Estudo sobre 1 Coríntios 15
A RESSURREIÇÃO (15.1-58)
Embora não haja nenhuma
sugestão de que os coríntios tivessem escrito acerca da ressurreição, o
apóstolo, evidentemente, tinha ouvido relatos de distorções se arraigando
na igreja. Alguns até estavam negando a possibilidade da ressurreição (v.
12). Não é de admirar que esse problema tenha existido, pois nada no
pano de fundo grego dos convertidos gentios sugere a plausibilidade de uma
ressurreição física (cf. At 17.18,32). A minoria judaica na congregação,
embora provavelmente aceitasse a doutrina em virtude de seus antecedentes
históricos no AT, não estaria em condições de influenciar a
maioria dos gentios. A resposta de Paulo, o resultado de convicções
inabaláveis e de argumentação lúcida, demonstra a posição de importância
fundamental que essa doutrina ocupa na fé cristã. Levando-se em
consideração a ressurreição histórica de Cristo (v. 3-11), a sua
negação não somente relega o Messias ao túmulo de um mártir, mas torna a
fé inútil, o pecado triunfante e a esperança da glória um mito
desprezível (v. 12-19). Em termos de verdade objetiva, o Cristo ressurreto
dos mortos dá a garantia para a ressurreição humana, a vitória sobre a
morte, a subjugação do mal e a capacitação diária para o
serviço cristão (v. 20-34). Mas como os mortos ressuscitam? Prevendo
dúvidas inevitáveis, o apóstolo, com base na natureza, na história do
AT e na revelação cristã, descreve o corpo que um dia existirá (v. 35-58).
1) A ressurreição de Cristo
(15.1-11) O Cristo ressurreto era fundamental para o evangelho de
Paulo (v. 1-4); estava historicamente comprovado (v. 5-8) e era uniformemente
pregado por todos os apóstolos (v. 9-11).
v. 1,2. quero
lembrar-lhes: Assim também a ARA e a NTLH. Mas muitos
comentaristas preferem o “declarar” ou “tornar conhecido” da VA e RV;
assim: “Também vos notifico”, na ARC, sugerindo que esse não é um
mero lembrete, mas uma declaração enfática da mensagem revelada
originariamente. Observe o uso em G1 1.11: “quero que saibam”. preguei
[...] receberam: Os dois aoristos lembram o tempo específico em que
eles vieram a crer. no qual estão firmes: Um perfeito,
significando a posição já tomada, cujos resultados continuam operantes até
o presente, vocês são salvos: Um presente contínuo, destacando
a natureza progressiva da salvação deles; cf. 1.18; 2Co 2.15. desde
que se apeguem firmemente-. Negar a ressurreição seria abandonar o que Paulo tinha
ensinado, pois sem a ressurreição eles teriam acreditado em vão. em vão
(eike)\ Sem fundamento. Se a compreensão que tinham do evangelho
não os comprometia com a crença na ressurreição, a sua fé não os salvaria.
v. 3. Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi-, V.
comentário de 11.23. O ponto essencial era que a mensagem não constituía
invenção de Paulo; ele simplesmente transmitiu a verdade e os fatos que
tinham sido confiados a ele.
Cristo morreu, Uma morte expiatória, pelos nossos pecados-,
cf. 2Co 5.21; G1 1.4; Hb 9.28; 10.12; IPe 2.24; 3.18 etc. segundo as
Escrituras: Um fato que os discípulos tiveram dificuldade de aceitar
no início; cf. Lc 24.26ss; v. At 3.18; Is 53. v. 4. foi sepultado:
A evidência da sua morte. Além dos autores dos Evangelhos, só Paulo se refere a
isso no NT; cf. At 13.29; Rm 6.4; Cl 2.12. ressuscitou: Lit.
“foi ressuscitado”. Paulo muda dos verbos no aoristo para o perfeito,
indicando a vida contínua após a ressurreição; cf. Rm 6.9. V. usos semelhantes
do perfeito nesse capítulo nos v. 12,13,14,16,17,20. segundo as
Escrituras: Is 53.10-12; SI 16.10. V. tb. Lc
24.46. v. 5-7. Esses versículos dão uma lista limitada das aparições após
a ressurreição. Pedro: Lc 24.34. aos Doze-, Um termo geral
para apóstolos, com a exceção de Judas. Quinhentos irmãos-.
