XIV.
Julgamento dos Ricos Inescrupulosos. 5:1-6.
1. Os ricos aqui mencionados não são cristãos, mas, apesar disso, a
advertência se aplica a todos os homens, inclusive cristãos. Tiago é
consistente com os ensinamentos do N.T. em geral em atacar os ricos não apenas
porque são ricos, mas porque fracassaram em sua mordomia. O chorar e prantear
não são sinais de arrependimento mas expressões de remorso em face do
juízo.
2. Ambos os verbos deste versículo e o primeiro verbo do versículo
seguinte estão no tempo perfeito. Ropes os descreve habilmente como “declarações
pitorescas e figurativas da verdadeira inutilidade desta riqueza à vista
daquele que conhece o valor do que é permanente e eterno” (op. cit.,
pág. 284). A riqueza deve ser usada para bons propósitos, não entesourada.
Tiago (Comentário Bíblico Moody) 23
3. A ferrugem da riqueza acumulada será uma testemunha contra os ricos,
porque Deus quer que a riqueza seja usada para o bem da humanidade. Ela também
destruirá os próprios ricos – há de devorar, como fogo, as vossas carnes. A
frase, para os últimos dias (E.R.C.) provavelmente deveria ser mudada
para nos últimos dias (E.R.A.). Ela aponta para o fato que, embora os
ricos não o percebam, os últimos dias já chegaram.
4. Outro pecado dos homens ricos era o defraudar cruel dos pobres
lavradores. Esta atitude era particularmente séria porque era explicitamente
contrária à lei de Moisés (cons. Dt. 24:14, 15). Deus, que aqui é chamado de Senhor
dos exércitos, um título que sugere Sua onipotência soberana, não ficava
desatento diante desta injustiça. Seus ouvidos estavam abertos aos gritos dos
pobres trabalhadores.
5. O terceiro pecado dos ricos era o seu luxo e prazeres. Vida
extravagante não passava de uma engorda para o dia de matança. Esta
frase foi extraída de Jeremias (12:3). No período intertestamentário (cons. I
Enoque 94:9) assumiu um significado escatológico, e nesta passagem foi usado
com referência ao dia do juízo.
6. O homem justo não é Jesus mas o pobre (generalizadamente), que
foi tratado sem misericórdia pelos ricos. Moffatt (op. cit., pág. 70)
indica que a palavra matado tinha um significado mais amplo, na ética
judia, do que tem agora. Particularmente relevantes são as declarações do
Eclesiástico apócrifo 34:21, 22: “O pão do necessitado é a vida do pobre;
qualquer um que os priva dele é um homem de sangue. Privar o próximo do seu
ganha-pão é assassiná-lo; deixar de pagar o salário a um empregado é derramar
sangue”. Aqui a referência em Tiago foi feita provavelmente aos “homicidas
judiciais”, uma vez que a declaração começa dizendo condenado. Pessoas
pobres são arrastadas para os tribunais (cons. Tg. 2:6) e nada podem fazer para
se defender. Ficam completamente à mercê dos ricos inescrupulosos. Apesar de
todos esses maus tratos, o pobre não resiste.
XV.
Paciência até a Volta de Cristo. 5:7-11.
7. Tiago agora deixa de lado o fico mau e passa a aconselhar o pobre
oprimido. Suas instruções são no sentido do pobre suportar com paciência sua
situação econômica e social à vista da iminente volta, do Senhor. Não há
nenhuma sugestão aqui de subversão. Como exemplo de alguém que deve exercitar a
paciência, Tiago cita o caso do lavrador que espera o precioso fruto da
terra. Na Palestina, as primeiras . . . chuvas (outubro/novembro)
vinha depois da semeadura e as últimas chuvas (abril/maio) quando os
campos já estavam amadurecendo. Ambas eram de suma importância para o sucesso
da colheita.
8. Do mesmo modo o cristão, diz Tiago, não deve perder a paciência diante
das adversidades, mas deve estabelecer firmemente o seu coração à vista do fato
de que a vinda do Senhor está próxima.
9. As adversidades causam tensões, e estas se expressam nos
relacionamentos humanos. Por isso Tiago adverte, não vos queixeis uns dos
outros. Tal atitude os coloca em perigo de julgamento, e o juiz está às
portas dos pobres.
