Estudo sobre Ester 3
Ester 3
II. A TRAMA DE HAMÃ É
REVELADA E FRUSTRADA (3.1—7/10)
1) Hamã trama tirar a vida
dos judeus (3.1-15)
Com o cenário preparado, a
conspiração contra os judeus é agora descrita. Hamã sobe ao poder, mas
Mardoqueu o despreza. Em vingança, Hamã estende a sua briga
pessoal contra Mardoqueu a todo o povo judeu e consegue o consentimento do
rei para a destruição dos judeus.
a) Mardoqueu despreza Hamã
(3.1-6)
v. 1. depois desses
acontecimentos. não dá indicação de quanto tempo depois. Ester foi feita
rainha em 479, e a conspiração de Hamã foi em 474. Provavelmente não houve
um intervalo muito longo entre a promoção de Hamã e o desprezo
subseqüente por parte de Mardoqueu que conduziu à trama de Hamã, de
forma que a promoção de Hamã pode ter ocorrido em 475. filho de
Hamedata\ nada sabemos desses nomes. Hamã era descendente de Agague,
rei dos amalequitas. Os amalequitas e os israelitas eram inimigos
irreconciliáveis; cf. Dt 25.17-19. posição mais elevada do que a de
todos os demais nobres\ Hamã tornou-se primeiro-ministro, v. 2. curvavam-se
e prostravam-se: prestar homenagem diante de oficiais de alta
patente era algo normal na corte, de forma que a ordem do rei não
surpreende. Por que Mardoqueu se negou a se curvar? Em outras situações,
os judeus se curvaram diante de governantes, e.g., Davi diante de Saul (1Sm
24.8; cf. 2Sm 14.4; lRs 1.16); Abraão diante dos hititas (Gn 23.7); Jacó
diante de Esaú (Gn 33.3). Mais tarde, quando Mardoqueu era
primeiro-ministro, provavelmente teve de se curvar diante de Xerxes. Aqui
possivelmente tenha se negado porque Hamã era um agaguita e, portanto, um
inimigo. A sua conduta pode ser vista como determinada por orgulho
nacionalista, e não por alguma convicção religiosa. Não há nada que
indique que Mardoqueu estava certo ou errado nessa atitude. Que a sua
atitude foi também enigmática para judeus mais tarde, talvez possa
ser deduzido do fato de que se achou necessário justificar a recusa de
Mardoqueu nos acréscimos ao livro.
v. 3. os oficiais
estavam preocupados, pois Mardoqueu estava desobedecendo ao rei. Estariam
usando esse caso como um teste para ver se os judeus eram isentos? Ou será
que não aceitavam estrangeiros que desobedeciam ao rei? v. 5 .ficou
muito irado\ não importa a razão para o desprezo de Mardoqueu,
a reação violenta de Hamã é indesculpável, v. 6. exterminar, significando
“eliminar completamente” ocorre 25 vezes em dez capítulos. todos os judeus:
Hamã estende o seu ódio por um indivíduo a todo o povo.
b) Hamã obtém o
consentimento do rei (3.7-15)
v. 7. lançaram o pur.
o sujeito do verbo hebraico não é especificado, referindo-se a alguém na
terceira pessoa do singular. Provavelmente um astrólogo ou mago lançou a
sorte para descobrir o dia propício para o extermínio dos judeus. É
improvável que a sorte tenha sido lançada todos os dias por 11 meses;
o dia deve ter sido escolhido de uma vez. no primeiro mês: a
escolha do dia para lançar a sorte pode ter sido propositada,
visto que, de acordo com a religião babilônica, os deuses se
encontravam no início de cada ano para decidir o destino dos homens. nisã\ o
equivalente babilônico ao abibe judaico, i.e., março-abril. adar.
fevereiro-março, 11 meses depois.
v. 8. certo povo:
Hamã não os chama pelo nome, nem conta ao rei a sua briga pessoal. E de
grande benefício para o império livrar-se desse povo. Hamã faz três
acusações contra os judeus: (1) disperso e espalhado: não são
simples sinônimos. O primeiro particípio se refere à sua dispersão geográfica
por todo o império, e o segundo ao fato de estarem separados — não
assimilados seria uma boa tradução. (2) cujos costumes são diferentes:
isso não era incomum no império persa, que incluía e era tolerante em
relação a muitos grupos minoritários. (3) que não obedecem às leis do
rei: essa era a acusação condenatória e inverídica. v. 9. trezentas
e cinqüenta toneladas de prata [heb.: 10.000 talentos]: para o grande
benefício do império, Hamã acrescenta uma grande quantia financeira, muito
persuasiva por sinal, para ajudar a convencer o rei; 10.000 talentos
de prata era de fato uma grande quantia. Pode-se obter uma idéia do tamanho dessa quantia
por meio da comparação com outras somas mencionadas em Heródoto; e.g.,
a receita anual total do Império Persa era de 14.560 talentos
(Heródoto iii. 95). Estrabão afirma que o saque de Susã por parte de
Alexandre rendeu 49.000 talentos. Isso mostra que ou Hamã era muito rico
ou, o que é mais provável, que esperava lucrar muito com o
saque resultante da destruição dos judeus. Depois da campanha grega
que tinha sido muito cara, essa oferta muito atraente venceu toda
hesitação que o rei pudesse ter contra a destruição de um grande número de
seus súditos.
v. 10. seu anel-selo:
usado para selar os documentos oficiais do rei, deu, assim, total autoridade a
Hamã para elaborar o decreto.
v. 11. “fique com a
prata”: talvez se possa traduzir isso melhor por “bem, o dinheiro é
seu”. É improvável que o rei tenha recusado o dinheiro. Antes, parece uma
barganha oriental; cf. Abraão e Efrom (Gn 23.7-18). Mardoqueu em 4.7
afirma que Hamã vai pagar. Ester usa o termo “vendido” em 7.4.
v. 12. ordenou:
a decisão foi registrada num decreto legal, enviado a todo o império. Secretários
eram estenógrafos, e não os escribas profissionais, v. 13. mensageiros:
lit. corredores, mas eles usavam um sistema bem elaborado de cavalos,
posicionados em intervalos adequados, como mencionado em 8.10,14. Esse
sistema fazia as mensagens serem enviadas a grandes distâncias
rapidamente. exterminar e aniquilar completamente todos os judeus,
jovens e idosos, mulheres e crianças: observe a inclusão legal de todas as
categorias. Essa destruição tinha paralelos nos tempos antigos; cf. o
massacre que os persas impuseram aos citas, ou, em tempos modernos, o
extermínio de 6 milhões de judeus por parte de Hitler. v. 15. saíram
às pressas: por que Hamã enviaria o édito com tanta pressa 11
meses antes da matança continua um mistério. Talvez não queria correr o
risco de o rei mudar de idéia, e quando começou a negociar com o rei não
tinha previsto que a sorte cairia numa época tão tardia do ano. assentaram-se
para beber [...] confusão: beber após um dia de trabalho ou
após concluir uma tarefa parece ter sido um costume persa. Aqui a
atividade proporciona um contraste dramático: enquanto reis e
príncipes celebram, cidadãos comuns estão em grande confusão.