Acontecimento não registrado nos Evangelhos, mas o fato de a maioria ainda
estar viva na época da composição da carta era uma prova irrefutável.
Tiago: Provavelmente o irmão do nosso Senhor, a todos os
apóstolos: Pedro é citado como uma referência aos Doze, de modo
que os apóstolos que seguem Tiago (pressupondo que ele seja
o irmão de Jesus) são uma referência a um círculo um pouco mais amplo
de seguidores de Jesus. O uso de “apóstolo” em Paulo é de aplicação
bem abrangente; v. comentário de 12.28. No que tange a Pedro e Tiago,
a informação de Paulo, provavelmente, foi obtida durante a sua visita a
Jerusalém descrita em G1 1.18,19.
v. 8. depois destes
[gr. “por último”] [...] também a mim: “até a mim” (NEB); uma referência
à sua experiência na estrada de Damasco, cuja nitidez nunca se enfraqueceu na
sua memória; cf. At 22.6-11; 26.12-18. um que nasceu fora de tempo:
Poderia apontar para a brusquidão dramática do seu nascimento espiritual e a
maneira extraordinária em que ele se juntou ao grupo apostólico, ou, em
concordância com o v. 9, ser um termo insultuoso usado pelos seus inimigos
— o aborto de um apóstolo — uma acusação que ele nem mesmo se
esforçava em desmentir. Ainda outra sugestão é que a conversão de Paulo (da
oposição violenta a Cristo) é uma prefiguração do dia em que todo o Israel
o verá, mas que já aconteceu antes do tempo devido, v. 9. sou
o menor dos apóstolos e nem sequer mereço...: menor, não na natureza
do seu apostolado (cf. 9.1,2; 2Co 11.5; 12.11,12), mas porque
ele perseguiu a igreja de Cristo; cf. lTm 1.15; Ef 3.8. Isso ele também nunca esqueceu; cf.
G1 1.13; lTm 1.12-14; At 26.9-11. v. 10. Mas, pela graça de Deus:
A indignidade de Paulo serve apenas para realçar a graça soberana. [não
foi] inútil (kenos): Vazio, sem resultados. trabalhei mais que
todos eles...: Indica a natureza da graça concedida; uma capacitação divina
de poder; v. exemplos desse uso nas cartas de Paulo em 3.10; 2Co 9.8; 12.9;
Ef 3.7; 2Tm 2.1.
Não foi Paulo, mas a graça
de Deus que trabalhou, v. 11. quer [...] eu, quer [...] eles:
Independentemente da importância comparativa ou da intensidade da atividade
deles, todos os apóstolos pregam (pregamos, presente contínuo)
o mesmo evangelho do qual a ressurreição é uma parte inalienável. E nisso
os coríntios creram (aoristo). Tanto a ressurreição quanto a fé que
tinham nela eram fatos históricos.
2) As consequências de negar a ressurreição
(15.12-19)
A negação da ressurreição
dos mortos precisa, inevitavelmente, incluir a negação da ressurreição de
Cristo, que, por sua vez, exige a admissão de que os pregadores são falsos,
a fé é vã, o pecado permanece e os cristãos que já morreram, na
verdade, pereceram. Não há esperança.
v. 12. alguns de vocês.
Provavelmente crentes gentios que, embora aceitassem o conceito grego da
imortalidade da alma, não conseguiam aceitar a ressurreição física.
Se a ressurreição de Cristo é um fato provado, que nenhum deles
negava, é ilógico dizer que não há ressurreição dos mortos, v. 13. nem
Cristo ressuscitou-. Visto que eles nunca haviam questionado a
ressurreição de Cristo, a argumentação de Paulo revela a inconsistência
da afirmação deles. v. 14. é inútil a nossa pregação (kêrygma):
kêrygma não se refere ao fato da pregação, mas ao seu conteúdo; cf.
1.21; 2.4. A mensagem é inútil (kenos, como no v.