10,11. Além dos lavradores, também, os profetas são citados como exemplos de sofrimento
e paciência. É estranho que o exemplo de Cristo não fosse aqui citado como
em I Pé. 2:21-23. Jó era tradicionalmente considerado um profeta, e aqui foi
explicitamente citado como um exemplo de perseverança. Este é o único lugar do
N.T, onde Jó foi mencionado. O ponto principal da ilustração de Jó é que “a
paciente perseverança mantém-se sobre a convicção de que as dificuldades não
são sem significado, mas que Deus tem alguma finalidade e propósito nelas, o
que Ele há de realizar...” (Moffatt, op. cit., pág. 74).
XVI.
Juramentos. 5:12.
12. Duvidamos que este versículo tenha alguma ligação com o precedente. Acima
de tudo é, provavelmente, uma hipérbole para o bem da ênfase. O assunto em
discussão não é a irreverência, mas a honestidade. Easton faz uma paráfrase do
versículo: “Abstenham-se de todos os juramentos, pois eles enfraquecem o senso
de obrigação do homem de falar a verdade em todas as ocasiões; habituem-se a um
simples “sim” ou “não” (op. cit., pág. 69).
XVII.
Oração. 5:13-18.
13. Sofrendo (sujeito a calamidade de qualquer tipo). A aflição
exige oração; um coração alegre, louvor. Cante louvores. A tradução salmos
é demasiado limitada para psalleto.
14. Em caso de séria enfermidade, Tiago aconselha, que os presbíteros (uma
referência a oficiais definidos) da igreja deveriam ser chamados. Suas orações
deveriam ser acompanhadas da unção com óleo em nome do Senhor. Em alguns
casos o azeite tem valor terapêutico, mas na maioria dos casos o seu uso deve
ser antes compreendido como um socorro à fé.
15. Está claro neste versículo que não é o azeite que cura o doente, mas
antes o Senhor é que o levanta em resposta da oração da fé. Isto não é
uma sugestão de que Deus sempre atende a oração do crente. Toda oração,
inclusive a oração pela cura, fica sujeita à vontade de Deus. Às vezes, é claro
que não é sempre, a doença é o resultado do pecado pessoal. Talvez isto é o que
se quis dizer com se houver cometido pecados. De qualquer maneira, o
doente tem a certeza do perdão dos pecados.
16. A oração, para ser mais eficaz, deve ser inteligente. Por isso
encontramos a exortação, confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros. Isto
não quer dizer que os cristãos devem entregar-se a confissões públicas
indiscriminadas ou mesmo particulares. E certamente a passagem nada tem a ver
com as confissões secretas feitas a um sacerdote. Os crentes devem confessar
suas faltas apenas para que possam orar uns pelos outros. Não tem havido
unanimidade quanto à tradução da última parte deste versículo, mas o
significado é claro: um homem bom tem grande poder em suas orações.
17. O exemplo é Elias, homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos
sentimentos. Suas orações provocaram a seca e acabaram com ela. Tiago
parece ter extraído o exemplo de alguma outra fonte que não o V.T., uma vez que
as orações de Elias quanto à seca e o seu fim não são mencionadas na narrativa
do V.T. A duração da seca por três anos e meio também não se encontra no V.T.
XVIII.
Regenerando o Irmão Pecador. 5:19, 20.
19. A declaração, Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade,
e as duas referências a sua regeneração, parecem indicar claramente que o
homem em questão é um cristão.
20.
Converte não é o termo
exato. Se um cristão vê que o seu irmão abandonou as doutrinas da fé cristã e
as responsabilidades morais que delas brotam, e tem a possibilidade de trazê-lo
de volta para a comunhão com Cristo e Sua Igreja, as conseqüências são duplas:
1) salvará da morte a alma dele (a do pecador), e 2) cobrirá multidão
de pecados. Uma vez que o N.T. ensina a segurança do crente em Cristo, é
melhor aceitar a referência feita à morte como sendo a morte física. A igreja
primitiva cria e ensinava que a persistência no pecado pode causar a morte
física prematura (cons. I Co. 11:30). Os pecados cobertos não são os do
reconciliador (isto sugere a doutrina judia que as boas obras contrabalançam as
más) mas do desviado. Eles ficam cobertos diante de Deus, que é apenas outra
maneira de dizer que foram perdoados.
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