para dar ênfase, significando escuridão intensa, impenetrável (cons. Sf. 1:15; Ez. 34:12). Três das palavras foram usadas em Dt. 4:11 falando da escuridão que envolveu o Sinai quando o Senhor desceu sobre nuvem de fogo. A quarta palavra foi aplicada em Êx. 10:22 à praga das trevas. A alva por sobre os montes. Os bandos de gafanhotos são comparados à alva, ou por causa de sua aparência robusta, ou porque o amanhecer é envolvido em massas de nuvens e neblina, e assim o dia fica excluído. Um viajante conta ter visto um enxame de gafanhotos que tinha dois quilômetros e meio de largura e que, à distância, parecia uma nuvem negra. Fogo devorador. Tudo está perdido; a linda terra transformou-se em deserto despovoado. Tudo está estorricado, queimado ou reduzido a cinzas. Jardim do Éden. Esta e Ez. 36:26-35 são as únicas referências ao jardim fora do livro de Gênesis.
Antes da destruição a terra era rica em vegetação, agradável de se ver; agora era um deserto desolado, como o Egito e Edom.
4. O profeta descreve de maneira viva o aparecimento dos exércitos e seu terrível avanço. Como . . . cavalos. “O gafanhoto tem . . , o rosto de um cavalo, o olho de um elefante, o pescoço de um boi, os chifres de um veado, o peito de um leão o ventre de um escorpião, as asas de uma águia, as coxas de um camelo, os dentes de uma avestruz, o rabo de uma serpente” (um ditado árabe, citado por Pursey em The Minor Prophets, I, 174).
5. O barulho que acompanha o avanço de incontáveis cavalos é comparado ao matracolejar de carros – veículos baixos de duas rodas usados com propósitos militares. O espantoso ruído dos gafanhotos pode ser ouvido a 9,6 quilômetros de distância. É comparável ao som de uma catarata, uma torrente, um vento impetuoso, ou um fogo furioso.
7. Joel começa comparando este bando com um exército bem equipado. O avanço é irresistível; não há confusão entre as fileiras de guerreiros; eles escalam os mais altos muros; penetram no recesso mais íntimo das casas. Correm para o assalto, prontos para atacar. Não se desvia da sua fileira. Literalmente, não mudam de caravana; cada esquadrão permanece compacto, como os regimentos de um exército.
8. Lanças ou mísseis. Os gafanhotos desafiam todas as armas que possam ser arregimentadas contra eles. São tão numerosos que, mesmo depois que milhões foram destruídos, os enxames avançam como se nada tivesse acontecido. Só se pode eliminá-los pela destruição dos seus ovos.
9. Como ladrão. As portas são fechadas, mas os invasores passam pelas janelas sem vidros. Esta imagem indica que o profeta não está se referindo a um exército atacante, mas apenas a gafanhotos. A mesma imagem foi usada no N.T, para com a vinda do Senhor (Mt. 24:43, 44; Lc. 12:39; I Ts. 5:2; II Pedro 3:10).
11. A sua voz. Na terrível tempestade descrita em 2:10, o profeta ouve a voz de Deus (cons. I Sm. 12:18; Sl. 18:14; 46:8). Quem o poderá suportar? Por trás e além da destruição dos gafanhotos, do terremoto e da tempestade, espreita o Dia do Senhor, trazendo um exército ainda mais inconquistável, uma hoste ainda mais irresistível e um castigo ainda maior e mais terrível. Quem poderá suportá-lo? Aparentemente ninguém! Mas ainda há esperanças. A porta da misericórdia está aberta! Se o povo se voltar para Deus em verdadeiro espírito de arrependimento, Ele pode perdoar!
2) Uma Exortação ao Arrependimento. 2:12-17.
