Estudo sobre Jeremias 51
Jeremias 51
Os planos de Deus para a Babilônia (51.1-19). A profecia contra a Babilônia continua por meio do destaque de diversas formas literárias (cf. a metáfora mais intensa dos v. 20-23 e o cântico de escárnio dos v. 41-43). Aqui é usado o artifício em que as expressões têm duplo sentido, em parte por meio do uso de um criptograma invertido em que se usam letras alternadas (v. a explanação em 25.26). Assim, o povo de (v. 1), lit. “o coração daqueles que vêm contra”, como na VA, está no lugar de “caldeus” (heb. kasdim)-, peneira [-los\, no lugar de “estrangeiros” (raiz heb. semelhante), e Sesaque (VA, RV, cf. NEB), no lugar de “Babel” (v. 41), Babilônia. A lição é clara. A antes gloriosa Babilônia agora está incuravelmente enferma. Nada e ninguém pode curá-la (v. 8,9; cf. 8.22; 46.11). O final virá repentinamente antes que alguém tenha tempo de levantar o arco ou de pôr a armadura (v. 3). Isso de fato aconteceu na queda da cidade, e a leitura “para” (W) é preferível a “não” ('al)\ “Que o arqueiro saque...” (J. Bright). A única esperança de escapar do juízo é fugir (v. 6). Isso está na base da profecia posterior de Ap 17.2-4; 18.2,3, em que o espírito da Babilônia, ao afetar todas as nações e conduzi-las à loucura (v. 7,8), é aplicado ao sistema do mundo dos últimos dias. Os propósitos morais de Deus precisam ser vistos na história. É o Senhor que põe em andamento o ataque final dos medo-persas, e a Babilônia é advertida por ele (um ato de misericórdia) para se preparar para o fim (v. 11-14). Os textos babilônicos (Nabonido) mostram que o título “rei dos medos” (v. 11) era de fato usado em 544 a.C. (provavelmente em referência a Ciro), v. 13. muitas águas-, do rio Eufrates (cf. Ap 17.1). Em Apocalipse, a Babilônia é a noiva ilegítima. A noiva do Cordeiro permanece nas águas que dão vida. O poder soberano do Senhor dos Exércitos, e não o dos ídolos, governa sobre a natureza e as questões dos homens. Isso é destacado por meio da repetição de 10.12-16 (v. 15,16). O Senhor vivo, em contraste com os ídolos mortos (v. 15-18), é a nossa herança, e nós somos dele (v. 19).
O
instrumento de Deus (51.20-24).
A Babilônia não vai cair
por acaso ou por meras mudanças das circunstâncias políticas e econômicas.
O próprio Senhor está se posicionando contra a cidade e gira o eixo
da batalha contra ela. Este é Ciro, que seguiu a Nabucodonosor II da
Babilônia como o ”martelo” das nações (cf. 50.23). Por sua
vez, Nabucodonosor tinha somente seguido à Assíria nessa função (Is
10.5). Os que interpretam isso como Israel precisam fazê-lo no sentido
espiritual, pois de outra forma essa ação nunca se cumpriu literalmente.
v. 23. governadores e oficiais-, ambos os termos
são designações comuns no acadiano (assírio-babilônio) de oficiais das
províncias.
Os
agentes contra a Babilônia (51.25-33). A completa devastação da Babilônia
é destacada novamente (v. 26,29) e descrita como a retribuição pelo pecado
passado (Dt 32.35; Rm 12.19). v. 25. montanha destruidora
aparentemente é um epíteto da Babilônia: montanha é usado tanto
como referência à força quanto ao templo e contrasta com a montanha do
Senhor (Is 2.2). A Babilônia vai se tornar tão ineficiente quanto
um vulcão extinto. O v. 26 contrasta com Is 28.16 e a pedra
fundamental duradoura (IPe 2.6-8). Os agentes usados por Deus vão incluir
muitos aliados dos medos (v. 28; cf. v. 11), Urartu (Ararate
— mais tarde, a Armênia) e os seus vizinhos, o reino de Mini e de Asquenaz
(cf. Gn 10.3) entre o lago Van e o lago Urumiyeh no noroeste da
Pérsia — todos mencionados em inscrições assírias. Sob o comandante
deles (heb. tipsar, cf. Na 3.17; assírio dupsar, ”escriba”,
como um alto oficial militar), vão se unir como num enxame no
ataque contra a outrora fértil Babilônia (v. 27). O famoso sistema postal
da cidade (v. 31) ajuda a espalhar o medo e o pânico do fim (cf. Lc 21.26).
