Interpretação de Juízes 2

Em Juízes 2, um anjo do Senhor visita os israelitas em Bochim e os repreende por quebrarem o convênio ao se misturarem com os cananeus e adorarem seus deuses. O capítulo descreve como a geração mais velha, que havia testemunhado as maravilhas de Deus, faleceu, e uma nova geração surge sem conhecimento dos feitos de Deus. Os israelitas se envolvem em ciclos de desobediência, opressão por nações estrangeiras, clamores por libertação e Deus levantando juízes para resgatá-los. No entanto, a fidelidade do povo continua inconsistente e eles continuam se desviando dos caminhos do Senhor. O capítulo ilustra um padrão recorrente de rebelião e a fidelidade de Deus ao libertar os israelitas, preparando o cenário para a natureza cíclica dos eventos que se desenrolam ao longo do livro de Juízes.

Juízes 2
B. Antecedentes Religiosos do Período dos Juízes 2:1-5.


 Embora tivessem experimentado o poder de Deus durante o período do êxodo do Egito e na conquista de Canaã, logo os israelitas se esqueceram da aliança que tinham feito com Deus no Sinai. A idolatria passou a ser tolerada no seu meio e o casamento com os cananeus tornou-se uma coisa corriqueira.

2:1. Subiu o anjo do Senhor de Gilgal a Boquim. O anjo do Senhor foi uma teofania, uma aparição de Deus em forma perceptível pelos sentidos humanos. Tal manifestação foi vista por Hagar (Gn. 16:7-12) e Moisés (Êx. 3:2-6). Boquim era provavelmente localizada entre Betel e Silo, cerca de 32kms do Mar Morto. Do Egito vos fiz subir. Deus se identificou como Aquele que cuidou das necessidades do Seu povo na hora da angústia. Suas misericórdias deviam ter produzido uma reação de gratidão.

2:2. Contudo não obedecestes a minha voz. Deus fora fiel a Sua aliança, mas Israel se esquecera do seu voto de obediência á Lei dada através de Moisés nu Sinai.

2:3. Não os expulsarei de diante de vós. Israel comprometera sua lealdade a Deus com sua idolatria. O Senhor declarou que os habitantes de Canaã não seriam completamente expulsos, e que se comprovariam ser uma armadilha para Israel. Estas palavras antecipam a história do período dos Juízes, quando uma série de opressores subjugaram Israel.

Os deuses de Canaã serviram de tentação para levar as tribos a se esquecerem do Deus de Israel.

2:4. Levantou o povo a sua voz e chorou. A mensagem do Anjo do Senhor foi de julgamento. História subsequente indica que aquele choro foi superficial, pois Israel não foi dissuadido de suas práticas idólatras.

2:5. Daí chamarem a erre lugar Boquim (os que choram). As Escrituras associam frequentemente nomes de lugares com episódios significativos (cons. Betel, Gn. 28:16-19; Maanaim, Gn. 32:2; Gilgal, Js. 5:9).

II. A História dos Juízes. 2:6 – 16: 31.
A. O Fracasso de Israel em Subjugar as Nações Inimigas. 2:6-3:6.


Sob a liderança de Josué realizou-se a fase inicial da conquista da terra. A terra foi dividida entre as tribos, mas era necessário que os israelitas ocupassem o território que lhes fora destinado.

2:7. Serviu o povo ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram por muito tempo depois de Josué. A geração de Josué e seus sucessores imediatos permaneceu fiel ao Senhor por causa de sua associação com todas as grandes obras, feitas pelo Senhor a Israel. Estas palavras formam uma transição da narrativa da conquista de Canaã feita por Josué para a história dos Juízes. Fazem um paralelo com as palavras de Js. 24:28-31.

2:8. Faleceu Josué... com a idade de cento e dez anos. Cento e dez anos é a duração ideal da vida, de acordo com os papiros e estelas egípcias. Diz-se que José morreu com essa mesma idade (Gn. 50:26). Moisés viveu uma década mais (Dt. 34:7).

2:9. Sepultaram-no no termo da sua herança, em Timnate-Heres. Timnate-Heres, porção do sol, também traduzido para “Timnate-Será”, porção dupla (Js. 19:50; 24:30). O local tradicional é Tibneh, 27, 35 kms a noroeste de Jerusalém.

2:10b. E outra geração após deles se levantou, que não conhecia o Senhor. A nova geração esqueceu-se das misericórdias do Deus de Israel e da aliança da nação de obedecer á Lei do Senhor.

2:11. Os filhos de Israel... serviram aos Baalins. Baal era um deus da fertilidade, cuja adoração, segundo se acreditava, concedia fertilidade aos homens, animais e campos. Uma vez que Baal era adorado em manifestações locais (Baal-Peor, Baal-Gade, Baal-Zeboul, etc.), era usado o plural, Baalins.

2:13. Deixaram o Senhor, e serviram a Baal e a Astarote. Astarote era o correlativo feminino dos Baalins. Astarte era o equivalente cananita da Ishtar babilônica, a deusa do amor e da fertilidade.

2:14. A ira do Senhor se acendeu contra Israel. A idolatria era considerada um rompimento da aliança, envolvendo ritos imorais incompatíveis com a santidade que Deus exigia do Seu povo. Não mais puderam resistir a eles (aos inimigos). O Deus de Israel não era incapaz de proteger o Seu povo dos seus saqueadores. No exercício do Seu governo, contudo. Ele escolheu usar os inimigos de Israel como meio de castigar o povo rebelde.

2:16. Suscitou o Senhor juízes. O castigo para a idolatria fora planejado para levar Israel de volta a Deus. O Senhor respondeu às orações penitentes do Seu povo na hora de sua angústia, e levantou juízos, isto é, salvadores ou libertadores.

2:17. Contudo não obedeceram aos seus juízes, antes se prostituíram após outros deuses. O ministério dos Juízes não tinha efeito duradouro sobre Israel. O Livro de Juízes registro um ciclo invariável no qual Israel repetidamente retornou à idolatria. O culto à fertilidade fornecia a linguagem usada para descrever a apostasia. Infidelidade a Deus é chamada de adultério.

2:18. Quando o Senhor lhes suscitava juízes, era com o juiz. O Senhor capacitava os Juízes a liderar o povo de Israel vitoriosamente contra seus inimigos. Tanto as vitórias como as derrotas registradas no livro das Juízes são interpretadas como atos de Deus.

2:19. Falecendo o juiz, reincidiam e se tornavam piores. Um juiz forte podia influenciar o povo a buscar a Deus durante a sua vida. Os Juízes não formavam, contudo, uma dinastia. Com a morte de um juiz, o povo entregava-se novamente à idolatria.

2:21. Também eu não expulsarei mais de diante dele a nenhuma das nações, que Josué deixou, quando morreu. O status quo seria mantido. Israel não seria forçado a sair de Canaã, mas os cananitas que não foram destruídos por Josué também não seriam desapossados.

2:22. Para por elas provar a Israel. De um ponto de vista, o fracasso de Israel de expulsar os cananitas era um meio usado por Deus pala castigar o Seu povo por causa da idolatria. Era também um meio de provar a fidelidade de Israel para com Ele.

2:23. Assim o Senhor deixou ficar aquelas nações, e não as expulsou logo. As conquistas de Josué foram realizadas em um período de tempo relativamente curto. As conquistas futuras que levaram à monarquia de Davi e Salomão foram realizadas em um tempo mais longo.

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