12. Ainda assim, agora mesmo. Na hora undécima, quando a destruição parece iminente! Convertei-vos a mim. Abandonem seus próprios caminhos de rebeldia; tenham juízo; reconheçam-me como o seu Deus ; e sigam rainhas instruções. Este é o apelo de todos os grandes profetas (por exemplo, Os. 14:1; Is. 1:2; Amós 4:6). Convertei-vos enfatiza a idéia de conversão. De todo o vosso coração. A sede não só das emoções, mas de todos os poderes da personalidade, intelecto, sensibilidade e vontade. Todas as atividades do espírito humano (todos os pensamentos, todas as afeições e todas as aspirações) devem se centralizar no Senhor. A mudança interior (no coração) se manifestará por si mesma na mudança externa de atitudes.
13. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes. Uma exigência de religião moral e ética. A penitência tem de ser profundamente sentida; não deve ser uma questão de simples ritual. Joel, como todos os verdadeiros profetas, exige “coração arrependido e uma vida limpa subseqüente” (com. Ez. 36:26; Sl. 51:19). A penitência não é um opus operatum (“um trabalho realizado”, isto. é, uma obra meritória), um rasgar de vestes (cons. esta expressão de tristeza em Lv. 13:45; Jr. 36:24), mas uma tristeza interior, um anseio, uma angústia e um rasgar do coração! Compassivo. Literalmente, inclinado a perdoar o pecador arrependido. Misericordioso. Possuindo abundância de misericórdia – equivalente a “cheio de compaixão”. Tardio em irar-se. Literalmente, longo como o respirar às narinas na ira. O Senhor não permite que Sua ira irrompa imediatamente como uma avalanche quando descobre o pecado, mas Ele aguarda para ver se o pecador não se arrepende. Grande em benignidade. A palavra hebraica hesed, usada para 1) o amor de Deus aos homens, 2) o amor do homem ao homem e 3) o amor do homem a Deus.
14. Quem sabe. Talvez Ele se volte e se arrependa. Deus não é homem que pudesse se arrepender ; Ele não pode voltar-se e converter-se como um homem. Contudo Ele tem os Seus próprios meios divinos de se arrepender e voltar-se. Embora imutável em Sua atitude para como pecado, Deus pode demonstrar misericórdia para com o Seu povo pecador. Uma bênção. Uma nova colheita, que tornará possível novamente a oferta de manjares e as libações.
15, 16. Uma assembléia solene. Primeira vez convocada em terror em 1:14 e 2:1, agora está sendo convocada em esperança de misericórdia divina. Todas as classes sociais de todas as idades da população estão sendo convocadas para esta grande e expectante reunião de arrependimento! Até os noivos, que tinham o direito de se afastar dos deveres públicos durante o período de um ano, estão incluídos (cons. Dt. 24:5).
17. Os sacerdotes, ministros. Os mediadores entre Deus e o povo Chorem. De tristeza e arrependimento ao conduzir o povo. Entre o pórtico e o altar. A parte interna do pátio dos sacerdotes (cons. Ez. 8:16). Aqui Zacarias ficou quando foi martirizado (II Cr. 24:20-22; Mt. 23:35). Poupa. Tenha misericórdia e impeça juízo futuro. Teu povo . . . tua herança. A base do apelo (cons. Dt. 9:25, 29). O Senhor está intensamente interessado em seu bem-estar. Opróbrio. Novamente o Todo-poderoso é lembrado que, se Ele abandonar Israel e permitir que seja destruída, Seu poder será posto em dúvida. Onde está o seu Deus? Uma zombaria à vista do relacionamento entre o Senhor e o Seu povo. A única maneira de evitar essa zombaria, seria Deus desviar a calamidade (cons. Êx. 32:12; Sl. 79:10).
II. O Juízo é Desviado e Bênçãos são Concedidas. 2:18 - 3:21.
A. As Bênçãos no Futuro Imediato. 2:18-27.
Este é o ponto crucial do livro. Evidentemente o povo reagiu favoravelmente ao convite do profeta. A solene convocação foi feita, o povo se arrependeu e o Senhor perdoou. Conseqüentemente, agora Ele promete remover os gafanhotos e restaurar a prosperidade da terra. Agora todos saberão que o próprio Deus habita com o Seu povo.