Ciro, o “rei dos medos” (v. 28; assim a LXX; além disso, os verbos
estão no singular), tramou um ataque surpresa noturno pelo leito
seco do rio, depois de desviar a água do Eufrates e as defesas de
água (v. 32; cf. v. 36) ou os ”pântanos” (heb. ’agammlm, “tanques”)
que, de acordo com Daniel (cap. 5), Heródoto e inscrições de Giro,
fizeram a Babilônia cair rápida e dramaticamente. O rei que foi
informado (v. 31) provavelmente era Nabonido; ele foi preso e exilado na
Garmânia, ou o seu co-regente Belsazar que foi morto. O retrato da
devastação por meio do fogo se espalhando entre os pântanos de
juncos (assim a VA, “juncos”, v. 32) para envolver os refugiados
é comparado a uma colheita em que a própria Babilônia é ceifada numa eira
bem pisada (cf. Is 17.3).
A
causa de Jerusalém contra a Babilônia (51.34-44). Os habitantes de
Sião relatam os atos terríveis que Nabucodonosor havia feito a eles e
que devem ser vingados (v. 34,35). Os mesmos horrores infligidos
a Jerusalém agora cairiam sobre Babilônia. Ela será uma ruína infestada
de chacais, uma maldição, em vez de louvor (v. 37-41). Mas aqui,
diferentemente de Jerusalém, não há profecia de restauração. O retrato é
de uma serpente (BJ, “dragão”; heb. tannin, usado
com referência a grandes animais ou criaturas do rio ou do mar, como
o crocodilo, SL 74.13) que engoliu o povo de Deus (cf. Ap 12.4), mas
agora é ela mesma destruída e forçada a vomitar sua presa, assim como o
peixe fez com Jonas. A linguagem também lembra o sacrifício, cf. v.
35,40; heb. “a minha ofensa e a minha carne”, i.e., meu espinho e
meu corpo ferido. A ideia do sangue estar sobre alguém tem o
significado de assumir completa responsabilidade (cf. 2Sm 1.6; lRs 2.37;
Mt 27.25). O v. 39 talvez
reflita a festa de Belsazar na noite em que caiu a cidade. Os v. 41-43 são um
cântico de escárnio. Acerca de Sesa-que = Babel, cf. 25.26; 51.1. O mar(y.
42) é o irresistível invasor inimigo (cf. 46.7; 47.2).
Mais
castigo sobre a Babilônia (51.45-53). O povo de Deus não tem lugar na
cidade condenada e, por isso, deve sair (v. 45-50). Eles precisam
permanecer calmos diante da violência, dos rumores e da revolução (v. 46; Mt
24.16). Embora pareça que o mal está vencendo (v. 51) e as defesas de
Babilônia alcancem o céu de tão fortes que são (v. 53, um eco dos
construtores de Babel), as suas “altas torres” (NEB — talvez os
tem-plos-torre em forma de zigurates) não são invencíveis, e Deus terá a
última palavra (v. 51-58) e vai condenar Babilônia e as suas imagens
(v. 47,52). Embora a profecia tenha se cumprido em alguns anos, a
mensagem dos “últimos dias” é especialmente aplicável aos nossos dias.
Como os exilados (v. 50), sempre precisamos lembrar do Senhor e
da sua palavra. Mesmo que a lembrança esteja tingida de vergonha,
como a deles em relação ao templo (v. 51), podemos descansar seguros de
que vai haver retribuição (v. 56). O v. 49 pode ser traduzido de
diversas formas: “Até a Babilônia precisa cair pelos mortos de Israel, assim
como os mortos de toda a terra caíram pela Babilônia” (Harrison;
cf. NEB); ou melhor: “Babilônia deve cair, ó traspassados de Israel,
da mesma maneira que pela Babilônia caíram os traspassados de toda a
terra” (BJ).
