Deuteronômio 1 — Estudo Devocional

Deuteronômio 1 começa com Moisés se dirigindo aos israelitas à beira da Terra Prometida, enfatizando a importância de lembrar sua jornada, confiar nas promessas de Deus e avançar com fé. Apesar da distância relativamente curta entre o ponto de partida e o destino, a jornada dos israelitas demorou mais devido à desobediência e falta de fé. Assim como Deus permaneceu fiel à Sua promessa da terra, Ele os encoraja a não temer e confiar Nele, assim como Ele lutou por eles no passado. Este capítulo serve como um lembrete para refletirmos sobre nossa jornada espiritual, confiarmos na orientação de Deus e seguirmos em frente com confiança, sabendo que Ele é fiel e vai adiante de nós em todas as circunstâncias.

O primeiro discurso de Moisés
Deuteronômio 1.1—4.43


1.1-8 Moisés começou a explicar ao povo a lei de Deus. Moisés está consciente da proximidade de sua morte. Em tempos assim, escolhe-se o que há de mais precioso para fazer e dizer como despedida aos que ficam. Assim, nos discursos registrados em Deuteronômio, Moisés relembra a história, enfatizando que Deus foi fiel no cumprimento de suas promessas para com o seu povo. Além disso, ele rememora as Leis recebidas no Sinai, dá suas últimas instruções e conselhos e escolhe Josué como sucessor. Veja o quadro “Contar e relembrar”.

Moisés escolhe ajudantes
Êxodo 18.13-26


1.9-15 sozinho não posso cuidar de vocês. Moisés é um exemplo de liderança consciente de suas limitações: ele nomeou auxiliares para ajudá-lo. escolham homens sábios. Percebe-se um processo de conversações, esclarecimentos e entendimentos, no qual Moisés organizou a liderança das tribos e instituiu chefes de grupos que assumissem a função de julgar e liderar entre as pessoas.

1.16-18 Julguem todas as causas com justiça. Nas relação entre pessoas ou grupos de pessoas, podem surgir conflitos de interesses e de interpretação. Quando isso acontecer, é importante recorrer a pessoas reconhecidamente sábias, éticas, emocional e espiritualmente maduras para atuarem como juízes nessas questões. Moisés, como o juiz maior, orienta os outros juízes a terem uma conduta justa e ética em qualquer situação e com todas as pessoas, até mesmo com o estrangeiro. Essa postura é uma importante condição para a paz social.

Espiões israelitas na terra de Canaã
Números 13.1-33

1.19-21 vão e tomem posse. Muitas vezes a ação humana é esperada, necessária para que a ação divina se concretize. Afinal, Deus gosta de usar seres humanos para realizar os seus propósitos. Deus orienta, comanda e protege, mas espera de nós o esforço, a coragem e ousadia para a conquista: a vitória não acontece como num passe de mágica. Não tenham medo. Milhares de famílias, com idosos, crianças e grávidas caminhavam lentamente pelo deserto, lugar de muitas carências. Moisés considerou os sentimentos das pessoas e as tratou com carinho. Lembrou-as de outros livramentos e do que já tinham enfrentado, encorajando-as a seguirem adiante, para a etapa final do êxodo.

1.22-28 mandássemos… homens para espionarem a terra. O povo está com medo e sugere o envio de espias para sondarem a terra, e Moisés concorda. Mesmo tendo a necessidade de avançar para alcançar o objetivo, os israelitas ficaram amedrontados devido ao negativismo de dez dos doze espias, após o seu retorno. ficaram nas suas barracas. O povo com medo e desanimado se retrai e se queixa. Neste acontecimento reconhecemos um fenômeno comum de contágio psíquico entre pessoas, é o poder que têm as mensagens que exploram o medo e sabotam a esperança. Veja os comentários para o relato desse evento em Nm 13 e 14, e o quadro “Contar e relembrar”.

1.27 O Senhor está com ódio de nós. Repare na imagem de Deus que o povo tinha, causadora de medo, que foi fundamental para a falta de fé. Veja Mt 25.14-30, nota.

1.29-31 Não se assustem. Como contraponto a essa situação, vemos a firme e saudável reação do líder que conhece a Deus e enfrenta a intenção do povo baseada no medo (veja Nm 13.21-33, notas). como um pai. Moisés contrapõe uma terna referência a Deus, como aquele que vive e caminha conosco em nossa peregrinação nesse mundo. Crer assim espanta nossos temores. A amorosa paternidade de Deus aqui anunciada quebra o rigor de outras expressões sobre Deus. Mais adiante vemos que o pai que ama também disciplina (Dt 8.5; Hb 12.5-7). O bom pai não só protege: também orienta, corrige e educa, e sempre garante a base de seu amor.