18. Então. O tempo não foi definitivamente declarado, mas dá a entender que o povo voltou-se para o Senhor em Penitência de coração. Se mostrou zeloso . . . Compadecer-se. O zelo divino se fundamenta na afiança (cons, relacionamento conjugal entre o Senhor e o Seu povo em Is. 54:5; 62:5; Os. 2:19). Seu zelo é despertado quando o Seu povo despreza o Seu amor.
20. O exército que vem do norte. O Nortista. Os terríveis gafanhotos serão retirados e espantados no deserto. o Mar Morto e o Mar Mediterrâneo. O profeta visualiza a invasão da terra pelos exércitos da Assíria e Babilônia vindos do norte, tipificados pelos gafanhotos. Agiu poderosamente. Dois sujeitos estão implícitos, um imediato – os gafanhotos, e um mais remoto – o Nortista. O exército de gafanhotos é considerado como instrumento do Senhor. Tão terríveis e repulsivos como são, os gafanhotos levaram o povo a Deus em arrependimento. O mau cheiro dos gafanhotos mortos geralmente é citado como intolerável e motivo de pragas. Agostinho cita Julius Obsequens mostrando que uma grande nuvem de gafanhotos que caiu no Mar Africano veio à praia em massa pútrido e houve uma praga que matou 800.000 pessoas.
21. Os animais, homens e todos os sofredores do capítulo 1 agora são convocados a lançarem fora o seu temor e a se regozijarem. O SENHOR faz grandes coisas. Um perfeito profético (ação completada). O profeta está tão certo, baseado em autoridade divina, dos acontecimentos, que fala como se já tivessem acontecido.
23. Regozijai-vos no SENHOR. No meio de seu regozijo devem se lembrar que foi a misericórdia divina que tornou tudo isso possível. Em justa medida a chuva (hammôreh lisedaqâ). Não há dúvida de que môreh na última cláusula do versículo significa chuva temporã. Mas o Targum, a Vulgata e os escritores judeus, seguidos por Keil, Pusey e outros, traduzem “Instrutor da justiça” – o Messias. O líder da comunidade Qumran usava este título. Contudo, o contexto não permite essa tradução, a qual Calvino intitulou de “uma estranha exposição”. A chuva temporã e a serôdia. As chuvas de setembro-outubro e março-abril eram necessárias para a fertilidade da terra da Palestina.
24, 25. Mais uma vez os céus se abrirão, a seca terá um fim, os gafanhotos desaparecerão, as colheitas retornarão e a presença do Senhor será percebida.
26. O resultado da restauração generosa: os judeus reconhecerão o Senhor como o seu Deus e o louvarão por sua divina intervenção. O nome do SENHOR. Equivalente à pessoa do Senhor (com. Amós 2:7; Mq. 5:4).
27. Eu sou o SENHOR vosso Deus. Todo o líder religioso do tempo de Moisés insistia que o Senhor era o Deus de Israel (veja, por exemplo, Êx. 20:2; Dt. 5:6), mas o povo com muita freqüência se esquecia disso e por isso “se prostituta após outros deuses” (Os. 2:5, 8). O Senhor, a fim de fazê-lo perceber a realidade, tinha de derramar o juízo sobre eles muitas e muitas vezes. Contudo, o presente golpe haveria de curá-los de uma vez para sempre; eles o reconhecerão como seu único Deus. Não há outro. Os deuses que no passado seduziam o povo são sem valor. Não possuem poder de proteger ou ajudar. Acrescentam fardos e não os aliviam (veja Os. 2:7; Is. 1:29-31; 45:5, 6, 18).
