Estudo sobre o Evangelho de João
João 4
Os samaritanos são
mencionados com certa frequência nos Evangelhos (cf. Lc 9.5156; 10.29-37; 17.15,16;
v. “Samaritanos” no NBD). v. 1. Jesus: O v. 2 é um
comentário editorial corrigindo falsos rumores, v. 4. Era-lhe
necessário passar por Samaria: Em João, Jesus é apresentado como quem
trabalha em íntima associação com o seu Pai, até mesmo nos eventos
que conduzem para a “hora” final. Mas aqui, provavelmente, não é nada mais
do que uma necessidade geográfica, v. 5. Sicar. Geralmente
identificada com a atual Askar, não muito distante do tradicional ”poço
de Jacó” que pode ser visitado hoje, embora W. F. Albright (Archaeol.
Pal., p. 247) favoreça a leitura da Vetus Siriaca, “Siquém” (cf.
At 7.16). perto das terras que Jacó dera a seu filho José. Que isso
ficava perto de Siquém, está relativamente claro (cf. Gn 48.22, “região
montanhosa”, heb. shechem\ v. tb. Gn 33.19; Js 24.32). v. 6. cansado
da viagem (gr. kekopiakõs) é uma de uma série de ênfases
no evangelho (cf. Introdução) para destacar a humanidade do nosso Senhor, meio-dia:
grego ”sexta hora”.
v. 9. os judeus não se
dão bem com os samaritanos: Esse antagonismo remonta aos séculos
VI e V a.C., quando os judeus exilados retornaram, da Babilônia, para
Judá, e consideraram impura essa miscigenação de populações. A
ruptura foi ampliada com a construção do templo rival no monte Gerizim. Na
literatura rabínica, proibições específicas excluem praticamente todo
contato entre os dois grupos. Essas regras talvez estejam por trás da
afirmação de João aqui (gr. synchraomai significa “usar junto com”,
e.g., potes e panelas). A NEB traduz de forma apropriada: ”Judeus e
samaritanos, deve-se destacar, não usam vasilhas em comum”.
v. 10. Se
você conhecesse o dom de Deus: Somente esse dom pode fechar as brechas
entre pessoa e pessoa, à medida que aprendem a compartilhar tudo que o Pai
lhes deu por meio de Cristo. Mas o Filho é ele mesmo o Dom (cf. 3.16). água
viva: Originalmente, água corrente. No AT, no entanto, o retrato foi
usado para descrever a atividade divina ao dar vida aos homens (cf. Jr 2.13;
Zc 14.8; Ez 47.9 etc.), v. 14. quem beber (gr. hos d’an pie):
Barrett traduz corretamente: ”todo o que beber”, i.e., de uma vez por
todas, em contraste com a necessidade de água diária, fonte de água
(gr. pêgê hydatos): A fonte de Jacó é descrita pela mesma palavra
(v. 6). Era suprida com água corrente. Mas há versões (cf. RSV) que
sabiamente fazem a distinção entre o v. 6 e o 14. (A palavra gr. phrear
é usada nos v. 11,12). Ambas as palavras são usadas, pois esse phrear
é também suprido por um pêgê subterrâneo. A fonte de que
Jesus está falando vem de fora do homem, assim garantindo um
suprimento inesgotável.
v. 15. A mulher, no
entanto, não entende que Jesus está falando de um aspecto espiritual
correspondente à fonte que ela usava continuamente. v. 16. chame o seu
marido: Sua resposta foi tanto uma desculpa mesquinha quanto
uma confissão verdadeira. E Jesus observa a honestidade da afirmação,
embora isso não tenha sido percebido pela mulher que a fez. Mas ele vai
além de aceitar o que é honesto para expor toda a verdade. Tasker
comenta: ”Porque ela falou a verdade, a verdade a liberta — ela está livre
para receber o presente que Jesus lhe pode dar” (p. 76). v. 19. profe-ta. Há um alerta nessa palavra. No entanto, os samaritanos não aceitavam a
autoridade dos profetas depois de Moisés. Mas, se Jesus é um profeta,
ele deve ser o profeta de Dt 18.15ss, o profeta como Moisés, o Taheb
da expectativa dos samaritanos.
v. 20. Nossos
antepassados adoraram neste monte-. I.e., Gerizim, que era sagrado
para os samaritanos. Esse era o lugar em que, de acordo com o texto de Dt
12.5, Deus “escolheu”, e não “vai escolher”, para colocar o seu nome. Será
que alguém com percepção profética pode agora resolver esse problema tão
antigo? Mas a questão é irrelevante aqui. A adoração, a partir de agora,
vai ser oferecida a Deus em todos os lugares (Ml 1.11) por meio de Cristo,
v. 22. a salvação vem dos judeus-, Apesar da evidência da vida
insatisfatória da mulher, os samaritanos tendiam a ser mais rigorosos do que
os judeus. Mas a eleição destes era para a difusão do poder salvador de
Deus “até os confins da terra” (cf. Is 49.5,6). v. 23. em espírito e em
verdade-, I. e., em virtude do novo nascimento, e à luz da revelação da
verdade em Cristo. “Espírito” aqui é suficientemente vago para
denotar tanto aquela essência sobrenatural da vida cristã quanto o meio,
i.e., o Espírito Santo, por meio do qual ela é concedida. v. 24. Deus é
espírito (gr. pneuma ho theos) é mais uma questão de descrever
a liberdade soberana que Deus tem em contraste com os homens,
fechados num mundo material, do que uma definição da sua natureza. Por
isso, os homens precisam adorá-lo em espírito, pois somente por meio
dele podem ter comunhão com Deus. v. 25. o Messias (chamado
Cristo) está vindo-. As palavras do Senhor concernentes ao modo
essencial da adoração fazem a mulher responder. Ela crê ao menos que
no final Deus vai revelar o seu propósito.