20): Sem sentido, e, inevitavelmente, também é inútil a sua fé
nessa mensagem, v. 15. seremos considerados (heuriskometha): Com
frequência, usado em juízos morais quando se detectava o verdadeiro
caráter de um indivíduo ou a natureza de uma questão; assim “fomos
até descobertos como sendo” (Bíblia Ampliada). contra eles
testemunhamos-. Aqui kata tou theou (de Deus) de fato pode ser
traduzido por “contra Deus” (o seu significado mais comum), como temos aqui
na NVI (também a ARA: “temos asseverado contra Deus”), i.e., acusando
Deus de ter feito algo que ele não fez. No entanto, provavelmente seja
melhor traduzir simplesmente por “a respeito de Deus”, em
concordância com a frase anterior: falsas testemunhas de Deus
(assim também a ARC: “testificamos de Deus”), v. 17. inútilé a
fé-. Certamente esse é o caso se o pecado permanece sem expiação, mataios
{inútil)-. Difere pouco de kenos (v. 14), exceto pelo fato
de que se ocupa mais com a falta de resultado, e kenos, com a falta de
realidade.
Em seus pecados, A libertação depende de Cristo ter ressuscitado dos mortos; cf. Rm 4.24,25;
6.1-11; Ef 2.1,5. v. 18. Mesmo negando a possibilidade da ressurreição
da humanidade, os coríntios confiavam plenamente em que os que dormiram
em Cristo seriam salvos, sendo unidos com ele num estado pós-morte. O
apóstolo, portanto, demonstra que nenhuma salvação é possível se não
há ressurreição, estão perdidos (apõlonto). Experimentando a
ruína total, não a extinção, mas a total perda da salvação pela qual
esperavam em Cristo, pois são os que não estão em Cristo e
morrem que perecem; cf. 1.18; 2Co 2.15; 4.3.
v. 19. somente-, E
enfático e qualifica ou esperança (como na RSV), ou para esta
vida (como aqui na NVI e NTLH), ou a oração toda, i.e.: “Se nesta
vida temos esperança em Cristo e não temos nada além disso”. Esta é a
formulação preferida de muitos comentaristas. O particípio perfeito com o verbo
“ser” expressa não o que fazemos, mas o que somos: somos os que esperam. A
esperança busca o cumprimento (cf. Rm 5.1-5; 8.24,25; lTs 4.13,14),
mas, se a ressurreição for negada e não houver nada além da morte, somos,
de todos os homens, os mais dignos de compaixão.
3) As consequências da ressurreição de Cristo
(15.20-28)
Deixando de lado as
conclusões terríveis que precisam seguir qualquer doutrina
da não-ressurreição, o apóstolo agora alista as consequências
gloriosas de Cristo ser levantado dos mortos. O homem certamente
vai ressuscitar, assim como é certo que todos precisam morrer. E uma
questão de ordem: Cristo primeiro; depois, quando ele vier novamente, os
que são seus também vão ressuscitar. Como as primícias, ele subjugou
a morte; mas agora, como Soberano, ele subjuga todo o mal sob os seus pés,
e a morte, o último inimigo, já não pode aterrorizar ninguém. Paulo
contempla a última e majestosa cena; a história da terra termina quando o
Filho liberta o reino e o entrega ao Pai, e Deus é tudo em todos.
v. 20. Mas de fato
Cristo...: O argumento do parágrafo anterior, fundamentado numa premissa
falsa (v. 13,14), terminou em tragédia. Paulo agora argumenta com base
num fato, um fato que os coríntios aceitam, primícias: Que lembram
o primeiro feixe de cereal do campo trazido ao templo com ações de graças
e oferecido ao Senhor (cf. Lv 23.10ss), uma promessa da colheita completa
ainda a ser feita. Outros haviam sido ressuscitados, mas depois
morreram novamente. Cristo é as primícias de forma singular, pelo
fato de que ele morreu, ressuscitou e está vivo para sempre (Ap 1.18;
Rm 6.9) na expectativa dos crentes que dormiram, mas serão ressuscitados
com ele para sempre; cf. lTs 4.16,17. v. 21. Visto que a morte veio por
meio de um só homem [...] por meio de um só homem: Visto
que a questão é desenvolvida a partir do conceito de primeiros
frutos, o pensamento sugere unidade de espécie. Esse tema do
último Adão é desenvolvido com mais detalhes em Rm 5.12-21. morte.
