1 Coríntios 1
I. Introdução. 1:1-9
A. Saudação. 1:1-3.
A introdução,
formada de saudação e ação de graças, abre o caminho para i discussão a seguir
e, no verdadeiro estilo paulino, contém importantes indicações quanto à
responsabilidade da carta.
1. Chamado
apóstolo (gr. um apóstolo por vocação, força do
adjetivo verbal) acentua a iniciativa divina na convocação de Paulo para o
ofício. Esta frase, com o reforço, pela vontade de Deus, tem a intenção
de atingir àqueles em Corinto, que possam ter duvidado do seu direito de falar
com autoridade (cons. 9:1). Irmão Sóstenes (lit. o irmão) pode
indicar o chefe da sinagoga mencionada em Atos 18:17, mas isto não se pode
provar. O artigo definido pode significar nada mais que o fato de ser ele um
cristão muito conhecido. Se, no entanto, este é o Sóstenes coríntio da
narrativa de Lucas, então o espancamento que recebeu dos gregos foi uma bênção;
tornou-se cristão!
2. A igreja é a igreja de Deus, não
de Cefas, ou Apolo, ou mesmo de Paulo (cons. 1:12).
Santificados em
Cristo Jesus introduz uma
importante doutrina, ainda que muito mal-interpretada. O termo grego hagiazo
significa “santificar”, não no sentido de “tornar santo”, mas no sentido de
“separar” para posse e uso de Deus (cons. Jo. 17:19). Os cristãos não são sem
pecado, ainda que deveriam pecar menos. A santificação bíblica é quádrupla: 1)
primária, equivalente à “graça eficaz” da teologia sistemática (cons. lI Ts.
2:13; I Pe. 1:2); 2) posicional, uma posição perfeita na santidade, verdadeira
para todos os crentes, desde o momento da conversão (cons. Atos 20:32; 26:18);
3) progressiva, equivalente ao crescimento diário na graça (cons. Jo. 17:17;
Ef. 5:26; II Co. 7:1); 4) prospectiva, para final semelhança com Cristo
posicional e praticamente (cons. I Ts. 5:23). O uso do particípio perfeito
aqui, refere-se à santificação posicional. Agora os crentes são santos, não por
canonização humana, mas por operação divina. O alvo de Paulo na carta era
despertar a vida prática dos coríntios, para uma conformação mais definida com
sua posição em Cristo.
Com todos os que
em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e
nosso. Não estende a saudação a todos os
cristãos, mas previne contra a tendência de confinar os ensinamentos apenas a
Corinto (cons. I Co. 4:17; 7:17; 11:16; 14:33, 36), uma confirmação adicional
da unidade do corpo.
3. As já familiares graça e paz referem-se
à graça e paz na vida cristã. Não se referem à graça, que introduz um homem
nesse tipo de vida, nem à paz que se lhe segue (cons. Jo. 1:16; 14:27).
B. Ação de Graças. 1:4-9.
A ação de graças
não é irônica, nem foi dirigida apenas a uma certa parte da assembléia. Muito
menos é simplesmente uma tentativa cortês de “ganhar amigos e influenciar
pessoas”, embora seja verdade que “a censura fica melhor quando vem depois do
louvor” (MNT, pág. 7). É, antes, uma verdadeira estimativa da posição dos
coríntios em Cristo, e forma a base para o apelo que Paulo faz em prol da
conformidade prática com isto. O apóstolo destaca seus dons de palavra e
conhecimento com ênfase especial.
4. Graças a meu
Deus. Aquele que é o responsável pelos dons
espirituais mais tarde mencionados.
5. Palavra. Provavelmente inclui mais do que o dom de
línguas (cons. 12:8-10, 28-30). Os coríntios tinham uma grande coleção de dons da
palavra (veja 14:26).
7. O resultado de seu enriquecimento é que de
maneira que não nos falte nenhum dom. Enquanto a palavra karisma,
traduzida para dom, tem uma grande variedade de significados, aqui
provavelmente se refere aos dons espirituais no sentido técnico (cons. 12:1 –
14:40). Aguardando, uma palavra composta de forte sentido duplo,
significando esperar ardentemente ou ansiosamente (Arndt, pág.
82), expressa a atitude dos crentes quando usam os dons no culto a Deus.
8. Confirmará foi usada no grego koinê, como termo
legal técnico, referindo-se a uma segurança devidamente garantida (ibid,
pág, 138).
Eles tinham a
garantia divina que compareceriam diante dEle na volta de Cristo. Irrepreensíveis.
Literalmente, inacusáveis, ou “incontestáveis” (Leon Morris, The
First Epistle of Paul to the Corinthians, pág. 37). “Isto implica não em
simples absolvição, mas na ausência de qualquer gravame ou acusação contra uma
pessoa” (W.E. Vine, Expository Dictionary of New Testament Words, 1,
131; Rm. 8:33).