v. 26. Eu sou o
Messias! Eu, que estou falando com você. Lit.: “Eu sou (ele) que fala
com você”. Essa auto-revelação torna completo o propósito imediato do
Senhor (cf. v. 19). “Eu sou” ocorre muitas vezes em João (cf.
6.35,51; 8.12,18; 10.7,9,11,14; 11.25; 14.6; 15.1,5). Sua forte
semelhança com o Javé do AT (“Eu serei o que serei”) tem sido observada
com frequência. Mas a ideia não está necessariamente intrínseca em todas
essas referências como elas se apresentam, embora algumas implicações
tenham se insinuado a João e aos seus primeiros leitores. Essa é a
primeira autoconfissão de Jesus no evangelho, v. 28. deixando o
seu cântaro-, Essa não é uma referência alegórica. Nesse momento tão
significativo, a mulher pode ter de fato colocado o jarro à disposição de
Jesus. Ela pergunta com hesitação: Será que ele não é o Cristo? v.
32. Tenho algo para comer. Assim como a mulher não percebeu o
significado das referências de Jesus à água da vida, assim os discípulos
evidentemente interpretaram erroneamente as palavras de Jesus acerca
da comida (cf. SI 119.103) por meio das quais ele se refere à sua
missão na vida, de fazer a vontade daquele que me enviou (v. 34)
por meio das suas obras e palavras (cf. 9.4; 10.25,37,38; 14.10,11;
17.4; v. tb. 7.17; Dt 8.3). e concluir a sua obra-, A obediência de
Jesus ao Pai era completa e perfeita (cf. 17.4). v. 35. Vocês
não dizem...?-. I.e., “Não é um fato comum?”. Provavelmente não temos
aqui um provérbio. Barrett associa isso com a suposta
exatidão sazonal com que se ofereciam os primeiros frutos a Deus no
dia 16 de nisã (cf. artigo ”Pano de fundo social do Novo Testamento”).
vejam os
campos! Eles estão maduros para a colheita: Isso se evidencia no contato com Nicodemos e a mulher de Samaria. v.
36. ... se alegram juntos o que semeia e o que colhe'. Jesus lançou
a semente e fez uma colheita rápida, v. 38. Eu os enviei para colherem:
Provavelmente uma referência à atividade batismal dos discípulos em que
eles realmente tinham entrado nos esforços de outros, como
João Batista (cf. 3.23; 4.2). v. 42. o Salvador do mundo: O que
de fato resultou da estada de dois dias de Jesus em Samaria provavelmente
nunca saberemos; isso pode prover um pano de fundo para a missão
samaritana de Filipe em At 8.5ss. Mas sabemos que alguns samaritanos
foram convencidos além de toda dúvida de que Jesus era a provisão de
Deus para a salvação universal.
II. REVELAÇÃO POR MEIO DE
ATOS E PALAVRAS (4.43—6.71)
1) O
filho do oficial (4.43-54)
Há uma semelhança
entre esse milagre e o da cura do servo do centurião (cf. Mt 8.513; Lc 7.1-10).
Está no fato de que ambas as curas foram realizadas de certa
distância, v. 44. em sua própria terra (patris) deve significar
aqui não Nazaré, na Galileia, como geralmente significa nos Sinópticos (cf. Mc
6.4 etc.), mas, em vista do contexto messiânico, Jerusalém, na Judeia,
considerada por todos os judeus seu próprio lar. v. 48. Os sinais
que Jesus realiza só têm a intenção de serem indicadores do caminho para a
compaixão de Deus. Eles não são suficientes como único fundamento
para a fé. v. 50. O homem confiou na palavra de Jesus: Mesmo assim, sua
fé ainda não era fé salvífica. Era somente, até então, segurança de
que Jesus era genuíno (cf. v. 53). v. 52. à uma da tarde: tradução
do grego “sétima hora”, v. 53. Assim, creram ele e todos os
de sua casa: Isso agora era fé absoluta que dava valor à sua crença
anterior sem que tivesse visto (cf. 20.29). v. 54. o segundo
sinal miraculoso: Cf. 2.11.Índice: João 1 João 2 João 3 João 4 João 5 João 6 João 7 João 8 João 9 João 10 João 11 João 12 João 13 João 14 João 15 João 16 João 17 João 18 João 19 João 20 João 21
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