Interpretação de Jó 1

Jó 1

Jó 1 prepara o cenário para suas provações. Retrata Jó como um homem rico e justo que teme a Deus e evita o mal. No entanto, Satanás desafia a fé de Jó, argumentando que sua justiça se deve apenas à sua prosperidade, e Deus permite que Satanás teste a fé de Jó tirando sua riqueza, seus filhos e sua saúde. Apesar dessas perdas, Jó permanece fiel a Deus e se recusa a amaldiçoá-lo.

Jó 1 levanta questões sobre a natureza do sofrimento e o papel de Deus em permiti-lo, enfatizando a importância da fé e da confiança em Deus, mesmo diante da adversidade.

Interpretação de Jó 1

O temor do Senhor, que é o começo da sabedoria, foi o sinete da qualidade de Jó. A fonte de sua vida e caráter foi a religião da aliança da fé no Cristo da promessa, “o qual se nos tomou da parte de Deus sabedoria” (I Co. 1: 30; cons. Is. 11:2).

1:1 “Uz”, a terra natal de Jó, fica em algum lugar a leste de Canaã, perto das fronteiras do deserto que separa os braços leste e oeste do Crescente Fértil. Era uma região de cidades, fazendas e rebanhos migrantes. “Íntegro e reto”, não se refere à perfeição sem pecado, (cons. Jó reconhecendo seus pecados; por exemplo, 7:20; 13:26; 14:16 e segs.) mas à integridade sincera, especificamente a lealdade para com a aliança (cons. Gn, 17:1, 2). Havia uma harmonia honesta entre a sua profissão de fé e a sua vida, exatamente o oposto da hipocrisia da qual ele foi acusado por Satanás e mais tarde por seus amigos. “Temente a Deus”. No AT “o temor do Senhor” é o nome da religião verdadeira. A piedade de Jó era fruto de submissão genuína ao Senhor, diante de quem ele andava em reverência, rejeitando resolutamente o que Ele tivesse proibido.

1:2, 3 A verdadeira sabedoria se expressa na vigorosa execução do mandato criativo divino de encher e dominar a terra (Gn. 1:28). Por causa da anormalidade da história, que resultou da Queda, o fracasso persegue os esforços até mesmo dos piedosos. Mas os empreendimentos de ló na família, no campo e nos rebanhos foram coroados com as bênçãos do Criador (cons. a descrição que Jó faz deste período no cap. 29).

1:4, 5 Atento ao seu Deus nos dias bons como nos maus, Jó fielmente cumpria suas funções de sacerdote dentro da família. Não um simples formalista, Jó percebia a raiz do pecado no coração humano (cons. cap. 31); não mero moralista, ele reconhecia, como a especial revelação redentiva tornara claro, que não há remissão de pecados sem derramamento de sangue sacrificial. Holocaustos, embora fossem símbolo da expiação messiânica do pecado, eram também um ritual de consagração. Por meio deles Jó dedicava os frutos do progresso no setor da cultura (cons. 1:2, 3) ao seu Criador. Assim a cultura humana alcançava seu devido fim na adoração a Deus.

B. A Sabedoria de Jó é Negada e Manifesta. 1:6-2:10.

Aquele que é sábio para a salvação está cônscio da dimensão demoníaca da história, a fúria secular de Satanás contra “a semente” da mulher (cons. Gn. 3:15), isto é, Cristo e o Seu povo. O Adversário protestou dizendo que a piedosa sabedoria de Jó não era genuína, que a sua piedade era apenas temporária e resultante de sua prosperidade. Mas provado, Jó esmagou Satanás sob os pés demonstrando que estava pronto a servir a Deus “debalde”. Uma vez que a verdadeira sabedoria, o temor a Deus, é um dom redentor divinamente concedido, a acusação de Satanás contra Jó foi realmente uma desafiadora negação da sabedoria de Deus, um desafio à eficácia soberana do decreto redentor de Deus de “pôr inimizade” entre os eleitos e a serpente (Gn. 3:15). O propósito primário do sofrimento de Jó, desconhecido para ele, foi que permanecesse diante dos homens e anjos como um troféu do poder salvador de Deus, uma exibição dessa sabedoria divina que é o protótipo, fonte e fundamento da verdadeira sabedoria humana.

1) A Inimizade de Satanás. 1:6-12.

1:6, 7 Para que o leitor possa descobrir o propósito primário dos sofrimentos de Jó e assim se colocar em posição de julgar corretamente onde jaz a verdadeira sabedoria na sequência, afasta-se o invisível véu angélico, pintado aqui como uma corte real com o Soberano assentado em Seu trono no meio dos Seus servos. “Os filhos de Deus”. Esta frase, nos antigos mitos politeístas indicava seres divinos. Na Bíblia se refere ou aos homens (Gn. 6:2 por exemplo) ou, como aqui, a criaturas celestes. “Satanás”, literalmente, o Adversário, está entre aqueles que são obrigados a prestar contas diante do trono celestial. Isto, como também o fato de Satanás não poder tentar Jó sem permissão, torna conhecida sua absoluta subordinação, ao lado de todas as outras criaturas visíveis e invisíveis, ao Deus que Jó temia.

