Estudo Devocional de Apocalipse 1
Apocalipse 1
Á revelação daquilo que acontece e que o olhar não
enxerga. Não só o que está mais adiante no tempo, mas também o que está
além da forma de intercâmbio que os homens imaginaram como justificação, que
construíram para fugir do amor com que Deus os criou. A beleza do Filho
atravessa todas as categorias estéticas de João, que cai desfalecido. Com
a ternura da mão, se inicia a Palavra Absoluta: “Eu sou o primeiro e o
último...”
1.1-3 as coisas que Jesus Cristo revelou. “Apocalipse” é uma palavra grega que significa “revelação”
— alguns povos adotam o título do livro já traduzido para seu idioma.
Este título já indica a iniciativa de Deus em revelar e comunicar a sua
igreja, por meio de João, uma mensagem urgente, clara e poderosa, à qual
era importante ouvir e obedecer. João se identifica como servo de
Deus e testemunha de Jesus Cristo, que por si próprio é mensagem e
porta-voz de Deus. Jesus envia seu anjo como interlocutor instruindo-o e
traduzindo--lhe os significados das visões. Como na geração do primeiro século
e nas de séculos posteriores, fica claro que nossas existências
individuais se encontram entrelaçadas com a da Igreja, e a vida da Igreja com o
que acontece no mundo em geral. E já no início do texto recebemos um
forte estímulo para o estudo, um convite para lermos e ouvirmos a
mensagem: é que seremos felizes quando buscarmos conhecer o que Deus
quer que saibamos sobre nossa vida, tempo e circunstâncias. A
mensagem do livro tem caráter urgente e diz respeito ao que está se
passando no contexto econômico, social e político em que as igrejas se
encontram. João recebe a visão do Cristo glorificado e sua mensagem em
um contexto de adoração: no “dia do Senhor” e “pelo Espírito” (v. 10).
1.4-8 graça e paz. João com amor abre sua exposição anunciando a Graça e a Paz do Deus
Eterno e de sua corte celestial; então deixa claro que as cartas são
escritas e enviadas às sete igrejas da Ásia, descrevendo o Deus Trino
como seu autor (v. 11). Desde aqui começamos a perceber como a mensagem do
Apocalipse utiliza os números com um significado simbólico. Embora estas sete
igrejas fossem importantes e estratégicas naquela província, o número “sete”
(o mais utilizado no livro) representa a completude, a totalidade e a
perfeição de Deus. Portanto, muito provavelmente estas sete igrejas
(identificadas nos próximos dois capítulos) estão representando toda
a igreja de Jesus Cristo. Da mesma forma, os sete espíritos simbolizam
a perfeição e a plenitude de Deus (caso essa afirmação estivesse em
qualquer outro livro da Bíblia, teríamos de entender que Deus possui sete
espíritos diferentes, mas no Apocalipse essa interpretação literal,
sem simbologia nenhuma, é a menos provável — e o mesmo vale para
todos os outros números). Veja o quadro “Os números no Apocalipse” (Ap
4).
1.5-6 a testemunha fiel. Para uma igreja sofredora, Jesus é descrito como:
testemunha fiel e verdadeira, um exemplo a ser seguido perante o sofrimento e
martírio; como o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o
vencedor sobre a morte, garantindo a ressurreição de seus seguidores; e
como soberano sobre todos os reis da terra (os que perseguem os cristãos),
que tem todos debaixo de seu controle. Ele nos ama. Para quem está
sofrendo isso pode não parecer óbvio, mas é a mais pura
verdade: o amor de Jesus é incondicional e permanente. Ele nos livrou
dos nossos pecados — a verdadeira escravidão — e assim completou a
obra da nossa salvação, fez de nós um reino de sacerdotes. De
escravos passamos a fazer parte de seu Reino, como sacerdotes que
servem pela adoração e intercessão e constituem meio dele abençoar o
mundo.
1.8 o Alfa e o Ômega A primeira e a última letras do alfabeto grego (para nós seriam o “a” e
o “z”). Assim se encerra esta profecia, declarando a autoridade de
Deus, por meio de seus nomes. Deus tem completa autoridade sobre a
história humana, o passado, presente e futuro; o Todo-Poderoso governa
tudo, inclusive as mais difíceis situações que possam enfrentar seus
seguidores. O Eterno Deus está sempre presente conosco. Esta abertura pode nos
acompanhar em toda a leitura do livro. Em momentos difíceis da história ou
de nossa vida, quando circunstâncias terríveis acontecerem, lembremo-nos
daquele que já nos livrou e confiemos no Salvador, aquele que nos
ama e que virá sobre todos.
