Apocalipse 4 — Comentário Bíblico Online

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Apocalipse 4 

Nesse ponto ocorre no livro de Apocalipse uma mudança drástica de cena e assunto. R. H. Charles escreve: “O contraste dramático não podia ser maior. Até aqui a cena das visões do Vidente tinha sido a terra; agora é o céu [...] Nos capítulos 2 e 3 tivemos uma descrição vívida das igrejas cristãs da Asia Menor [...] Mas no momento que deixamos a inquietação, as aflições, as imperfeições e apreensões que permeiam os capítulos 2 e 3, passamos no capítulo 4 para uma atmosfera de segurança e paz perfeita [...] Prevalece uma harmonia infinita de justiça e poder”.'
A cena muda da terra para o céu. O assunto muda do cuidado de Cristo como Cabeça pelas condições predominantes na igreja para a autoridade soberana sobre seu universo. Já observamos que 1.19 sugere uma divisão tríplice do livro de Apocalipse: 1) O Passado — “as coisas que tens visto”, cap. 1; 2) O Presente — “as coisas que são”, caps. 2-3; 3) O Futuro — “as coisas que hão de vir”, caps. 4-22.
Quanto à interpretação das duas primeiras divisões há uma pequena diferença de opinião. João teve uma visão de Jesus glorificado parado no meio da sua Igreja (cap. 1). Isto está claro. Nos capítulos 2-3, encontramos as cartas às sete igrejas da Ásia. A maioria dos comentaristas concorda que essas cartas descrevem condições reais em igre­jas reais no primeiro século — embora elas também possam dar uma visão geral das condições gerais a serem encontradas na cristandade até os nossos dias.
Mas quando chegamos à terceira seção de Apocalipse, a situação é bastante diferen­te. Desconsiderando os “aspectos lunáticos” de incontáveis aberrações, descobrimos três principais escolas de interpretação. A primeira, chamada a preterista, encontra o cum­primento dos capítulos 4-22 nos eventos do período imperial. O grande inimigo da Igre­ja, a besta, é o Império Romano. A segunda, chamada historicista, busca o cumprimento nos acontecimentos sucessivos de toda a era da Igreja e nos eventos culminantes que se seguem. Aqui geralmente se afirma que a besta é a igreja católica romana ou, mais especificamente, o papado. A terceira, chamada futurista, entende que o livro de Apocalipse, a partir de 4.1, ainda precisa ser cumprido no fim dessa era. Ela continua sendo futura do ponto de vista do leitor de hoje. A besta é identificada como o Anticristo. Veremos todas as três interpretações em conexão com passagens-chave.
Essa terceira seção do Apocalipse parece compor-se de sete visões: 1) O Trono e o Cordeiro (4.1-5.14); 2) Os Sete Selos (6.1-8.1); 3) As Sete Trombetas (8.2-11.19); 4) A Sétupla Visão (12.1-14.20); 5) As Sete Taças (15.1-16.21); 6) As Sete Últimas Cenas (17.1-20.15); 7) A Nova Jerusalém (21.1-22.21).

A. O TRONO E O CORDEIRO, 4.1-5.14
1. A Adoração a Deus como Criador (4.1-11)
A primeira visão é dupla. Ela mostra a adoração a Deus como Criador (cap. 4) e a adoração a Cristo como Redentor (cap. 5). Essa adoração, João vê acontecer no céu.
a) O trono de Deus (4.1-6a). João viu uma porta aberta no céu (1). O grego claramente afirma que João viu uma porta que tinha sido aberta e permanecia aberta (parti­cípio passivo perfeito). Como Simcox diz: “Ele viu a porta aberta; ele não a viu sendo aberta”.2 Era uma porta da revelação que permitiu uma visão do céu.
Barclay observa que nesses primeiros capítulos do livro encontramos “Três Portas Importantes na Vida”: 1) A porta da oportunidade (3.8); 2) A porta do coração humano (3.20); 3) A porta da revelação (4.1).
A primeira voz, que [...] ouvira falar comigo é evidentemente a voz de Cristo, mencionada em 1.10. Lá, como aqui, ela é descrita como o som de trombeta, poderosa e penetrante. Essa voz disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer. João teria uma prévia do futuro.