B. O Derramamento do Espírito Divino. 2:28-32.
Na Bíblia Hebraica, os versículos 28-32 constituem o capítulo 3. A palavra depois considera um período bem além da praga dos gafanhotos e o arrependimento e restauração de Israel. Pois aqui o profeta desvia-se do físico e material para o espiritual e eterno. Através de sua visão profética, Joel eleva-se acima da experiência religiosa da atual praga dos gafanhotos para um quadro histórico mais amplo. Ele mergulha no futuro e vê o reavivamento espiritual de Israel e o livramento de todos os inimigos que a cercam. Sua visão assim antecipa um cumprimento primo do dia de Pentecostes e uma realização final na vitória completa do reino do Senhor Cristo.
28. Derramarei o meu Espírito. Com grande abundância (Calvino). O Espírito é o princípio da vida no homem (com. Gn. 1:2; Jó 33:4), o poder invisível para o qual revertem todas as ações externas, e que concedeu aos heróis de Israel energia guerreira (por exemplo, Juízes 3:10; 11:29). O Espírito produz poder profético em sua forma mais elevada e mais simples (I Sm. 10:6, 10; 19:20; Is. 61:1). Toda a carne. Não os animais, mas toda a humanidade profetizará, sonhará, terá visões. Nesta futura manifestação do Espírito, nenhuma distinção será feita com base em sexo, idade ou posição; mas ela será feita nos diferentes métodos pelos quais a revelação for recebida e o dom profético exercido. Isto é, seus filhos, filhas, pessoas idosas e jovens receberão o Espírito do Senhor com todos seus variados dons. Profetizarão. Virão a ser “órgãos da revelação divina” diante de todas as nações!
29. Até (E.R.C., também). Algo extraordinário. No Período Messiânico não se fará nenhuma distinção entre o escravo e o livre. Em Ez. 39:29 e em Zc. 12:10 o Espírito é prometido a Israel, à casa do rei e aos favorecidos habitantes de Jerusalém. Mas Joel vai mais além e inclui todas as categorias sociais, no espírito do universalismo que também caracteriza o livro de Jonas.
30. Haverão maravilhosos presságios da aproximação do juízo. Prodígios. Fenômenos extraordinários sobre a terra e no céu. Sangue, fogo e colunas de ramo. Terrores de guerra, derramamento de sangue, violência e colunas de fumo subindo das cidades queimadas. Guerras em escala sem precedentes serão os precursores do Dia do Senhor (cons. Is. 13:6; Sf, 1:7). Alguns mestres entendem que são “fenômenos atmosféricos anormais”, ou resultados do holocausto nuclear. Sangue. A cor vermelha da lua. Fumo. Talvez nuvens de fumaça enchendo o ar como resultado de erupções vulcânicas. Fogo. Relâmpagos, considerando que tempestades geralmente acompanham os terremotos.
31. Fenômenos no céu. O escurecimento do sol e a extinção dos luminares celestes são freqüentemente mencionados nas Escrituras como precursores do Dia do Senhor ou da aproximação do juízo (2:2, 10; 3:15; Is 13:10; 34:4; Jr. 4:23; Mt. 24:29; Mc. 13:24; Lc. 21:25; Ap. 6:12).
32. Um grande e horrível dia para as nações (3:2), mas os verdadeiros adoradores do Senhor não precisam temer! Invocar o nome do SENHOR. Não numa cerimônia fria ou insensível repetição de frases, mas em adoração espiritual e sincera. Aquele que invoca o Senhor é aquele que o adora. O caminho da fuga é através da participação na comunidade do verdadeiro Israel, não o Israel segundo a carne, mas o Israel segundo o Espírito. Esta participação se evidencia através de verdadeira e sincera devoção ao Senhor. Sobreviventes (heb. pelêtâ). Todos os que escaparam (AV, o remanescente). O remanescente em Jerusalém abrange todo aquele que crê ou crerá de todas as nações, povos e línguas! O Apóstolo Pedro citou 2:28-32 depois do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, considerando cumprido aquele evento. Contudo, o derramamento do Espírito no Dia de Pentecostes foi simplesmente o começo. Continuará até que toda a carne seja equipada com iluminação divina.