O castigo pelo pecado que resultou da rebeldia de Adão. v. 22. todos morrem
[...] todos serão vivificados: A inclusão de todos é determinada
pelo contexto. Com frequência se argumenta que, visto que todos os
que estão em Adão, i.e., toda a humanidade, morrem, assim todos
os que estão em Cristo, i.e., todos os redimidos, serão
vivificados. No entanto, nesse texto Paulo está pensando
primordialmente nos que dormiram (v. 18), a quem também o v. 20,
provavelmente, é uma referência. Os descrentes que morreram não estão
em consideração aqui. Portanto, todos pode ser uma referência aos
crentes nas duas orações: todos os que crêem morrem
porque estão em Adão, e todos esses serão
vivificados porque estão em Cristo. Temos mais apoio para
isso no v. 23, em que se afirma a ordem da ressurreição — cada um por
sua vez; primeiro Cristo, depois os que são dele. O apóstolo não negaria a
ressurreição dos perdidos, mas eles não são mencionados na ordem
aqui, pois eles simplesmente não fazem parte do tema de Paulo nesse
capítulo.
v. 23. cada um por sua
vez (tagmd): Forma cognata de taxis (14.40), uma metáfora
militar, sugerindo pelotões aparecendo em ordem e posição adequadas, quando
ele vier (parousia): A segunda vinda. A palavra em si é de
aplicação geral para qualquer chegada ou presença de um indivíduo, como
em 16.17; Fp 2.12; 2Pe 1.16. Quando usado em referência à segunda
vinda de Cristo, muitas vezes sugere não simplesmente a chegada, mas
a sua presença contínua; cf. Mt 24.3,37; lTs 4.15ss; 5.23; 2Ts 2.1,8; Tg
5.7,8; 2Pe 3.4.
v. 24. Então virá o fim
(telos): O fim absoluto — o término da história mundial —, e não uma
terceira ordem com a ressurreição dos perdidos; cf. Mt 24.6,14; Mc 13.7; Lc
21.9; IPe 4.7. Então dá espaço para um intervalo entre a vinda
de Cristo e a consumação final; um período para a destruição de todos os
poderes de oposição; um período que culmina no fato de ele entregar o Reino
para Deus; cf. 2Ts 1.7-10. quando (hotari): Denota indefinição de
tempo, o Reino (basileia): Observe a pregação inicial de
Jesus e o seu propósito em estabelecer esse reino, ou soberania;
um domínio espiritual (Cl 1.13) não somente na vida do seu povo (Lc
17.21) mas também visível, um reino ainda futuro; cf. Lc 19.1
lss; 21.10ss, especialmente o v. 31. V. tb. 2Tm 4.1. Essa soberania,
uma comissão concedida ao Filho, será cumprida quando ele entregar
o Reino a Deus, o Pai. ter destruído (katargeõ): Cf. 1.28;
13.8 — tornar inoperante — a oposição é suprimida, domínio, autoridade
e poder. Palavras que não são más em si mesmas; o seu conteúdo é
determinado pelo contexto. Eles são declarados inimigos no v. 25.
v. 25. é necessário que
ele reine até..:. Necessidade forte; tanto a palavra profética (SI 110.1)
quanto a comissão divina do reino o requerem, até que [...] debaixo
dos seus pés: Até que Deus tenha posto todos os inimigos
de Cristo debaixo dos pés de Cristo, de acordo com SI 110.1. v. 26. O
último inimigo [...] a morte-, A ressurreição encerra o poder
da morte sobre aqueles que estão em Cristo; cf. Lc 20.35,36. O estado dos
descrentes mortos não é mencionado porque aqui Paulo está interessado nas
condições que afetam os crentes, v. 27. Porque ele...: Uma referência
a SI 8.6, que é uma alusão à posição de domínio do homem sobre toda a
criação. Como o último Adão, Cristo, o homem perfeito, realiza
o propósito de Deus no sentido mais sublime possível. Hebreus 2.5-9
faz uma exposição semelhante, se diz, provavelmente, é a melhor
tradução. (Mas v. a NTLH: “As Escrituras Sagradas dizem”). Outras versões
trazem “Ele diz”, indicando ou o salmista falando a Deus, ou Cristo falando por meio do salmista, i.e.,
anunciando a subjugação de todas as coisas. v. 28. então o próprio Filho se
sujeitará...-. A questão aqui é de função. Assim como o Filho
encarnado era submisso ou subordinado ao Pai para efetuar a redenção eterna
na sua primeira vinda (cf. Jo 5.19; 8.42; 14.28), e naquele sentido o
reconhecia como superior, ao vir de novo uma segunda vez para
o cumprimento final dessa comissão, o mesmo relacionamento continua.