1.32-38 nenhum de vocês que é adulto verá a boa terra. Moisés confronta os adultos medrosos e espiritualmente imaturos, e lhes comunica que não entrarão na Terra Prometida, mas que seus filhos seriam poupados e tomariam posse dela. Aqui um misto de juízo e de misericórdia: os filhos não sofreriam pelo pecado dos pais. Os adultos foram medrosos e covardes não alcançaram a premiação, pois temeram enfrentar os desafios da vida e se acovardaram diante das adversidades, vendo-as bem maiores do que na verdade são, porque não creram em Deus. Eles nem se dispuseram a transpor as muralhas, por considerá-las intransponíveis (v. 28). Nossa racionalidade quando não leva Deus em conta não enxerga toda a realidade.

Deus castiga os israelitas
Números 14.26-45

1.39 crianças… entrarão. Adultos e pessoas cultas podem se tornar cegas quanto à Revelação, enquanto que pessoas simples, como as crianças, que geralmente estão mais abertas para Deus, a recebem (veja também Mt 18.2, nota). Este evento nos ajuda a entender a vida pela fé, e também o ensino de Jesus de que, se não formos como crianças, jamais entraremos no Reino de Deus. Veja Lc 18.15-17 e suas notas. não sabem a diferença entre o que é certo e o que é errado. De certa forma, a infância preserva parte da inocência original de Adão e Eva, antes de comerem do fruto do conhecimento do bem e do mal (veja Gn 2.7, nota). Pelo visto, esse não-conhecimento é útil para nos ajudar a confiar em Deus, a entrar no seu Reino, como também foi para esta geração, para entrar em Canaã. Ao não pensarmos que sabemos o que é melhor para nós mesmos, temos melhor oportunidade de confiar em Deus para dirigir nossos caminhos e nos dar o que Ele prometeu. Veja também Nm 27.3, nota, e Mt 20.1-16, notas.

1.41-46 ficaram cheios de orgulho, desobedeceram… e invadiram. Aqueles que antes estavam paralisados pelo medo dos inimigos agora parecem valentes, mas na verdade estão com medo de Deus e do seu castigo, não com fé. A derrota deles diante dos amorreus foi consequência de ilusão e voluntarismo religioso, na pressa temerosa de tentarem reverter o castigo já decretado, do retorno ao deserto. Essa atitude pode servir de ilustração da nossa tendência de procurar salvar a nós mesmos pela obediência, ou, no dizer de Paulo, “as obras da carne” em oposição ao fruto do Espírito (veja Gl 5, notas).

Contar e relembrar
O livro de Deuteronômio é composto por discursos de Moisés feitos nas planícies do Rio Jordão, antes da sua morte e da conquista de Canaã por Josué. A geração de adultos que não creu que poderia entrar em Canaã já morreu no deserto, e seus filhos já cresceram o suficiente para poderem assumir a guerra de conquista. Moisés começa contando a história daquele jovem povo, mas não começa a partir da saída do Egito ou da passagem pelo Mar Vermelho. Ele começa cerca de dois anos depois, com a saída do acampamento junto ao monte Sinai, e logo narra o evento mais marcante para esta geração: o fracasso dos pais em Cades-Barneia, que determinou a permanência no deserto por mais 38 anos, e a troca da geração dos pais pela dos filhos para a conquista de Canaã.

Por que Moisés reconta essa história, e todos os demais fatos que se sucederam, como a peregrinação até aquelas planícies e as conquistas de terras a leste do Jordão? Porque é importante sabermos a nossa história, e é fundamental termos uma perspectiva realista dela, que inclua a participação de Deus. Certamente cada indivíduo tinha as suas lembranças, suas impressões e os relatos e opiniões dos grupos que lhe eram próximos; os papéis de heróis e vilões certamente variavam entre as tribos, famílias e indivíduos. E, como a hora da guerra já se aproximava com suas expectativas e apreensões, provavelmente também se alimentavam as desconfianças em relação aos outros. Os discursos de Moisés colocam os eventos da história na melhor perspectiva, a verdadeira, que leva em conta a atuação de Deus: começam no encontro com Deus no monte Sinai, seguem pelo fracasso dos pais em crerem nesse mesmo Deus, contam as limitações do próprio Moisés, e continuam mostrando o relacionamento do povo com Deus ao longo de tudo, mostrando Seu cuidado amoroso, pois será este Deus quem os conduzirá à posse de Canaã. Entender a história reconhecendo nossos erros e vendo Deus como o personagem principal, e a nosso favor, isso é que prepararia o povo israelita para conseguir conquistar a Terra Prometida. 

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