Estudo sobre 1 Coríntios 13

Estudo sobre 1 Coríntios 13

Estudo sobre 1 Coríntios 13


A supremacia do amor (13.1-13)
Dificilmente seria correto referir-se a esse capítulo como uma digressão, visto que fornece aquela característica primordial sem a qual todos os charismata são inúteis. Além disso, o tema dos “dons” como é desenvolvido no cap. 14 prossegue em esclarecer os seus muitos problemas práticos sob o grande tema predominante: Sigam o caminho do amor  (14.1). Este capítulo é o elo essencial entre o princípio exposto no cap. 12 e a prática explicada no cap. 14.
O amor é uma revelação especificamente cristã. A língua grega com toda a sua riqueza, incapaz de expressar essa profunda realidade, forneceu uma palavra vaga para que fosse investida com uma conotação totalmente diferente pelos autores do NT. Enquanto os gregos louvam a sabedoria e os romanos louvam o poder, Paulo escreve um salmo de louvor ao amor que é singular, ignorado ou esquecido num mundo de ódio.
Os três parágrafos desse capítulo são as suas divisões naturais: (1) a ausência de amor não pode ser compensada por outra qualidade qualquer, por mais espetacular que seja, quer dons espirituais quer zelo religioso (v. 1-3);
(2) as suas características, que nos lembram do caráter de Cristo e do fruto do Espírito (v. 4-7) requerem (3) uma continuação eterna quando as qualidades da igreja restritas à terra tiverem cessado para sempre (v. 8-13).
A sensibilidade do apóstolo à natureza do amor é talvez mais adequadamente compreendida quando se destaca, por meio da substituição do amor pelo nome de Jesus, um retrato simples mas perfeito do Cristo encarnado.
v. 1. as línguas dos homens e dos anjos: Embora inclua o dom de línguas (12.30), Paulo vai além disso e inclui todas as declarações extáticas, em línguas conhecidas e desconhecidas, terrenas ou celestiais. Nada pode compensar a falta de amor. amor (agapé)\ Palavra encontrada na LXX, em Fílon e outra literatura greco-judaica, mas, de acordo com o que está atestado até aqui, somente uma vez de forma não ambígua no grego pagão. No grego clássico, as suas formas verbais e adjetivas são usadas para significar contentamento ou afeição, mas excluem todo o sentido de paixão sexual (embora tanto o substantivo quanto o verbo possam ter esse significado na LXX, e.g., 2Sm 13.15).
O termo como é usado no grego do NT é investido de um novo significado e fervor espiritual para, assim, receber uma conotação exclusivamente cristã, sino que ressoa (lit. cobre ou bronze): E preferível a trombeta como sugerem alguns comentaristas (como Phillips). O sino e o prato (“címbalo”, versões tradicionais) estavam associados à adoração pagã. v. 2. dom da profecia [...] todos os mistérios [...] todo o conhecimento: Paulo passa dos dons extáticos para os de instrução, mistérios'. A revelação dos propósitos profundos de Deus por meio do Espírito; cf. Mt 13.11; Ef 3.3ss. conhecimento'. Cf. 12.8.//: Como em 12.9. capaz de mover montanhas'. Um provérbio comum usado para significar grandes dificuldades; cf. Mc 11.22,23. v. 3. que eu dê [...] tudo\ Literalmente, para alimentar com pequenos bocados. O verbo está no aoristo; em um ato, tudo é dado, repartido com os pobres, e entregue o meu corpo para ser queimado-, O supremo auto-sacrifício da forma mais dolorosa.
Pode haver um eco aqui de Dn 3.28, ou possivelmente seja uma referência a um hindu que se queimou vivo em Atenas (Lightfoot). Esse tipo de auto-sacrifício pelo fogo não é incomum nas religiões pagãs hoje. Westcott e Hort defendem de forma contundente a variante “para que eu me glorie” (v. nr. da  1 Coríntios 13.11 NVI) que difere em só uma letra no grego. No entanto, a maioria dos comentaristas apoia a tradução que está no texto da NVI.
Paulo citou todas as quatro classes de dons espirituais: os extáticos (línguas), os de instrução (profecia), os de realização de milagres (fé) e os de ajuda (dar). Sem amor, três resultados seguem: não transmito nada (v. 2), não sou nada (v. 2) e não ganho nada com isso (v. 3). v. 4. paciente [...] bondoso-, Cf. 2Co 6.6; G1 5.22; Cl 3.12. paciente (makrothymeõ): Não um consentimento vacilante e submisso, mas a perseverança paciente diante de injúrias sofridas. E uma qualidade divina; cf. Rm 2.4; IPe 3.20; 2Pe 3.9; lTm 1.16. bondoso: O complemento ativo da paciência, não inveja (zêloo): Aqui usado no seu sentido negativo em contraste com 12.31 (“busquem com dedicação”); cf. At 7.9; 17.5; Tg 4.2. não se vangloria-, O termo não ocorre em outro lugar do NT, mas é usado por autores gregos posteriores para denominar o orgulho intelectual e a exibição retórica — um