Logo o vidente foi arrebatado em espírito (2). Para o significado dessa frase veja os comentários em 1.10. Aqui evidentemente significa que João foi levado espiritualmen­te (não fisicamente) para o céu.
Lá ele viu um trono e Alguém sentado nele. Aquele sentado no trono era na aparência, semelhante à pedra de jaspe e de sardônica, com um arco semelhante à esmeralda (3). Swete faz essa observação útil: “A descrição rigorosamente evita deta­lhes antropomórficos, O olho do vidente fica detido pelo luzir das cores como de pedras preciosas, mas ele não vê nenhuma forma”?
A identificação dessas três pedras é debatida. Não se sabe ao certo se a pedra de jaspe era vermelha ou verde. A pedra sardônica era vermelha. O arco (gr., iriso) era semelhante à esmeralda, que é verde. Phillips traduz essa passagem da seguinte maneira: “Sua aparência resplandecia como diamante e topázio, e ao redor do trono brilhava um arco semelhante a um arco-íris de esmeraldas”.
Nos vinte e quatro assentos ao redor do trono havia vinte e quatro anciãos assentados (4). Por que vinte e quatro? Alguns sugerem que eles representavam os vinte e quatro turnos dos sacerdotes (1 Cr 24). Vitorinus, o comentarista latino mais antigo de Apocalipse, diz que os anciãos representavam os doze patriarcas e os doze apóstolos. Com base nisso, Swete encontra “na representação dupla a sugestão dos dois elementos que coexistiam no novo Israel, os crentes judeus e os crentes gentios que eram um em Cristo. Assim, os 24 anciãos formavam a Igreja em sua totalidade”.5 Melhor ainda, eles podem ser considerados os representantes de todo o povo de Deus, tanto dos santos do Antigo Testamento quanto dos cristãos.
Esses anciãos estavam vestidos de vestes brancas; e tinham sobre a cabeça coroas de ouro. Eles estavam limpos e coroados. A palavra para coroas significa as coroas dos vencedores (cf. 2.10).
Do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes (5). Esses três elementos são mencionados em conexão com a concessão da lei (Êx 19.16). Barclay comenta: “Aqui João está usando a imagem que é regularmente conectada com a presença de Deus”.6
Diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo que eram identificadas como os sete Espíritos de Deus. A referência é evidentemente ao Espírito Santo (veja comentá­rios de 1.4).
Havia diante do trono um como mar de vidro (6). Isto é, ele parecia como um mar de vidro. Para ressaltar sua transparência, é acrescentado: semelhante ao cris­tal. Quanto ao significado do mar semelhante ao vidro, Swete diz: “Ele sugere a vasta distância que, mesmo no caso de alguém que estava parado na porta do céu, existia entre ele mesmo e o Trono de Deus”:
b) As quatro criaturas viventes (4.6b-8). Elas estão no meio do trono e ao redor do trono (6). Essa estranha combinação é explicada da seguinte maneira por Moffatt: “e no meio (de cada lado) do trono e (consequentemente) ao redor do trono”.8
Animais (zoa) deveria ser traduzido por “criaturas viventes”. A tradução aqui é particularmente infeliz visto que “animais” ou “bestas” é a tradução correta de theria nos capítulos 11-13. Trench escreve o seguinte acerca dessas duas palavras gregas: “Ambas desempenham um importante papel nesse livro; ambas têm um simbolismo muito eleva­do; mas ambas se movem em esferas tão distantes uma da outra quanto dista o céu do inferno. As zoa ou 'criaturas viventes', que estão diante do trono e em quem habitam a plenitude de toda criatura [...] constitui uma parte do simbolismo celestial; as theria, a primeira besta e a segunda [...] essas formam parte do simbolismo diabólico”.9
Os quatro animais (“criaturas viventes”) são descritos como cheios de olhos por diante e por detrás. Isso sugere que eles sabiam tudo que estava acontecendo; isto é, eles mantinham uma vigilância ininterrupta.
