Tipos e Tipologia — Estudos Bíblicos
TIPOS, TIPOLOGIA.
Esboço:
I.
Definição e Caracterização Geral
II.
Termos Empregados
III.
Inspiração Dessa Forma de Interpretação
IV.
Legitimidade da Tipologia e Oposição a Ela
V.
Características dos Tipos
VI.
Como Evitar Exageros
I. Definição e Caracterização Geral
A tipologia é uma
técnica, associada bem de perto à alegoria, mediante a qual pessoas, eventos,
instituições ou objetos de qualquer espécie passam a simbolizar ou ilustrar a
pessoa de Jesus Cristo, ou então aspectos da fé, da doutrina, das
práticas, das instituições cristãs, etc. Paulo e o autor da Epístola aos
Hebreus muito tiraram proveito do Antigo Testamento, visto que eles
acreditavam que o Antigo Testamento prefigurava (por ato de Deus) o NovoTestamento, como também que Cristo foi o cumprimento de inúmeros tipos ou
símbolos do Antigo Testamento.
Um tipo
assemelha-se a uma alegoria, mas visto que tem melhores bases bíblicas, tem
ocupado um sucesso maior, retendo um importante papel dentro da interpretação
cristã. Ver sobre Alegoria e Interpretação Alegórica. Há algumas
alegorias nas páginas da Bíblia, mas o Novo Testamento exibe um número
muito maior de tipos do que de alegorias.
II. Termos Empregados
São todos vocábulos
gregos: Túpos, “tipo” (ver Rom. 5:14, I Cor. 10:6,11). Skiá, “sombra”
(ver Col. 2:17, Heb. 8:5,10:1). Hupódeigma, “cópia” (ver Heb. 8:5; 9:23).
Semêion, “sinal” (ver Mat. 12:28). Parabolé, “figura” (ver Heb.
9:9; 11:19). Antítupos, ”antitipo” (ver Heb. 9:24; I Ped. 3:21).
Todos esses vocábulos envolvem o uso de tipos para efeitos didáticos, e as
passagens ilustrativas acima oferecidas provêem exemplos dessa atividade
no Novo Testamento.
Esses tipos provêem
sombras ou vislumbres de verdades que são melhor desenvolvidas e expostas no
Novo Testamento, em contraste com o Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo
Testamento é usado como uma espécie de tesouro de onde são extraídas todas
as formas de antecipações de Cristo, de sua Igreja ou de sua
doutrina, mediante o uso de pessoas ou coisas que são usadas
simbolicamente. Os tipos muito enriquecem o estudo das Escrituras, ainda
que possamos questionar a validade de alguns deles, porquanto pode haver
exageros de interpretação. Na primeira instituição teológica na qual
estudei, houve um curso de um semestre que só tratou do assunto da
tipologia, o que mostra como esse assunto é considerado importante em
alguns círculos.
III. Inspiração Dessa Forma de Interpretação
Os rabinos amavam símbolos,
tipos, alegorias e parábolas. A tipologia tem um pano de fundo judaico, e era
extremamente popular entre os rabinos. O material escrito dos Manuscritos
do Mar Morto (vide) provê ilustrações tanto da interpretação alegórica
quanto da interpretação tipológica. Foi natural que os autores do Novo
Testamento (quase todos eles judeus, acostumados com o estudo do Antigo
Testamento) tivessem visto tipos claros no Antigo Testamento. Assim,
Cristo tornou-se o Segundo (ou Último) Adão (Rom. 12); a primeira páscoa ilustrava
Cristo como nossa Páscoa e a eucaristia (I Cor. 5:6-8); o cordeiro pascal
antecipava o Cordeiro de Deus (João 1:29); Israel no deserto antecipava
certos aspectos da vida cristã (I Cor. 10:1-11). Acresça-se a isso que a
Epístola aos Hebreus é, virtualmente, um estudo de tipos bíblicos, do principio
ao fim. Não se pode duvidar que tipos enriqueceram a teologia cristã.