Com a tarefa concluída, o Redentor, o Mediador do homem, entrega o reino
àquele que o enviou. A igualdade e a unidade essenciais deles permanecem; v.
comentário de 3.23. Deus seja tudo em todos-. Tendo o Filho
concluído a sua função mediadora, o Pai agora reina não por meio de
Cristo, mas como “soberano imediato do Universo” (Hodge).
4) Argumentos com base nas atividades cristãs
(15.29-34)
Com brusquidão típica,
Paulo termina a sua argumentação bem fundamentada e agora se volta com
paixão evidente para a realidade da experiência diária, como
que frustrado pela incapacidade de os coríntios compreenderem que a
esperança da ressurreição estava por trás de toda palavra de testemunho e do
estilo de vida dele. Arriscar a própria vida por Cristo seria loucura
completa se os mortos nunca ressuscitassem. O fato de eles rejeitarem
a verdade é um pecado que ameaça minar toda a sua experiência cristã.
v. 29. que se batizam pelos
mortos-. Uma das frases mais difíceis das Escrituras. Uma das muitas
interpretações sugeridas, provavelmente a mais plausível, é a que
considera a prática uma forma irregular de batismo, possivelmente por
“procuração” ou em substituição (assim Moffatt) por aqueles que morreram sem
serem batizados.
Parece que o texto quer
dizer isso, pois pelos, “no lugar dos”, é a tradução natural de hyper.
No entanto, esse tipo de
batismo não é registrado antes da época de Tertuliano. A óbvia futilidade
dessa prática, se os mortos não ressuscitassem, fortaleceria
grandemente o argumento de Paulo. Argumentaria ele com base em uma
prática tão herética sem condená-la? Ele poderia ter feito isso. Que
ele não se identifica com essa prática fica claro com base no uso do
pronome aqueles, ao passo que no versículo seguinte ele volta ao
pronome nós (RSV: “Eu”). Outros consideram o termo aqui uma
referência à prática regular do batismo cristão e traduzem a
expressão assim: “com o interesse na ressurreição dos mortos”, i.e.,
esperando ser ressuscitados. O texto grego não quer dizer isso. Ainda
outros sugerem um batismo de sofrimento ou morte, como em Lc 12.50. Além
da dificuldade de fazer o texto grego dizer isso, Corinto não era uma
igreja perseguida. Grosheide dá uma interpretação que traduz hyper
por “acima”, sugerindo que os cristãos em Corinto eram batizados
acima dos túmulos dos crentes mortos, assim experimentando a sua unidade
em Cristo com eles. Embora esse seja um fenômeno histórico, não há nada
que associe a prática com Corinto. O ponto de vista de Crisóstomo de que o
batismo em todo caso era pelos mortos, i.e., da pessoa por si
mesma como morta em pecado, ilustra como desde os primeiros séculos
da igreja esse versículo tem sido um problema constante, v. 30. por que
estamos nos expondo a perigos...?-. Um apelo à maneira de viver de
Paulo e de seus colegas. Se não há ressurreição, a sua conduta
é insensata. Por que jogar a sua vida fora? Cf. Rm 8.36; 2Co 4.11; 11.23ss.