defeito dos coríntios. v. 5. Não maltrata-. Usado em 7.36 e parece sugerir conduta inapropriada ou descortês, como o comportamento das mulheres em 11.5,6 ou dos ricos na ceia do Senhor em 11.21. não procura seus interesses-, Cf. 10.24,33. O princípio se aplica a causas judiciais em 6.1ss. não se ira facilmente-, “não se ofende facilmente” (NEB). Em At 15.39, o substantivo é traduzido por “desentendimento [...] sério”, não guarda rancor. O amor não guarda ressentimento. Lit. “não fica somando”, uma palavra que vem da contabilidade. V. a NEB e Phillips. Cf. Rm 4.8; 2Co 5.19; 2Tm 4.16. v. 6. injustiça-, i.e., o mal cometido por outros; cf. Rm 1.32; 2Ts 2.12. se alegra com a verdade-, O amor e a verdade se unem para se alegrar nos seus triunfos sobre o mal; cf. 2Co 13.7,8; Tg 3.14. Cristo é a verdade (Jo 14.6); o Espírito também (ljo 5.7). v. 7. Tudo sofre (stegõ):
Com base no sentido fundamental de “cobrir”, “abrigar”, emergem dois usos: (1) proteger o que está coberto e, ao fazê-lo, (2) suportar o que desce sobre isso. Este último significado é o mais comum como em 9.12; lTs 3.1,5. tudo crê: Embora o amor aprenda o discernimento espiritual, ele mantém a sua fé nos outros. É muito melhor ser enganado e sofrer em um caso duvidoso e sofrer prejuízo do que, como cético, machucar alguém em que se deveria ter confiado. Nesse espírito, espera olhando para o triunfo final da verdade e suporta, inabalável, todas as coisas; cf. Rm 8.25; 2Tm 2.10. A perseverança é mais operante do que a paciência, v. 8.profecias [...] línguas [...] conhecimento [...] passarão: O contraste é com o amor incessante. Os três dons principais são considerados ilustrações de todos os charismata que são puramente temporários e transitórios, concedidos para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4.11-16), um processo a ser concluído na consumação quando vier o que éperfeito (v. 10). Na presença imediata de Deus, os profetas, a fala extática e o conhecimento limitado se tornam todos desnecessários. Observe a força de katargêthèsontai: passarão — tornar-se-ão inúteis, ineficazes (cf. 1.28 e comentário).
v. 9. em parte-, O conhecimento e as profecias presentes são somente “fragmentados”, v. 10. quando [...] vier o que é perfeito: Antevê a parousia, a culminação desta era. Sugerir que a perfeição se refere à conclusão do cânon das Escrituras não tem nenhum apoio no uso bíblico de “perfeito” e em nenhuma de suas formas cognatas. Tal interpretação existe somente em virtude da necessidade de explicar a ausência de alguns charismata em muitas igrejas hoje. v. 11,12. Esses versículos são uma ilustração da condição definitiva do que éperfeito (to teleion) em contraste com o que é imperfeito no presente. Os tempos empregados dão força às ilustrações; três imperfeitos — falava, pensava, raciocinava — denotando ação habitual no passado, seguidos de um perfeito — Quando me tornei homem (“agora que me tornei homem”, como está na RV é melhor), dando o sentido de completude. deixei para trás (katêrgêka) as coisas de menino: É a quarta ocorrência do verbo katargeõ nos v. 8-11, anteriormente traduzido por desaparecerão (passivo no gr., o equivalente a “terão desaparecido”), destacando novamente a natureza transitória de todos os dons e, por implicação, a natureza duradoura do amor que vai coroar o Dia final. v. 12. apenas um reflexo obscuro'. Os espelhos de metal polido de Corinto eram famosos, mas na melhor das hipóteses refletiam uma imagem um tanto manchada ou distorcida. Lit. a frase significa em mistério ou em enigma, e é traduzida por Moffatt por “reflexos desconcertantes”. O sentido está claro. O nosso conhecimento somente fragmentado e nossa argumentação às vezes defeituosa nos fazem com frequência deduzir uma imagem distorcida da realidade divina. Na vinda dele, vamos ver e conhecer de uma forma tão direta que até agora nos é desconhecida, face a face. Cf. Nm 12.8; Jó 19.26,27; ljo 3.3; Ap 22.4. conheço em parte; então, conhecerei plenamente-. O conhecimento comum a todos os crentes, e não os charismata do v. 8, que desaparecerão, v. 13. agora'. No seu sentido lógico e não temporal, a fé, a esperança e o amor. Em contraste com os dons transitórios, esses três permanecem, até mesmo na vinda do Senhor, permanecem'. O verbo no grego está no singular, embora o sujeito esteja no plural, indicando a unidade indissolúvel dessas virtudes. O maior deles [...] ê o amor. “O amor é o telhado dos outros dois”; “O amor crê em tudo, espera tudo”. A fé e a esperança são puramente humanas; o amor é divino” (Robertson e Plummer).

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