1.9 tomo parte com vocês. João se identifica como mais um irmão em
sofrimento, e afirma que os cristãos tomam parte no Reino de Cristo, em
seus sofrimentos e na paciência para suportar as provas. Este anúncio
desfaz as ilusões de que poderíamos passar a vida toda sem sermos incomodados,
mas é uma mensagem de ânimo, esperança e consolo para a Igreja em
qualquer tempo de crise ou de perseguição política ou
religiosa, quando os direitos básicos daqueles que creem em Jesus se veem
ameaçados ou restringidos. No contexto de batalha cósmica, política e
religiosa como o que se apresenta no Apocalipse, pode-se contar com
sofrimento devido às circunstâncias globais e à nossa fé. A mensagem garante
esperança, mesmo quando sentirmos o silêncio de Deus. O Espírito assistirá
a totalidade dos fiéis em Cristo.
1.10-12 mande esse livro às igrejas. O livro claramente é endereçado a estas igrejas, e o
uso da quantidade sete indica que pretende ser endereçado a “todas”
as igrejas. Repare como já desde o começo no Apocalipse são
utilizadas imagens do povo de Deus do Antigo Testamento (Israel) — como os
candelabros de ouro — para representar o povo de Deus atual, os que creem
em Jesus Cristo, sem distinção de raça ou
nacionalidade. O livro inteiro de fato está cheio de imagens e personagens que
provêm do Antigo Testamento. Por não perceberem essa troca de símbolos —
que também foi útil para aquela época de perseguição — muitas
pessoas pensam que quase todo o conteúdo do Apocalipse diz respeito à
nação israelita, de raça judaica tal qual no AT, uma interpretação que
provavelmente está totalmente equivocada.
1.12-20 para ver quem falava comigo. João vislumbra Jesus na corte celestial. Jesus
aparece no meio de sete candelabros, que representam não somente as sete
igrejas que estavam sob a supervisão do apóstolo João, mas também a Igreja
em geral. Cristo em sua realeza, glória, poder e autoridade, como Eterno
Deus, Rei amoroso e terno, que nos conforta. A presença de Jesus no meio
das igrejas mostra a fidelidade e o amor do Senhor para com sua
Igreja, por quem deu sua própria vida. Jesus também sustenta os anjos
guardiões de sua Igreja na palma de sua mão. Jesus está em total controle
da situação, e seu cuidado para com seu povo é inegável. Não estamos
sozinhos nem desamparados neste mundo — esta é a mensagem para
a igreja sofredora. A visão é tão poderosa que João cai aos pés de Jesus
como morto, e é o próprio Jesus quem o reanima e tranquiliza: “Não tenha
medo, porque eu sou Senhor da vida e da morte”.
1.18 sou aquele que vive. A morte foi domada por Cristo, o Senhor, e nele temos
a vida eterna. Todas as circunstâncias possíveis e imagináveis que cercam a
vida estão sob o senhorio de Cristo. Nossa segurança e vitória estão
asseguradas mesmo quando sofrermos ou morrermos. Com estas palavras de
Cristo poderemos atravessar qualquer circunstância que surja. A vida da
Igreja, de todos os que creem em Cristo, está guardada em sua boa e forte
mão. O Senhor é Deus, soberano em tudo que faz. Veja o quadro “Não
tenha medo”.
A afana do Apocalipse
O Senhor nos fala em sua palavra usando toda a
amplitude possível da linguagem, tanto na categoria visível diurna como na
dimensão simbólica do sonho. Os sonhos constituem uma tapeçaria feita das mais
diversas imagens, as quais adquirem espontaneidade quando dormimos. As imagens
que contemplamos em nossos sonhos são expressões de pequenas emoções que
vivenciamos durante o dia. É possível que também correspondam a outras
emoções misteriosas, ligadas à origem da vida, emoções essas que frequentemente
não podem ser expressadas na linguagem da cultura em que habitamos.
O Deus da Graça, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que supre continuamente as deficiências da nossa cultura, nos instrui em sua
Palavra com narrativas denominadas “apocalípticas”. Estas narrativas
caracterizam alguns livros da Bíblia, como Ezequiel, Daniel e o
Apocalipse. Este último traz uma mensagem cheia de imagens, que perfurará
todo o fatalismo que transborda de nossas obsessões, todos os medos que vivemos
em nossas insônias. Medos esses que, ao lermos, já não se reforçam mais
com a força e crueldade do poder do império, mas se aquietam com a
mansidão do “Cordeiro que parecia ter sido morto”.