v. 31. pelo orgulho que tenho de vocês-. Uma garantia de que ele
está falando a exata verdade, i.e., “tão certo como tenho orgulho de
vocês, todos os dias eu morro”. Cf. Moffatt e a NEB. Apesar dos seus
defeitos na depravada Corinto, Paulo via nos coríntios muito por que ser grato;
cf. 1.4-9; v. tb. 2Co 7.14. Todos os dias enfrento a morte-, Cf. 2Co
1.8-10; 4.7-12; 11.23b. v. 32. com feras em Efeso: Refere-se quase
certamente não a um enfrentamento na arena — isso seguramente teria sido
registrado em Atos ou em 2Coríntios —, mas às batalhas ferrenhas com
os judeus e gentios naquela cidade quando a sua vida estava
seriamente ameaçada. O texto de 2Co 1.8,9 pode ser uma referência a
isso. “comamosUma citação de Is 22.13 e uma filosofia razoável se
não há ressurreição. Nesse caso, o homem não é melhor do que as feras que
perecem (cf. Ec 2.24; 3.21). v. 33. Não se deixem enganar. A partícula de negação mê
com o imperativo presente provavelmente sugere “Parem de ser enganados...”,
i.e., por essa doutrina nociva. “As más companhias.Continuar em
companhia de pessoas que rejeitam a ressurreição vai corromper o caráter
cristão. A citação é uma linha de Menandro {Thais), c. 320
a.C., embora na época de Paulo possa ter sido um provérbio grego bem
conhecido, v. 34. parem de pecar. A categoria à qual na verdade
pertence a atitude deles. O seu erro doutrinário tem implicações morais;
eles tinham errado o alvo. não têm conhecimento de Deus (agnosia)-. A posição de ênfase do substantivo é expressa por Robertson
e Plummer: “Pois ignorância total de Deus é o que alguns obtiveram”. agnosia
denota a falta de obter conhecimento, não simplesmente a ausência dele.
5) A natureza da ressurreição (15.3549)
Paulo não está disposto a
tratar de questões tolas, mas, aceitando as dúvidas antecipadas deles, ele
dirige a atenção dos leitores para o mundo em que vivem, para coisas
que eles conseguem ver e compreender. O corpo da ressurreição? E como
a semente que morre antes de germinar e crescer. Então aparece em
outra forma, uma forma diferente para cada tipo de semente (v. 35-38).
Essa diferenciação é discernível em todo o reino animal (v. 39) e pode ser
vista na infinita diversidade das estrelas (v. 40,41). O princípio, óbvio
na natureza, ilustra a ressurreição do corpo. O homem, a semente, é
semeado perecível, em desonra e em fraqueza, de forma física, mas
é ressuscitado como ser transformado. A semelhança terrena vai ser
transformada em semelhança celestial (v. 42-49).
v. 35. “Como [...] que
espécie de corpo...?”-. Paulo trata da última pergunta primeiro e
em detalhes, enquanto a primeira só é respondida por implicação, pois é um
ato de Deus a ser aceito por fé. v. 36. Insensato! {aphrõn)-.
Sugere falta de
entendimento. “Uma pergunta absurda” (NEB). Eles já deveriam saber mais que
isso; a ressurreição é bem ilustrada nas coisas com as quais eles estão
bem familiarizados. Isso é destacado pelo enfático você na
expressão você semeia, nasce-, Um verbo na voz passiva em grego. O
processo de vivificação e de germinação vem de Deus e depende da
morte da semente — a não ser que morra. Ambos são fundamentais para
a ressurreição, v. 37,38. o corpo que virá a ser. Embora
diferente na aparência, na essência é igual, pois o trigo gera
trigo — a cada espécie de semente dá seu corpo apropriado —,
sugerindo continuação de natureza ou identidade essencial. Deus lhe dá
esse corpo. Observe a resposta implícita ao como do v. 35.
Os v. 39,40,41 explicam a frase cada espécie [...] seu
corpo apropriado. A diversidade é farta na criação de Deus, não por
acaso, mas dada por Deus. Além disso, embora exista uma diferenciação das
espécies — homens, animais, aves, peixes, estrelas —, mesmo assim,
em cada classe ainda há numerosas diferenças que distinguem uma
criação individual de outra, pois as estrelas diferem em esplendor umas
das outras. Se, portanto, no Universo presente, essas
características estão evidentes nas diversas categorias da criação, Deus é
perfeitamente capaz de revestir cada crente individual com um novo corpo
ressurreto na vinda de Cristo, que estará em perfeita harmonia com o
seu próprio ser essencial (cf. v. 42a). corpos celestes-. Enquanto
alguns comentaristas sugerem que essa é uma referência a seres celestiais, em
contraste com seres terrenos (corpos terrestres), a tendência das opiniões é interpretar a frase em termos do v. 41 — o sol,
a lua e as estrelas. Isso inclui um sentido duplo de corpos
(sõmata), pois corpos terrestres, indubitavelmente, denotam organismos
vivos na terra.
v. 42,43,44. Assim será.