A
queda da Babilônia (51.54-58). Agora a queda é considerada
completa e talvez reflita os acontecimentos da noite da captura (e.g., v. 27 e
a festa de Belsazar). Observe a repetição do nome do conquistador como Senhor
dos Exércitos (v. 57,58). A muralha dupla de 12 metros de
espessura conhecida das escavações e de Heródoto (I.178ss) foi
de fato demolida por Xerxes em 485 a.C. Toda a obra da Babilônia
havia sido em vão, e os esforços do seu povo desapareceram
num momento, como uma baforada de fumaça (cf. Hc 2.13).
As
ações empreendidas com as profecias escritas (51.59-64). Gomo no caso de
profecias anteriores (e.g., 18.1-17), essa é reforçada pela ação e pela
palavra (v. 63,64; cf. Ap 18.21). O rolo (ou cópia) escrito em 594/3
a.C. por Jeremias provavelmente se refere ao livro todo (e não somente aos
caps. 50 e 51), e o seu propósito era que fosse lido em voz alta (v.
63) e servisse de conforto para os exilados (o livro de Apocalipse tem
um propósito semelhante). Acerca disso, cf. E. W. Nicholson, Preachingto
the Exiles (Oxford, 1970).
Jeremias aproveitou a
oportunidade da viagem para a Babilônia feita por Seratas (v. 59),
que era irmão do seu amigo e escriba Baruque (32.2) e responsável pelo
acampamento (assim a NVI; e não “príncipe pacífico”, VA). A LXX
faz dele o “comissário dos tributos” enviado por Zedequias, cuja viagem à
Babilônia só é conhecida desse texto. O ato simbólico e a palavra ritual (v.
64) ressaltam a destruição perpétua que Deus realizou desse grande poderio
da época do ATOS e de sua capital às margens do rio Eufrates. v. 62. “eles se
cansarão” (ARA; TM é um eco do v. 58; a LXX, BJ e NVI omitem), v. 64. “Até
aqui...” (ARA) é um colofão ou nota editorial para distinguir as
palavras de Jeremias do apêndice (cap. 52) que foi extraído de outras
fontes históricas (2Rs 24 e 25).
Índice: Jeremias 1 Jeremias 2 Jeremias 3 Jeremias 4 Jeremias 5 Jeremias 6 Jeremias 7 Jeremias 8 Jeremias 9 Jeremias 10 Jeremias 11 Jeremias 12 Jeremias 13 Jeremias 14 Jeremias 15 Jeremias 16 Jeremias 17 Jeremias 18 Jeremias 19 Jeremias 20 Jeremias 21 Jeremias 22 Jeremias 23 Jeremias 24 Jeremias 25 Jeremias 26 Jeremias 27 Jeremias 28 Jeremias 29 Jeremias 30 Jeremias 31 Jeremias 32 Jeremias 33 Jeremias 34 Jeremias 35 Jeremias 36 Jeremias 37 Jeremias 38 Jeremias 39 Jeremias 40 Jeremias 41 Jeremias 42 Jeremias 43 Jeremias 44 Jeremias 45 Jeremias 46 Jeremias 47 Jeremias 48 Jeremias 49 Jeremias 50 Jeremias 51 Jeremias 52
Índice: Jeremias 1 Jeremias 2 Jeremias 3 Jeremias 4 Jeremias 5 Jeremias 6 Jeremias 7 Jeremias 8 Jeremias 9 Jeremias 10 Jeremias 11 Jeremias 12 Jeremias 13 Jeremias 14 Jeremias 15 Jeremias 16 Jeremias 17 Jeremias 18 Jeremias 19 Jeremias 20 Jeremias 21 Jeremias 22 Jeremias 23 Jeremias 24 Jeremias 25 Jeremias 26 Jeremias 27 Jeremias 28 Jeremias 29 Jeremias 30 Jeremias 31 Jeremias 32 Jeremias 33 Jeremias 34 Jeremias 35 Jeremias 36 Jeremias 37 Jeremias 38 Jeremias 39 Jeremias 40 Jeremias 41 Jeremias 42 Jeremias 43 Jeremias 44 Jeremias 45 Jeremias 46 Jeremias 47 Jeremias 48 Jeremias 49 Jeremias 50 Jeremias 51 Jeremias 52