9. Tudo se baseia no fato de que fiel é
Deus. Comunhão tem como seu primeiro impulso o conceito de uma participação
em algo, e depois de uma participação comum. Assim, todos os crentes têm uma
participação em Cristo e, conseqüentemente, uma participação de uns com os
outros. Esse é o ponto principal sobre o qual Paulo ataca o espírito
partidário, o clímax do ataque sendo alcançado em 3:21-23.
II. As Divisões na Igreja. 1:10 - 4:21.
A. O Fato das Divisões. 1:10-17.
A primeira e
principal responsabilidade da carta, a dissensão na vai ser agora considerada.
O não a abandonará até o momento que escrever as palavras, “Que quereis? Irei
ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?” (4:21). Os
versículos introdutórios da passagem (1:10-17) declaram os fatos conforme
trazidos pelos servos da casa de Cloe.
10. Porém (E.R.C.) (adversativa de “mas”) que
introduz o diagnóstico de Paulo. Suas palavras iniciais são um apelo para o bem
da união. Sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental. Uma
palavra grega versátil, usada com referência ao ajustamento de partes de um
instrumento, na colocação dos ossos no lugar feita por um médico, no remendar
de redes (Mc. 1:19), como também com referência ao preparo de um navio para uma
viagem. Ajustamento tendo em vista a união é o apelo.
11. Pois. Introduzindo a razão para o apelo. Contendas.
Uma obra da carne (cons. Gl. 5:20), revelando a presença de divisões.
12. Refiro-me ao
fato. Antes, o que eu quero dizer. O
grupo de Apolo parece que era um grupo que preferia um estilo mais
polido e retórico do talentoso alexandrino. Existem muitos membros modernos
desse tipo de facção, tais como a mulher que confessou : “Eu quase choro,
sempre que ouço meu pastor pronunciar essa bendita palavra Mesopotâmia!”
O partido de Cefas ao que parece duvidava das credenciais de Paulo,
preferindo manter o elo com Jerusalém através de Pedro. Aqueles que eram de
Cristo desprezavam qualquer ligação com os outros, formando assim um
partido isolado. As palavras que se seguem dão a entender que Paulo desaprovava
este grupo (cons. ICC, pág. 12; II Co. 10:7).
13. As interrogações apelam para a unidade do
corpo de Cristo e para a identificação dos crentes com ele. Barclay comenta
sobre a expressão em nome de (lit., dentro do nome) assim: “Dar
dinheiro dentro do nome de um homem era pagar algo para seu crédito, para sua
posse pessoal. Vender um escravo dentro do nome de um homem era entregar este
escravo à posse absoluta e indisputável dele. Quando um soldado jurava lealdade
dentro do nome de César; ele pertencia absolutamente ao Imperador” (op.
cit., pág. 18).
14,16. Paulo dá graças a Deus pela
providência que o levou a batizar tão poucos em Corinto. Está claro que aqui
ele não pretende depreciar o batismo; ele apenas o coloca em seu devido lugar,
como ato simbólico, que aponta o fato real da identificação com Cristo pela fé.
Está claro também que Paulo batizava.
17. Porque. A razão que ele deu não enfatiza o
batismo. Sua tarefa primária foi a de pregar as boas novas. Teria Paulo
pronunciado estas palavras, se o batismo fosse necessário à salvação? (cons.
4:15; 9:1,22; 15:1, 2). Dificilmente. Sua incumbência também não envolvia
embelezamento da verdade com palavras floreadas da retórica profissional (cons.
ICC, pág. 15), esvaziando assim o Evangelho do seu conteúdo. A tradução seja
feita sem nenhum efeito deixa muito a desejar. O verbo kenoo significa
“esvaziar”, isto é, despojar de sua substância. O Evangelho não apela para o
intelecto do homem, mas aos seus sentimentos de culpa do pecado. A cruz
revestida de sabedoria de palavras corrompe este apelo. O Evangelho não deve
nunca ser apresentado como um sistema de filosofia humana; deve ser pregado
como salvação. Sabedoria de palavra (lit. sabedoria de palavra)
marca a transição para a análise de Paulo da causa da dissensão em Corinto,
este amor à falsa sabedoria.
B. As Causas das Divisões. 1:18 - 4:5.
Em primeiro
lugar, eles não entenderam a natureza e o caráter da mensagem cristã, a verdadeira
sabedoria (1:18 – 3:4). Em segundo lugar, seu espírito sectário indica que eles
não tinham compreensão real do ministério cristão, sua participação com Deus na
propagação da verdade (3:5 - 4:5).
1) Causa primeira: Falsa Interpretação da
Mensagem. 1:18 – 3:4.