Porém, algumas vezes, um tipo é obtido ignorando-se o contexto, ou então
através de uma fértil e exagerada imaginação. Por isso mesmo, tipos podem
ser abusados, tornando-se fantasias subjetivas.
IV. Legitimidade da Tipologia e Oposição a Ela
A legitimidade do uso de
tipos alicerça-se essencialmente sobre o fato de que os autores do Novo
Testamento usaram livremente esse método. A inspiração das Escrituras insiste
que este uso é inspirado pelo Espírito de Deus. Do ponto de vista
histórico, salienta-se que o cristianismo nasceu dentro do judaismo, e que
o Novo Testamento foi o desdobramento natural e necessário do Antigo
Testamento. As íntimas correlações entre os dois Testamentos exigiam que o
Antigo se tornasse típico do Novo Testamento. Alem disso, a tradição
profética tem um papel a desempenhar aí, pois há predições sobre Cristo em
muitas passagens, pelo que era inevitável que o documento de predições
também contivesse tipos da Figura sobre a qual predizia.
Oposição. Esta procede, essencialmente, de três setores: 1. Os
rabinos objetavam ao uso tipológico de seus Livros Sagrados, visto que
rejeitavam a Pessoa e a fé religiosa que, alegadamente, estavam
sendo tipificadas. Também objetavam à cristianização do Antigo Testamento,
o que eles consideravam uma perversão, e não um uso legítimo. 2.
Os teólogos liberais objetam aos excessos e abusos a que os tipos
são sujeitados; os mais radicais entre eles objetam à própria prática,
como uma cristianização do Antigo Testamento que vai além do que a
razão permite. Assim, a crítica (que teve início no século XIX, na Alemanha), nunca
deu muito valor aos tipos, e acabou desaparecendo ali. 3. Os céticos
concordam com os rabinos e com os estudiosos liberais mais radicais,
supondo que a prática da cristianização do Antigo Testamento envolve uma
falsidade, repleta de fantasias e exageros piedosos.
V. Características dos Tipos
1. Eles
estão alicerçados na história e na revelação sagradas (Mat. 12:40).
2. São
proféticos (João 3:14; Gên. 14, comparado com Heb. 7).
3.
Fazem parte integral da história sagrada e da doutrina
cristã, e não pensamentos posteriores, inventados por rabinos e
cabalistas (ver I Cor. 10:1-11).
4. São
cristocêntricos (Luc. 24:24,44; Atos 3:24 ss).
5. São
excelentes para instrução e edificação. Cada tipo provê uma espécie de
janela que permite a entrada de luz sobre o assunto ventilado. O livro aos
Hebreus é o supremo exemplo noteostamentário de como funcionam os tipos
bíblicos.
VI. Como Evitar Exageros
Alguns intérpretes
cristãos têm pensado ver tantos tipos no Antigo Testamento que perdem de vista
o valor histórico e religioso do Livro
Sagrado. De maneira
geral, encontramo-nos em terreno firme quan do aceitamos aqueles tipos que nos
são apresentados no próprio Novo Testamento, ou quando suspeitamos
daqueles que não contam com tal confirmação. Entretanto, alguns
intérpretes exageram, ao verem demais nesses típcs. Alguns intérpretes
vêem algum simbolismo em cada peça do mobiliário do tabernáculo, e até mesmo
nos materiais empregados na confecção dos mesmos, como ilustrações de
algo sobre a pessoa e a obra de Cristo. Mas se o relato acerca de Jonas
certamente ilustra a ressurreição de Cristo, o retomo de Jonas à sua terra
natal não i ustra, necessariamente, a restauração de Israel aos seus
territórios, conforme alguns têm dito. Detalhamentos demasiados devem ser
evitados, portanto. Alguns tipologistas têm-se atrapalhado com pormenores
sem base, encontrando tipos dentro de tipos. Devemos procurar pela verdade
essencial, não tentando escrever um livra com oase apenas sobre um tipo, que é
apenas uma ilustração. (B C E ID)