1:8-10 Deus Se glorifica quando aponta para Jó como criação da Sua graça redentora. “Ninguém há na terra semelhante a ele” (v. 8b). Este endosso divino vai além até da descrição do versículo 1. Mas embora o acusador hostil não encontre nada na vida visível de Jó para condená-lo (compare com a situação em Zc. 3), ele insinua que a aparente devoção do patriarca é de calculado interesse pessoal. Ele diz, realmente: “Jó é um enganador como eu, seu verdadeiro pai, o diabo”. Satanás tentou arrancar Jó da mão de Deus, e assim pôs em dúvida o direito que o Senhor tinha sobre Jó por tê-lo feito Seu filho através da graça redentora. O diabo dá a entender que, deixando de reconhecer a fraudulência da piedade de Jó, Deus é ingênuo. Pois que, tendo recebido um mundo todo seu com uma cerca à volta, não manteria as devidas aparências de lealdade ao doador? O assalto satânico contra a integridade de Jó é, em última análise, um assalto à integridade divina: Deus subornara o profano Jó para que agisse com piedade. A oportunidade que foi dada a Jó em sua provação foi, portanto, não tanto para justificar-se mas para justificar a Deus.

1:11, 12 Na tentação, no Éden, Satanás desacreditou a Deus diante do homem; aqui ele desacreditou o homem diante de Deus. Mas, em ambos os casos, ele usou a mesma técnica sutil. Começou com uma pergunta insinuante, depois prosseguiu contradizendo atrevida e declaradamente a palavra divina. Remova a prosperidade de Jó, disse, e a piedade que repousa sobre ela vai desmoronar. Deus aceitou o desafio. Realmente, dirigindo a atenção de Satanás para Jó, em sua insondável sabedoria, Ele provocou o desafio. Que a cena celestial, e as transações da corte celeste não foram reveladas a Jó está de acordo com o fato de que este livro não tem intenção primordial de responder à pergunta: Por que sofrem os justos? Antes, o livro representa a absoluta consagração do ser ao fiel Criador-Salvador do homem como sendo a verdadeira sabedoria. Um homem deve continuar temendo a Deus mesmo quando seu mundo se desmorona e a vida o coloca em dificuldades, como no caso de Jó, assombrado e perplexo sobre um monte de refugo.

2) A Integridade de Jó. 1:13-22.

1:13-19. Como a prova parece justa! Conhecimento e poder sobrenatural – com o elemento surpresa em seu favor – disposto contra um mortal! Davi e Golias, em comparação, estavam igualmente equipados. Mas a integridade constante de Jó, como o heroísmo de Davi, era apenas o índice visível do poder da redenção divina operando no servo de Deus e através dele. A estratégia divina, como a de Elias no Carmelo, era tornar impossível a Satanás insinuar, por meios fraudulentos, às testemunhas uma explicação naturalista da maravilha que Ele estava para realizar. A assombrosa vantagem que Deus deu a Satanás tomou-se, na sequência, a medida da ignomínia diabólica e o elogio divino.

“Sucedeu um dia”(v. 13b). Talvez as semanas de festa fossem celebrações especiais; mas se havia uma contínua sucessão de séries semanais de festas, este era o dia no qual Jó tinha oferecido holocaustos. Sua piedade e desolação sendo assim confrontadas, a sua desolação parece tanto mais incompreensível. Certamente a repetição do quadro da família feliz de Jó como prelúdio para o registro dos golpes que o destruíram serve para colocar a feliz prosperidade e a súbita desolação em contraste agudo. “Os sabeus” (v. 15). Beduínos árabes. “Fogo de Deus” (v. 16b). Possivelmente raios. “Os caldeus” (v. 17) deste período precoce, diferindo dos posteriores edificadores do império, eram saqueadores nômades. “O grande vento”(v. 19b) era, ao que parece, um tufão do deserto, como aquele do qual Deus mais tarde se dirigiu a Jó. Observe como os assaltos inclementes dos homens sobre o fruto acumulado da vida de Jó alternaram-se com os assaltos da natureza. Os mensageiros foram poupados apenas para levarem as más novas, em uma sucessão esmagadoramente rápida, ao seu consternado senhor.

1:20-22 “E adorou” (v. 20b). Eis o homem sábio! Não sábio porque compreendesse o mistério dos seus sofrimentos, mas porque, sem compreender, continuou temendo a Deus. “E nu voltarei” (v. 21b), isto é, além do cenário da vida debaixo do sol, ao pó (ao qual Jó talvez apontasse). Cons. Gn. 3:19. “Bendito seja o nome do Senhor” (v. 21c). O notável aspecto é que Jó, reconhecendo que não podia resistir ao Deus soberano, não manteve simplesmente sua compostura espiritual, mas até foi capaz de na adversidade também louvar a Deus. Talvez medindo a grandeza de sua perda, Jó tenha avaliado a abundância que o tempo todo estivera confiada a sua mordomia. Mais do que isto, esta hora de desolação foi um momento da verdade para ele. Despido das coisas deste mundo, Jó tornou-se incomumente sensível à presença confrontante de Deus. Um abismo chama outro abismo. E como poderia o coração do redimido, que adora, reagir na presença de Deus a não ser com a doxologia: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra” (Sl. 73:25). Satanás profetizou: “Ele blasfemará de ti” (Jó 1:11). Mas Jó bendisse a Deus seu Salvador. No hebraico, existe aqui um trocadilho com a raiz de uma palavra, Satanás usando-a com o sentido de maldição, e Jó, com o sentido de bênção.

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