Primeiro, o
apóstolo mostra que o Evangelho não é uma mensagem para o intelectual
(1:18-25). Essa verdade foi amplamente demonstrada pelo fato de que a igreja em
Corinto continha poucas pessoas sábias segundo o mundo (1:26-31), e que Paulo
não pregara uma mensagem assim quando estivera em Corinto (2:1-5). Então, o
apóstolo expõe a verdadeira sabedoria de Deus, destacando seu caráter
espiritual (2:6-12), e seu alcance espiritual (2:13-16); e conclui com uma
declaração franca, dizendo que a carnalidade é o motivo das divisões(3:1-4).
18. Porque (E.R.C.) introduz o motivo porque ele não
veio em sabedoria do mundo. Para os que perecem, a cruz deve sempre parecer uma
loucura. Pregação (lit. palavra) evidentemente faz contraste com palavra
(v. 17, lit., palavra). Paulo considera a cruz como instrumento
salvador de Deus. Perdem e salvos (tempos presentes, mais
freqüentativos do que durativos) descrevem a corrente de perdidos caindo na
eternidade sem Cristo, e o número menor, mas ainda constante, da corrente dos
salvos entrando pela porta da comunhão eterna com Cristo.
19,20. Pois está
escrito. Um apelo às Escrituras para apoio. Boa
prática paulina (cons. Is. 29:14; 19:12; 33:18). As palavras são uma denúncia
divina da política dos “sábios” em Judá, que procuraram uma aliança com o Egito
quando foram ameaçados por Senaqueribe.
21. Aprouve é a mais do que uma declaração de
boa-vontade; refere-se ao alegre propósito e plano divino (cons. Ef. 1:5).
Pregação refere-se ao conteúdo da proclamação não ao método de livramento
(cons. I Co. 2:4); ela é a mensagem (E.R.C., pregação) que salva,
a mensagem destinada àqueles que simplesmente crêem (crentes).
22-25. Paradoxalmente Paulo proclama que os chamados
(cons. v. 2) obtiveram o que os judeus, que buscavam sinais e os gregos,
que amavam a sabedoria (v. 22), ou os gentios (v. 23; a E.R.C, diz gregos novamente,
mas a confirmação é fraca) procuravam, o poder de Deus, e sabedoria de Deus.
Cristo crucificado é o segredo. Judeus e gregos não reconhecem o seu
pecado. O Cristo crucificado o expõe; portanto, Ele é o poder e a sabedoria de
Deus. O uso da palavra crucificado sem o artigo, enfatiza fortemente o
caráter no qual Paulo pregou Cristo, como crucificado (cons. 2:2; Gl.
3:1). Um Cristo sem uma cruz não salvaria.
26. Porque (E.R.C.) introduz o “argumentum ad
hominem irrespondível” (ICC, pág. 24). “Pois olhem para suas próprias
fileiras, meus irmãos”, como traduziu Moffatt (MNT, pág. 19). Um lançar de
olhos para a sua própria igreja comprovada o ponto defendido por Paulo, pois
ali não eram muitos os sábios e os poderosos. Vocação continua
enfatizando a iniciativa de Deus na salvação do homem. Na tradição paulina
encaixara-se as formosas últimas palavras de John Allen do Exército da
Salvação: “Eu mereço o inferno; eu devia estar no inferno; mas Deus interferiu!”
27,28. O triplo Deus escolheu continua
com a ênfase.
29. O propósito da metodologia divina foi
negativamente apresentada aqui e positivamente no último versículo do capítulo.
Como Bengel disse certa vez, “Não se glorie diante dEle, mas nEle”.
Jonas estava absolutamente certo quando disse “Ao Senhor pertence a salvação”
(Jn. 2:9; cons. Jr. 9:23, 24).
30. Mas introduz o bendito contraste. DEle e
não da sabedoria eram os coríntios, em Cristo Jesus. Eis aí o único
alicerce sólido para se gloriar. Devido à construção da sentença grega, está
claro que sabedoria é a palavra dominante, e que as palavras justiça,
santificação e redenção amplia o significado de sabedoria. A sabedoria,
aqui, portanto, não é a sabedoria prática, mas a sabedoria posicional, o plano
de Deus para nossa completa salvação. A justiça é argumentativa, a
justiça que nos foi dada na justificação, ou aquela que Paulo expõe em Rm. 1:1
– 5:21. A santificação foi usada em seu sentido imediato e completo
(cons. I Co. 1:2). A justiça capacita-nos a comparecermos diante de Deus no
tribunal da justiça divina, enquanto a santificação equipa-nos a servi-Lo no
templo do serviço divino. É o que Paulo esboça em Rm. 6:1 – 8:17. A redenção,
à vista da ordem das palavras, é provavelmente a redenção final do corpo (cons.
Rm. 8:23), aquela de que se ocupou o apóstolo em Rm. 8:18-39. 31. Para que. O
alvo desta obra de Deus é o de glorificá-Lo na graça, um propósito que foi gloriosamente
alcançado. Pois os que são sábios de conformidade com este mundo foram
reduzidos a nada, e os chamados que creram, desfrutam agora de uma salvação
soberanamente concedida suficiente para todas as exigências do tempo e da
eternidade.
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