As imagens e símbolos narrados pelo livro do
Apocalipse têm a força de nos impactar com emoções fortíssimas. O texto do
livro contém as imagens da “longa noite” que vai desde o dia da “expulsão do
jardim” até a manhã da ressurreição! Esse impacto, do relato em contato com
nossos medos, provocará uma dinâmica que nos fará percorrer todos os
nossos temores até chegarmos ao primeiro deles. Essas incontáveis imagens,
que acompanharam os medos dos habitantes do planeta, agora anunciam a
chegada ao rio da vida.
Uma vez cumprido o percurso regressivo até os seios
de nossa mãe (como descreve o S1131), aparecerá o desejo mais profundo de
nossas vidas, desejo que se expressa em um grito profundo, articulado em nossa
imaturidade biológica. O sujeito, um recém-nascido insatisfeito, aqui se
encontra no papel oposto ao que relata o salmo: aqui o nenê está faminto,
e só encontra carência! E em sua interioridade a insegurança afirma o choro do
desespero.
No Apocalipse esse grito do desejo, originado na
vulnerabilidade da nossa biologia, resume todo o livro. Este grito único tem
como conteúdo apenas um nome: “Jesus!” (Semelhante à criança gritando “mamãe!”).
Ele traz em seu interior todo o espanto da morte, da fome, da peste, da
espada, e implodirá em um silêncio absoluto para, depois do alívio,
exclamar: “Vem, Senhor Jesus, vem logo!”
Assim, o final da Bíblia no leva de volta a seu
começo, porque o “vem logo, Senhor Jesus” é de certa forma a resposta à
pergunta de Gn 3.9, feita depois da queda no pecado, que fez Adão sentir medo e
se esconder: “O SENHOR Deus chamou o homem, e perguntou: ‘Onde é que você está?’
Agora, com a chegada do novo Adão, o homem redimido
em vez de se esconder pode pronunciar o nome de Jesus, cujo amor o salva de sua
história de desacertos e erros cometidos na busca obsessiva de “deuses” feitos
à sua medida (1 Jo 4.1 7): “Vem, Senhor Jesus!”
Essa garantia dita por Jesus aqui e em várias outras
passagens da Bíblia é uma demonstração da supremacia absoluta de Cristo sobre
tudo o que o ser humano poderia temer (que poderíamos resumir em Satanás e
a morte). O Senhor tem as sete estrelas em sua mão, e nossa vida está no
meio delas. Aquele que está conosco é o Primeiro (a origem) e o Último (a
quem pertence a última palavra). Ele é “aquele que vive”, isto é, toda a
vida está concentrada nele — ele é a vida definitivamente vitoriosa. O
Senhor Todo-Poderoso está no meio da Igreja, e ela está em sua mão — é na
Igreja que o retorno, o caminho do arrependimento, já começou.
A palavra inicial de
Deus é que dissolve o terror. O medo iniciou-se na humanidade com a
desobediência de Adão, que se esconde do chamado de Deus. O bebê se sustenta em
meio a seus temores pelo olhar presente da mãe. Já o homem pecador imagina
que conseguirá controlar o medo com suas próprias representações, com a “criação”
do eu autônomo, que “não precisa de Deus” (e portanto não se arrepende). Quando
o arrependimento não acontece, nosso mundo imaginário se altera e nossos
próprios fantasmas nos visitam; assim, perdemos o frágil e falho controle
que tínhamos sobre nossas próprias fantasias, e acabamos ficando à
mercê das construções tecnológicas, como a “marca da Besta” (veja
quadro em Ap 73), uma deformação que não tem nenhuma relação com a
sinfonia da vida. O Apocalipse revela a dissolução dos nossos controles
imaginários, que homens e mulheres construímos para tentar manter de pé
essas construções idolátricas, numa espécie de antibiologia, feita no
horizonte permanente da morte. O arrependimento (veja quadro em Ap 9)
provoca alívio em nós, por finalmente crermos no Salvador. E o Deus da
graça nos oferece o olhar do Senhor Jesus, que ficará sempre conosco, por
todo o horizonte da vida.
Índice: Apocalipse 1 Apocalipse 2 Apocalipse 3 Apocalipse 4 Apocalipse 5 Apocalipse 6 Apocalipse 7 Apocalipse 8 Apocalipse 9 Apocalipse 10 Apocalipse 11 Apocalipse 12 Apocalipse 13 Apocalipse 14 Apocalipse 15 Apocalipse 16 Apocalipse 17 Apocalipse 18 Apocalipse 19 Apocalipse 20 Apocalipse 21 Apocalipse 22
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