Com base no princípio anterior, a natureza do corpo da ressurreição agora está
definida mais claramente. dos mortos-. Crentes, como em todo o capítulo.
Usando novamente a figura da semente, são introduzidos os conceitos perecível,
em desonra e em fraqueza, todos característicos do corpo
natural (psychikos), o corpo adequado para esta vida transitória, perecível.
Cf. Rm 8.21; G1 6.8; 2Pe 1.4; 2.12,19.
Em desonra: Já usado em 11.14 e traduzido por “[paixões] vergonhosas” em Rm 1.26; “humilhação”
(NEB) dá esse sentido (cf. Fp 3.21). Em contraste fortíssimo, os termos imperecível, em glória
e em poder retratam o corpo espiritual que virá a ser; são
qualidades que o tornam perfeitamente adaptado à nova vida a ser
vivida, glória traduz o original doxa, traduzido por “esplendor”
nos v. 40,41.
Emergem aqui dois fatos:
(1) Deus pode gerar vida a partir da morte; e (2) O novo corpo, embora idêntico
em essência ao primeiro, é tão diferente dele como a planta é
diferente da semente, natural (psychikos): Significa
o que pertence à alma ou vida do homem, i.e., o que ele é em Adão. V.
comentário de 2.14. espiritual (pneumatikos): Denota o
que pertence ao espírito, gerado e controlado pelo Espírito de Deus.
Cf. 2.13,15; 3.1; 14.37. v. 45. Assim está escrito: Somente a
primeira parte da frase se refere a Gn 2.7 (observe as aspas na NVI).
A segunda parte é o comentário de Paulo, primeiro e Adão são
inserções do apóstolo, para dar o sentido correto
nesse contexto. O contraste é entre o primeiro e o último Adão. O
primeiro Adão se tornou uma alma que possuía vida; o último Adão,
um espírito que compartilhava vida. Adão e, portanto, a humanidade estão
no nível natural, sujeitos à decadência; Cristo, no nível espiritual — espírito
vivificante, o último Adão: No primeiro, o homem encontra a sua
gênese; no último, ele atinge o seu alvo. v. 46. o natural; depois
dele, o espiritual. Uma lei geral — o tempo de semeadura precede a
colheita, o físico é preparatório para o espiritual, v. 47,48,49. Assim
como os corpos físico e espiritual foram comparados (v. 42-44), agora
Adão e os que estão nele são comparados com Cristo. De um lado, está o
homem do pó e toda a humanidade, os que são semelhante.f; do
outro, o homem celestial e nós que teremos também a imagem do
homem celestial na ressurreição. A expressão da terra
representa bem a origem do homem, assim como dos céus denota a
origem de Cristo. O primeiro homem está no topo da velha criação, o
segundo homem, no topo da nova. Assim como tivemos a imagem...: O
verbo está no aoristo, possivelmente considerando isso na sua totalidade.
Lit. “Nós colocamos”; o verbo é comumente usado para se referir a
vestir roupa, teremos também: O peso da evidência textual
pende para o subjuntivo phoresõmen (“tenhamos”; v. nr. da NVI), mas
o contexto exige o futuro phoresomen (teremos). Praticamente não
havia diferença de pronúncia entre essas duas formas na época do século
I d.C. Refere-se ao dia da ressurreição. Observe a ideia semelhante no v.
53. Teremos a imagem (semelhança) de Cristo; cf. Rm 8.29; 2Co
3.18; Fp 3.21; Cl 3.10; ljo 3.2.
6) O resultado da ressurreição (15.5058)
Não importa se estivermos
vivos ou mortos na vinda de Cristo, essa transformação maravilhosa ocorrerá;
terá vindo o dia da ressurreição, e a vitória final de Cristo será proclamada.