Tem havido muita discussão em relação ao significado dessas quatro criaturas viventes. Lenski escreve: “As zoa têm sido chamadas de esfinge do Apocalipse. Um autor oferece vinte e uma interpretações”.10 Mas isso é tornar a situação desnecessariamente difícil. Swete sugere esta simples explicação: “As zoa representam criação e a imanência divina na natureza”.11Um pouco mais adequada é a interpretação de Donald Richardson: “Quatro é o número cósmico: e as quatro criaturas viventes dos versículos 6-8 são o símbolo de toda a criação redimida, transformada, aperfeiçoada e trazida para debaixo  da obediência à vontade de Deus e manifestando a sua glória”.' Alguns entendem que os vinte e quatro anciãos representam os santos redimidos de todos os tempos e as quatro criaturas viventes representam os seres angelicais.
As quatro criaturas viventes são descritas como: semelhante a um leão [...] semelhante a um bezerro [...] o rosto como de homem [...] semelhante a uma águia voando (7). Essas são as mesmas faces das “quatro criaturas viventes” [animais] de Ezequiel 1.5-10 e similares às faces dos “querubins” de Ezequiel 10.14. Ao entender que as criaturas viventes representam toda criação, Swete escreve: “As quatro formas suge­rem [respectivamente] o que é mais nobre, mais forte, mais sábio e mais veloz na nature­za animada”.” Alguns dizem que Mateus tipifica Cristo como um leão (Rei), Marcos como um bezerro, ou boi (Servo), Lucas como um homem (Filho do Homem) e João como uma águia voando (Filho de Deus). Os paralelos, embora interessantes, não de­vem ser exagerados.
Cada uma das quatro criaturas viventes tem respectivamente, seis asas e, ao redor e por dentro, estavam cheios de olhos (8). Uma tradução melhor seria: “E as quatro criaturas viventes, cada uma delas tendo seis asas, estão cheias de olhos ao redor e por dentro” (NASB). Donald Richardson sugere que as asas “simbolizam a perfeição do seu equipamento para o serviço de Deus”.' Quanto ao significado dos olhos veja os co­mentários do versículo 6.
Acerca das quatro criaturas viventes lemos: e não descansam nem de dia nem de noite. Swete escreve: “Essa atividade ininterrupta, da natureza debaixo da mão de Deus é um tributo ininterrupto de louvor”.” Elas clamam: Santo, Santo, Santo. Esse é um eco do clamor dos serafins em Isaías 6.3. Senhor Deus, o Todo-poderoso substitui o “Senhor dos Exércitos” em Isaías. Acerca do significado de que era, e que é, e que há de vir, veja os comentários em 1.8.
No versículo 8, encontramos “Um Cântico de Louvor a Deus”: 1) Pela sua santidade; 2) Pela sua onipotência; 3) Pela sua eternidade (Barclay).
c) O louvor universal (4.9-11). As quatro criaturas viventes dão glória, e honra, e ações de graças a Deus (9). Swete diz: “Enquanto time (honra) e doxa (glória) dizem respeito às perfeições divinas, eucharistia (ações de graça) se refere aos dons na criação e redenção”.” Que vive para todo o sempre é encontrado novamente em 4.10; 10.6; 15.7. Deus é supremamente o “Deus vivo”.
Na sua adoração ininterrupta, as quatro criaturas viventes recebem a companhia dos vinte e quatro anciãos, que se prostram diante do que estava assentado sobre o trono (10). Eles estavam assentados na sua presença (v. 4). Mas agora são impelidos a prostrar-se em adoração diante do Eterno, lançando suas coroas de vitória aos seus pés. Isso era “equivalente a um reconhecimento de que sua vitória e sua glória eram de Deus, e isso somente por meio da graça dele”.”
Ao adorá-lo, eles o aclamavam como Digno [...] de receber glória, e honra, e poder (11). Eles o reconheciam como o grande Criador de todas as coisas. Para a sua vontade (thelema) são e foram criadas. O grego diz: “elas eram, e foram cria­das”. Novamente Swete apresenta a melhor explicação: “A Vontade divina tinha feito do universo um fato no projeto das coisas antes que o Poder divino desse expressão material ao fato”.”


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