O v. 50 serve melhor como
introdução ao argumento novo (como aqui na NVI) do que como conclusão do
argumento anterior (RSV). o que é perecível: Isto é, o homem físico (carne e
sangue) como ele está neste mundo precisa de transformação; sem ela,
ele não herda nada. Não é este corpo físico presente que vai encontrar a
sua posse no Reino, herdar. Aqui entendido no sentido mais amplo de
tomar posse definitiva na vinda de Cristo, v. 51. um mistério:
Cf. 2.7; 4.1; 13.2; 14.2; aqui, o fato de que tanto os vivos como os
mortos vão experimentar a transformação física imediata na vinda de
Cristo, para possuir o Reino, e tudo que o termo imperecível
quer dizer; cf. os v. 50,53. Nem todos dormiremos: Paulo
estava preparado para a volta iminente de Cristo, mas também para a
morte; cf. 2Co 4.14; 5.110; Fp 1.21-24. Cada um deve estar em estado constante
de prontidão; cf. Mc 13.32,33, 37; At 1.7; lTs 4.13ss; Fp 4.5; Rm 13.11,12; ICo
7.29-31; 16.22.
v. 52. última trombeta-.
A manifestação final de Deus ao homem na sua condição terrena. Ela anunciou a
descida do Senhor sobre o Sinai; cf. Êx 19.16; Hb 12.19. V. tb. Mt 24.31; lTs
4.16; Ap 11.15. O v. 53 aplica o princípio do v. 50. corruptível e mortal
são usados como sinônimos, embora a segunda seja uma palavra mais
abrangente, se revista, Um aoristo indicando a natureza momentânea
da mudança; cf. o v. 52. O verbo (endyõ) “sugere que há um elemento
contínuo nas novas condições” (Robertson e Plummer). V. 2Co 5.4. v.
54. A referência é a Is 25.8. “A morte foi destruída...”-. O
momento da aparição de Cristo, quando a morte for totalmente destruída
(cf. v. 26). “... pela vitória"-. Formulação própria de Paulo da
expressão hebraica, diferindo da LXX — embora a LXX seguidas vezes
formule a expressão dessa maneira em outros textos, e a escolha de Paulo
da formulação aqui providencie um elo com vitória em Os 13.14,
citado no versículo seguinte, v. 55. "... 6 morte...”-. De Os
13.14. sua vitória: Reinou a partir de Adão; cf. Rm 5.14. seu aguilhão-.
Retrata a morte como venenosa. As presas de Satanás estão expostas.
(O termo “inferno” [ARC] no
lugar do segundo “morte” reflete a variante inferior [hadês] do
“Texto Recebido”.) v. 56. O aguilhão da morte ê o pecado-. O pecado
causa a morte; cf. Rm 5.12,13,21 etc.
a força do
pecado ê a Lei-. Paulo explica
isso em Rm 7.4-20. v. 57. a vitória por meio [...] Cristo-,
Ele é o fim da lei (Rm 10.4); livre do pecado (IPe 2.22); vencedor da
morte (At
2.24); redentor do seu povo (Hb 9.28). dá. O
particípio presente não somente significa que é a característica de Deus
dar a vitória, mas que essa vitória pode ser experimentada
continuamente. v. 58. mantenham-se firmes, e que nada os abale-,
Cf. 7.37; 16.13; Cl 1.23; uma compreensão sólida do fato da
ressurreição vai fortalecer a sua posição e intensificar o incentivo
para o serviço; cf. 3.13ss; 15.10; 2Co 9.8. Contraste com isso as versões
tradicionais em português: “Sede firmes” (ARA, ARC, ACF).
VIII. CONCLUSÃO (16.1-24)
Paulo chega à
conclusão de sua carta, ao tratar brevemente de uma série de assuntos que
ainda requerem a sua atenção.Índice: 1 Coríntios 1 1 Coríntios 2 1 Coríntios 3 1 Coríntios 4 1 Coríntios 5 1 Coríntios 6 1 Coríntios 7 1 Coríntios 8 1 Coríntios 9 1 Coríntios 10 1 Coríntios 11 1 Coríntios 12 1 Coríntios 13 1 Coríntios 14 1 Coríntios 15 1 Coríntios 16